Ônibus elétricos no transporte público municipal : geografia das transições sustentáveis para uma mobilidade de baixo carbono

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Pietrobelli, Fabricio
Data de Publicação: 2020
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/218612
Resumo: O consumo dos combustíveis fósseis como fonte energética associado ao desenvolvimento histórico humano está diretamente relacionado às emissões de gases responsáveis em grande parte pelas mudanças climáticas e pelos poluentes atmosféricos que causam a deterioração da qualidade do ar verificadas hoje no mundo. Para Markard et al. (2012), problemas dessa magnitude não podem ser resolvidos por melhorias incrementais – exigem mudanças sistêmicas, conhecidas como transições sustentáveis, as quais envolvem alterar padrões de produção e consumo relacionados aos setores de energia e transportes. Eletrificar as frotas de ônibus dos sistemas municipais é considerada uma solução que, integrada a estratégias mais amplas, contribui para atingir uma mobilidade de baixo carbono. Essa mudança implica alterar estruturas estáveis existentes atreladas a fatores políticos, econômicos, sociais, culturais e técnicos – o que revela o caráter multidimensional dos processos de transições de sustentabilidade. Essas transições variam geograficamente conforme as contingências históricas e espaciais dos territórios nos quais estão inseridas. As interações e conexões entre cultura, ciência, políticas, mercados, entre outros, configuram o que se conhece por sistemas sociotécnicos. Estilos de vida, regulamentos e arranjos institucionais estabilizam esses sistemas e são chamados de regimes sociotécnicos. Este estudo aprecia as diferenças entre sistemas sociotécnicos de variados contextos espaciais e investiga as associações com os seus respectivos graus de eletrificação de frotas de ônibus municipais – considerado um indicador da transição à mobilidade de baixo carbono. Para isso, desenvolve um estudo de caso comparativo entre 46 municípios do mundo, explorando relações quantitativas entre 80 atributos que caracterizam seus sistemas sociotécnicos. A partir de análises estatísticas e de uma abordagem indutiva-dedutiva, dois perfis territoriais foram tipificados pelo estudo, explicando 78% dos graus de eletrificação da amostra. Os resultados apontam que as transições tendem a ter maiores oportunidades de desenvolvimento (i) em territórios onde os sistemas não estão plenamente consolidados e os seus regimes ainda estão em conformação (territórios “em desenvolvimento”) e (ii) em territórios “desenvolvidos” receptivos à mudança e flexíveis na incorporação de padrões de produção e consumo mais sustentáveis em seus regimes sociotécnicos tendencialmente alinhados e consolidados. O primeiro caso parece explicar o grande avanço da China e as várias iniciativas que estão avançando na América Latina atualmente. O segundo caso parece explicar os relevantes graus de eletrificação verificados no Norte Europeu, seguido do resto do continente - justificados por questões culturais, onde o compromisso com a ação climática e o bem-estar social motivam a incorporação de inovações sustentáveis e o avanço na eletrificação dos ônibus municipais. Por outro lado, a América do Norte e a Oceania se assemelham pelo baixo grau de eletrificação e por seus modelos culturais e urbanos: cidades espraiadas e a cultura do automóvel particular consolidada. Os padrões e perfis geográficos identificados mostram, ainda, que não existe um arranjo universal capaz de modificar o regime sociotécnico da mobilidade. O sucesso de uma transição sustentável está vinculado ao reconhecimento das especificidades territoriais de onde ela está inserida e ao desenho de estratégias e soluções particulares que articulem os sistemas e regimes sociotécnicos ali presentes – argumento que contribui para orientar projetos e pesquisas futuras.
