Quando a masculinidade encontra o envelhecimento : experienci(a)ções de reconhecimento e de cuidado no cotidiano de idosos rurais

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Burille, Andréia
Data de Publicação: 2017
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/163896
Resumo: No envelhecer, os homens se deparam com desafios particulares, ao lidar com uma dualidade de exigências: as sociais e as de saúde. Os mandatórios do modelo de masculinidade hegemônico, não mais possíveis de serem alcançados em sua plenitude - seja pela vivência do adoecimento crônico ou pelas dificuldades nas atividades laborais - despertam diferentes reações, que ora podem pender para ajustamentos, ora para negação das normas geradas pelo envelhecer. Nessa experiência, as relações sociais, a depender do que colocam em circulação, contribuem para a geração de situações de cuidado ou de sofrimento que repercutem na saúde, e é sob essa perspectiva que se assenta este estudo. Com a finalidade de contribuir para a temática pertinente à saúde do homem em sua diversidade, propôs-se uma pesquisa qualitativa, cujo cenário focalizou uma comunidade rural de um pequeno município pertencente ao Vale da Luz/RS. As informações produziram-se entre os meses de dezembro de 2015 e setembro de 2016, por meio da aplicação de entrevistas abertas a dez homens idosos e da composição de diários de campo. O processo analítico teve como referenciais de gênero o estudo de Scott, e a Teoria de Reconhecimento, de Honneth. Do encontro entre masculinidade e envelhecimento, revelou-se assincronia entre os ciclos vitais e as expectativas do modelo de masculinidade hegemônica. Na impossibilidade de ressignificar os mandatórios, os homens, colocam em risco sua saúde, adotando posturas alijadas na negação da vulnerabilidade do corpo e no adoecimento, que somadas ao distanciamento dos serviços de saúde - centrados majoritariamente, no urbano - acentuam a vulnerabilidade masculina no contexto rural. O reconhecimento pelo amor demonstrou-se como modulador do cuidado nas condições crônicas, em seu sentido biológico, pelo vigiar que atua no controle das medicações, no acompanhamento das consultas, no preparo de uma refeição. Por outro lado, produz sofrimento, ao atentar o ideário de invulnerabilidade e marcar que a autossuficiência pode ser parcial no envelhecimento. A aposentadoria, mais que um direito, surgiu nos relatos como forma de reconhecimento do Estado, ao ofertar acesso a bens materiais - antes não alcançados ou pouco acessíveis. Na esfera do direito, o acesso aos serviços de saúde foi pontuado, todavia, as narrativas indicaram que isso por si só não basta, demandando interesse e comprometimento para se estabelecer reconhecimento. As identidades - colono, trabalhador e alemão – constituem categorias de estima e fomentam solidariedade, sobretudo em situações de adoecimento, de perdas de familiares ou de bens materiais. Do enlace entre as ações de reconhecimento e a vivência masculina do envelhecimento, as relações mostraram-se potentes aliadas no cuidado em saúde, mas ao distanciarem os homens dos mandatórios do modelo hegemônico de masculinidade ou colocarem em circulação juízos de valor depreciativos de escolhas e de modos de ser, também se mostram capazes de causar sofrimento.
