Existo porque resisto : a Casa de Referência Mulheres Mirabal como corpo-território e expressão política das lutas feministas no espaço urbano
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2023 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10183/261795 |
Resumo: | As histórias das cidades costumam ser contadas tomando como ponto de partida as estruturas de poder hegemônicas patriarcais, que priorizam a ideia de um sujeito neutro e universal que habita o espaço urbano. A desconsideração e silenciamento das experiências de pessoas consideradas dissidentes se materializam, sobretudo, nos diversos tipos de desigualdade e violência de gênero no território, e interferem nos processos de planejamento urbano tradicionalmente alicerçados na lógica do capital. Apesar disso, outras formas de existência se instauram reivindicando políticas públicas para as mulheres e direitos básicos universais, como a moradia, educação, saúde, bem como a segurança e integridade dos corpos marcados cotidianamente por violências e opressões. Um exemplo disso são as ocupações urbanas organizadas pelos movimentos sociais feministas, que se caracterizam como territórios de insurgência, solidariedade, cooperação e resistência, e que operam a cidade na lógica do corpo-território e da produção de comum. Essa investigação tem como lócus de pesquisa a Casa de Referência Mulheres Mirabal (CRMM), ocupação urbana feminista que existe desde 2016 na cidade de Porto Alegre/RS, coordenada pelo Movimento de Mulheres Olga Benário e que acolhe e abriga mulheres vítimas de violência doméstica. Busca-se, através das narrativas produzidas com estas mulheres, refletir sobre como a vida em comunidade não legitimada pelo planejamento urbano vigente patriarcalizado se expressa politicamente como corpo-território. A abordagem teórico-metodológica da narrativa se justifica pela necessidade de se aproximar de um tipo de produção do conhecimento que aposta em uma epistemologia da experiência, permitindo acessar diferentes enunciados sobre formas de viver na cidade, e mapear práticas urbanas cotidianas que operam a partir de uma lógica distinta da hegemônica. A produção de narrativas foi guiada por um processo de vinculação de inspiração etnográfica com as mulheres da CRMM, tendo como ferramentas a escrita implicada, as entrevistas narrativas individuais não estruturadas, além de leituras e produção de mapas coletivos. Foi possível identificar práticas de corpo-território da Casa de Referência Mulheres Mirabal que tensionam a lógica patriarcal vigente nos estudos urbanos, organizadas em três grandes atos: o corpo-território como levante – onde emergem as narrativas sobre o início da organização coletiva das mulheres para construção da Mirabal; o corpo-território como campo de batalha – onde aparece a disputa discursiva com a mídia hegemônica e os diversos tipos de violência operadas pelo Estado; e o corpo-território como produção do comum – onde se tecem alianças e práticas sociais que diferem da lógica neoliberal e individualista, resgatando valor de uso do espaço urbano. Esses três atos demonstram como a luta da CRMM se expande e reverbera em diferentes escalas do território, e como é possível transformar a realidade das mulheres a partir de uma luta coletiva. |
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Marinho, Bárbara RodriguesCaron, Daniele2023-07-05T03:48:35Z2023http://hdl.handle.net/10183/261795001172616As histórias das cidades costumam ser contadas tomando como ponto de partida as estruturas de poder hegemônicas patriarcais, que priorizam a ideia de um sujeito neutro e universal que habita o espaço urbano. A desconsideração e silenciamento das experiências de pessoas consideradas dissidentes se materializam, sobretudo, nos diversos tipos de desigualdade e violência de gênero no território, e interferem nos processos de planejamento urbano tradicionalmente alicerçados na lógica do capital. Apesar disso, outras formas de existência se instauram reivindicando políticas públicas para as mulheres e direitos básicos universais, como a moradia, educação, saúde, bem como a segurança e integridade dos corpos marcados cotidianamente por violências e opressões. Um exemplo disso são as ocupações urbanas organizadas pelos movimentos sociais feministas, que se caracterizam como territórios de insurgência, solidariedade, cooperação e resistência, e que operam a cidade na lógica do corpo-território e da produção de comum. Essa investigação tem como lócus de pesquisa a Casa de Referência Mulheres Mirabal (CRMM), ocupação urbana feminista que existe desde 2016 na cidade de Porto Alegre/RS, coordenada pelo Movimento de Mulheres Olga Benário e que acolhe e abriga mulheres vítimas de violência doméstica. Busca-se, através das narrativas produzidas com estas mulheres, refletir sobre como a vida em comunidade não legitimada pelo planejamento urbano vigente patriarcalizado se expressa politicamente como corpo-território. A abordagem teórico-metodológica da narrativa se justifica pela necessidade de se aproximar de um tipo de produção do conhecimento que aposta em uma epistemologia da experiência, permitindo acessar diferentes enunciados sobre formas de viver na cidade, e mapear práticas urbanas