Agrobiodiversidade, sistemas agroflorestais e protagonismo feminino : contribuições à soberania e segurança alimentar e nutricional

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Müller, Helena de Lima
Data de Publicação: 2020
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/230665
Resumo: O Brasil, como um país de imensa variedade biológica, apresenta potencial para cultivo e criação de diversas espécies vegetais e animais. No entanto, limitado número de produtos advindos da agrobiodiversidade brasileira, provenientes da inter­relação entre sistemas socioculturais e diversidade biológica, chegam ao prato da população. Entre os fatores que explicariam a limitação do consumo desses alimentos, pode­se considerar particularmente a pressão do sistema agroalimentar hegemônico sobre a agrobiodiversidade e suas/eus manejadoras/es, seus agroecossistemas, saberes e práticas alimentares, implicando em deslegitimação e invisibilidade de conhecimentos, modos de vida e de produção, processamento e consumo de alimentos. Partindo de inquietações advindas desse cenário, este trabalho volta­se a analisar relações entre soberania e segurança alimentar e nutricional (SSAN), agrobiodiversidade, sistemas agroflorestais (SAFs) e protagonismo de mulheres agricultoras. Nesse contexto, o objetivo geral da presente pesquisa é compreender a contribuição de mulheres rurais e da agrobiodiversidade para a promoção da SSAN de famílias agricultoras no Território Rural Campos de Cima da Serra, RS/Brasil. Para isso, a pequisa, de caráter qualitativo, adotou perspectiva etnoecológica, fundamentando­se em técnicas como observação participante, entrevista semiestruturada, mapeamento, turnê guiada, registros fotográficos e anotações de campo. Como forma de acesso às famílias, utilizou­se a técnica da bola­de­neve, que teve como critérios para a definição das/os interlocutoras/es a presença de mulheres atuantes na unidade de produção agrícola e que produzissem cultivos diversos voltados prioritariamente ao autoconsumo. O material analisado foi coletado em campo entre os meses de julho e outubro de 2019. A pesquisa aponta que todas as famílias têm como prioridade produção para autoconsumo, cultivam ampla agrobiodiversidade distribuída ao longo do ano, produzem agroecologicamente e demonstram ter relação ética de cuidados e respeito com o ambiente e seus seres. Os sistemas produtivos identificados pela pesquisa representam SAFs dos Campos de Cima da Serra, frutos de relações históricas, socioculturais, ambientais e alimentares, adequadas à realidade de cada família e, geralmente, atrelados ao manejo da mulher. Saberes sobre processamentos de alimentos, bem como o trabalho demandado para tanto, foram identificados como incumbência delegada às mulheres. A agrobiodiversidade está relacionada a heranças históricas do território identificadas como uma mescla de culturas indígena Kaingang, africana e europeia expressa nas espécies, manejos, processamentos e preparações culinárias. Por fim, a pesquisa reitera a multidimensionalidade de SSAN e sugere, para sua efetiva realização, a necessidade de quebra de paradigmas que ampliem acesso a terra, água, sementes e ecossistemas, fatores que a pesquisa aponta como essenciais à promoção de SSAN. Tais fatores, atrelados à emergência de novo e complexo paradigma, são possíveis se fundamentados em ética camponesa e em relações de coletividade e de respeito à vida.
