O quarto lado do triângulo : fronteiras entre mito e identidade diaspórica Em The Opposite House, de Helen Oyeyemi
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2020 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10183/217759 |
Resumo: | Este trabalho analisa a obra The Opposite House (2007), da escritora Helen Oyeyemi, a partir dos conflitos gerados pela interação da identidade diaspórica com a narrativa mítica. Tal interação, no contexto da obra, acaba por formar a metáfora do “quarto lado do triângulo”, isto é, de como o mito desempenha a função de ligação do sujeito pós-colonial às suas origens. O enfoque teórico da pesquisa, com base em uma metodologia de estudo bibliográfico e método comparatista-reflexivo, privilegia a discussão de temas como a formação do Atlântico negro (GILROY, 2001), a história do colonialismo (LOVEJOY, 2002; ACHEBE, 2007; FANON,1968; WHEAT, 2016), a formação do “Novo Mundo” cubano (BENÍTEZ ROJO, 1998; MOORE, 2003), o surgimento da migração como fenômeno pós-colonial (GROSFOGUEL, 1998; CHAMBERLAIN ,1998), e a narrativa mítica enquanto fonte de tradição oral circular (HAMPÂTÉ BÂ, 2010; AGUESSY, 1980; COLOMBRES, 2006; PRANDI, 2018; FINNEGAN, 2006). Por outro lado, discute-se a formação da identidade negra ( ORTIZ, 1987; PRATT, 2010; CANCLINI, 2008; BHABHA, 1998; HALL, 2006; 2006), e a questão do trauma e silenciamento da mulher negra (LAPLANCHE; PONTALIS, 1998; FREUD, 1996; CARUTH, 2008; SELIGMANN-SILVA, 2008; KILOMBA, 2019). Tais perspectivas teóricas permitem pensar o triângulo Atlântico como um território cultural repleto de eventos históricos, que vão desde a vinda forçada de escravizados africanos para as Américas, até a migração para o Primeiro Mundo na segunda metade do século XX, eventos que participaram da formação da protagonista da obra, Maja. A interação da cultura de três continentes, somada à experiência da migração, são ações que levam Maja e sua família a se localizarem a partir de uma posição de dupla-consciência, ou seja, de duplo pertencimento em relação à terra terciária, este espaço afro-latino-europeu. Também, o mito, no contexto da obra, serve como elemento de transcendência entre o tempo e o espaço e permite a ligação simultânea do sujeito diaspórico a mais do que um território, cultura, língua e instância da realidade. A relação ambígua da personagem em relação aos locais aos quais pertence (Havana, Londres e Lagos) e a transitoriedade entre a realidade e o mundo espiritual fazem com que a personagem viva crises identitárias. Assim, a formação identitária negra de Maja, portanto, é um processo transcultural gerado a partir da experiência de diferentes zonas de contato, o que neste caso permitiu que ela tivesse formações interculturais negra, latina e, no momento da narrativa, europeia, postas em diálogo a partir do “terceiro espaço”. Diante de identidades tão complexas e múltiplas, Maja sofre com o trauma do racismo e da migração, e passa a ter surtos histéricos que fraturam seu corpo “triangular” – de mulher negra, migrante e portadora de potências espirituais, assim como pertencente à Europa, África e Américas. Destaca-se que a escrita de Oyeyemi desafia a binariedade ou a “trinariedade” ao produzir narrativas que levam o sujeito ao extremo de seus limites identitários, fazendo com que seus personagens descentralizem profundamente suas convicções culturais e passem, ao invés disso, a viver entre identidades, muito mais do que em uma só. Essa problemática representa a fragmentação identitária vivida pelo sujeito pós-colonial, que tem seu corpo físico e imagético fraturado como consequência da colonialidade. |
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Bonatti, DiegoTettamanzy, Ana Lúcia Liberato2021-02-06T04:18:26Z2020http://hdl.handle.net/10183/217759001122341Este trabalho analisa a obra The Opposite House (2007), da escritora Helen Oyeyemi, a partir dos conflitos gerados pela interação da identidade diaspórica com a narrativa mítica. Tal interação, no contexto da obra, acaba por formar a metáfora do “quarto lado do triângulo”, isto é, de como o mito desempenha a função de ligação do sujeito pós-colonial às suas origens. O enfoque teórico da pesquisa, com base em uma metodologia de estudo bibliográfico e método comparatista-reflexivo, privilegia a discussão de temas como a formação do Atlântico negro (GILROY, 2001), a história do colonialismo (LOVEJOY, 2002; ACHEBE, 2007; FANON,1968; WHEAT, 2016), a formação do “Novo Mundo” cubano (BENÍTEZ ROJO, 1998; MOORE, 2003), o surgimento da migração como fenômeno pós-colonial (GROSFOGUEL, 1998; CHAMBERLAIN ,1998), e a narrativa mítica enquanto fonte de tradição oral circular (HAMPÂTÉ BÂ, 2010; AGUESSY, 1980; COLOMBRES, 2006; PRANDI, 2018; FINNEGAN, 2006). Por outro lado, discute-se a formação da identidade negra ( ORTIZ, 1987; PRATT, 2010; CANCLINI, 2008; BHABHA, 1998; HALL, 2006; 2006), e a questão do trauma e silenciamento da mulher negra (LAPLANCHE; PONTALIS, 1998; FREUD, 