Trauma e sintoma social : resistências do sujeito entre história individual e história da cultura
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2010 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10183/28799 |
Resumo: | O ponto de partida desta tese são questões suscitadas pela prática clínica desenvolvida pela autora, psicóloga e psicanalista, em uma Unidade de Saúde de Atenção Primária, do Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospital Conceição, vinculado ao Ministério da Saúde, na cidade de Porto Alegre (RS). O objetivo consiste em buscar compreender manifestações sintomáticas, referidas a atos de violência por parte de portadores do estigma de exclusão social, e, igualmente, as manifestações de protagonismo, marcadas pela presença de uma palavra singular em pulsação no laço social – ambas depreendidas do cotidiano nesse território de trabalho na periferia urbana. Nessa busca, foram investigadas as condições históricas e estruturais das quais adveio a captura dos corpos a quem foi atribuído tal estigma, assim como as operações psíquicas, necessárias para a constituição do sujeito em um laço discursivo; na investigação, levou-se em conta igualmente os efeitos da lógica neoliberal capitalista, que ordena a sociedade de classes no mundo ocidental contemporâneo. O estudo da historiografia das formações sociais que deram corpo ao mal-estar e às tensões sociais nas cidades brasileiras e, mais especificamente, na cidade de Porto Alegre, possibilitou conferir maior especificidade ao embate entre forças sociais desiguais e antagônicas – figuradas nas posições senhor e escravo –, que caracterizou o fundamento e o transcurso da maior parte da história local, regional e nacional. As condições históricas para o agenciamento subjetivo da parte mais frágil da contenda foram rastreadas neste estudo, relacionando as resistências a ocupar o lugar de dejeto à inscrição de novos traços discursivos, dos quais poderia decorrer, como potência, a emergência de novas séries de significação na cultura brasileira. Tendo trabalhado na interface entre a psicanálise freudolacaniana e o campo da historiografia, com apoio em argumentos da clínica, este trabalho ratifica que a não transmissão de uma herança simbólica, a ser apropriada como um lugar para o sujeito no Outro, situa, por consequência, o traumático da objetalização como legado; o ato violento, nesta condição específica, é afirmado como o recurso pelo qual o sujeito tenta salvar sua singularidade. Igualmente ressalta-se o processo de agenciamento de uma refundação da história, que, hoje em dia, vem se efetuando em todo território nacional, como expressão legítima de uma posição discursiva, que articulou séries significantes a partir da inscrição de traços remontáveis ao período aqui estudado. A necessária função do reconhecimento do Outro e do semelhante para a constituição subjetiva foi demarcada, e considerações sobre as instituições e a técnica nesta clínica da exclusão foram exploradas na apresentação de três casos clínicos. Novas perguntas, de ordem ética, estética e política, a respeito dos temas da exclusão e da inscrição dos sujeitos na ordem social, são formuladas na conclusão deste trabalho da tese. |
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Mello, Eliana Dable deFischer, Rosa Maria Bueno2011-05-03T06:00:08Z2010http://hdl.handle.net/10183/28799000769736O ponto de partida desta tese são questões suscitadas pela prática clínica desenvolvida pela autora, psicóloga e psicanalista, em uma Unidade de Saúde de Atenção Primária, do Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospital Conceição, vinculado ao Ministério da Saúde, na cidade de Porto Alegre (RS). O objetivo consiste em buscar compreender manifestações sintomáticas, referidas a atos de violência por parte de portadores do estigma de exclusão social, e, igualmente, as manifestações de protagonismo, marcadas pela presença de uma palavra singular em pulsação no laço social – ambas depreendidas do cotidiano nesse território de trabalho na periferia urbana. Nessa busca, foram investigadas as condições históricas e estruturais das quais adveio a captura dos corpos a quem foi atribuído tal estigma, assim como as operações psíquicas, necessárias para a constituição do sujeito em um laço discursivo; na investigação, levou-se em conta igualmente os efeitos da lógica neoliberal capitalista, que ordena a sociedade de classes no mundo ocidental contemporâneo. O estudo da historiografia das formações sociais que deram corpo ao mal-estar e às tensões sociais nas cidades brasileiras e, mais especificamente, na cidade de Porto Alegre, possibilitou conferir maior especificidade ao embate entre forças sociais desiguais e antagônicas – figuradas nas posições senhor e escravo –, que caracterizou o fundamento e o transcurso da maior parte da história local, regional e nacional. As condições históricas para o agenciamento subjetivo da parte mais frágil da contenda foram rastreadas neste estudo, relacionando as resistências a ocupar o lugar de dejeto à inscrição de novos traços discursivos, dos quais poderia decorrer, como potência, a emergência de novas séries de significação na cultura brasileira. Tendo trabalhado na interface entre a psicanálise freudolacaniana e o campo da historiografia, com apoio em argumentos da clínica, este trabalho ratifica que a não transmissão de uma herança simbólica, a ser