Do homo loquens ao homo loquens scriptor : por uma perspectiva semiológico-enunciativa da aquisição da escrita
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2022 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10183/257970 |
Resumo: | O presente estudo sustenta a tese de que a teoria da linguagem de Émile Benveniste – mais especificamente as suas teorizações generalista, semiológica e enunciativa – possibilita a formulação de um novo discurso teórico sobre o vir a ser escrevente, discurso capaz de fundamentar novas análises e novas respostas às grandes questões do campo da aquisição da escrita. Tal tese é sustentada em um percurso argumentativo organizado em cinco capítulos, três teóricos, um metodológico e um analítico. Os três primeiros capítulos buscam forjar um aparato conceitual com vistas à investigação da aquisição da escrita a partir do pensamento benvenistiano. No Capítulo 1, são revisitados estudos aquisicionais de orientação benvenistiana que, a partir das relações língua cultura, enunciação-língua e linguagem-línguas, investigam o problema do vir a ser falante e fornecem um ponto de partida para este trabalho. No Capítulo 2, são abordadas três relações e os seus respectivos problemas: a relação semiologia-enunciação e o problema da natureza da língua; a relação sistema-discurso e o problema da natureza da escrita; a relação fala-escrita e o problema da natureza da aquisição da escrita. No Capítulo 3, são abordadas quatro relações e os seus respectivos problemas na aquisição da escrita: a relação subjetividade-socialidade e o problema da natureza do sujeito; a relação biológico-cultural e o problema dos caracteres distintivos da língua; a relação signo-objeto e o problema da representação; a relação símbolo pensamento e o problema da consciência. O Capítulo 4 busca forjar um aparato procedimental com vistas à investigação da aquisição da escrita a partir do pensamento benvenistiano. Nesse capítulo, é detalhada a metodologia de coleta, de transcrição e de análise dos dados empíricos da pesquisa. Trata-se de dois corpora de registros audiovisuais e de registros gráficos, constituídos em sessões naturalísticas e longitudinais, realizadas em ambiente doméstico, de uma a duas vezes por mês, ao longo de dois anos e meio, com duas crianças falantes monolíngues do português brasileiro: uma menina acompanhada antes do ciclo da alfabetização (dos três anos e três meses aos cinco anos e nove meses) e um menino acompanhado durante o ciclo da alfabetização (dos seis anos e três meses aos oito anos e nove meses). À luz do aparato conceitual e procedimental forjado, o Capítulo 5 empreende a análise dos corpora, cujas descrições e cujas explicações conduzem à caracterização de três macro operações semiológico-enunciativas de aquisição da escrita: (1) a operação de deslocamento de lugar enunciativo; (2) a operação de desdobramento do funcionamento do discurso escrito; (3) a operação de discretização do aparelho formal da enunciação escrita. No interior dessas macro-operações, são identificadas grandes mudanças na relação inicial da criança com a língua em sua realização gráfica. Na primeira macro-operação, ocorre a passagem do preenchimento do lugar enunciativo de falante e do lugar coenunciativo de ouvinte ao preenchimento do lugar enunciativo de escrevente e do lugar coenunciativo de leitor. Na segunda macro-operação, ocorrem duas mudanças, uma de caráter intersubjetivo e outra de caráter referencial: por um lado, a passagem da enunciação escrita sem implantação de alocutário explícito à enunciação escrita com explicitação de alocutário, real ou imaginado, individual ou coletivo; por outro lado, a passagem do aqui-agora da alocução falada à complexa rede de relações espaço-temporais desdobrada pela alocução escrita na simulação, na retomada e na projeção de acontecimentos. Na terceira macro-operação, ocorre a passagem do reconhecimento da à ação sobre a escrita como um todo constituído de partes na relação entre o contínuo e o discreto dos níveis e das unidades linguísticas. Os resultados obtidos com base no trajeto teórico-metodológico-analítico percorrido permitem, de uma parte, desenhar os contornos de uma perspectiva semiológico-enunciativa da aquisição da escrita e, de outra parte, responder – a partir dessa perspectiva – às grandes questões do campo, a saber, a questão da relação fala-escrita, a questão do inato e do adquirido, a questão da representação, a questão da consciência metalinguística e a questão da mudança. |
