Artesania no manejo do ficar bem : uma posografia dos usos de antidepressivos e ansiolíticos e suas articulações semiótico materiais

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Macedo, Fernanda dos Santos de
Data de Publicação: 2020
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/220414
Resumo: A presente tese emerge da curiosidade em investigar como cotidianamente antidepressivos e ansiolíticos estão compondo vidas, articulando-se a diferentes actantes e, nessas conexões, performando objetos. Através de uma metodologia artesanal que enfoca um fazer pesquisa processual, as práticas de manejo das aflições foram tecidas como objeto deste estudo. Dessa forma, busco complexificar a discussão sobre (bio)medicalização a partir da perspectiva atenta aos marcadores sociais de diferença, sobretudo de gênero, raça e classe e, também, à dinâmica cotidiana e à localidade das articulações entre distintas materialidades. O problema de pesquisa recai em investigar como 'antidepressivos' e 'ansiolíticos', ao conectarem-se com outras substâncias, dosagens, relações com os efeitos colaterais, gestão de estoques, usuários/as, profissionais, serviços de saúde, receitas, familiares, entre outros actantes, podem materialmente operar no manejo das aflições, performando distintas realidades nas práticas em que se engajam. Para tanto, propus a experimentação de um método posográfico - que implica um acesso às práticas aos poucos, em suas minuciosidades e desde aquilo de mais trivial que as conformam. A pesquisa se fez ao acompanhar pessoas que se reconhecem como tomando algum medicamento dos grupos chamados antidepressivos e/ou ansiolíticos. Parti de dois pontos iniciais para a construção de redes de indicação: o âmbito universitário, especialmente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); e uma Unidade de Saúde (US), localizada na região sul de Porto Alegre/RS. Assim, seguindo as substâncias, o trabalho de campo foi construído a partir de entrevistas, observações na US, na Farmácia Distrital e no acompanhamentode algumas das entrevistadas de ambas as redes. As articulações teórico-metodológicas desta pesquisa baseiam-se nos estudos feministas pós estruturalistas e interseccionais, bem como no materialismo relacional (especialmente, na autora Annemarie Mol). Visando descrever as montagens que vão sendo feitas à medida que as substâncias conectam-se às trajetórias de vida, conjecturei dois modos de gestão da emoção: “coletivização das aflições” e “racionalidade científica”. Tendo em vista que as montagens estão coordenando as versões de objetos, argumento, também, que tais modos de gestão assinalam, sobretudo, a performação da depressão como múltipla e apontam para um fazer específico mediado pelos usos de substâncias: a multiplicação de si. Argumenta-se que uma abordagem centrada nas práticas, com um olhar posográfico e interseccional, produz fraturas na homogeneização do fenômeno da (bio)medicalização e naquilo considerado como do campo da saúde mental. Nesse sentido, ao multiplicar a realidade, ampliam-se vivências, ampliando-se para além de e, por vezes, implodindo diagnósticos que enquadram e enrijecem sujeitos, profissionais, cuidados com a saúde. Pretende-se, assim, abrir linhas com as quais se possam tecer contribuições a um debate nas políticas públicas de saúde ao perseguir os questionamentos suscitados pelas realidades múltiplas feitas nas práticas envolvidas no manejo das aflições cotidianas.
