Humano, demasiado orgânico : problematizações acerca do imperativo do sujeito cerebral

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Fortes, Rogério da Costa
Data de Publicação: 2015
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/132898
Resumo: Esta dissertação problematiza o discurso da expertise neurocientífica no que se refere à produção de verdade acerca da caracterização de uma ética, uma moral e uma ontologia humana a partir da concepção das Neurociências. Inspirado no referencial teóricometodológico que Gilles Deleuze denominou de cartografia foucaultiana e na arqueologia de Foucault, o estudo tem como objetivo examinar e descrever o discurso midiatizado das Neurociências – designado como neurodiscurso –, no que tange ao objeto da pesquisa, e mapear diagramas de poder entre práticas discursivas e meios não discursivos relacionados com a dispersão do neurodiscurso nas práticas culturais e políticas da contemporaneidade. A problematização é derivada da trilogia foucaultiana saber-poder-si e das três esferas derivadas da concepção de biopoder contemporâneo, tal como apresentado por Paul Rabinow e Nikolas Rose: discursos experts verdadeiros; jogos de poder; modos de subjetivação. Os referenciais do campo da Saúde Mental Coletiva, a problematização acerca da moral realizada por Friedrich Nietzsche e a concepção de biopolítica proposta por Nikolas Rose também irão compor o solo epistemológico e dar subsídios às análises. Como corpus foram selecionadas para análise entrevistas de neurocientistas publicadas em páginas digitais de veículos de comunicação de ampla divulgação. Os enunciados selecionados foram reinterpretados a partir de determinadas formações discursivas. A designação humano demasiado orgânico, aqui, é tomada para dar visibilidade ao emergente modo de o ser humano pensar, interpretar, julgar e definir a si mesmo a partir de uma compreensão somática. Esse processo, no âmbito das Neurociências, tem sido identificado por diferentes autores como a aparição de uma nova figura antropológica, que busca redefinir filosoficamente a concepção de humanidade: o Sujeito Cerebral. O discurso das Neurociências tem constituído uma dada política de verdade acerca da ontologia humana por meio de fluxos de poder entre distintos domínios: um saber delimitado historicamente, o Cerebralismo; sua dispersão na cultura – as Neuroculturas; sua versão como estratégia biopolítica – as Neuropolíticas; a configuração de uma determinada figura de humanidade: o Homo neuronal; o surgimento de novos modos de subjetivação e de práticas sociais individuais e coletivas: o Sujeito Cerebral, as neuroasceses, e as neurossociabilidades – e um determinado projeto teleológico, denominado por Lucien Sfez como utopia da saúde perfeita. Como a caracterização desse discurso em larga medida tem sido atravessado pelo ideário biopolítico neoliberal, a problematização deste estudo evoca a recusa a formas de subjetividades coercitivas que correspondam a projetos reducionistas e totalitários de poder, e enseja a abertura a perspectivas ontológicas que criem novas possibilidades de compreensão de si e à invenção de formas de vida não fascistas.
id URGS_641e00e92aea808316a7644bb7f10688
oai_identifier_str oai:www.lume.ufrgs.br:10183/132898
network_acronym_str URGS
network_name_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
repository_id_str 1853
spelling Fortes, Rogério da CostaDamico, José Geraldo Soares2016-02-25T02:06:26Z2015http://hdl.handle.net/10183/132898000984742Esta dissertação problematiza o discurso da expertise neurocientífica no que se refere à produção de verdade acerca da caracterização de uma ética, uma moral e uma ontologia humana a partir da concepção das Neurociências. Inspirado no referencial teóricometodológico que Gilles Deleuze denominou de cartografia foucaultiana e na arqueologia de Foucault, o estudo tem como objetivo examinar e descrever o discurso midiatizado das Neurociências – designado como neurodiscurso –, no que tange ao objeto da pesquisa, e mapear diagramas de poder entre práticas discursivas e meios não discursivos relacionados com a dispersão do neurodiscurso nas práticas culturais e políticas da contemporaneidade. A problematização é derivada da trilogia foucaultiana saber-poder-si e das três esferas derivadas da concepção de biopoder contemporâneo, tal como apresentado por Paul Rabinow e Nikolas Rose: discursos experts verdadeiros; jogos de poder; modos de subjetivação. Os referenciais do campo da Saúde Mental Coletiva, a problematização acerca da moral realizada por Friedrich Nietzsche e a concepção de biopolítica proposta por Nikolas Rose também irão compor o solo epistemológico e dar subsídios às análises. Como corpus foram selecionadas para análise entrevistas de neurocientistas publicadas em páginas digitais de veículos de comunicação de ampla divulgação. Os enunciados selecionados foram reinterpretados a partir de determinadas formações discursivas. A designação humano demasiado orgânico, aqui, é tomada para dar visibilidade ao emergente modo de o ser humano pensar, interpretar, julgar e definir a si mesmo a partir de uma compreensão somática. Esse processo, no âmbito das Neurociências, tem sido identificado por diferentes autores como a aparição de uma nova figura antropológica, que busca redefinir filosoficamente a concepção de humanidade: o Sujeito Cerebral. O discurso das Neurociências tem constituído uma