apropriada como um lugar para o sujeito no Outro, situa, por consequência, o traumático da objetalização como legado; o ato violento, nesta condição específica, é afirmado como o recurso pelo qual o sujeito tenta salvar sua singularidade. Igualmente ressalta-se o processo de agenciamento de uma refundação da história, que, hoje em dia, vem se efetuando em todo território nacional, como expressão legítima de uma posição discursiva, que articulou séries significantes a partir da inscrição de traços remontáveis ao período aqui estudado. A necessária função do reconhecimento do Outro e do semelhante para a constituição subjetiva foi demarcada, e considerações sobre as instituições e a técnica nesta clínica da exclusão foram exploradas na apresentação de três casos clínicos. Novas perguntas, de ordem ética, estética e política, a respeito dos temas da exclusão e da inscrição dos sujeitos na ordem social, são formuladas na conclusão deste trabalho da tese.The starting point of this thesis are questions emerged from the clinical practice developed by the author, who is a psychologist and psychoanalyst, in a First Aid Health Unity (Unidade de Saúde de Atenção Primária), part of the Community Health Service of the Conceição Hospital Group, linked to the Health Ministry, in the city of Porto Alegre. It aims at understanding symptomatic manifestations, referred to acts of violence performed by individuals suffering from stigma of social exclusion, as well as to understand the manifestations of protagonism, characterized by the presence of a singular word in pulsation in the social bond – both emerged from the quotidian in this work field in urban periphery. In this quest, it was investigated the historical and structural conditions where the bodies that received such stigma stemmed from, as well as the psychic operations, necessary for the constitution of a subject in a discourse bond; during the investigation, it was also taken into account the effects of the neoliberal capitalist logics, which defines the society of classes in the contemporary western world. The study of the historiography of the social formations that originated the uneasiness and the social tensions in Brazilian cities and, more specifically, in the city of Porto Alegre, enabled this paper to assign greater specificity to the clash of unequal and antagonistic social powers – represented by the positions of ‗master‘ and slave – that has characterized the basis and the existence of most of the local, as well as regional and national history. The historic conditions for the subjective agency of the most fragile part of the dispute were tracked down in this study, relating the resistance for occupying the trash object‘s place to the inscription of the new discursive traits, from which the emergence of new signifying chains in the Brazilian culture could, potentially, arise from. Having worked on the interface between the Freudian/Lacanian psychoanalysis and the field of historiography, supported by clinic arguments, this work ratifies that the non-transmission of a symbolic heritage, to be appropriated as a place for the subject on the Other, determines, consequently, the traumatic of the objectalization as a legacy. The violent act, in this sense, is seen as a resource by which the subject tries to save their singularity, but it is also highlighted the process to renew history, which, nowadays, has been performing throughout the country, as a legitimate expression of a discursive position, which is considered as articulating significant series due to the entry of traces arisen from the period here studied. The recognition from the Other and from fellows creatures as a necessary function (agency) for subjective constitution was framed, and considerations about the institutions and the technique for deal with this clinic of exclusion were explored in the presentation of three clinical cases. New questions of ethical, aesthetic and political aspects, related to the issues of exclusion and subjective inscription in the social order, are proposed at the conclusion section of this thesis.application/pdfporTraumaSubjetividadeSintoma socialHistóriaLinguagemPeriferia urbanaAtenção primária à saúdeTraumaSubjectivitySocial symptomHistoryLanguageUrban peripheryPrimary health careTrauma e sintoma social : resistências do sujeito entre história individual e história da culturainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulFaculdade de EducaçãoPrograma de Pós-Graduação em EducaçãoPorto Alegre, BR-RS2010doutoradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSORIGINAL000769736.pdf000769736.pdfTexto completoapplication/pdf2421356http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/28799/1/000769736.pdf196363a24cef7a61c47414a212b0eed0MD51TEXT000769736.pdf.txt000769736.pdf.txtExtracted Texttext/plain478847http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/28799/2/000769736.pdf.txt30f71a43d81d4dc620397dc3e158d7c2MD52THUMBNAIL000769736.pdf.jpg000769736.pdf.jpgGenerated Thumbnailimage/jpeg1862http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/28799/3/000769736.pdf.jpg701d996b2649fd6ecc0818f5c18058dcMD5310183/287992018-10-11 08:44:53.19oai:www.lume.ufrgs.br:10183/28799Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532018-10-11T11:44:53Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false |
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