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O problema de pesquisa recai em investigar como 'antidepressivos' e 'ansiolíticos', ao conectarem-se com outras substâncias, dosagens, relações com os efeitos colaterais, gestão de estoques, usuários/as, profissionais, serviços de saúde, receitas, familiares, entre outros actantes, podem materialmente operar no manejo das aflições, performando distintas realidades nas práticas em que se engajam. Para tanto, propus a experimentação de um método posográfico - que implica um acesso às práticas aos poucos, em suas minuciosidades e desde aquilo de mais trivial que as conformam. A pesquisa se fez ao acompanhar pessoas que se reconhecem como tomando algum medicamento dos grupos chamados antidepressivos e/ou ansiolíticos. Parti de dois pontos iniciais para a construção de redes de indicação: o âmbito universitário, especialmente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); e uma Unidade de Saúde (US), localizada na região sul de Porto Alegre/RS. Assim, seguindo as substâncias, o trabalho de campo foi construído a partir de entrevistas, observações na US, na Farmácia Distrital e no acompanhamentode algumas das entrevistadas de ambas as redes. As articulações teórico-metodológicas desta pesquisa baseiam-se nos estudos feministas pós estruturalistas e interseccionais, bem como no materialismo relacional (especialmente, na autora Annemarie Mol). Visando descrever as montagens que vão sendo feitas à medida que as substâncias conectam-se às trajetórias de vida, conjecturei dois modos de gestão da emoção: “coletivização das aflições” e “racionalidade científica”. Tendo em vista que as montagens estão coordenando as versões de objetos, argumento, também, que tais modos de gestão assinalam, sobretudo, a performação da depressão como múltipla e apontam para um fazer específico mediado pelos usos de substâncias: a multiplicação de si. Argumenta-se que uma abordagem centrada nas práticas, com um olhar posográfico e interseccional, produz fraturas na homogeneização do fenômeno da (bio)medicalização e naquilo considerado como do campo da saúde mental. Nesse sentido, ao multiplicar a realidade, ampliam-se vivências, ampliando-se para além de e, por vezes, implodindo diagnósticos que enquadram e enrijecem sujeitos, profissionais, cuidados com a saúde. Pretende-se, assim, abrir linhas com as quais se possam tecer contribuições a um debate nas políticas públicas de saúde ao perseguir os questionamentos suscitados pelas realidades múltiplas feitas nas práticas envolvidas no manejo das aflições cotidianas.The present thesis emerged from the curiosity to investigate how antidepressants and anxiolytic medications are composing lives daily, intertwined with different actors, and, within these connections, performing objects. Through an artisanal methodology that focuses on making procedural research, the managing of the afflictions were knitted as the object of this study. This way, I seek to make the discussion about (bio)medicalization more complex in coming from a perspective that is aware of the social markers of difference, specially gender, race, and class; as well as the daily dynamics, and the location of the articulations of distinct materialities. The problem of this research falls into investigating “antidepressants” and “anxiolytics” when connecting to other substances, dosages, relation to side effects, stocking management, professionals, users, health services, prescriptions, and family, among other actors. This could effectively operate in managing the afflictions, performing distinct realities in the practices being engaged on. For this, I proposed experimenting with a posographic method - which implies a slow access to the practices. The research was done by following up people who recognized themselves as taking some sort of medication from the groups called antidepressant and/or anxiolytic. I started from two different points to build a network of indications: the university sphere, especially from the Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS); and a health unit (US), located in the south side of Porto Alegre/RS. This way, following the substances, the field work was built from interviews, observations in the health unit, in the local pharmacy, and in the follow up of a few of the interviewees from both networks. The theoretical-methodological guiding framework of this research is based on the post-structural and intersectional feminist studies, as well as the relational materialism (especially the author Annemarie Mol). Seeking to describe the settings that are being created as the substances connect to the life paths, I conjectured two ways for managing emotions: “collectivization of the afflictions” and “scientific rationality”. Seeing that the settings are coordinating the versions of the objects I also argue that such ways of managing mark, over all, the performance of depression as multiple and point out to a specific making mediated by the use of substances: the multiplication of self. It is argued that an approach centered on the practices, with a posographic and intersectional view, produce fractures in the homogenization of the (bio)medicalization phenomenon and on what is considered the mental health field. This way, by multiplying the reality, life experiences are broadened, and taking it beyond, at times, making diagnosis, that frame and stiffens the subjects, professionals, and health care process, implode itself. It is intended, this way, to open up lines making it possible to build contributions to a debate in public politics of health by pursuing the questions brought up by multiple realities made up in the practices involved in dealing with daily afflictions.application/pdfporMedicalizaçãoAntidepressivosSaúde mentalAnsiolíticosAngústia psicológicaPolíticaDepressãoPsicotropicos : Uso terapeutico(Bio)medicalizationAfflictionRelational materialismIntersectionalitiesAntidepressantsAnxiolyticsArtesania no manejo do ficar bem : uma posografia dos usos de antidepressivos e ansiolíticos e suas articulações semiótico materiaisinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de PsicologiaPrograma de Pós-Graduação em Psicologia Social e InstitucionalPorto Alegre, BR-RS2020doutoradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001124799.pdf.txt001124799.pdf.txtExtracted Texttext/plain577207http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/220414/2/001124799.pdf.txtac9e1e22abbfbb31c57f2d9bb662efdaMD52ORIGINAL001124799.pdfTexto completoapplication/pdf3305495http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/220414/1/001124799.pdfa916bc35dcb81272a9e4df37cdf559cfMD5110183/2204142021-05-07 05:07:03.361244oai:www.lume.ufrgs.br:10183/220414Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532021-05-07T08:07:03Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
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