“Pessoas trans no esporte”: os jogos da cisnormatividade
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2020 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10183/218439 |
Resumo: | A crescente presença e progressiva visibilidade de pessoas trans no esporte suscita discussões sobre a equidade competitiva entre pessoas trans e pessoas cis. Educadores/as, treinadores/as e gestores/as do esporte precisam tomar decisões a respeito da inclusão de pessoas trans no esporte baseado em critérios científicos e sociais. As controvérsias envolvendo essa questão tomam como referência os parâmetros corporais “sexo biológico” como forma de comparar pessoas trans a pessoas cis e promover condições “justas” de competição. Com o objetivo de compor uma base teórica de análise para compreender essa questão, essa pesquisa analisou a produção científica de especialistas envolvidos no consenso do Comitê Olímpico Internacional sobre pessoas trans para situar a discussão em uma lente de análise consciente da cisnormatividade, do racismo e do colonialismo, entendendo como que a produção científica produz os critérios de eligibilidade das categorias feminina e masculina no esporte. A metodologia envolveu o levantamento de produções científicas associadas a questão que delineassem as epistemologias de corpos envolvidas na decisão apresentada pelo consenso. As ferramentas teóricas utilizadas para compreender essas bases epistemológicas foram a cisnormatividade a partir de Viviane Vergueiro, a performatividade de gênero/sexo proposta por Butler, e a praxiografia de Annemarie Mol, que juntas buscaram ampliar as possibilidades de inteligibilidade de corpos para entender os limites e pontos cegos envolvidos na determinação de critérios fisiológicos das diferenças sexuais. A associação das diferenças sexuais com hormônios (especificamente testosterona) e desempenhos esportivos proporcionalmente correspondentes ao binário sexual foi identificada como o paradigma atual de compreensão do sexo biológico. A primazia da testosterona como fator único e suficiente para predição de desempenho é contestada por diversos/as autores/as, alimentando controvérsias que se associam à questão das pessoas trans. A inteligibilidade dos corpos trans aparece limitada ao espelho da cisgeneridade, sendo definida a partir da noção de uma essência cisgênera modificada por hormônios, buscando-se assim a equivalência a essa referência, reduzindo as possibilidades de existências trans. A raça é uma variável central que é naturalizada na produção de um referencial branco universal, invisibilizando os mecanismos de conformação de gênero que penalizam mais frequentemente as pessoas negras, já que o referencial gendrado está associado à branquitude. As condições justas de competição envolvendo pessoas trans não devem ser limitadas a discussões sobre testosterona, e sim ampliar o referencial de compreensão sobre pessoas trans incluindo a percepção de como atuam os mecanismos de exclusão social. Não existem até o momento evidências significativas que apontem vantagens injustas de mulheres trans sobre mulheres cis em competições esportivas. |
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Camargo, Eric Seger deSeffner, Fernando2021-03-05T03:59:04Z2020http://hdl.handle.net/10183/218439001123083A crescente presença e progressiva visibilidade de pessoas trans no esporte suscita discussões sobre a equidade competitiva entre pessoas trans e pessoas cis. Educadores/as, treinadores/as e gestores/as do esporte precisam tomar decisões a respeito da inclusão de pessoas trans no esporte baseado em critérios científicos e sociais. As controvérsias envolvendo essa questão tomam como referência os parâmetros corporais “sexo biológico” como forma de comparar pessoas trans a pessoas cis e promover condições “justas” de competição. Com o objetivo de compor uma base teórica de análise para compreender essa questão, essa pesquisa analisou a produção científica de especialistas envolvidos no consenso do Comitê Olímpico Internacional sobre pessoas trans para situar a discussão em uma lente de análise consciente da cisnormatividade, do racismo e do colonialismo, entendendo como que a produção científica produz os critérios de eligibilidade das categorias feminina e masculina no esporte. A metodologia envolveu o levantamento de produções científicas associadas a questão que delineassem as epistemologias de corpos envolvidas na decisão apresentada pelo consenso. As ferramentas teóricas utilizadas para compreender essas bases epistemológicas foram a cisnormatividade a partir de Viviane Vergueiro, a performatividade de gênero/sexo proposta por Butler, e a praxiografia de Annemarie Mol, que juntas buscaram ampliar as possibilidades de inteligibilidade de corpos para entender os limites e pontos cegos envolvidos na determinação de critérios fisiológicos das diferenças sexuais. A associação das diferenças sexuais com hormônios (especificamente testosterona) e desempenhos esportivos proporcionalmente