id URGS_cf3e88bc9c4902f2ccdd44ea851430c7
oai_identifier_str oai:www.lume.ufrgs.br:10183/163896
network_acronym_str URGS
network_name_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
repository_id_str 1853
spelling Burille, AndréiaGerhardt, Tatiana Engel2017-07-12T02:28:59Z2017http://hdl.handle.net/10183/163896001025915No envelhecer, os homens se deparam com desafios particulares, ao lidar com uma dualidade de exigências: as sociais e as de saúde. Os mandatórios do modelo de masculinidade hegemônico, não mais possíveis de serem alcançados em sua plenitude - seja pela vivência do adoecimento crônico ou pelas dificuldades nas atividades laborais - despertam diferentes reações, que ora podem pender para ajustamentos, ora para negação das normas geradas pelo envelhecer. Nessa experiência, as relações sociais, a depender do que colocam em circulação, contribuem para a geração de situações de cuidado ou de sofrimento que repercutem na saúde, e é sob essa perspectiva que se assenta este estudo. Com a finalidade de contribuir para a temática pertinente à saúde do homem em sua diversidade, propôs-se uma pesquisa qualitativa, cujo cenário focalizou uma comunidade rural de um pequeno município pertencente ao Vale da Luz/RS. As informações produziram-se entre os meses de dezembro de 2015 e setembro de 2016, por meio da aplicação de entrevistas abertas a dez homens idosos e da composição de diários de campo. O processo analítico teve como referenciais de gênero o estudo de Scott, e a Teoria de Reconhecimento, de Honneth. Do encontro entre masculinidade e envelhecimento, revelou-se assincronia entre os ciclos vitais e as expectativas do modelo de masculinidade hegemônica. Na impossibilidade de ressignificar os mandatórios, os homens, colocam em risco sua saúde, adotando posturas alijadas na negação da vulnerabilidade do corpo e no adoecimento, que somadas ao distanciamento dos serviços de saúde - centrados majoritariamente, no urbano - acentuam a vulnerabilidade masculina no contexto rural. O reconhecimento pelo amor demonstrou-se como modulador do cuidado nas condições crônicas, em seu sentido biológico, pelo vigiar que atua no controle das medicações, no acompanhamento das consultas, no preparo de uma refeição. Por outro lado, produz sofrimento, ao atentar o ideário de invulnerabilidade e marcar que a autossuficiência pode ser parcial no envelhecimento. A aposentadoria, mais que um direito, surgiu nos relatos como forma de reconhecimento do Estado, ao ofertar acesso a bens materiais - antes não alcançados ou pouco acessíveis. Na esfera do direito, o acesso aos serviços de saúde foi pontuado, todavia, as narrativas indicaram que isso por si só não basta, demandando interesse e comprometimento para se estabelecer reconhecimento. As identidades - colono, trabalhador e alemão – constituem categorias de estima e fomentam solidariedade, sobretudo em situações de adoecimento, de perdas de familiares ou de bens materiais. Do enlace entre as ações de reconhecimento e a vivência masculina do envelhecimento, as relações mostraram-se potentes aliadas no cuidado em saúde, mas ao distanciarem os homens dos mandatórios do modelo hegemônico de masculinidade ou colocarem em circulação juízos de valor depreciativos de escolhas e de modos de ser, também se mostram capazes de causar sofrimento.In the process of getting older, men face particular challenges in dealing with a duality of demands: the social and the health ones. The mandates of the model of hegemonic masculinity, impossible to be fully achieved, either because of living with chronic diseases or because of difficulties in work activities, bring different reactions, which sometimes may remain pending to be adjusted, sometimes as a denial of the norms generated by aging. In this experience, social relations, depending on what they put into circulation, contribute to generate situations of care or suffering, which have an impact on health, and it is in this perspective that this study is oriented. In order to contribute to the issue of men’s health, in its diversity, a qualitative research was proposed, which was based on a rural community of a small municipality belonging to the Valley of Light (RS). The information was produced in the months between December 2015 to September 2016, through open interviews with 10 elderly men and daily journal writing. The analytical process was based on Scott's gender and Honneth's recognition concepts. In the confrontation between masculinity and aging is revealed a diachrony between the life cycles and the expectations of the hegemonic model of masculinity. In the impossibility of resignifying