Travessias em corpo e verbo : memória, heranças e escrita em Caderno de um ausente e menina escrevendo com pai, de João Anzanello Carrascoza

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Azzi, Júlia Nunes
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/220575
Resumo: Este trabalho se propõe a analisar os romances Caderno de um ausente e Menina escrevendo com pai, de João Anzanello Carrascoza, a partir das relações entre memória e escrita, passando pelas ideias de transmissão, herança e identidade. Ambos os romances fazem parte da Trilogia do adeus, que é concluída pelo livro A pele da terra (não incluído neste recorte) e que, como o próprio nome sugere, está ligada à ideia de perda e de ausência, mas também de memória. As duas obras analisadas apresentam uma busca por presença em face da perda, através das lembranças e do ato da escrita, que podem descortinar as heranças recebidas ao longo da vida ou ser, no caso da escrita, uma espécie de herança por si só. Esses romances possuem narradores diferentes e se situam em momentos distintos do tempo, porém centram-se em uma mesma relação familiar: o laço entre João, narrador do primeiro livro, e sua filha, Bia, narradora do segundo livro. Orbitando esse laço afetivo, está a ausência que ameaça – causada pela passagem do tempo e pela morte – e o cultivo das lembranças a partir de uma escrita memorialística. Em Caderno de um ausente, João escreve um caderno para Bia, que acaba de nascer, como uma herança de memórias para que ela leia quando ele estiver ausente, mas também como uma reflexão pessoal sobre a situação que está vivendo, de virar pai em uma idade já mais avançada, sabendo que não poderá acompanhar toda a trajetória de Bia. Menina escrevendo com pai é narrado por Bia, quando esta já possui vinte anos de idade, tendo recém perdido o pai. Após ler o caderno escrito por João, ela rememora alguns momentos vividos junto com ele, enquanto reflete sobre seu próprio crescimento e sua história de vida, e lida com o próprio luto. Considerando a importância do recordar e do escrever para ambas as narrativas, este trabalho busca analisar de que forma a evocação memorialística aparece nos romances, especialmente em sua relação com a escrita que a descortina (e limita) e com as heranças a que os personagens continuamente se referem como partes de sua identidade. João e Bia continuamente recriam suas vivências pela escrita, e, nesse sentido, se faz muito importante a elaboração realizada na linguagem, que se enche de símiles e metáforas, explorando o potencial criativo das recordações. Busca-se entender de que forma essas lembranças, pela escrita, recebem novos sentidos e significados, e de que forma essa recuperação passa por uma mistura entre afeto e símbolo, entre aquilo que é involuntário e aquilo que é construído, entre as presenças e as ausências. Além disso, procura-se pensar de que maneira essa escrita memorialística que passa de um para outro se conecta com a valorização da experiência do cotidiano e do olhar que “lê o mundo”, pensando esse movimento também como uma herança que é passada de João para Bia. Como aporte teórico, utilizam-se as ideias de autores como Aleida Assmann (2011), Jeanne Marie Gagnebin (2006), Joël Candau (2012), Paul Ricoeur (2007) e Walter Benjamin (1987).
