História genética dos gaúchos : dinâmica populacional do sul do Brasil

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Marrero, Andrea Rita
Data de Publicação: 2006
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/10934
Resumo: Visando avaliar a extensão da diversidade genética do povo gaúcho, e com isso resgatar parte de sua história, foi realizado um estudo envolvendo 547 indivíduos, sendo 278 Nativos Americanos (Guarani e Kaingang) e 269 provenientes de populações miscigenadas do Rio Grande do Sul (RS). Foram estudados marcadores uniparentais de herança materna e paterna utilizando os seguintes sistemas: a) seqüenciamento da região hipervariável I (HVS I) do DNA mitocondrial (mtDNA), determinação de RFLPs (Restriction Fragment Length Polymorphisms) e mini-seqüenciamento da porção codificadora, envolvendo os quatro principais haplogrupos mitocondriais ameríndios (A, B, C e D); b) sete polimorfismos de base única (SNPs) (DYS199, M242, M9, 92R7, sY81, M19 e RPS4Y711), uma inserção Alu (YAP) e onze microssatélites (DYS19, DYS389 I, DYS389 II, DYS390, DYS391, DYS392, DYS393, DYS437, DYS438, DYS439 e DYS385a/b), todos localizados na região não recombinante do cromossomo Y. Além desses marcadores uniparentais, foram obtidos dados para 16 microssatélites do cromossomo X (DXS1001, DXS1047, DXS1060, DXS1068, DXS1073, DXS1106, DXS1214, DXS1226, DXS1227, DXS8051, DXS8055, DXS986, DXS987, DXS990, DXS991 e DXS993).Analisaram-se 200 Guarani de três parcialidades (Ñandeva, Kaiowá e M’Byá) e 78 Kaingang do Paraná e Rio Grande do Sul, visando identificar diferenças entre as duas tribos, que possam ter ocorrido ao longo do processo histórico. Dezenove linhagens mitocondriais foram detectadas e estas mostraram distribuição diferenciada. A dinâmica de mestiçagem que ocorreu com os Guarani e Kaingang ao longo do tempo foi diversa. O ingresso de genes não-nativos entre as comunidades Guarani foi marcadamente restrito a homens não-ameríndios, enquanto entre os Kaingang há evidências diretas de introdução através do lado materno. Este estudo permitiu desvendar detalhes até então não conhecidos sobre estas duas populações nativas do Rio Grande do Sul, para a história do Estado e para a formação das populações gaúchas atuais. Já os estudos de populações não-indígenas (N=225) revelaram 94% dos cromossomos no RS como tendo origem européia, 4% ameríndia e 2% africana. Ao levar em consideração as distintas populações aqui investigadas, as quais diferem significativamente em histórias demográficas e de mistura, constatou-se que na Serra 100% das patrilinhagens são de origem européia, enquanto no Pampa há uma parcela decontribuição ameríndia (8%) e africana (4%), embora a maior parte seja de cromossomos Y europeus. Os microssatélites (STR) dos cromossomos X e Y foram tipados apenas para a amostra do Pampa: para os Y-STRs (N=89), 81 haplótipos foram identificados, dos quais 74 deles (91%) são únicos. Comparando-se estes dados com outros previamente publicados para portugueses, espanhóis, italianos, alemães, africanos e outras populações brasileiras, observou-se a importante contribuição de ibéricos, particularmente de espanhóis, na atual formação masculina do Pampa. Para os X-STRs (N=70) o número de alelos variou de 1 a 14 e os níveis de heterozigosidade entre 0.5565 e 0.8817. Nenhum haplótipo foi encontrado mais de uma vez, indicando que existe uma grande diversidade no Pampa gaúcho. Com relação aos resultados obtidos para o mtDNA, no RS como um todo (N=225) foram identificadas matrilinhagens européias (63%), ameríndias (30%) e africanas (7%). Porém, da mesma forma que para as patrilinhagens, a distribuição destas variou de acordo com a região estudada. Na Serra 97% dos haplogrupos mitocondriais são característicos de populações européias e apenas 3% têm origem ameríndia. Já no Pampa 51%, 38% e 11% das linhagens mitocondriais têm, respectivamente, origem ameríndia, européia e africana. Considerando-se apenas as linhagens de origem ameríndia, verificou-se que estão assim distribuídas: A – 30%, B – 31%, C – 31% e D – 8%. A marcante diferença nas distribuições destes haplogrupos, quando comparadas com os Guarani bem como com outros resultados, apontaram para a idéia de que outros grupos nativos (principalmente os Charrua), através de suas mulheres, teriam contribuído de maneira marcante para a formação das populações gaúchas contemporâneas. Foi possível verificar ainda que o legado ameríndio (Charrua e Guarani), tão marcadamente presente na cultura gaúcha tradicional, também pode ser visto em nível genômico, num exemplo extraordinário de continuidade genética e cultural entre populações nativas e miscigenadas.