the mandates, men put their health in risk, adopting positions born in denying the vulnerability of the body and the disease, which in addition with the distance from health services, mostly concentrated in urban centers, accentuate male vulnerability in the rural context. Recognition through love was demonstrated as a modulator of care in chronic conditions, in its biological sense, by the vigil that acts in the control of medications, being company in the medical visits, in the preparation of a meal. On the other hand, it produces suffering, by undermining the ideal of invulnerability and marking that self-sufficiency may be partial in aging. Retirement, more than a right, arises in the stories as a form of recognition of the State, by offering access to material goods, previously unreached or inaccessible. In the area of law or access to health services, was pointed out, however, that this alone is not enough, it is also necessary interest and commitment to establish recognition. Colonial, working, and German identities are categories of esteem, and foster solidarity, especially in situations of illness, loss of family or property. On the link between actions of recognition and the male experience of aging, relationships were powerful allies in health care, but by distancing men from the mandates of the hegemonic model of masculinity, or by putting into circulation contemptuous judgments about choices and ways of being, are also capable of fostering suffering.application/pdfporSaúde do homemSaúde da população ruralSaúde coletivaEnvelhecimentoEnfermagem em saúde comunitáriaMen's healthMasculinityRural populationHealth of the elderlyCommunity health nursingQuando a masculinidade encontra o envelhecimento : experienci(a)ções de reconhecimento e de cuidado no cotidiano de idosos ruraisWhen masculinity meets aging : experiences of recognition and care in the daily lives of rural eldersinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulEscola de EnfermagemPrograma de Pós-Graduação em EnfermagemPorto Alegre, BR-RS2017doutoradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSORIGINAL001025915.pdf001025915.pdfTexto completoapplication/pdf4326731http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/163896/1/001025915.pdf1cb8ef30f281de7d1b4bc9ac2ea69789MD51TEXT001025915.pdf.txt001025915.pdf.txtExtracted Texttext/plain499598http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/163896/2/001025915.pdf.txt6baaf288d89483ec037e9264d910a2d6MD52THUMBNAIL001025915.pdf.jpg001025915.pdf.jpgGenerated Thumbnailimage/jpeg1147http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/163896/3/001025915.pdf.jpgf510c701f2f69b1962468b1014de2581MD5310183/1638962018-10-10 07:49:03.399oai:www.lume.ufrgs.br:10183/163896Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532018-10-10T10:49:03Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
dc.title.pt_BR.fl_str_mv Quando a masculinidade encontra o envelhecimento : experienci(a)ções de reconhecimento e de cuidado no cotidiano de idosos rurais
dc.title.alternative.en.fl_str_mv When masculinity meets aging : experiences of recognition and care in the daily lives of rural elders
title Quando a masculinidade encontra o envelhecimento : experienci(a)ções de reconhecimento e de cuidado no cotidiano de idosos rurais
spellingShingle Quando a masculinidade encontra o envelhecimento : experienci(a)ções de reconhecimento e de cuidado no cotidiano de idosos rurais
Burille, Andréia
Saúde do homem
Saúde da população rural
Saúde coletiva
Envelhecimento
Enfermagem em saúde comunitária
Men's health
Masculinity
Rural population
Health of the elderly
Community health nursing
title_short Quando a masculinidade encontra o envelhecimento : experienci(a)ções de reconhecimento e de cuidado no cotidiano de idosos rurais
title_full Quando a masculinidade encontra o envelhecimento : experienci(a)ções de reconhecimento e de cuidado no cotidiano de idosos rurais
title_fullStr Quando a masculinidade encontra o envelhecimento : experienci(a)ções de reconhecimento e de cuidado no cotidiano de idosos rurais
title_full_unstemmed Quando a masculinidade encontra o envelhecimento : experienci(a)ções de reconhecimento e de cuidado no cotidiano de idosos rurais
title_sort Quando a masculinidade encontra o envelhecimento : experienci(a)ções de reconhecimento e de cuidado no cotidiano de idosos rurais
author Burille, Andréia
author_facet Burille, Andréia
author_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Burille, Andréia
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv Gerhardt, Tatiana Engel
contributor_str_mv Gerhardt, Tatiana Engel