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Essa mudança implica alterar estruturas estáveis existentes atreladas a fatores políticos, econômicos, sociais, culturais e técnicos – o que revela o caráter multidimensional dos processos de transições de sustentabilidade. Essas transições variam geograficamente conforme as contingências históricas e espaciais dos territórios nos quais estão inseridas. As interações e conexões entre cultura, ciência, políticas, mercados, entre outros, configuram o que se conhece por sistemas sociotécnicos. Estilos de vida, regulamentos e arranjos institucionais estabilizam esses sistemas e são chamados de regimes sociotécnicos. Este estudo aprecia as diferenças entre sistemas sociotécnicos de variados contextos espaciais e investiga as associações com os seus respectivos graus de eletrificação de frotas de ônibus municipais – considerado um indicador da transição à mobilidade de baixo carbono. Para isso, desenvolve um estudo de caso comparativo entre 46 municípios do mundo, explorando relações quantitativas entre 80 atributos que caracterizam seus sistemas sociotécnicos. A partir de análises estatísticas e de uma abordagem indutiva-dedutiva, dois perfis territoriais foram tipificados pelo estudo, explicando 78% dos graus de eletrificação da amostra. Os resultados apontam que as transições tendem a ter maiores oportunidades de desenvolvimento (i) em territórios onde os sistemas não estão plenamente consolidados e os seus regimes ainda estão em conformação (territórios “em desenvolvimento”) e (ii) em territórios “desenvolvidos” receptivos à mudança e flexíveis na incorporação de padrões de produção e consumo mais sustentáveis em seus regimes sociotécnicos tendencialmente alinhados e consolidados. O primeiro caso parece explicar o grande avanço da China e as várias iniciativas que estão avançando na América Latina atualmente. O segundo caso parece explicar os relevantes graus de eletrificação verificados no Norte Europeu, seguido do resto do continente - justificados por questões culturais, onde o compromisso com a ação climática e o bem-estar social motivam a incorporação de inovações sustentáveis e o avanço na eletrificação dos ônibus municipais. Por outro lado, a América do Norte e a Oceania se assemelham pelo baixo grau de eletrificação e por seus modelos culturais e urbanos: cidades espraiadas e a cultura do automóvel particular consolidada. Os padrões e perfis geográficos identificados mostram, ainda, que não existe um arranjo universal capaz de modificar o regime sociotécnico da mobilidade. O sucesso de uma transição sustentável está vinculado ao reconhecimento das especificidades territoriais de onde ela está inserida e ao desenho de estratégias e soluções particulares que articulem os sistemas e regimes sociotécnicos ali presentes – argumento que contribui para orientar projetos e pesquisas futuras.The consumption of fossil fuels as an energy source associated with historical human development is directly related to the emissions of pollutants largely responsible for climate change and the deterioration of air quality in the world today. According to Markard et al. (2012), problems of this magnitude cannot be solved by incremental improvements - they require systemic changes, known as sustainable transitions, which involve changing production and consumption patterns related to the energy and transportation sectors. Electrifying bus fleets from municipal systems is considered a solution that, integrated with broader strategies, contributes to achieving low-carbon mobility. This shift implies changing existing stable structures linked to political, economic, social, cultural and technical factors - which reveals the multidimensional nature of the processes of sustainability transitions. These transitions vary geographically according to the historical and spatial contingencies of the territories in which they are embedded. The interactions and connections between culture, science, politics, markets, among others, configure what is known as socio-technical systems. Lifestyles, regulations and institutional arrangements stabilize these systems and are called socio-technical regimes. This study appreciates the differences between socio-technical systems of various spatial contexts and investigates the associations with their respective degrees of electrification of municipal bus fleets - considered an indicator of the transition to low carbon mobility. To do so, it develops a comparative case study among 46 municipalities in the world, exploring quantitative relationships among 80 attributes that characterize their socio-technical systems. Based on statistical analyses and an inductive-deductive approach, two territorial profiles were typified by the study, explaining 78% of the degrees of electrification of the sample. The results indicate that transitions tend to have greater development opportunities (i) in territories where systems are not fully consolidated and their regimes are still being shaped ("developing" territories) and (ii) in "developed" territories that are receptive to change and flexible in incorporating more sustainable production and consumption patterns into their sociotechnical regimes that tend to be aligned and consolidated. The first case seems to explain the great advance of China and the various initiatives that are currently advancing in Latin America. The second case seems to explain the relevant degrees of electrification seen in Northern Europe, followed by the rest of the continent - justified by cultural issues, where commitment to climate action and social welfare motivate the incorporation of sustainable innovations and the advance in the electrification of municipal bus fleets. On the other hand, North America and Oceania are similar in their low degree of electrification and their cultural and urban models: sprawling cities and consolidated private car culture. The identified geographical patterns and profiles also show that there is no universal arrangement capable of changing the socio-technical regime of mobility. The success of a sustainable transition is tied to the recognition of the territorial specificities of where it is embedded and the design of particular strategies and solutions that articulate the socio-technical systems and regimes that prevail there - an argument that contributes to guide future projects and research.application/pdfporÔnibus elétricoTransporte públicoMobilidade urbanaSustainability transitionsGeography of transitionsLow carbon mobilityElectric busesMunicipal public transportationÔnibus elétricos no transporte público municipal : geografia das transições sustentáveis para uma mobilidade de baixo carbonoinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulFaculdade de ArquiteturaPrograma de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e RegionalPorto Alegre, BR-RS2020mestradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001123330.pdf.txt001123330.pdf.txtExtracted Texttext/plain253744http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/218612/2/001123330.pdf.txt77648c96b464b16c7272c8a19845a647MD52ORIGINAL001123330.pdfTexto completoapplication/pdf3089256http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/218612/1/001123330.pdfce1df92c0843dc17960fc803c53a96f8MD5110183/2186122021-05-07 04:53:27.758194oai:www.lume.ufrgs.br:10183/218612Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532021-05-07T07:53:27Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
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