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spelling Marrero, Andrea RitaBortolini, Maria Cátira2007-10-16T16:04:45Z2006http://hdl.handle.net/10183/10934000592555Visando avaliar a extensão da diversidade genética do povo gaúcho, e com isso resgatar parte de sua história, foi realizado um estudo envolvendo 547 indivíduos, sendo 278 Nativos Americanos (Guarani e Kaingang) e 269 provenientes de populações miscigenadas do Rio Grande do Sul (RS). Foram estudados marcadores uniparentais de herança materna e paterna utilizando os seguintes sistemas: a) seqüenciamento da região hipervariável I (HVS I) do DNA mitocondrial (mtDNA), determinação de RFLPs (Restriction Fragment Length Polymorphisms) e mini-seqüenciamento da porção codificadora, envolvendo os quatro principais haplogrupos mitocondriais ameríndios (A, B, C e D); b) sete polimorfismos de base única (SNPs) (DYS199, M242, M9, 92R7, sY81, M19 e RPS4Y711), uma inserção Alu (YAP) e onze microssatélites (DYS19, DYS389 I, DYS389 II, DYS390, DYS391, DYS392, DYS393, DYS437, DYS438, DYS439 e DYS385a/b), todos localizados na região não recombinante do cromossomo Y. Além desses marcadores uniparentais, foram obtidos dados para 16 microssatélites do cromossomo X (DXS1001, DXS1047, DXS1060, DXS1068, DXS1073, DXS1106, DXS1214, DXS1226, DXS1227, DXS8051, DXS8055, DXS986, DXS987, DXS990, DXS991 e DXS993).Analisaram-se 200 Guarani de três parcialidades (Ñandeva, Kaiowá e M’Byá) e 78 Kaingang do Paraná e Rio Grande do Sul, visando identificar diferenças entre as duas tribos, que possam ter ocorrido ao longo do processo histórico. Dezenove linhagens mitocondriais foram detectadas e estas mostraram distribuição diferenciada. A dinâmica de mestiçagem que ocorreu com os Guarani e Kaingang ao longo do tempo foi diversa. O ingresso de genes não-nativos entre as comunidades Guarani foi marcadamente restrito a homens não-ameríndios, enquanto entre os Kaingang há evidências diretas de introdução através do lado materno. Este estudo permitiu desvendar detalhes até então não conhecidos sobre estas duas populações nativas do Rio Grande do Sul, para a história do Estado e para a formação das populações gaúchas atuais. Já os estudos de populações não-indígenas (N=225) revelaram 94% dos cromossomos no RS como tendo origem européia, 4% ameríndia e 2% africana. Ao levar em consideração as distintas populações aqui investigadas, as quais diferem significativamente em histórias demográficas e de mistura, constatou-se que na Serra 100% das patrilinhagens são de origem européia, enquanto no Pampa há uma parcela decontribuição ameríndia (8%) e africana (4%), embora a maior parte seja de cromossomos Y europeus. Os microssatélites (STR) dos cromossomos X e Y foram tipados apenas para a amostra do Pampa: para os Y-STRs (N=89), 81 haplótipos foram identificados, dos quais 74 deles (91%) são únicos. Comparando-se estes dados com outros previamente publicados para portugueses, espanhóis, italianos, alemães, africanos e outras populações brasileiras, observou-se a importante contribuição de ibéricos, particularmente de espanhóis, na atual formação masculina do Pampa. Para os X-STRs (N=70) o número de alelos variou de 1 a 14 e os níveis de heterozigosidade entre 0.5565 e 0.8817. Nenhum haplótipo foi encontrado mais de uma vez, indicando que existe uma grande diversidade no Pampa gaúcho. Com relação aos resultados obtidos para o mtDNA, no RS como um todo (N=225) foram identificadas matrilinhagens européias (63%), ameríndias (30%) e africanas (7%). Porém, da mesma forma que para as patrilinhagens, a distribuição destas variou de acordo com a região estudada. Na Serra 97% dos haplogrupos mitocondriais são característicos de populações européias e apenas 3% têm origem ameríndia. Já no Pampa 51%, 38% e 11% das linhagens mitocondriais têm, respectivamente, origem ameríndia, européia e africana. Considerando-se apenas as linhagens de origem ameríndia, verificou-se que estão assim distribuídas: A – 30%, B – 31%, C – 31% e D – 8%. A marcante diferença nas distribuições destes haplogrupos, quando comparadas com os Guarani bem como com outros resultados, apontaram para a idéia de que outros grupos nativos (principalmente os Charrua), através de suas mulheres, teriam contribuído de maneira marcante para a formação das populações gaúchas contemporâneas. Foi possível verificar ainda que o legado ameríndio (Charrua e Guarani), tão marcadamente presente na cultura gaúcha tradicional, também pode ser visto em nível genômico, num exemplo extraordinário de continuidade genética e cultural entre populações nativas e miscigenadas.To evaluate the extension of Gaucho genetic diversity of the Gauchos, and retrieve part of their history, a study with 547 individuals, of which 278 were Native Americans (Guarani and Kaingang) and 269 admixed from the state of Rio Grande do Sul, was carried out. Uniparental markers, of maternal and paternal inheritance, were studied by using the following systems: a) Mitochondrial DNA (mtDNA) Hypervariable Sequence I sequencing (HVS I), RFLP (Restriction Fragment Length