dada política de verdade acerca da ontologia humana por meio de fluxos de poder entre distintos domínios: um saber delimitado historicamente, o Cerebralismo; sua dispersão na cultura – as Neuroculturas; sua versão como estratégia biopolítica – as Neuropolíticas; a configuração de uma determinada figura de humanidade: o Homo neuronal; o surgimento de novos modos de subjetivação e de práticas sociais individuais e coletivas: o Sujeito Cerebral, as neuroasceses, e as neurossociabilidades – e um determinado projeto teleológico, denominado por Lucien Sfez como utopia da saúde perfeita. Como a caracterização desse discurso em larga medida tem sido atravessado pelo ideário biopolítico neoliberal, a problematização deste estudo evoca a recusa a formas de subjetividades coercitivas que correspondam a projetos reducionistas e totalitários de poder, e enseja a abertura a perspectivas ontológicas que criem novas possibilidades de compreensão de si e à invenção de formas de vida não fascistas.This thesis discusses the discourse of neuroscience expertise with regard to the production of truth about the characterization of an ethics, a moral and a human ontology from the Neuroscience framework. Inspired by the theoretical framework that Gilles Deleuze called Foucauldian cartography and in Foucault's archeology, the study aims to examine and describe the mediatized discourse of Neuroscience – designated as neurodiscourse – with respect to the object of the research, and to map power diagrams between discursive practices and not discursive means related to the dispersion of the neurodiscourse in the cultural and political practices of contemporaneity. The questioning is derived from Foucault's trilogy knowledge-power-self and the three spheres derived from the notion of contemporary biopower as presented by Paul Rabinow and Nikolas Rose: true expert speeches; power games; modes of subjectivity. Works from the field of Public Mental Health, the questioning about the moral performed by Friedrich Nietzsche and the concept of biopolitics proposed by Nikolas Rose will also compose the epistemological ground and support analysis. As corpus were selected for analysis interviews with neuroscientists published in digital pages of full disclosure from media companies. The selected statements were reinterpreted from certain discursive formations. The designation human too organic, here, is taken to give visibility to the emerging ways humans think, interpret, judge and define itself from a somatic understanding. This process, in the context of Neuroscience, has been identified by different authors as the appearance of a new anthropological figure, which seeks to redefine the philosophical conception of humanity: the Cerebral Subject. The discourse of Neuroscience has given determined truth policy about human ontology through power flows between different areas: a knowledge delimited historically, cerebralism; its spread in the culture – the neurocultures; his version as biopolitics strategy – Neuropolitics; the settle of a determined figure of humanity: Homo neuronal; the emergence of new forms of subjectivity and individual and collective social practices: the Cerebral Subject, the neuroasceses, and neurosociabilities – and a certain teleological project, named by Lucien Sfez as utopia of perfect health. Since the characterization of this discourse to a large extent has been crossed by the ideology neoliberal biopolitics, the questioning of this study evokes the refusal to forms of coercive subjectivities that match reductionist and totalitarian projects of power, and entails the opening to ontological perspectives that create new possibilities for understanding of the self and the invention of non-fascist life forms.application/pdfporBiopoderCartografia socialNeurociênciasOntologia humanaSujeitoSaúde coletivaContemporary biopowerNeuroscientific discourseHuman ontologyFoucauldian cartographyCerebral subjectHumano, demasiado orgânico : problematizações acerca do imperativo do sujeito cerebralinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulEscola de EnfermagemPrograma de Pós-Graduação em Saúde ColetivaPorto Alegre, BR-RS2015mestradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSORIGINAL000984742.pdf000984742.pdfTexto completoapplication/pdf4466714http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/132898/1/000984742.pdf70bcb463f9dc1b23843661c0a5556fe1MD51TEXT000984742.pdf.txt000984742.pdf.txtExtracted Texttext/plain523851http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/132898/2/000984742.pdf.txtce92b99daf7b6c0130e379bb2ebeec44MD52THUMBNAIL000984742.pdf.jpg000984742.pdf.jpgGenerated Thumbnailimage/jpeg1104http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/132898/3/000984742.pdf.jpg4c85435d22446d5f432f2a0ff8dd0776MD5310183/1328982018-10-26 09:49:08.396oai:www.lume.ufrgs.br:10183/132898Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532018-10-26T12:49:08Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
dc.title.pt_BR.fl_str_mv Humano, demasiado orgânico : problematizações acerca do imperativo do sujeito cerebral
title Humano, demasiado orgânico : problematizações acerca do imperativo do sujeito cerebral
spellingShingle Humano, demasiado orgânico : problematizações acerca do imperativo do sujeito cerebral
Fortes, Rogério da Costa
Biopoder
Cartografia social
Neurociências
Ontologia humana
Sujeito
Saúde coletiva
Contemporary biopower
