Movimentos de ocupação : a relação entre o vivido e o viver
Autor(a) principal: | |
---|---|
Data de Publicação: | 2019 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10183/212034 |
Resumo: | Esta Tese trata da organização de movimentos de ocupação na dialética vivido e viver, a partir de uma análise crítica da vida cotidiana. Os três objetos de análise foram: a ocupação dos estudantes na Escola de Administração da UFRGS contra a PEC do Teto dos Gastos; a Ocupação Mulheres Mirabal de luta pelo fim da violência contra mulher; e a Ocupação Lanceiros Negros de luta por moradia digna. O conceito guia para analisar a organização foi o do Grupo de Pesquisa Organização e Práxis Libertadora (2014, p. 312), segundo o qual “organização é a expressão de processos e práticas orientadas pela razão estratégico-crítica para realizar a ação transformadora”. Essa definição é inspirada na Filosofia da Libertação de Enrique Dussel (2000), que tem como princípio ético-material a produção e reprodução da vida humana em comunidade. A organização, nesse sentido, é uma necessidade para viabilizar o que o autor define como práxis da libertação. Além desse conceito, A Crítica da Vida Cotidiana de Henri Lefebvre (2014) foi a fundamentação teórica que possibilitou reconhecer e apreender empiricamente esses processos e práticas organizacionais em suas coerências e, mesmo, contradições. A partir desse aporte, as categorias utilizadas para análise foram: ambiguidade, vivido e viver, organização e razão estratégico crítica. A ambiguidade é a característica do cotidiano pela qual as aparências e o real se confundem, as contradições e as possibilidades não são perceptíveis. O vivido é o conjunto de experiências sociais, enquanto o viver é contexto e o horizonte do vivido, suas expectativas e possibilidades. Indissociáveis, entre os dois se estabelece uma relação dialética que implica a consciência e a práxis. No cotidiano ambíguo, o vivido se torna confuso e opaco e se afasta de viver. A razão estratégico crítica, por sua vez, é a razão de mediações no nível prático, tendo como fim a mediação da vida humana. Para analisar esses movimentos, primeiramente, buscou-se reconstituir, a partir de observações e vivências, a história das ocupações, realizando uma análise crítica da vida cotidiana nesses espaços, identificando, nas práticas e processos organizacionais, elementos que dão significado às vivências individuais e coletivas (vivido) e orientação aos grupos (viver). Nesses três processos organizacionais foi constatada a ruptura da ambiguidade: os estudantes que se conscientizaram da importância do investimento em educação pública para a soberania de um povo; as mulheres da violência patriarcal; os sem teto da lógica urbana subordinada ao capital. Na sua ruptura, o cotidiano se aproxima do vivido, e o vivido se aproxima do viver, abrindo o campo das possibilidades de práxis criativa e ações transformadoras. A experiência da Ocupa EA proporcionou aos estudantes viver práticas pedagógicas horizontais e dialógicas que evidenciaram as possibilidades de uma educação problematizadora e libertadora. A experiência na Mulheres Mirabal permitiu às acolhidas viver em um ambiente seguro e protegido, possibilitando vislumbrar uma vida diferente, longe do ciclo de violência ao qual estavam submetidas. Na Lanceiros Negros, a experiência de morar na área central urbana e de modo coletivo possibilitou novos modos de ser e estar na cidade, com mais acessos e oportunidades. Assim, o argumento aqui defendido é que a práxis da libertação, mediada pela organização estratégica-crítico, passa pela dialética vivido e viver, sendo a vida cotidiana a esfera em que esse movimento acontece. |
id |
URGS_5b24d1a4877ca604dc5cfac2fcab01dc |
---|---|
oai_identifier_str |
oai:www.lume.ufrgs.br:10183/212034 |
network_acronym_str |
URGS |
network_name_str |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS |
repository_id_str |
1853 |
spelling |