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Oliveira, Giovane FernandesSilva, Carmem Luci da Costa2023-05-12T03:25:59Z2022http://hdl.handle.net/10183/257970001168408O presente estudo sustenta a tese de que a teoria da linguagem de Émile Benveniste – mais especificamente as suas teorizações generalista, semiológica e enunciativa – possibilita a formulação de um novo discurso teórico sobre o vir a ser escrevente, discurso capaz de fundamentar novas análises e novas respostas às grandes questões do campo da aquisição da escrita. Tal tese é sustentada em um percurso argumentativo organizado em cinco capítulos, três teóricos, um metodológico e um analítico. Os três primeiros capítulos buscam forjar um aparato conceitual com vistas à investigação da aquisição da escrita a partir do pensamento benvenistiano. No Capítulo 1, são revisitados estudos aquisicionais de orientação benvenistiana que, a partir das relações língua cultura, enunciação-língua e linguagem-línguas, investigam o problema do vir a ser falante e fornecem um ponto de partida para este trabalho. No Capítulo 2, são abordadas três relações e os seus respectivos problemas: a relação semiologia-enunciação e o problema da natureza da língua; a relação sistema-discurso e o problema da natureza da escrita; a relação fala-escrita e o problema da natureza da aquisição da escrita. No Capítulo 3, são abordadas quatro relações e os seus respectivos problemas na aquisição da escrita: a relação subjetividade-socialidade e o problema da natureza do sujeito; a relação biológico-cultural e o problema dos caracteres distintivos da língua; a relação signo-objeto e o problema da representação; a relação símbolo pensamento e o problema da consciência. O Capítulo 4 busca forjar um aparato procedimental com vistas à investigação da aquisição da escrita a partir do pensamento benvenistiano. Nesse capítulo, é detalhada a metodologia de coleta, de transcrição e de análise dos dados empíricos da pesquisa. Trata-se de dois corpora de registros audiovisuais e de registros gráficos, constituídos em sessões naturalísticas e longitudinais, realizadas em ambiente doméstico, de uma a duas vezes por mês, ao longo de dois anos e meio, com duas crianças falantes monolíngues do português brasileiro: uma menina acompanhada antes do ciclo da alfabetização (dos três anos e três meses aos cinco anos e nove meses) e um menino acompanhado durante o ciclo da alfabetização (dos seis anos e três meses aos oito anos e nove meses). À luz do aparato conceitual e procedimental forjado, o Capítulo 5 empreende a análise dos corpora, cujas descrições e cujas explicações conduzem à caracterização de três macro operações semiológico-enunciativas de aquisição da escrita: (1) a operação de deslocamento de lugar enunciativo; (2) a operação de desdobramento do funcionamento do discurso escrito; (3) a operação de discretização do aparelho formal da enunciação escrita. No interior dessas macro-operações, são identificadas grandes mudanças na relação inicial da criança com a língua em sua realização gráfica. Na primeira macro-operação, ocorre a passagem do preenchimento do lugar enunciativo de falante e do lugar coenunciativo de ouvinte ao preenchimento do lugar enunciativo de escrevente e do lugar coenunciativo de leitor. Na segunda macro-operação, ocorrem duas mudanças, uma de caráter intersubjetivo e outra de caráter referencial: por um lado, a passagem da enunciação escrita sem implantação de alocutário explícito à enunciação escrita com explicitação de alocutário, real ou imaginado, individual ou coletivo; por outro lado, a passagem do aqui-agora da alocução falada à complexa rede de relações espaço-temporais desdobrada pela alocução escrita na simulação, na retomada e na projeção de acontecimentos. Na terceira macro-operação, ocorre a passagem do reconhecimento da à ação sobre a escrita como um todo constituído de partes na relação entre o contínuo e o discreto dos níveis e das unidades linguísticas. Os resultados obtidos com base no trajeto teórico-metodológico-analítico percorrido permitem, de uma parte, desenhar os contornos de uma perspectiva semiológico-enunciativa da aquisição da escrita e, de outra parte, responder – a partir dessa perspectiva – às grandes questões do campo, a saber, a questão da relação fala-escrita, a questão do inato e do adquirido, a questão da representação, a questão da consciência metalinguística e a questão da mudança.The present study supports the thesis that Émile Benveniste’s language theory – his generalist, semiologic, and enunciative theorizing, more specifically – allows the elaboration of a new theoretical discourse about the process of acquiring written language, which could substantiate new analyses and new answers to big questions of writing acquisition studies. Such thesis is supported by an argumentative route organized into five chapters, three of them theoretical, one methodological, and one analytical. The three first chapters aim to create a conceptual apparatus in order to investigate written language acquisition