Polymorphisms) determinatins and minisequencing of the coding region, involving the four major mitochondrial Amerindian haplogroups (A, B, C and D); b) seven Single Nucleotide Polymorphisms (SNPs) (DYS199, M242, M9, 92R7, sY81, M19 and RPS4Y711), one Alu insertion (YAP) and eleven microsatellites (DYS19, DYS389 I, DYS389 II, DYS390, DYS391, DYS392, DYS393, DYS437, DYS438, DYS439 and DYS385a/b), all of them located in the nonrecombining region of the Y chromosome (NRY). In addition to these uniparental markers, data for 16 microsatellites of the X chromosome were obtained ((DXS1001, DXS1047, DXS1060, DXS1068, DXS1073, DXS1106, DXS1214, DXS1226, DXS1227, DXS8051, DXS8055, DXS986, DXS987, DXS990, DXS991 and DXS993). Two hundred Guarani of three partialities (Ñandeva, Kaiowá e M’Byá) and 78 Kaingang from Paraná and Rio Grande do Sul were analyzed, aiming to identify differences between the two tribes, that might have occurred during their long historical process. Nineteen mitochondrial lineages were detected and these showed a distinct distribution. The admixture dynamics that occurred along the time with the Guarani and Kaingang was diverse. The introduction of non-native genes in Guarani communities was markedly restricted to non-Amerindian males, while among the Kaingang there are direct evidences of introduction by the maternal side. This study allowed to reveal details that, until now ,were not known about these two Rio Grande do Sul native populations, which had contributed to the state’s history and the formation of the contemporary Gaucho population. The studies with non-native populations (N=225) revealed that 94% of the Y chromosomes have European, 4% Amerindian and 2% African origins. When considering the distinct populations here investigated, which significantly differ in their demographic and admixture histories, it was detected that in the Serra 100% of the patrilineages haveEuropean origin, while in the Pampa there is a fraction of Amerindian (8%) and African (4%) contributions, although the majority is of European origin. The microsatellites (STRs) X and Y were typed only in the Pampa sample: 81 haplotypes were identified for the Y-STRs (N=89), of which 74 (91%) are unique. Comparing these data with previously published results from Portuguese, Spanish, Italian, German, African and other Brazilian populations, it is noteworthy the major contribution of Iberian, particularly the Spaniards, in the present male fraction of the Pampa. For the X-STRs (N=70) the number of alleles varied from 1 to 14 and the levels of heterozygosity varied between 0.5565 and 0.8817. No haplotype was found more than once, indicating that there is a great diversity in the Gaucho. When considering the mtDNA data, in the RS as a whole (N=225) European (63%), Amerindian (30%) and African (7%) matrilineages were identified. But in the same way as in the patrilineages, their distribution has much variation according to the studied region. In the Serra 97% of the mitochondrial haplogroups are typical of European populations and only 3% have Amerindian origin. On the other hand, in the Pampa 51%, 38% and 11% of the mitochondrial lineages have Amerindian, European and African origins, respectively. When only Amerindian origin lineages were considered, it was verified that they are distributed as follows: A – 30%, B – 31%, C – 31% and D – 8%. The marked difference in these haplogroups’ distributions, when compared to Guarani and other results, pointed to the idea that other native groups (particularly the Charrua), should have contributed, through their women, to the formation of the contemporary Gaucho populations. It was also possible to verify that the Amerindian legacy (Guarani and Charrua), so markedly present in the traditional Gaucho culture, can also be seen at the genomic level, in an extraordinary example of genetic and cultural continuity between native and admixed populationsapplication/pdfporGenética de populaçõesMarcadores genéticosRio Grande do SulHistória genética dos gaúchos : dinâmica populacional do sul do Brasilinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de BiociênciasPrograma de Pós-Graduação em Genética e Biologia MolecularPorto Alegre, BR-RS2006doutoradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSORIGINAL000592555.pdf000592555.pdfTexto completoapplication/pdf7803687http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/10934/1/000592555.pdfa0b79d724e7584fcdc573e8c3fe595c0MD51TEXT000592555.pdf.txt000592555.pdf.txtExtracted Texttext/plain379275http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/10934/2/000592555.pdf.txt1b6dee4d28909d1d1a2009d7d6bb3970MD52THUMBNAIL000592555.pdf.jpg000592555.pdf.jpgGenerated Thumbnailimage/jpeg1967http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/10934/3/000592555.pdf.jpg8107284870eff75020a0e182ca966a56MD5310183/109342018-10-15 07:49:48.476oai:www.lume.ufrgs.br:10183/10934Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532018-10-15T10:49:48Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
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