O português de migrantes sulistas no nordeste do Brasil: variação e mudança de marcas regionais no contato intervarietal
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2022 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10183/249892 |
Resumo: | O presente estudo aborda a variação e mudança linguística de variedades regionais de grupos migrantes no contato intervarietal no novo meio/região. Mais especificamente, o estudo enfoca a variedade do português brasileiro meridional falado por migrantes sulistas que se instalaram, a partir da corrente migratória dos anos 1970, na localidade de Balsas, sul do estado do Maranhão, onde entraram em contato com o português setentrional da população local. É objetivo no presente estudo analisar a manutenção e/ou substituição de marcas regionais originais do português desse grupo migrante sulista, considerando a topodinâmica de migração e o contato com o português do novo meio, ao longo do tempo (eixo da mesocronologia, cf. THUN, 2009), bem como identificar os fatores que favorecem sua manutenção, substituição ou nivelamento linguístico. A partir da macroanálise da variação do português, no espaço de migração de variedades regionais, tomando por base os pressupostos da Geolinguística Pluridimensional e Contatual (ALTENHOFEN, 2013), foram realizados levantamentos de dados em três dimensões fundamentais de análise: 1) de falantes migrantes (topodinâmicos) e locais (topostáticos), para a dimensão diatópico-cinética, que considera a relação entre a variedade regional de partida, no início do processo migratório, e de chegada, a partir do recorte sincrônico adotado pelo estudo; 2) de falantes da geração mais velha (GII) e mais jovem (GI), para identificar mudanças em progresso, na dimensão diageracional; por fim, 3) de falantes sulistas e nortistas, visando a contrastar as variedades regionais em contato (dimensão dialingual), para identificar a direção das influências no contato intervarietal em foco. De modo complementar, até onde os dados permitiram, foram considerados, além disso, dados da dimensão diastrática (papel da escolaridade), diagenérica (diferenças de gênero) e diarreferencial (comentários Para a constituição do corpus da pesquisa, foram entrevistados por amostragem dez participantes, sendo cinco de origem sulista (G_S) e cinco nortistas (G_N), com idades entre 48 e 58 anos (GI) e acima de 60 anos, (GII), homens e mulheres. A partir de uma seleção de variáveis fonético-fonológicas e léxico-semânticas – usadas como “meio” para identificar fatores e tendências no uso da língua – contrastou-se os resultados em termos da ocorrência de variantes com marca [+sulista] ou [+nortista]. Os resultados apontam que os falantes topodinâmicos mais velhos (GII_S) mantêm com mais frequência as marcas da variedade sulista, especialmente no léxico, tendendo em alguns casos a variantes menos marcadas que sinalizam uma substituição de variantes sulistas aparentemente mais salientes, porém sem uma adaptação evidente à variedade nortista do entorno. Essa tendência de uso de variantes menos marcadas é igualmente observada entre os falantes mais jovens (GI_S) que, no entanto, tendem a uma substituição maior de marcas sulistas por variantes nortistas, sinalizando uma mudança em progresso na direção de uma fala intermediária, de compromisso com a variedade local nortista do grupo topostático. Na dimensão diatópico-cinética, em que se comparam as variantes do grupo topodinâmico com dados da matriz de origem, no sul do país, a partir de dados do ALERS (Atlas Linguístico e Etnográfico da Região Sul do Brasil), a mudança linguística é mais evidente no campo léxico-semântico, o que sinaliza para elementos da cultura e sociedade do novo meio inexistentes ou distintos na fala de origem. Enquanto o léxico mostra uma identificação maior à variedade local e migrante, as mudanças fonético-fonológicas se mostram mais evidentes entre os mais jovens, sendo claramente mais resistente às mudanças a fala dos mais velhos. Esse comportamento variável de falantes mais velhos e mais jovens, que ainda recebe a concorrência de formas menos marcadas - associadas a um português suprarregional – portanto, isento de marcas de regionalidade supostamente mais estigmatizadas, corrobora tendências observadas em outros estudos de contatos linguísticos intervarietais, como por exemplo Habel (2022), que descrevem um nivelamento linguístico em que se priorizam variantes localmente menos marcadas e, por isso, mutuamente aceitas pelos grupos regionais em contato. O resultado desse nivelamento pode ainda receber o influxo e influência de outras línguas em contato, como é o caso dos falantes sulistas analisados, entre os quais se encontram bilíngues alemão-português que possuem em seu repertório uma variedade de língua de imigração alemã. |