from a benvenistian perspective. In Chapter 1, language acquisition studies based on the ideas of Émile Benveniste are revisited as a way to look into the problem of becoming a speaker through the relations language-culture (langue-culture), enunciation-language (énonciation-langue), and language-languages (langage-langues) as a starting point for this study. In Chapter 2, three relations and their respective problems are approached: the relation semiology-enunciation (sémiologie-énonciation) and the problem concerning the nature of language (langue); the relation system-discourse, and the problem of the nature of written language; the relation spoken-written language, and the problem of the nature of written language acquisition. In Chapter 3, four relations and their respective problems concerning writing acquisition are discussed: the relation subjectivity-sociality and the problem of the nature of the subject (sujet); the relation biological-cultural and the problem of the distinctive features of language (langue); the relation sign-object and the problem of representation; the relation symbol-thought and the problem of consciousness. Chapter 4 aims to elaborate a procedural apparatus as a means to investigate written language acquisition from a benvenistian perspective. In this chapter, the methodology regarding collection, transcription and analysis of the empirical data for this research is explained in detail. Such data consists of two corpora of audiovisual records and graphic records, produced in naturalistic and longitudinal sessions, in a home environment, once or twice a month during the period of two years and a half. Two young monolingual speakers of Brazilian Portuguese were the subjects of this study: a girl monitored before her literacy cycle (from three years and three months of age to five years and nine months), and a boy monitored during his literacy cycle (from six years and three months of age to eight years and nine months). In light of the conceptual and procedural apparatus elaborated in the previous chapters, Chapter 5 analyses the corpora, from which descriptions and explanation lead to the establishment of three semiologic-enunciative macro-operations of writing acquisition: (1) the operation of enunciative locus displacement; (2) the operation of development of written discourse operation; (3) the operation of discretization of the formal apparatus of written enunciation. Within these macro-operations, great changes are identified regarding the initial relation between the child and language (langue) in its graphic manifestation. In the first macro operation, there is the passage from the occupation of the speaker’s enunciative locus and the listener’s co-enuncative locus to the occupation of the writer’s enunciative locus and the reader’s enunciative locus. In the second macro-operation, two changes are noticed, one of them having an intersubjective aspect, the other having a referential aspect: on the one hand, the passage from the written enunciation without the implantation of an explicit interlocutor to the written enunciation with explicitation of an interlocutor, real or imaginary, individual or collective; on the other hand, the passage from the here-now of spoken language exchange to the complex network of space-time relations developed by written language exchange when simulating, retrieving, and projecting events. In the third macro-operation, there is the passage from the recognizing of to the acting upon written language as a whole made out of parts in the relation between the continuous and the discrete regarding linguistic levels and units. The results obtained through this theoretical-methodological-analytical endeavor allow, from one perspective, the designing of a semiologic-enunciative approach to the study of writing acquisition, and, from another perspective, the answering – through this same approach – of important questions of this field of study: the problem concerning the relation spoken written language, the relation between the innate and the acquired, the problem of representation, the problem of meta-linguistic awareness, and the question of linguistic change.application/pdfporBenveniste, Emile, 1902-1976LinguagemEscrita : AquisiçãoSemiologiaWritten language acquisitionSemiologyEnunciationWritten languageDo homo loquens ao homo loquens scriptor : por uma perspectiva semiológico-enunciativa da aquisição da escritainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de LetrasPrograma de Pós-Graduação em LetrasPorto Alegre, BR-RS2022doutoradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001168408.pdf.txt001168408.pdf.txtExtracted Texttext/plain1177054http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/257970/2/001168408.pdf.txt6c4954bb90ff198d18209b97a4f52766MD52ORIGINAL001168408.pdfTexto completoapplication/pdf4720899http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/257970/1/001168408.pdfb80a7b79b250e8c96bcf1df2a4104227MD5110183/2579702024-03-23 04:58:56.242642oai:www.lume.ufrgs.br:10183/257970Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532024-03-23T07:58:56Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false |