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Esses romances possuem narradores diferentes e se situam em momentos distintos do tempo, porém centram-se em uma mesma relação familiar: o laço entre João, narrador do primeiro livro, e sua filha, Bia, narradora do segundo livro. Orbitando esse laço afetivo, está a ausência que ameaça – causada pela passagem do tempo e pela morte – e o cultivo das lembranças a partir de uma escrita memorialística. Em Caderno de um ausente, João escreve um caderno para Bia, que acaba de nascer, como uma herança de memórias para que ela leia quando ele estiver ausente, mas também como uma reflexão pessoal sobre a situação que está vivendo, de virar pai em uma idade já mais avançada, sabendo que não poderá acompanhar toda a trajetória de Bia. Menina escrevendo com pai é narrado por Bia, quando esta já possui vinte anos de idade, tendo recém perdido o pai. Após ler o caderno escrito por João, ela rememora alguns momentos vividos junto com ele, enquanto reflete sobre seu próprio crescimento e sua história de vida, e lida com o próprio luto. Considerando a importância do recordar e do escrever para ambas as narrativas, este trabalho busca analisar de que forma a evocação memorialística aparece nos romances, especialmente em sua relação com a escrita que a descortina (e limita) e com as heranças a que os personagens continuamente se referem como partes de sua identidade. João e Bia continuamente recriam suas vivências pela escrita, e, nesse sentido, se faz muito importante a elaboração realizada na linguagem, que se enche de símiles e metáforas, explorando o potencial criativo das recordações. Busca-se entender de que forma essas lembranças, pela escrita, recebem novos sentidos e significados, e de que forma essa recuperação passa por uma mistura entre afeto e símbolo, entre aquilo que é involuntário e aquilo que é construído, entre as presenças e as ausências. Além disso, procura-se pensar de que maneira essa escrita memorialística que passa de um para outro se conecta com a valorização da experiência do cotidiano e do olhar que “lê o mundo”, pensando esse movimento também como uma herança que é passada de João para Bia. Como aporte teórico, utilizam-se as ideias de autores como Aleida Assmann (2011), Jeanne Marie Gagnebin (2006), Joël Candau (2012), Paul Ricoeur (2007) e Walter Benjamin (1987).This thesis intends to analyze the novels Caderno de um ausente and Menina escrevendo com pai, by João Anzanello Carrascoza, focusing on the relationship between memory and writing while also approaching the ideas of conveyance, heritage and identity. Both novels are part of the trilogy called Trilogia do adeus, which is concluded by the book A pele da terra (not included in this analysis) and, as the name itself suggests, is connected to the notions of loss and absence, but also remembrance. Both books present a search for presence in the face of loss, through memories and the act of writing, which may unravel what was inherited in the course of one's life or may be, in the case of writing, a type of inheritance itself. Although each of these novels has a different narrator and takes place at distinct points in time, both center themselves upon the same familial relationship: the bond between João, narrator of the first book, and his daughter, Bia, narrator of the second one. Surrounding this affective bond, there is always the impendence of absence – through the passage of time and the proximity of death – and the cultivation of remembrances by way of memorialistic writing. In Caderno de um ausente, João writes a notebook for Bia, who is a newborn, as a memory inheritance for her to read when he becomes absent in her life. The notebook is also used as a personal means of reflection upon the situation he is living: becoming a father at an advanced age, knowing he won't be able to be present in the entirety of Bia's trajectory. Menina escrevendo com pai is narrated by Bia. At twenty years-old and having recently lost her father, she reflects on her own upbringing and her life history, at the same time she handles her own grief. Taking into account the importance of remembering and writing for both narratives, this thesis seeks to analyze in which way the evocation of memory appears in the novels, especially in its relation to the writing that unravels (and limits) it and to the heritage that is continuously referred by the narrators as part of their identities. João and Bia recreate, time and again, their life experiences through their writing. In that sense, the elaboration through language receives much importance, becoming full of similes and metaphors, which explore the creative potential of remembering. This analysis will attempt to understand in which ways these memories, through writing, receive new meanings and significance, and in which ways this recovery involves a mixture of affection and symbol, voluntary and involuntary memory, presence and absence. Furthermore, it will seek to reflect on the ways this memorialistic writing is linked to the appreciation of daily experience and of the attitude of "reading the world", thinking of this exchange as also a type of inheritance that is passed from João to Bia. As the theoretical basis, this thesis utilizes ideas from authors such as Aleida Assmann (2011), Jeanne Marie Gagnebin (2006), Joël Candau (2012), Paul Ricoeur (2007) e Walter Benjamin (1987).application/pdfporCarrascoza, João Anzanello, 1962-. Caderno de um ausente : Crítica e interpretaçãoMemóriaEscritaHerancaLiteratura brasileiraMemoryWritingFamily heritageTravessias em corpo e verbo : memória, heranças e escrita em Caderno de um ausente e menina escrevendo com pai, de João Anzanello Carrascozainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de LetrasPrograma de Pós-Graduação em LetrasPorto Alegre, BR-RS2021mestradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001124874.pdf.txt001124874.pdf.txtExtracted Texttext/plain400750http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/220575/2/001124874.pdf.txtf66cdd9f2fcfd01423a146fc5df8a3c0MD52ORIGINAL001124874.pdfTexto completoapplication/pdf1008906http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/220575/1/001124874.pdf626c2ab7daf96a95b6626544dd3d009aMD5110183/2205752022-04-05 04:39:26.163865oai:www.lume.ufrgs.br:10183/220575Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532022-04-05T07:39:26Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
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