1996; CARUTH, 2008; SELIGMANN-SILVA, 2008; KILOMBA, 2019). Tais perspectivas teóricas permitem pensar o triângulo Atlântico como um território cultural repleto de eventos históricos, que vão desde a vinda forçada de escravizados africanos para as Américas, até a migração para o Primeiro Mundo na segunda metade do século XX, eventos que participaram da formação da protagonista da obra, Maja. A interação da cultura de três continentes, somada à experiência da migração, são ações que levam Maja e sua família a se localizarem a partir de uma posição de dupla-consciência, ou seja, de duplo pertencimento em relação à terra terciária, este espaço afro-latino-europeu. Também, o mito, no contexto da obra, serve como elemento de transcendência entre o tempo e o espaço e permite a ligação simultânea do sujeito diaspórico a mais do que um território, cultura, língua e instância da realidade. A relação ambígua da personagem em relação aos locais aos quais pertence (Havana, Londres e Lagos) e a transitoriedade entre a realidade e o mundo espiritual fazem com que a personagem viva crises identitárias. Assim, a formação identitária negra de Maja, portanto, é um processo transcultural gerado a partir da experiência de diferentes zonas de contato, o que neste caso permitiu que ela tivesse formações interculturais negra, latina e, no momento da narrativa, europeia, postas em diálogo a partir do “terceiro espaço”. Diante de identidades tão complexas e múltiplas, Maja sofre com o trauma do racismo e da migração, e passa a ter surtos histéricos que fraturam seu corpo “triangular” – de mulher negra, migrante e portadora de potências espirituais, assim como pertencente à Europa, África e Américas. Destaca-se que a escrita de Oyeyemi desafia a binariedade ou a “trinariedade” ao produzir narrativas que levam o sujeito ao extremo de seus limites identitários, fazendo com que seus personagens descentralizem profundamente suas convicções culturais e passem, ao invés disso, a viver entre identidades, muito mais do que em uma só. Essa problemática representa a fragmentação identitária vivida pelo sujeito pós-colonial, que tem seu corpo físico e imagético fraturado como consequência da colonialidade.This thesis analyzes Helen Oyeyemi’s book The Opposite House (2007) from the conflicts brought upon by the interaction of diasporic identity with the mythical narrative. Such interaction, when taking the book’s context into account, ends up creating the “fourth side of the triangle” metaphor. In other words, on how the myth connects the post-colonial individual to his/her origins. The focus of this research, from a bibliographic methodology and a reflexive-comparative method, discusses themes like the constitution of Black Atlantic, (GILROY, 2001), the history of colonialism (LOVEJOY, 2002; ACHEBE, 2007; FANON,1968; WHEAT, 2016), the formation of the Cuban “New World” (BENÍTEZ ROJO, 1998; MOORE, 2003), the emergence of migration as a post-colonial phenomenon (GROSFOGUEL, 1998; CHAMBERLAIN ,1998), the mythic narrative as a source of circular oral tradition (HAMPÂTÉ BÂ, 2010;AGUESSY,1980; COLOMBRES, 2006; PRANDI, 2018; FINNEGAN, 2006). Still, black identity, ( ORTIZ, 1987; PRATT, 2010; CANCLINI, 2008; BHABHA, 1998; HALL, 2006; 2006), issues such as black women being silenced as well as their traumas are also analyzed. (LAPLANCHE; PONTALIS, 1998; FREUD, 1996; CARUTH, 2008; SELIGMANN-SILVA, 2008; KILOMBA, 2019). Such theoretical perspectives allow us to conceive of the Atlantic Triangle as a cultural territory full of historic events, that span from the time of forced migration of enslaved African peoples to the Americas, until migration to the First World in the middle of the 20th century. The cultural interaction of three continents, added with the experience of migration, are factors that make Maja and her family identify themselves from a position of double-consciousness, that is, of dual belonging towards the tertiary land, this Afro-Latin-European space. Therefore, the myth in the context of the book is a transcendental element between time and space, and allows a simultaneous connection of the diasporic individual to more than one territory, culture, language and an instance of reality. The ambiguous relation of the character to the places she belongs to (Havana, London, and Lagos), and the transition between reality and the spiritual world makes it so that the protagonist experiences numerous identity crises. Thus, Maja’s black identity is a transcultural process that comes about from the experiences of different contact areas, which, in this case, provided Black and Latin intercultural characteristics, and during the narrative, an European one. In face of really complex and multiple identities, Maja suffers with the trauma caused by racism and migration, and so starts having hysteric crises that fracture her “triangular” body – of black woman, migrant and owner of spiritual capacities, as well as owned physically