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Meurer, MarciaAltenhofen, Cleo Vilson2022-10-12T04:46:10Z2022http://hdl.handle.net/10183/249892001151143O presente estudo aborda a variação e mudança linguística de variedades regionais de grupos migrantes no contato intervarietal no novo meio/região. Mais especificamente, o estudo enfoca a variedade do português brasileiro meridional falado por migrantes sulistas que se instalaram, a partir da corrente migratória dos anos 1970, na localidade de Balsas, sul do estado do Maranhão, onde entraram em contato com o português setentrional da população local. É objetivo no presente estudo analisar a manutenção e/ou substituição de marcas regionais originais do português desse grupo migrante sulista, considerando a topodinâmica de migração e o contato com o português do novo meio, ao longo do tempo (eixo da mesocronologia, cf. THUN, 2009), bem como identificar os fatores que favorecem sua manutenção, substituição ou nivelamento linguístico. A partir da macroanálise da variação do português, no espaço de migração de variedades regionais, tomando por base os pressupostos da Geolinguística Pluridimensional e Contatual (ALTENHOFEN, 2013), foram realizados levantamentos de dados em três dimensões fundamentais de análise: 1) de falantes migrantes (topodinâmicos) e locais (topostáticos), para a dimensão diatópico-cinética, que considera a relação entre a variedade regional de partida, no início do processo migratório, e de chegada, a partir do recorte sincrônico adotado pelo estudo; 2) de falantes da geração mais velha (GII) e mais jovem (GI), para identificar mudanças em progresso, na dimensão diageracional; por fim, 3) de falantes sulistas e nortistas, visando a contrastar as variedades regionais em contato (dimensão dialingual), para identificar a direção das influências no contato intervarietal em foco. De modo complementar, até onde os dados permitiram, foram considerados, além disso, dados da dimensão diastrática (papel da escolaridade), diagenérica (diferenças de gênero) e diarreferencial (comentários Para a constituição do corpus da pesquisa, foram entrevistados por amostragem dez participantes, sendo cinco de origem sulista (G_S) e cinco nortistas (G_N), com idades entre 48 e 58 anos (GI) e acima de 60 anos, (GII), homens e mulheres. A partir de uma seleção de variáveis fonético-fonológicas e léxico-semânticas – usadas como “meio” para identificar fatores e tendências no uso da língua – contrastou-se os resultados em termos da ocorrência de variantes com marca [+sulista] ou [+nortista]. Os resultados apontam que os falantes topodinâmicos mais velhos (GII_S) mantêm com mais frequência as marcas da variedade sulista, especialmente no léxico, tendendo em alguns casos a variantes menos marcadas que sinalizam uma substituição de variantes sulistas aparentemente mais salientes, porém sem uma adaptação evidente à variedade nortista do entorno. Essa tendência de uso de variantes menos marcadas é igualmente observada entre os falantes mais jovens (GI_S) que, no entanto, tendem a uma substituição maior de marcas sulistas por variantes nortistas, sinalizando uma mudança em progresso na direção de uma fala intermediária, de compromisso com a variedade local nortista do grupo topostático. Na dimensão diatópico-cinética, em que se comparam as variantes do grupo topodinâmico com dados da matriz de origem, no sul do país, a partir de dados do ALERS (Atlas Linguístico e Etnográfico da Região Sul do Brasil), a mudança linguística é mais evidente no campo léxico-semântico, o que sinaliza para elementos da cultura e sociedade do novo meio inexistentes ou distintos na fala de origem. Enquanto o léxico mostra uma identificação maior à variedade local e migrante, as mudanças fonético-fonológicas se mostram mais evidentes entre os mais jovens, sendo claramente mais resistente às mudanças a fala dos mais velhos. Esse comportamento variável de falantes mais velhos e mais jovens, que ainda recebe a concorrência de formas menos marcadas - associadas a um português suprarregional – portanto, isento de marcas de regionalidade supostamente mais estigmatizadas, corrobora tendências observadas em outros estudos de contatos linguísticos intervarietais, como por exemplo Habel (2022), que descrevem um nivelamento linguístico em que se priorizam variantes localmente menos marcadas e, por isso, mutuamente aceitas pelos grupos regionais em contato. O resultado desse nivelamento pode ainda receber o influxo e influência de outras línguas em contato, como é o caso dos falantes sulistas analisados, entre os quais se encontram bilíngues alemão-português que possuem em seu repertório uma variedade de língua de imigração alemã.The present study focuses on linguistic variation and change in regional varieties of migrant groups in intervarietal contact in the new environment/region. More specifically, the study focuses on the southern Brazilian Portuguese variety spoken by southern migrants who settled, starting from the migratory current of the 1970s, in the town of Balsas, southern