Damboriarena, Luiza AraujoMisoczky, Maria Ceci Araujo2020-07-17T03:43:03Z2019http://hdl.handle.net/10183/212034001113971Esta Tese trata da organização de movimentos de ocupação na dialética vivido e viver, a partir de uma análise crítica da vida cotidiana. Os três objetos de análise foram: a ocupação dos estudantes na Escola de Administração da UFRGS contra a PEC do Teto dos Gastos; a Ocupação Mulheres Mirabal de luta pelo fim da violência contra mulher; e a Ocupação Lanceiros Negros de luta por moradia digna. O conceito guia para analisar a organização foi o do Grupo de Pesquisa Organização e Práxis Libertadora (2014, p. 312), segundo o qual “organização é a expressão de processos e práticas orientadas pela razão estratégico-crítica para realizar a ação transformadora”. Essa definição é inspirada na Filosofia da Libertação de Enrique Dussel (2000), que tem como princípio ético-material a produção e reprodução da vida humana em comunidade. A organização, nesse sentido, é uma necessidade para viabilizar o que o autor define como práxis da libertação. Além desse conceito, A Crítica da Vida Cotidiana de Henri Lefebvre (2014) foi a fundamentação teórica que possibilitou reconhecer e apreender empiricamente esses processos e práticas organizacionais em suas coerências e, mesmo, contradições. A partir desse aporte, as categorias utilizadas para análise foram: ambiguidade, vivido e viver, organização e razão estratégico crítica. A ambiguidade é a característica do cotidiano pela qual as aparências e o real se confundem, as contradições e as possibilidades não são perceptíveis. O vivido é o conjunto de experiências sociais, enquanto o viver é contexto e o horizonte do vivido, suas expectativas e possibilidades. Indissociáveis, entre os dois se estabelece uma relação dialética que implica a consciência e a práxis. No cotidiano ambíguo, o vivido se torna confuso e opaco e se afasta de viver. A razão estratégico crítica, por sua vez, é a razão de mediações no nível prático, tendo como fim a mediação da vida humana. Para analisar esses movimentos, primeiramente, buscou-se reconstituir, a partir de observações e vivências, a história das ocupações, realizando uma análise crítica da vida cotidiana nesses espaços, identificando, nas práticas e processos organizacionais, elementos que dão significado às vivências individuais e coletivas (vivido) e orientação aos grupos (viver). Nesses três processos organizacionais foi constatada a ruptura da ambiguidade: os estudantes que se conscientizaram da importância do investimento em educação pública para a soberania de um povo; as mulheres da violência patriarcal; os sem teto da lógica urbana subordinada ao capital. Na sua ruptura, o cotidiano se aproxima do vivido, e o vivido se aproxima do viver, abrindo o campo das possibilidades de práxis criativa e ações transformadoras. A experiência da Ocupa EA proporcionou aos estudantes viver práticas pedagógicas horizontais e dialógicas que evidenciaram as possibilidades de uma educação problematizadora e libertadora. A experiência na Mulheres Mirabal permitiu às acolhidas viver em um ambiente seguro e protegido, possibilitando vislumbrar uma vida diferente, longe do ciclo de violência ao qual estavam submetidas. Na Lanceiros Negros, a experiência de morar na área central urbana e de modo coletivo possibilitou novos modos de ser e estar na cidade, com mais acessos e oportunidades. Assim, o argumento aqui defendido é que a práxis da libertação, mediada pela organização estratégica-crítico, passa pela dialética vivido e viver, sendo a vida cotidiana a esfera em que esse movimento acontece.This Thesis is about the organization of occupy movements in the dialectic of lived and living, from a critical analysis of everyday life. The three objects of analysis were: student occupy at Administration School in UFRGS against PEC do Teto dos Gastos; the Mulheres Mirabal Occupy struggle for the end of violence against women; and the Lanceiros Negros occupy struggle for decent housing. The guiding concept for analyzing the organization was that of the Research Group Organização e Práxis Libertadora (2014, p. 312), according to which “organization is the expression of processes and practices guided by strategic-critical reason to carry out transformative action”. This definition is inspired by Enrique Dussel's Philosophy of Libertation (2000), which has as its ethical-material principle the production and reproduction of human life in community. The organization, in this sense, is a necessity to make possible what the author defines as libertarian praxis. In addition to this concept, Henri Lefebvre's The Critique of Everyday Life (2014) was the theory that made possible to recognize and empirically apprehend these organizational processes and practices in their coherence and even contradictions. From this theoretical contribution, the categories used for analysis were: Ambiguity, Lived and Living, Organization and Critical Strategic Reason. Ambiguity is the characteristic of daily life in which appearances and the real are confused, contradictions and possibilities are not noticeable. The lived is the set of social experiences, while the living is context and the horizon of the lived, its expectations and possibilities. Inseparable, between both is established a dialectical relationship