Fatores ambientais e vulnerabilidade ao transtorno de personalidade borderline : um estudo caso-controle de traumas psicológicos precoces e vínculos parentais percebidos em uma amostra brasileira de pacientes mulheres

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Schestatsky, Sidnei Samuel
Data de Publicação: 2005
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/8461
Resumo: Introdução: O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é um transtorno mental grave e complexo, caracterizado por um padrão difuso de instabilidade na regulação das emoções, auto-imagem, controle dos impulsos e dos relacionamentos interpessoais. Estima-se que ocorra entre 1% a 2% da população geral, sendo o mais comum dos transtornos de personalidade em contextos clínicos, afetando cerca de 10% de todos os pacientes psiquiátricos ambulatoriais e 15% a 20% dos internados. Caracteriza-se por grave incapacitação profissional, substancial utilização dos sistemas de saúde mental e uma taxa de mortalidade por suicídio de 10%, cinqüenta vezes maior do que a da população geral. A co-ocorrência do TPB com patologias do Eixo I é comum, como os Transtornos do Humor, Transtornos Ansiosos, Transtornos Alimentares e Abuso de Álcool/Drogas, tornando piores o tratamento, a evolução e o prognóstico destes quadros. No entanto, não há nenhum estudo com estes pacientes – que tenham sido criteriosamente diagnosticados e usados instrumentos padronizados – em populações clínicas ou não-clínicas de língua portuguesa no Brasil ou na América do Sul. Objetivos: 1) descrever, do ponto de vista clínico e demográfico, a presença desta patologia no nosso meio, e 2) avaliar a existência ou não de fatores de risco ambientais, na infância e adolescência (situações traumáticas e disfunção parental percebida), que se associem com o diagnóstico de TPB na idade adulta, em pacientes internados e de ambulatório, de três centros de referência nas cidades de Porto Alegre e Novo Hamburgo (RS/Brasil). Material e Métodos: Desenvolveu-se, primeiro, um estudo transversal (N=26), para caracterizar descritivamente a população clínica em estudo. Depois, um estudo caso-controle pareado (N=23), tendo como desfecho o diagnóstico de TPB e como fatores de exposição a ocorrência de eventos traumáticos precoces (abusos emocional, físico, sexual e negligências física e emocional) e a percepção dos vínculos familiares na infância (afeto e controle). Constituíu-se uma amostra de conveniência de 26 casos para o estudo transversal e de 23 pares de casos (pacientes com TPB) e controles (pessoas normais), para o estudo caso-controle. Todos os casos foram, por acaso, do sexo feminino, e idade entre 18 e 60 anos (média 33.6 ± 10.6 anos). Foram diagnosticados tendo pelo menos cinco dos critérios para TPB (DSM-IV) e escore ³ 8 na Entrevista Diagnóstica para Borderline - Revisada (DIB-R). Sujeitos com inteligência clinicamente abaixo da média, diagnósticos de quadros orgânicocerebrais agudos ou crônicos e Esquizofrenia ou Transtorno Bipolar I presentes, foram excluídos. Os controles, para serem incluídos, tiveram escores iguais ou abaixo de sete no DIB-R, escores abaixo de sete no Self-Report Questionnaire e nenhum diagnóstico presente na versão brasileira do Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI). A amostra (N=23) foi pareada por sexo, idade (± 1 ano), escolaridade e classe sócio-econômica. Coletaram-se informações clínicas e demográficas com Protocolo padronizado e desenvolvido para o estudo. Dados sobre comorbidade foram colhidos pelo MINI. Evidências sobre abusos (emocionais, físicos e sexuais) e negligências (emocional e física) foram obtidas através da Entrevista sobre Experiências Familiares (FEI) e pelo Questionário de Traumas na Infância (CTQ). As percepções que casos e controles tinham dos seus vínculos maternos e paternos na infância foram obtidas pelo “Parental Bonding Instrument”. Resultados: O grupo de casos constituíu-se de pacientes gravemente doentes, com início precoce dos sintomas (16 ± 8.9 anos de idade) e uma média de 4.3 ± 