Nhae’ũ e o Teko Porã : uma reflexão acerca da relação cosmoecológica de mulheres Mbyá guarani com o barro no sul do Brasil e o bem viver comunitário

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Costa, Carolina Silveira
Data de Publicação: 2019
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/215490
Resumo: O feitio cerâmico é algo simples e complexo que depende tanto da memória, do sentipensar e do corpo de quem coleta e trabalha o barro, quanto das condições do rio e da terra. De nada adianta tentar fazer cerâmica com um “barro ruim”, ela irá rachar ou até mesmo quebrar. Primeiro é preciso conhecer o nhae’ũ , ou barro, como os Mbyá Guarani do Sul do Brasil o traduzem para os não indígenas. Uma das parcialidades étnicas no Brasil da Família TupiGuarani, os Mbyá Guarani estão presentes nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, assim como nos países Paraguay e Argentina. Durante séculos faziam e fazem suas plantações próximo aos rios e vivem em comunidade, fabricando seus petynguas (cachimbos) para comunicação com os deuses e manutenção de seus ciclos. Conhecer o nhae’ũ não significa somente entrar nos corpos d'água e sentir onde a terra que há no fundo está com menos resíduos, há toda cosmoecologia mbyá imbricada nesta cosmopráxis. Quando não há uma diversidade de solo e corpos d’água nas aldeias, esta atividade, realizada em maioria por mulheres da etnia, requer, além da sabedoria ancestral, uma caminhada territorial entre aldeias, cercas, estradas que cortam suas comunidades e propriedades privadas, onde a mulher guarani é e faz uma constante reexistência biocultural. Este trabalho foi desenvolvido em 3 aldeias no Rio Grande do Sul: Estiva, em Viamão, Flor do Campo, em Barra do Ribeiro, Para Roke, em Rio Grande e objetiva compreender, através da memória biocultural de mulheres mbyá guarani acerca do nhae’ũ, a importância desta relação cosmoecológica para o Bem Viver Comunitário Mbyá Guarani em um território sob políticas desenvolvimentistas. Apesar de toda realidade brasileira, onde as políticas públicas e a legislação, mesmo com avanço significativo no reconhecimento da diversidade territorial, seguem preceitos colonizadores, é inegável a re-existência das mulheres Mbyá Guarani através e em conjunto com o feitio cerâmico. Não se trata de quantas mulheres estão fazendo isso, se trata das condições que existem para as Yvas, Paras e Kerexus, que tem essa pré-disposição ao moldar, encontram para dar seguimento a essa cosmopráxis. O que é feito a partir do Nhae’ũ - especialmente os petynguas - conflui e influi em toda vida que há por onde fazem sua jeguatá (sua caminhada), ou seja, a natureza e a cultura tomam uma proporção simbiótica e complexa em que não há sentido a separação e sim uma constante rede de confluências entre os seres humanos e não humanos, alimentada pela memória biocultural e reexistência destas mulheres.
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Conhecer o nhae’ũ não significa somente entrar nos corpos d'água e sentir onde a terra que há no fundo está com menos resíduos, há toda cosmoecologia mbyá imbricada nesta cosmopráxis. Quando não há uma diversidade de solo e corpos d’água nas aldeias, esta atividade, realizada em maioria por mulheres da etnia, requer, além da sabedoria ancestral, uma caminhada territorial entre aldeias, cercas, estradas que cortam suas comunidades e propriedades privadas, onde a mulher guarani é e faz uma constante reexistência biocultural. Este trabalho foi desenvolvido em 3 aldeias no Rio Grande do Sul: Estiva, em Viamão, Flor do Campo, em Barra do Ribeiro, Para Roke, em Rio Grande e objetiva compreender, através da memória biocultural de mulheres mbyá guarani acerca do nhae’ũ, a importância desta relação cosmoecológica para o Bem Viver Comunitário Mbyá Guarani em um território sob políticas desenvolvimentistas. Apesar de toda realidade brasileira, onde as políticas públicas e a legislação, mesmo com avanço significativo no reconhecimento da diversidade territorial, seguem preceitos colonizadores, é inegável a re-existência das mulheres Mbyá Guarani através e em conjunto com o feitio cerâmico. Não se trata de quantas mulheres estão fazendo isso, se trata das condições que existem para as Yvas, Paras e Kerexus, que