Neuroscientific discourse
Human ontology
Foucauldian cartography
Cerebral subject
title_short Humano, demasiado orgânico : problematizações acerca do imperativo do sujeito cerebral
title_full Humano, demasiado orgânico : problematizações acerca do imperativo do sujeito cerebral
title_fullStr Humano, demasiado orgânico : problematizações acerca do imperativo do sujeito cerebral
title_full_unstemmed Humano, demasiado orgânico : problematizações acerca do imperativo do sujeito cerebral
title_sort Humano, demasiado orgânico : problematizações acerca do imperativo do sujeito cerebral
author Fortes, Rogério da Costa
author_facet Fortes, Rogério da Costa
author_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Fortes, Rogério da Costa
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv Damico, José Geraldo Soares
contributor_str_mv Damico, José Geraldo Soares
dc.subject.por.fl_str_mv Biopoder
Cartografia social
Neurociências
Ontologia humana
Sujeito
Saúde coletiva
topic Biopoder
Cartografia social
Neurociências
Ontologia humana
Sujeito
Saúde coletiva
Contemporary biopower
Neuroscientific discourse
Human ontology
Foucauldian cartography
Cerebral subject
dc.subject.eng.fl_str_mv Contemporary biopower
Neuroscientific discourse
Human ontology
Foucauldian cartography
Cerebral subject
description Esta dissertação problematiza o discurso da expertise neurocientífica no que se refere à produção de verdade acerca da caracterização de uma ética, uma moral e uma ontologia humana a partir da concepção das Neurociências. Inspirado no referencial teóricometodológico que Gilles Deleuze denominou de cartografia foucaultiana e na arqueologia de Foucault, o estudo tem como objetivo examinar e descrever o discurso midiatizado das Neurociências – designado como neurodiscurso –, no que tange ao objeto da pesquisa, e mapear diagramas de poder entre práticas discursivas e meios não discursivos relacionados com a dispersão do neurodiscurso nas práticas culturais e políticas da contemporaneidade. A problematização é derivada da trilogia foucaultiana saber-poder-si e das três esferas derivadas da concepção de biopoder contemporâneo, tal como apresentado por Paul Rabinow e Nikolas Rose: discursos experts verdadeiros; jogos de poder; modos de subjetivação. Os referenciais do campo da Saúde Mental Coletiva, a problematização acerca da moral realizada por Friedrich Nietzsche e a concepção de biopolítica proposta por Nikolas Rose também irão compor o solo epistemológico e dar subsídios às análises. Como corpus foram selecionadas para análise entrevistas de neurocientistas publicadas em páginas digitais de veículos de comunicação de ampla divulgação. Os enunciados selecionados foram reinterpretados a partir de determinadas formações discursivas. A designação humano demasiado orgânico, aqui, é tomada para dar visibilidade ao emergente modo de o ser humano pensar, interpretar, julgar e definir a si mesmo a partir de uma compreensão somática. Esse processo, no âmbito das Neurociências, tem sido identificado por diferentes autores como a aparição de uma nova figura antropológica, que busca redefinir filosoficamente a concepção de humanidade: o Sujeito Cerebral. O discurso das Neurociências tem constituído uma dada política de verdade acerca da ontologia humana por meio de fluxos de poder entre distintos domínios: um saber delimitado historicamente, o Cerebralismo; sua dispersão na cultura – as Neuroculturas; sua versão como estratégia biopolítica – as Neuropolíticas; a configuração de uma determinada figura de humanidade: o Homo neuronal; o surgimento de novos modos de subjetivação e de práticas sociais individuais e coletivas: o Sujeito Cerebral, as neuroasceses, e as neurossociabilidades – e um determinado projeto teleológico, denominado por Lucien Sfez como utopia da saúde perfeita. Como a caracterização desse discurso em larga medida tem sido atravessado pelo ideário biopolítico neoliberal, a problematização deste estudo evoca a recusa a formas de subjetividades coercitivas que correspondam a projetos reducionistas e totalitários de poder, e enseja a abertura a perspectivas ontológicas que criem novas possibilidades de compreensão de si e à invenção de formas de vida não fascistas.
publishDate 2015
dc.date.issued.fl_str_mv 2015
dc.date.accessioned.fl_str_mv 2016-02-25T02:06:26Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/10183/132898
dc.identifier.nrb.pt_BR.fl_str_mv 000984742
url http://hdl.handle.net/10183/132898
identifier_str_mv 000984742
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
instacron:UFRGS
instname_str Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
instacron_str UFRGS
institution UFRGS
reponame_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
collection Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
bitstream.url.fl_str_mv http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/132898/1/000984742.pdf
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/132898/2/000984742.pdf.txt
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/132898/3/000984742.pdf.jpg
bitstream.checksum.fl_str_mv 70bcb463f9dc1b23843661c0a5556fe1
ce92b99daf7b6c0130e379bb2ebeec44
4c85435d22446d5f432f2a0ff8dd0776
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv MD5
MD5
MD5
repository.name.fl_str_mv Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
repository.mail.fl_str_mv lume@ufrgs.br||lume@ufrgs.br
_version_ 1810085351279034368