dc.subject.por.fl_str_mv Saúde do homem
Saúde da população rural
Saúde coletiva
Envelhecimento
Enfermagem em saúde comunitária
topic Saúde do homem
Saúde da população rural
Saúde coletiva
Envelhecimento
Enfermagem em saúde comunitária
Men's health
Masculinity
Rural population
Health of the elderly
Community health nursing
dc.subject.eng.fl_str_mv Men's health
Masculinity
Rural population
Health of the elderly
Community health nursing
description No envelhecer, os homens se deparam com desafios particulares, ao lidar com uma dualidade de exigências: as sociais e as de saúde. Os mandatórios do modelo de masculinidade hegemônico, não mais possíveis de serem alcançados em sua plenitude - seja pela vivência do adoecimento crônico ou pelas dificuldades nas atividades laborais - despertam diferentes reações, que ora podem pender para ajustamentos, ora para negação das normas geradas pelo envelhecer. Nessa experiência, as relações sociais, a depender do que colocam em circulação, contribuem para a geração de situações de cuidado ou de sofrimento que repercutem na saúde, e é sob essa perspectiva que se assenta este estudo. Com a finalidade de contribuir para a temática pertinente à saúde do homem em sua diversidade, propôs-se uma pesquisa qualitativa, cujo cenário focalizou uma comunidade rural de um pequeno município pertencente ao Vale da Luz/RS. As informações produziram-se entre os meses de dezembro de 2015 e setembro de 2016, por meio da aplicação de entrevistas abertas a dez homens idosos e da composição de diários de campo. O processo analítico teve como referenciais de gênero o estudo de Scott, e a Teoria de Reconhecimento, de Honneth. Do encontro entre masculinidade e envelhecimento, revelou-se assincronia entre os ciclos vitais e as expectativas do modelo de masculinidade hegemônica. Na impossibilidade de ressignificar os mandatórios, os homens, colocam em risco sua saúde, adotando posturas alijadas na negação da vulnerabilidade do corpo e no adoecimento, que somadas ao distanciamento dos serviços de saúde - centrados majoritariamente, no urbano - acentuam a vulnerabilidade masculina no contexto rural. O reconhecimento pelo amor demonstrou-se como modulador do cuidado nas condições crônicas, em seu sentido biológico, pelo vigiar que atua no controle das medicações, no acompanhamento das consultas, no preparo de uma refeição. Por outro lado, produz sofrimento, ao atentar o ideário de invulnerabilidade e marcar que a autossuficiência pode ser parcial no envelhecimento. A aposentadoria, mais que um direito, surgiu nos relatos como forma de reconhecimento do Estado, ao ofertar acesso a bens materiais - antes não alcançados ou pouco acessíveis. Na esfera do direito, o acesso aos serviços de saúde foi pontuado, todavia, as narrativas indicaram que isso por si só não basta, demandando interesse e comprometimento para se estabelecer reconhecimento. As identidades - colono, trabalhador e alemão – constituem categorias de estima e fomentam solidariedade, sobretudo em situações de adoecimento, de perdas de familiares ou de bens materiais. Do enlace entre as ações de reconhecimento e a vivência masculina do envelhecimento, as relações mostraram-se potentes aliadas no cuidado em saúde, mas ao distanciarem os homens dos mandatórios do modelo hegemônico de masculinidade ou colocarem em circulação juízos de valor depreciativos de escolhas e de modos de ser, também se mostram capazes de causar sofrimento.
publishDate 2017
dc.date.accessioned.fl_str_mv 2017-07-12T02:28:59Z
dc.date.issued.fl_str_mv 2017
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/10183/163896
dc.identifier.nrb.pt_BR.fl_str_mv 001025915
url http://hdl.handle.net/10183/163896
identifier_str_mv 001025915
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
instacron:UFRGS
instname_str Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
instacron_str UFRGS
institution UFRGS
reponame_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
collection Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
bitstream.url.fl_str_mv http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/163896/1/001025915.pdf
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/163896/2/001025915.pdf.txt
http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/163896/3/001025915.pdf.jpg
bitstream.checksum.fl_str_mv 1cb8ef30f281de7d1b4bc9ac2ea69789
6baaf288d89483ec037e9264d910a2d6
f510c701f2f69b1962468b1014de2581
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv MD5
MD5
MD5
repository.name.fl_str_mv Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
repository.mail.fl_str_mv lume@ufrgs.br||lume@ufrgs.br
_version_ 1810085412899651584