Maranhão state, where they came into contact with the northern Portuguese of the local population. In this study, we aim to analyze the maintenance and/or shift of original regional marks of the Portuguese of this southern migrant group, considering the topodynamics of migration and contact with the Portuguese of the new environment, over time (mesochronology’s axis, cf. THUN, 2009), as well as identify the factors that favor their maintenance, shift or linguistic leveling. From the macro analysis of the variation of Portuguese, in the space of migration of regional varieties, based on the premises of Pluridimensional and Contactual Geolinguistic (ALTENHOFEN, 2013), it raising data in three fundamental dimensions of analysis: 1) of migrant (topodynamic) and local (topostatic) speakers for the diatopical-kinetic dimension, which considers the relationship between the regional variety of departure, at the beginning of the migratory process, and that of arrival, considering the synchronous clipping adopted by the study; 2) speakers of the older (GII) and younger generation (GI), to identify changes in progress, in the diagenerational dimension; finally, 3) Southern and Northern speakers, aiming to contrast regional varieties in contact (dialectal dimension), to identify the direction of influences in the intervarietal contact in focus. Complementarily, as far as the data allowed, data from the diastratic (role of schooling), diageneric (gender differences) and diarreferential (metalinguistic comments) dimensions were also considered to reinforce and deepen the observed tendencies. To constitute the research corpus, ten participants were interviewed by sampling, men and women, five of southern origin (G_S) and five of northern origin (G_N), aged between 48 and 58 years (GI) and over 60 years (GII). Based on a selection of phonetic-phonological and lexical-semantic variables - used as a "means" to identify factors and tendencies in language use - the results were contrasted in terms of the occurrence of variants with the [+southern] or [+northern] mark. The results indicate that older topodinamic speakers (GII_S) more frequently maintain the marks of the Southern variety, especially in the lexicon, tending in some cases to [+ neutral] variants that signal a shift from apparently more salient Southern variants, but without an evident adaptation to the surrounding Northern variety. This tendency to use neutral variants is also observed among younger speakers (GI_S) who, however, tend to a greater shift from Southern marks to Northern variants, signaling a shift in progress towards an intermediate speech, establishing a compromise with the local Northern variety of the topostatic group. In the diatopic-kinetic dimension, in which the variants of the topodinamic group are compared to data from the matrix of origin, in the south of the country, based on data from ALERS (Linguistic-Ethnographic Atlas of Southern Brazil), the linguistic change is more evident in the lexical-semantic field, which signals elements of the culture and society of the new environment absent or distinct in the original speech. While the lexicon shows a greater identification with the local and migrant variety, phonetic-phonological changes are more evident among younger speakers, while the speech of older speakers is clearly more resistant to change. This variable behavior of older and younger speakers, which still receives the competition of neutral forms - associated with a supra-regional Portuguese - therefore, free of supposedly more stigmatized regionality marks, corroborates trends observed in other studies of intervarietal language contacts, such as Habel (2022), who describe a linguistic leveling in which locally less marked variants are prioritized and, therefore, mutually accepted by the regional groups in contact. The result of this leveling may also receive the influx and influence of other languages in contact, as is the case for the Southern speakers analyzed, among whom are German-Portuguese bilinguals who have a German immigrant language variety in their repertoire.application/pdfporLíngua portuguesa : BrasilVariação lingüísticaMigração : BrasilContato lingüísticoLinguagem e línguasBrasil, NordesteBrazilian PortugueseRegional linguistic variationSouthern migrationIntervarietal linguistic contactO português de migrantes sulistas no nordeste do Brasil: variação e mudança de marcas regionais no contato intervarietalinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de LetrasPrograma de Pós-Graduação em LetrasPorto Alegre, BR-RS2022doutoradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001151143.pdf.txt001151143.pdf.txtExtracted Texttext/plain751176http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/249892/2/001151143.pdf.txt67e9eb56b4d2a7c7bae3f5364b35e548MD52ORIGINAL001151143.pdfTexto completoapplication/pdf11757331http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/249892/1/001151143.pdf8dc13b3337e15b83766259405814355dMD5110183/2498922022-10-13 04:49:12.821558oai:www.lume.ufrgs.br:10183/249892Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532022-10-13T07:49:12Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false |