tem essa pré-disposição ao moldar, encontram para dar seguimento a essa cosmopráxis. O que é feito a partir do Nhae’ũ - especialmente os petynguas - conflui e influi em toda vida que há por onde fazem sua jeguatá (sua caminhada), ou seja, a natureza e a cultura tomam uma proporção simbiótica e complexa em que não há sentido a separação e sim uma constante rede de confluências entre os seres humanos e não humanos, alimentada pela memória biocultural e reexistência destas mulheres.El feitio cerámico es algo simple y complejo, que depende tanto de la memoria, del sentipensar y del cuerpo de quien recoge y trabaja el barro como de las condiciones del río y de la tierra. De nada sirve tratar de hacer cerámica con un "barro malo", se va a romper. Primero es necesario conocer el nhae’ũ, o barro, como los Mbyá Guaraní del sur de Brasil lo traducen a los no indígenas. Una de las parcialidades étnicas en Brasil de la Familia Tupi-Guarani, los Mbyá Guarani están presentes en los estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Río de Janeiro y Espírito Santo, así como en los países Paraguay y Argentina. Durante siglos, hacían y hacen sus plantaciones cerca de los ríos y viven en comunidad, fabricando sus petynguas (pipas) para comunicación con los dioses y mantenimiento de sus ciclos. Conocer el nhae’ũ no significa solamente entrar en los cuerpos de agua y sentir donde la tierra que hay en el fondo, está con menos residuos, hay toda cosmoecología Mbyá imbricada en esta cosmopráxis. Cuando no hay una diversidad de suelo y cuerpos de agua en las aldeas, esta actividad, realizada en su mayoría por mujeres de la etnia, requiere además de la sabiduría ancestral, una caminata territorial entre aldeas, cercas, carreteras que cortan sus comunidades y propiedades privadas, donde la mujer guaraní es y hace una constante re-existencia biocultural. Este trabajo fue desarrollado en 3 aldeas ubicadas en Rio Grande do Sul: Estiva, en Viamão, Flor del Campo, en Barra do Ribeiro y Para Roke, en Rio Grande y objetiva comprender, a través de la memoria biocultural de mujeres mbyá guaraní acerca del nhae’ũ, la importancia de esta relación cosmoecológica para el Bien Vivir Comunitario Mbyá Guaraní en un territorio bajo políticas desarrollistas. A pesar de toda realidad brasileña, donde las políticas públicas y la legislación, incluso con un avance significativo en el reconocimiento de la diversidad territorial, siguen preceptos colonizadores, es innegable la reexistencia de las mujeres mbyá guaraní a través y en conjunto con el hechizo cerámico. No se trata de cuántas mujeres están haciendo eso, se trata de las condiciones que existen para las Yvas, Paras y Kerexus, que tienen esa pre-disposición al moldear, encuentran para dar seguimiento a esa cosmopráxis. Lo que se hace a partir del Nhae’ũ - especialmente los petynguas - confluye e influye en toda vida que hay por donde hacen su jeguatá (su caminata), o sea, la naturaleza y la cultura toman una proporción simbiótica y compleja en que no hay sentido la separación y sí una constante red de confluencias entre los seres humanos y no humanos, alimentada por la memoria biocultural y la reexistencia de estas mujeres.application/pdfporMulheresÍndiosEcologiaMujeres indígenasMbyá GuaraniCosmoecologiaDecolonialidadNhae’ũ e o Teko Porã : uma reflexão acerca da relação cosmoecológica de mulheres Mbyá guarani com o barro no sul do Brasil e o bem viver comunitárioinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulFaculdade de Ciências EconômicasPrograma de Pós-Graduação em Desenvolvimento RuralPorto Alegre, BR-RS2019mestradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001119936.pdf.txt001119936.pdf.txtExtracted Texttext/plain213867http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/215490/2/001119936.pdf.txtb019d7e5ac3f8649b765ef71f373f0b5MD52ORIGINAL001119936.pdfTexto completoapplication/pdf2891938http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/215490/1/001119936.pdf9a43a8024bac96712b560b559f656d50MD5110183/2154902020-11-28 05:21:21.568661oai:www.lume.ufrgs.br:10183/215490Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532020-11-28T07:21:21Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
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