correspondentes ao binário sexual foi identificada como o paradigma atual de compreensão do sexo biológico. A primazia da testosterona como fator único e suficiente para predição de desempenho é contestada por diversos/as autores/as, alimentando controvérsias que se associam à questão das pessoas trans. A inteligibilidade dos corpos trans aparece limitada ao espelho da cisgeneridade, sendo definida a partir da noção de uma essência cisgênera modificada por hormônios, buscando-se assim a equivalência a essa referência, reduzindo as possibilidades de existências trans. A raça é uma variável central que é naturalizada na produção de um referencial branco universal, invisibilizando os mecanismos de conformação de gênero que penalizam mais frequentemente as pessoas negras, já que o referencial gendrado está associado à branquitude. As condições justas de competição envolvendo pessoas trans não devem ser limitadas a discussões sobre testosterona, e sim ampliar o referencial de compreensão sobre pessoas trans incluindo a percepção de como atuam os mecanismos de exclusão social. Não existem até o momento evidências significativas que apontem vantagens injustas de mulheres trans sobre mulheres cis em competições esportivas.The increase in presence and visibility of transgender people in sports raises questions about an equal playing field between cisgender and transgender people. Sports teachers, coaches and managers need to make decisions about the inclusion of trans people in sports based on scientific and social criteria. The controversies involving this issue revolves around body parameters of “biological sex” as a way to compare transgender and cisgender people and promote “fair” conditions for competition. Aiming to build a theoretical basis for the analysis of this question, this research starts by investigating the scientific production of specialists consulted in the International Olympic Committee consensus statement regarding transgender people in order to see this discussion through an analysis lens that is aware of cisnormativity, racism and colonialism, understanding how scientific production creates the eligibility criteria for men and women’s categories in sports. The methodology involved a bibliographic revision of scientific literature on the issue of sex differences and sports that hinted at how sexed bodies were epistemologically defined in this statement. The theoretical basis to analyse this material was cisnormativity as used by Viviane Vergueiro, gender/sex performativity as discussed by Butler and Annemarie Mol’s praxioagraphy. This set of theoretical concepts intended to multiply the possible intelligibilites of bodies, understanding the blind spots and limitations regarding the determination of physiological criteria in sex differences. The association of sex differences with hormones (specifically testosterone) and differences of performance in sports corresponding to the sexual binary was identified as the current paradigm for the understanding of biological sex. The primacy of testosterone as the main factor in producing performance differences is contested by several authors, raising the controversy associated with transgender issues. The intelligibility of transgender bodies is limited to being a mirror to cisgenerity and is defined as if it were a hormone-modified cisgender essence, thus reducing the possibilities for trans existence. Race is a central variable which is naturalized in the production of a universal white reference, rendering the race bias in mechanisms of gender/sex conforming invisible, since the reference is connected to whiteness. Fair competing conditions involving trans people should not be limited to discussions about testosterone, they should broaden the understanding about trans people and how social exclusion mechanisms work. To this moment, there is no significant evidence that suggests unfair advantages for transgender women when competing in sports with cisgender women.application/pdfporCisnormatividadeEstudos de gêneroEsporteGênero e sexualidadeTransexualidadeCisnormativityEducationSportGenderTransexuality“Pessoas trans no esporte”: os jogos da cisnormatividadeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulFaculdade de EducaçãoPrograma de Pós-Graduação em EducaçãoPorto Alegre, BR-RS2020mestradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001123083.pdf.txt001123083.pdf.txtExtracted Texttext/plain382150http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/218439/2/001123083.pdf.txtcccbbb9eb7d53deb70598c37bae94970MD52ORIGINAL001123083.pdfTexto completoapplication/pdf2034971http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/218439/1/001123083.pdf7e1153c6e4399e0ba41a5043fc569cebMD5110183/2184392023-01-07 06:16:32.778226oai:www.lume.ufrgs.br:10183/218439Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532023-01-07T08:16:32Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false |
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