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Partindo de inquietações advindas desse cenário, este trabalho volta­se a analisar relações entre soberania e segurança alimentar e nutricional (SSAN), agrobiodiversidade, sistemas agroflorestais (SAFs) e protagonismo de mulheres agricultoras. Nesse contexto, o objetivo geral da presente pesquisa é compreender a contribuição de mulheres rurais e da agrobiodiversidade para a promoção da SSAN de famílias agricultoras no Território Rural Campos de Cima da Serra, RS/Brasil. Para isso, a pequisa, de caráter qualitativo, adotou perspectiva etnoecológica, fundamentando­se em técnicas como observação participante, entrevista semiestruturada, mapeamento, turnê guiada, registros fotográficos e anotações de campo. Como forma de acesso às famílias, utilizou­se a técnica da bola­de­neve, que teve como critérios para a definição das/os interlocutoras/es a presença de mulheres atuantes na unidade de produção agrícola e que produzissem cultivos diversos voltados prioritariamente ao autoconsumo. O material analisado foi coletado em campo entre os meses de julho e outubro de 2019. A pesquisa aponta que todas as famílias têm como prioridade produção para autoconsumo, cultivam ampla agrobiodiversidade distribuída ao longo do ano, produzem agroecologicamente e demonstram ter relação ética de cuidados e respeito com o ambiente e seus seres. Os sistemas produtivos identificados pela pesquisa representam SAFs dos Campos de Cima da Serra, frutos de relações históricas, socioculturais, ambientais e alimentares, adequadas à realidade de cada família e, geralmente, atrelados ao manejo da mulher. Saberes sobre processamentos de alimentos, bem como o trabalho demandado para tanto, foram identificados como incumbência delegada às mulheres. A agrobiodiversidade está relacionada a heranças históricas do território identificadas como uma mescla de culturas indígena Kaingang, africana e europeia expressa nas espécies, manejos, processamentos e preparações culinárias. Por fim, a pesquisa reitera a multidimensionalidade de SSAN e sugere, para sua efetiva realização, a necessidade de quebra de paradigmas que ampliem acesso a terra, água, sementes e ecossistemas, fatores que a pesquisa aponta como essenciais à promoção de SSAN. Tais fatores, atrelados à emergência de novo e complexo paradigma, são possíveis se fundamentados em ética camponesa e em relações de coletividade e de respeito à vida.Brazil is a country with a large biological diversity, hence its potential for cultivation and creation of several plant and animal species. Social and cultural interrelationships with biodiversity originated singular food products, despite this, these food products are barely consumed by native populations. Many factors explain the limited consumption of these foods. One is that the hegemonic agrifood system pressures agrobiodiversity, its managers, their knowledge and eating practices. The hegemonic agrifood system’s pressures delegitimize and make invisible traditional production, processing and consumption of food. Based on these concerns, the relationship between sovereignty and food and nutrition security (SSAN), agrobiodiversity, agroforestry systems (SAFs) and the role of women farmers must be examined. The general objective of this research is to understand the contribution of rural women and of agrobiodiversity to the promotion of SSAN of farming families in the Rural Territory Campos de Cima da Serra, RS, Brazil. The research was based on qualitative analyses and ethnoecological perspective. The techniques used for the field work was participant observation, semi­structured interview, participatory mapping, guided tour, photographic records and field notes. The snowball technique was used to contact the families which abided by the following criteria: presence of women working on agriculture, variety of crops and production for self­consumption. The field work occurred between July and October 2019. The material generated was analyzed according to central categories delimited from the empirical data. The research shows that all families focus on self­consumption and cultivating wide agrobiodiversity distributed throughout the year. Also, they showed an ethical relationship of care and respect for the environment and their beings. The agroecosystems identified by the research represent SAF’s of the Campos de Cima da Serra/RS that are result of historical, cultural, environmental and nutritional relationship. The SAFs usually are managed by women and fitted to the reality of each family. The knowledge about food processing and the work related to were identified as women tasks. The agrobiodiversity is an historical inheritance of the territory as a fusion of indigenous Kaingang, African and European cultures expressed in species, management, processing and culinary preparations. The research reiterates the multidimensionality of SSAN and suggests that there is a need to break paradigms. The access to land, water, seeds and ecosystems are pointed out as essential factors to the promotion of SSAN. Finally, these factors linked to the emergence of a new complex paradigm are only true if based on peasant ethics, collective relations and respect for life.application/pdfporBiodiversidadeSistemas agroflorestaisSegurança alimentar e nutricionalAgricultura familiarAraucarian ForestPeasant ethicsAgroecosystemsArtisanal food processingRural womenAgrobiodiversidade, sistemas agroflorestais e protagonismo feminino : contribuições à soberania e segurança alimentar e nutricionalinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulFaculdade de Ciências EconômicasPrograma de Pós-Graduação em Desenvolvimento RuralPorto Alegre, BR-RS2020mestradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001132268.pdf.txt001132268.pdf.txtExtracted Texttext/plain0http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/230665/2/001132268.pdf.txtd41d8cd98f00b204e9800998ecf8427eMD52ORIGINAL001132268.pdfTexto completoapplication/pdf126143966http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/230665/1/001132268.pdf68b69092889d2f881669c23d2a17b2fcMD5110183/2306652023-04-07 03:26:32.197836oai:www.lume.ufrgs.br:10183/230665Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532023-04-07T06:26:32Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
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