3.4 internações psiquiátricas ao longo da vida. Sintomas mais freqüentes foram instabilidade afetiva (96.1%), sentimentos crônicos de vazio (92.3%), crises de raiva intensas e injustificadas (84.6%), reações desesperadas frente a abandonos (84.6%) e automutilações (84.6%). Apresentaram importante risco de suicídio (84.6%), 76.9% com tentativas prévias e 3.8% (N=1), mesmo em tratamento, cometeu suicídio durante o estudo. Os casos tiveram taxas altas de comorbidade com Transtornos do Humor (76.9%) e Ansiosos (69.2%) e menores com Transtornos Alimentares (30.7%) e Abuso de Álcool/Drogas (23.1%). A média de comorbidades foi de 2.1 ± 0.9 diagnósticos do Eixo I por caso de TPB. Os casos estavam bastante incapacitados funcionalmente: 69.3% desempregados, afastados há 19 ± 20.7 meses do trabalho e 11.3% precocemente aposentados por doença. A incapacitação global dos casos foi significativamente maior que dos controles, quando medida pelo GAF (Global Assessment Function), e similar aos índices mencionados na literatura. Cerca de 80% dos casos estava ou esteve em psicoterapia individual, com freqüência de uma vez por semana (85.7%), durante mais de dois anos (26.3 ± 31.8 meses de duração). Vinte e quatro (92.3%) vinha também em tratamento psicofarmacológico de longa duração. Quanto às situações traumáticas precoces, os casos estiveram significativamente mais expostos a abusos emocionais, abusos físicos, abusos sexuais e negligência emocional, antes dos 16 anos de idade. Em relação a eventos traumáticos em geral, os pacientes com TPB estiveram mais expostos em todas as faixas etárias: antes dos 12 anos, dos 13 aos 16 anos e após os 17 anos. Nenhum dos casos, nem dos controles, deixou de estar exposto a pelo menos um evento traumático ao longo da vida. Quanto aos vínculos familiares percebidos, observaram-se, nos casos, diferenças significativas tanto na presença de escores inferiores de afeto materno e superiores de controle paterno, como na predominância de pais e mães do “tipo Três” (restrição de liberdade + controle sem afeto) (Parker, 1979). Houve também associação entre a ocorrência de abusos e negligência na infância com a percepção de pais menos afetivos e mais controladores. Conclusões: 1) a amostra sul-brasileira de pacientes com TPB foi basicamente semelhante às apresentações clínico-demográficas tradicionalmente descritas para o TPB em outras populações clínicas, o que é mais uma contribuição para a validação transcultural desta categoria nosográfica; 2) as evidências de maior exposição, por parte dos pacientes com TPB, a eventos traumáticos na infância e adolescência, especialmente abusos emocionais, físicos e sexuais, confirmam a hipótese, para esta amostra, da associação destas variáveis ambientais como fatores de risco para o aumento de sua vulnerabilidade à psicopatologia borderline na idade adulta; e 3) esta maior exposição a eventos traumáticos ocorreu dentro de uma matriz familiar percebida como disfuncional., o que poderia apontar para duas hipóteses: (a) um efeito aditivo da ocorrência de traumas precoces com a disfunção nos vínculos parentais no desenvolvimento da futura psicopatologia, ou (b) a possibilidade de que o impacto das situações traumáticas possa ser mediado pela qualidade e intensidade da disfunção familiar, seja aumentando os fatores de vulnerabilidade ou, ao contrário, fortalecendo os fatores de resiliência da criança nas famílias percebidas como menos disfuncionais. Estes achados foram redigidos sob a forma de dois artigos, onde se salientaram as principais contribuições do estudo: 1) a primeira descrição clínica detalhada de uma amostra de língua portuguesa de pacientes com TPB criteriosamente diagnosticados; 2) a primeira observação da associação de situações traumáticas na infância e adolescência com psicopatologia borderline na idade adulta em uma população de pacientes de língua portuguesa; e 3) a primeira constatação, em pacientes com TPB de língua portuguesa, da associação entre situações adversas precoces e a percepção de vínculos parentais disfuncionais.