that implies the consciousness and praxis. In the ambiguous daily life, the lived becomes confused and opaque and moves away from living. The critical strategic reason, in turn, is the reason for mediations at the practical (technical) level with the aim of mediating human life. To analyze these movements, first sought to reconstruct, from observations and experiences, the history of occupations, performing a critical analysis of daily life in these spaces, identifying, in organizational practices and processes, elements that give meaning to individual and collective experiences (lived) and groups orientation (living). In these three organizational processes the ambiguity was broken: students who became aware of the importance of investing in public education for the sovereignty of a people; the women of patriarchal violence; the homeless of the urban logic subordinated to capital. In its rupture, daily life get closer to the lived, and the lived close to the living, opening the field of possibilities of creative praxis and transformative actions. The experience of Ocupa EA enable the students live horizontal and dialogic pedagogical practices that highlighted the possibilities of a problematizing and libertarian education. The experience at Mulheres Mirabal allowed the women live in a safe and protected environment, allowing them to see a different life away from the cycle of violence to which they were subjected. At Lanceiros Negros, the experience of living in the central urban area and in community enabled new ways of being in the city, with more access and opportunities. In this sense, the argument defended here is that the libertarian praxis, mediated by the strategic-critical organization, passes through the dialectic lived and living, and the everyday life is the sphere in which this movement takes place.application/pdfporOrganizaçãoMovimentos sociaisVida cotidianaOcupaçãoMoradiaOrganizationOccupyEveryday lifeLived and livingMovimentos de ocupação : a relação entre o vivido e o viverinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulEscola de AdministraçãoPrograma de Pós-Graduação em AdministraçãoPorto Alegre, BR-RS2019doutoradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001113971.pdf.txt001113971.pdf.txtExtracted Texttext/plain452368http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/212034/2/001113971.pdf.txtc11002b8b5ec0c10f2a3f9cccd2bc48dMD52ORIGINAL001113971.pdfTexto completoapplication/pdf5140242http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/212034/1/001113971.pdf118632648ebe3996eaba7fc95a3aa640MD5110183/2120342020-07-18 03:48:14.458369oai:www.lume.ufrgs.br:10183/212034Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532020-07-18T06:48:14Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false |
dc.title.pt_BR.fl_str_mv |
Movimentos de ocupação : a relação entre o vivido e o viver |
title |
Movimentos de ocupação : a relação entre o vivido e o viver |
spellingShingle |
Movimentos de ocupação : a relação entre o vivido e o viver Damboriarena, Luiza Araujo Organização Movimentos sociais Vida cotidiana Ocupação Moradia Organization Occupy Everyday life Lived and living |
title_short |
Movimentos de ocupação : a relação entre o vivido e o viver |
title_full |
Movimentos de ocupação : a relação entre o vivido e o viver |
title_fullStr |
Movimentos de ocupação : a relação entre o vivido e o viver |
title_full_unstemmed |
Movimentos de ocupação : a relação entre o vivido e o viver |
title_sort |
Movimentos de ocupação : a relação entre o vivido e o viver |
author |
Damboriarena, Luiza Araujo |
author_facet |
Damboriarena, Luiza Araujo |
author_role |
author |
dc.contributor.author.fl_str_mv |
Damboriarena, Luiza Araujo |
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv |
Misoczky, Maria Ceci Araujo |
contributor_str_mv |
Misoczky, Maria Ceci Araujo |
dc.subject.por.fl_str_mv |
Organização Movimentos sociais Vida cotidiana Ocupação Moradia |
topic |
Organização Movimentos sociais Vida cotidiana Ocupação Moradia Organization Occupy Everyday life Lived and living |
dc.subject.eng.fl_str_mv |
Organization Occupy Everyday life Lived and living |
description |