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O presente estudo sustenta a tese de que a teoria da linguagem de Émile Benveniste – mais especificamente as suas teorizações generalista, semiológica e enunciativa – possibilita a formulação de um novo discurso teórico sobre o vir a ser escrevente, discurso capaz de fundamentar novas análises e novas respostas às grandes questões do campo da aquisição da escrita. Tal tese é sustentada em um percurso argumentativo organizado em cinco capítulos, três teóricos, um metodológico e um analítico. Os três primeiros capítulos buscam forjar um aparato conceitual com vistas à investigação da aquisição da escrita a partir do pensamento benvenistiano. No Capítulo 1, são revisitados estudos aquisicionais de orientação benvenistiana que, a partir das relações língua cultura, enunciação-língua e linguagem-línguas, investigam o problema do vir a ser falante e fornecem um ponto de partida para este trabalho. No Capítulo 2, são abordadas três relações e os seus respectivos problemas: a relação semiologia-enunciação e o problema da natureza da língua; a relação sistema-discurso e o problema da natureza da escrita; a relação fala-escrita e o problema da natureza da aquisição da escrita. No Capítulo 3, são abordadas quatro relações e os seus respectivos problemas na aquisição da escrita: a relação subjetividade-socialidade e o problema da natureza do sujeito; a relação biológico-cultural e o problema dos caracteres distintivos da língua; a relação signo-objeto e o problema da representação; a relação símbolo pensamento e o problema da consciência. O Capítulo 4 busca forjar um aparato procedimental com vistas à investigação da aquisição da escrita a partir do pensamento benvenistiano. Nesse capítulo, é detalhada a metodologia de coleta, de transcrição e de análise dos dados empíricos da pesquisa. Trata-se de dois corpora de registros audiovisuais e de registros gráficos, constituídos em sessões naturalísticas e longitudinais, realizadas em ambiente doméstico, de uma a duas vezes por mês, ao longo de dois anos e meio, com duas crianças falantes monolíngues do português brasileiro: uma menina acompanhada antes do ciclo da alfabetização (dos três anos e três meses aos cinco anos e nove meses) e um menino acompanhado durante o ciclo da alfabetização (dos seis anos e três meses aos oito anos e nove meses). À luz do aparato conceitual e procedimental forjado, o Capítulo 5 empreende a análise dos corpora, cujas descrições e cujas explicações conduzem à caracterização de três macro operações semiológico-enunciativas de aquisição da escrita: (1) a operação de deslocamento de lugar enunciativo; (2) a operação de desdobramento do funcionamento do discurso escrito; (3) a operação de discretização do aparelho formal da enunciação escrita. No interior dessas macro-operações, são identificadas grandes mudanças na relação inicial da criança com a língua em sua realização gráfica. Na primeira macro-operação, ocorre a passagem do preenchimento do lugar enunciativo de falante e do lugar coenunciativo de ouvinte ao preenchimento do lugar enunciativo de escrevente e do lugar coenunciativo de leitor. Na segunda macro-operação, ocorrem duas mudanças, uma de caráter intersubjetivo e outra de caráter referencial: por um lado, a passagem da enunciação escrita sem implantação de alocutário explícito à enunciação escrita com explicitação de alocutário, real ou imaginado, individual ou coletivo; por outro lado, a passagem do aqui-agora da alocução falada à complexa rede de relações espaço-temporais desdobrada pela alocução escrita na simulação, na retomada e na projeção de acontecimentos. Na terceira macro-operação, ocorre a passagem do reconhecimento da à ação sobre a escrita como um todo constituído de partes na relação entre o contínuo e o discreto dos níveis e das unidades linguísticas. Os resultados obtidos com base no trajeto teórico-metodológico-analítico percorrido permitem, de uma parte, desenhar os contornos de uma perspectiva semiológico-enunciativa da aquisição da escrita e, de outra parte, responder – a partir dessa perspectiva – às grandes questões do campo, a saber, a questão da relação fala-escrita, a questão do inato e do adquirido, a questão da representação, a questão da consciência metalinguística e a questão da mudança. |
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