cotidianas que operam a partir de uma lógica distinta da hegemônica. A produção de narrativas foi guiada por um processo de vinculação de inspiração etnográfica com as mulheres da CRMM, tendo como ferramentas a escrita implicada, as entrevistas narrativas individuais não estruturadas, além de leituras e produção de mapas coletivos. Foi possível identificar práticas de corpo-território da Casa de Referência Mulheres Mirabal que tensionam a lógica patriarcal vigente nos estudos urbanos, organizadas em três grandes atos: o corpo-território como levante – onde emergem as narrativas sobre o início da organização coletiva das mulheres para construção da Mirabal; o corpo-território como campo de batalha – onde aparece a disputa discursiva com a mídia hegemônica e os diversos tipos de violência operadas pelo Estado; e o corpo-território como produção do comum – onde se tecem alianças e práticas sociais que diferem da lógica neoliberal e individualista, resgatando valor de uso do espaço urbano. Esses três atos demonstram como a luta da CRMM se expande e reverbera em diferentes escalas do território, e como é possível transformar a realidade das mulheres a partir de uma luta coletiva.The histories of cities are usually distorted by hegemonic patriarchal power structures that prioritize the idea of a neutral and universal subject inhabiting urban space. These structures disregard and silence the experiences of people who are considered dissidents, especially with regard to various forms of gender inequality and violence in the territory, and intervene in urban planning processes that are traditionally based on the logic of capital. Despite this, other forms of existence are being established, demanding public policies for women and basic universal rights such as housing, education, health care, as well as the safety and integrity of bodies that are daily marked by violence and oppression.The urban occupations organized by feminist social movements are an example of this, characterized as territories of insurgency, solidarity, cooperation and resistance that operate the city within the logic of the body-territory and the production of the common. The research site of this investigation is the Casa de Referência Mulheres Mirabal (CRMM), a feminist urban occupation that has existed in the city of Porto Alegre/RS since 2016, coordinated by the Olga Benario Women's Movement, which supports and shelters women who are victims of domestic abuse. Through the narratives produced with these women, this research aims to reflect on how this community life - delegitimized by the dominant patriarchal urban planning - is politically expressed as a body-territory. The theoretical-methodological approach of narrative is justified by the need for a type of knowledge production that focuses on an epistemology of experience, that provides access to different statements about ways of living in the city, and that maps every day urban practices that operate from a logic that is different from the hegemonic one. The production of narratives was guided by an ethnographically-inspired process with the women of the CRMM, using as tools implied writing, unstructured individual narrative interviews, as well as readings and the production of collective maps. It was possible to identify body-territory practices of the Casa de Referência Mulheres Mirabal that defy the dominant patriarchal logic in urban studies, organized in three main acts: The body territory as insurgency-where narratives about the beginning of the women's collective organization to build Mirabal appear; the body-territory as battlefield-where the discursive struggle with the hegemonic media and the different types of violence operated by the state appear; and the body-territory as production of the common-where alliances and social practices are woven to deviate from the neoliberal and individualist logic and rescue the use-value of urban space. These three acts illustrate how the struggle of the CRMM expands and reverberates in different areas of the territory, and how it is possible to change women's realities through a collective effort.application/pdfporMulherNarrativasEspaço urbanoMirabal womenResistanceCommonBody-territoryNarrativeExisto porque resisto : a Casa de Referência Mulheres Mirabal como corpo-território e expressão política das lutas feministas no espaço urbanoinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulFaculdade de ArquiteturaPrograma de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e RegionalPorto Alegre, BR-RS2023mestradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001172616.pdf.txt001172616.pdf.txtExtracted Texttext/plain306577http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/261795/2/001172616.pdf.txt69e26c1389d3518cf49d5662642ac904MD52ORIGINAL001172616.pdfTexto completoapplication/pdf10262867http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/261795/1/001172616.pdf7a2457ca426ca682e5b88a0b96673c01MD5110183/2617952023-07-06 03:53:26.198477oai:www.lume.ufrgs.br:10183/261795Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532023-07-06T06:53:26Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false |
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