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A co-ocorrência do TPB com patologias do Eixo I é comum, como os Transtornos do Humor, Transtornos Ansiosos, Transtornos Alimentares e Abuso de Álcool/Drogas, tornando piores o tratamento, a evolução e o prognóstico destes quadros. No entanto, não há nenhum estudo com estes pacientes – que tenham sido criteriosamente diagnosticados e usados instrumentos padronizados – em populações clínicas ou não-clínicas de língua portuguesa no Brasil ou na América do Sul. Objetivos: 1) descrever, do ponto de vista clínico e demográfico, a presença desta patologia no nosso meio, e 2) avaliar a existência ou não de fatores de risco ambientais, na infância e adolescência (situações traumáticas e disfunção parental percebida), que se associem com o diagnóstico de TPB na idade adulta, em pacientes internados e de ambulatório, de três centros de referência nas cidades de Porto Alegre e Novo Hamburgo (RS/Brasil). Material e Métodos: Desenvolveu-se, primeiro, um estudo transversal (N=26), para caracterizar descritivamente a população clínica em estudo. Depois, um estudo caso-controle pareado (N=23), tendo como desfecho o diagnóstico de TPB e como fatores de exposição a ocorrência de eventos traumáticos precoces (abusos emocional, físico, sexual e negligências física e emocional) e a percepção dos vínculos familiares na infância (afeto e controle). Constituíu-se uma amostra de conveniência de 26 casos para o estudo transversal e de 23 pares de casos (pacientes com TPB) e controles (pessoas normais), para o estudo caso-controle. Todos os casos foram, por acaso, do sexo feminino, e idade entre 18 e 60 anos (média 33.6 ± 10.6 anos). Foram diagnosticados tendo pelo menos cinco dos critérios para TPB (DSM-IV) e escore ³ 8 na Entrevista Diagnóstica para Borderline - Revisada (DIB-R). 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As percepções que casos e controles tinham dos seus vínculos maternos e paternos na infância foram obtidas pelo “Parental Bonding Instrument”. Resultados: O grupo de casos constituíu-se de pacientes gravemente doentes, com início precoce dos sintomas (16 ± 8.9 anos de idade) e uma média de 4.3 ± 3.4 internações psiquiátricas ao longo da vida. Sintomas mais freqüentes foram instabilidade afetiva (96.1%), sentimentos crônicos de vazio (92.3%), crises de raiva intensas e injustificadas (84.6%), reações desesperadas frente a abandonos (84.6%) e automutilações (84.6%). Apresentaram importante risco de suicídio (84.6%), 76.9% com tentativas prévias e 3.8% (N=1), mesmo em tratamento, cometeu suicídio durante o estudo. Os casos tiveram taxas altas de comorbidade com Transtornos do Humor (76.9%) e Ansiosos (69.2%) e menores com Transtornos Alimentares (30.7%) e Abuso de Álcool/Drogas (23.1%). A média de comorbidades foi de 2.1 ± 0.9 diagnósticos do Eixo I por caso de TPB. Os casos estavam bastante incapacitados funcionalmente: 69.3% desempregados, afastados há 19 ± 20.7 meses do trabalho e 11.3% precocemente aposentados por doença. A incapacitação global dos casos foi significativamente maior que dos controles, quando medida pelo GAF (Global Assessment Function), e similar aos índices mencionados na literatura. Cerca de 80% dos casos estava ou esteve em psicoterapia individual, com freqüência de uma vez por semana (85.7%), durante mais de dois anos (26.3 ± 31.8 meses de duração). Vinte e quatro (92.3%) vinha também em tratamento psicofarmacológico de longa duração. Quanto às situações traumáticas precoces, os casos estiveram significativamente mais expostos a abusos emocionais, abusos físicos, abusos sexuais e negligência emocional, antes dos 16 anos de idade. Em relação a eventos traumáticos em geral, os pacientes com TPB estiveram mais expostos em todas as faixas etárias: antes dos 12 anos, dos 13 aos 16 anos e após os 17 anos. Nenhum dos casos, nem dos controles, deixou de estar exposto a pelo menos um evento traumático ao longo da vida. Quanto aos vínculos familiares percebidos, observaram-se, nos casos, diferenças significativas tanto na presença de escores inferiores de afeto materno e superiores de controle paterno, como na predominância de pais e mães do “tipo Três” (restrição de liberdade + controle sem afeto) (Parker, 1979). Houve também associação entre a ocorrência de abusos e negligência na infância com a percepção de pais menos afetivos e mais controladores. Conclusões: 1) a amostra sul-brasileira de pacientes com TPB foi basicamente semelhante às apresentações clínico-demográficas tradicionalmente descritas para o TPB em outras populações clínicas, o que é mais uma contribuição para a validação transcultural desta categoria nosográfica; 2) as evidências de maior exposição, por parte dos pacientes com TPB, a eventos traumáticos na infância e adolescência, especialmente abusos emocionais, físicos e sexuais, confirmam a hipótese, para esta amostra, da associação destas variáveis ambientais como fatores de risco para o aumento de sua vulnerabilidade à psicopatologia borderline na idade adulta; e 3) esta maior exposição a eventos traumáticos ocorreu dentro de uma matriz familiar percebida como disfuncional., o que poderia apontar para duas hipóteses: (a) um efeito aditivo da ocorrência de traumas precoces com a disfunção nos vínculos parentais no desenvolvimento da futura psicopatologia, ou (b) a possibilidade de que o impacto das situações traumáticas possa ser mediado pela qualidade e intensidade da disfunção familiar, seja aumentando os fatores de vulnerabilidade ou, ao contrário, fortalecendo os fatores de resiliência da criança nas famílias percebidas como menos disfuncionais. 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