Esta Tese trata da organização de movimentos de ocupação na dialética vivido e viver, a partir de uma análise crítica da vida cotidiana. Os três objetos de análise foram: a ocupação dos estudantes na Escola de Administração da UFRGS contra a PEC do Teto dos Gastos; a Ocupação Mulheres Mirabal de luta pelo fim da violência contra mulher; e a Ocupação Lanceiros Negros de luta por moradia digna. O conceito guia para analisar a organização foi o do Grupo de Pesquisa Organização e Práxis Libertadora (2014, p. 312), segundo o qual “organização é a expressão de processos e práticas orientadas pela razão estratégico-crítica para realizar a ação transformadora”. Essa definição é inspirada na Filosofia da Libertação de Enrique Dussel (2000), que tem como princípio ético-material a produção e reprodução da vida humana em comunidade. A organização, nesse sentido, é uma necessidade para viabilizar o que o autor define como práxis da libertação. Além desse conceito, A Crítica da Vida Cotidiana de Henri Lefebvre (2014) foi a fundamentação teórica que possibilitou reconhecer e apreender empiricamente esses processos e práticas organizacionais em suas coerências e, mesmo, contradições. A partir desse aporte, as categorias utilizadas para análise foram: ambiguidade, vivido e viver, organização e razão estratégico crítica. A ambiguidade é a característica do cotidiano pela qual as aparências e o real se confundem, as contradições e as possibilidades não são perceptíveis. O vivido é o conjunto de experiências sociais, enquanto o viver é contexto e o horizonte do vivido, suas expectativas e possibilidades. Indissociáveis, entre os dois se estabelece uma relação dialética que implica a consciência e a práxis. No cotidiano ambíguo, o vivido se torna confuso e opaco e se afasta de viver. A razão estratégico crítica, por sua vez, é a razão de mediações no nível prático, tendo como fim a mediação da vida humana. Para analisar esses movimentos, primeiramente, buscou-se reconstituir, a partir de observações e vivências, a história das ocupações, realizando uma análise crítica da vida cotidiana nesses espaços, identificando, nas práticas e processos organizacionais, elementos que dão significado às vivências individuais e coletivas (vivido) e orientação aos grupos (viver). Nesses três processos organizacionais foi constatada a ruptura da ambiguidade: os estudantes que se conscientizaram da importância do investimento em educação pública para a soberania de um povo; as mulheres da violência patriarcal; os sem teto da lógica urbana subordinada ao capital. Na sua ruptura, o cotidiano se aproxima do vivido, e o vivido se aproxima do viver, abrindo o campo das possibilidades de práxis criativa e ações transformadoras. A experiência da Ocupa EA proporcionou aos estudantes viver práticas pedagógicas horizontais e dialógicas que evidenciaram as possibilidades de uma educação problematizadora e libertadora. A experiência na Mulheres Mirabal permitiu às acolhidas viver em um ambiente seguro e protegido, possibilitando vislumbrar uma vida diferente, longe do ciclo de violência ao qual estavam submetidas. Na Lanceiros Negros, a experiência de morar na área central urbana e de modo coletivo possibilitou novos modos de ser e estar na cidade, com mais acessos e oportunidades. Assim, o argumento aqui defendido é que a práxis da libertação, mediada pela organização estratégica-crítico, passa pela dialética vivido e viver, sendo a vida cotidiana a esfera em que esse movimento acontece. |
publishDate |
2019 |
dc.date.issued.fl_str_mv |
2019 |
dc.date.accessioned.fl_str_mv |
2020-07-17T03:43:03Z |
dc.type.status.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/publishedVersion |
dc.type.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
format |
doctoralThesis |
status_str |
publishedVersion |
dc.identifier.uri.fl_str_mv |
http://hdl.handle.net/10183/212034 |
dc.identifier.nrb.pt_BR.fl_str_mv |
001113971 |
url |
http://hdl.handle.net/10183/212034 |
identifier_str_mv |
001113971 |
dc.language.iso.fl_str_mv |
por |
language |
por |
dc.rights.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/openAccess |
eu_rights_str_mv |
openAccess |
dc.format.none.fl_str_mv |
application/pdf |
dc.source.none.fl_str_mv |
reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) instacron:UFRGS |
instname_str |
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) |
instacron_str |
UFRGS |
institution |
UFRGS |
reponame_str |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS |
collection |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS |
bitstream.url.fl_str_mv |
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/212034/2/001113971.pdf.txt http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/212034/1/001113971.pdf |
bitstream.checksum.fl_str_mv |
c11002b8b5ec0c10f2a3f9cccd2bc48d 118632648ebe3996eaba7fc95a3aa640 |
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv |
MD5 MD5 |
repository.name.fl_str_mv |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) |
repository.mail.fl_str_mv |
lume@ufrgs.br||lume@ufrgs.br |
_version_ |
1816737018748600320 |