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O presente estudo aborda a variação e mudança linguística de variedades regionais de grupos migrantes no contato intervarietal no novo meio/região. Mais especificamente, o estudo enfoca a variedade do português brasileiro meridional falado por migrantes sulistas que se instalaram, a partir da corrente migratória dos anos 1970, na localidade de Balsas, sul do estado do Maranhão, onde entraram em contato com o português setentrional da população local. É objetivo no presente estudo analisar a manutenção e/ou substituição de marcas regionais originais do português desse grupo migrante sulista, considerando a topodinâmica de migração e o contato com o português do novo meio, ao longo do tempo (eixo da mesocronologia, cf. THUN, 2009), bem como identificar os fatores que favorecem sua manutenção, substituição ou nivelamento linguístico. A partir da macroanálise da variação do português, no espaço de migração de variedades regionais, tomando por base os pressupostos da Geolinguística Pluridimensional e Contatual (ALTENHOFEN, 2013), foram realizados levantamentos de dados em três dimensões fundamentais de análise: 1) de falantes migrantes (topodinâmicos) e locais (topostáticos), para a dimensão diatópico-cinética, que considera a relação entre a variedade regional de partida, no início do processo migratório, e de chegada, a partir do recorte sincrônico adotado pelo estudo; 2) de falantes da geração mais velha (GII) e mais jovem (GI), para identificar mudanças em progresso, na dimensão diageracional; por fim, 3) de falantes sulistas e nortistas, visando a contrastar as variedades regionais em contato (dimensão dialingual), para identificar a direção das influências no contato intervarietal em foco. De modo complementar, até onde os dados permitiram, foram considerados, além disso, dados da dimensão diastrática (papel da escolaridade), diagenérica (diferenças de gênero) e diarreferencial (comentários Para a constituição do corpus da pesquisa, foram entrevistados por amostragem dez participantes, sendo cinco de origem sulista (G_S) e cinco nortistas (G_N), com idades entre 48 e 58 anos (GI) e acima de 60 anos, (GII), homens e mulheres. A partir de uma seleção de variáveis fonético-fonológicas e léxico-semânticas – usadas como “meio” para identificar fatores e tendências no uso da língua – contrastou-se os resultados em termos da ocorrência de variantes com marca [+sulista] ou [+nortista]. Os resultados apontam que os falantes topodinâmicos mais velhos (GII_S) mantêm com mais frequência as marcas da variedade sulista, especialmente no léxico, tendendo em alguns casos a variantes menos marcadas que sinalizam uma substituição de variantes sulistas aparentemente mais salientes, porém sem uma adaptação evidente à variedade nortista do entorno. Essa tendência de uso de variantes menos marcadas é igualmente observada entre os falantes mais jovens (GI_S) que, no entanto, tendem a uma substituição maior de marcas sulistas por variantes nortistas, sinalizando uma mudança em progresso na direção de uma fala intermediária, de compromisso com a variedade local nortista do grupo topostático. Na dimensão diatópico-cinética, em que se comparam as variantes do grupo topodinâmico com dados da matriz de origem, no sul do país, a partir de dados do ALERS (Atlas Linguístico e Etnográfico da Região Sul do Brasil), a mudança linguística é mais evidente no campo léxico-semântico, o que sinaliza para elementos da cultura e sociedade do novo meio inexistentes ou distintos na fala de origem. Enquanto o léxico mostra uma identificação maior à variedade local e migrante, as mudanças fonético-fonológicas se mostram mais evidentes entre os mais jovens, sendo claramente mais resistente às mudanças a fala dos mais velhos. Esse comportamento variável de falantes mais velhos e mais jovens, que ainda recebe a concorrência de formas menos marcadas - associadas a um português suprarregional – portanto, isento de marcas de regionalidade supostamente mais estigmatizadas, corrobora tendências observadas em outros estudos de contatos linguísticos intervarietais, como por exemplo Habel (2022), que descrevem um nivelamento linguístico em que se priorizam variantes localmente menos marcadas e, por isso, mutuamente aceitas pelos grupos regionais em contato. O resultado desse nivelamento pode ainda receber o influxo e influência de outras línguas em contato, como é o caso dos falantes sulistas analisados, entre os quais se encontram bilíngues alemão-português que possuem em seu repertório uma variedade de língua de imigração alemã. |
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