to Europe, Africa and Americas. We emphasize that Oyeyemi’s literature challenges binarity or her “tertiary-way-of-belonging” when she writes narratives that take the individual to his/her extreme identity limits, making the characters destabilize their cultural beliefs deeply and rather live between identities, instead of only having one. This problem represents the identity fragmentation lived by the post-colonial subject, whose physical and imaginary body is fractured as a consequence of coloniality.application/pdfporOyeyemi, HelenIdentidadeMitoFronteiras culturaisLiteraturaThe Opposite HouseBorderlandsMythIdentityO quarto lado do triângulo : fronteiras entre mito e identidade diaspórica Em The Opposite House, de Helen Oyeyemiinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de LetrasPrograma de Pós-Graduação em LetrasPorto Alegre, BR-RS2020mestradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001122341.pdf.txt001122341.pdf.txtExtracted Texttext/plain348332http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/217759/2/001122341.pdf.txtea9984921765075aff7fca20e4c1d859MD52ORIGINAL001122341.pdfTexto completoapplication/pdf1877232http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/217759/1/001122341.pdf771f2bb207e6b81471658b8a010f481aMD5110183/2177592021-03-09 04:24:55.525323oai:www.lume.ufrgs.br:10183/217759Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532021-03-09T07:24:55Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false |
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Este trabalho analisa a obra The Opposite House (2007), da escritora Helen Oyeyemi, a partir dos conflitos gerados pela interação da identidade diaspórica com a narrativa mítica. Tal interação, no contexto da obra, acaba por formar a metáfora do “quarto lado do triângulo”, isto é, de como o mito desempenha a função de ligação do sujeito pós-colonial às suas origens. O enfoque teórico da pesquisa, com base em uma metodologia de estudo bibliográfico e método comparatista-reflexivo, privilegia a discussão de temas como a formação do Atlântico negro (GILROY, 2001), a história do colonialismo (LOVEJOY, 2002; ACHEBE, 2007; FANON,1968; WHEAT, 2016), a formação do “Novo Mundo” cubano (BENÍTEZ ROJO, 1998; MOORE, 2003), o surgimento da migração como fenômeno pós-colonial (GROSFOGUEL, 1998; CHAMBERLAIN ,1998), e a narrativa mítica enquanto fonte de tradição oral circular (HAMPÂTÉ BÂ, 2010; AGUESSY, 1980; COLOMBRES, 2006; PRANDI, 2018; FINNEGAN, 2006). Por outro lado, discute-se a formação da identidade negra ( ORTIZ, 1987; PRATT, 2010; CANCLINI, 2008; BHABHA, 1998; HALL, 2006; 2006), e a questão do trauma e silenciamento da mulher negra (LAPLANCHE; PONTALIS, 1998; FREUD, 1996; CARUTH, 2008; SELIGMANN-SILVA, 2008; KILOMBA, 2019). Tais perspectivas teóricas permitem pensar o triângulo Atlântico como um território cultural repleto de eventos históricos, que vão desde a vinda forçada de escravizados africanos para as Américas, até a migração para o Primeiro Mundo na segunda metade do século XX, eventos que participaram da formação da protagonista da obra, Maja. A interação da cultura de três continentes, somada à experiência da migração, são ações que levam Maja e sua família a se localizarem a partir de uma posição de dupla-consciência, ou seja, de duplo pertencimento em relação à terra terciária, este espaço afro-latino-europeu. Também, o mito, no contexto da obra, serve como elemento de transcendência entre o tempo e o espaço e permite a ligação simultânea do sujeito diaspórico a mais do que um território, cultura, língua e instância da realidade. A relação ambígua da personagem em relação aos locais aos quais pertence (Havana, Londres e Lagos) e a transitoriedade entre a realidade e o mundo espiritual fazem com que a personagem viva crises identitárias. Assim, a formação identitária negra de Maja, portanto, é um processo transcultural gerado a partir da experiência de diferentes zonas de contato, o que neste caso permitiu que ela tivesse formações interculturais negra, latina e, no momento da narrativa, europeia, postas em diálogo a partir do “terceiro espaço”. Diante de identidades tão complexas e múltiplas, Maja sofre com o trauma do racismo e da migração, e passa a ter surtos histéricos que fraturam seu corpo “triangular” – de mulher negra, migrante e portadora de potências espirituais, assim como pertencente à Europa, África e Américas. Destaca-se que a escrita de Oyeyemi desafia a binariedade ou a “trinariedade” ao produzir narrativas que levam o sujeito ao extremo de seus limites identitários, fazendo com que seus personagens descentralizem profundamente suas convicções culturais e passem, ao invés disso, a viver entre identidades, muito mais do que em uma só. Essa problemática representa a fragmentação identitária vivida pelo sujeito pós-colonial, que tem seu corpo físico e imagético fraturado como consequência da colonialidade. |
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