Dinoflagelados epicontinentais no sul do Brasil:estudos taxonômicos e ecológicos

• Autor(a) principal: Cavalcante, Kaoli Pereira
• Data de Publicação: 2016
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: eng
• Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/220663
• topic: Dinoflagelados; Teses

Os dinoflagelados são um grupo de micro-organismos eucariontes aquáticos bastante diverso em forma, nutrição e hábitat. Apesar da maior diversificação deste agrupo no ambiente marinho, cerca de 20% das espécies conhecidas são encontradas em água doce, e são um importante componente do plâncton em diferentes corpos de água ao redor do mundo. Uma ampla revisão taxonômica tem sido realizada recentemente, com substanciais mudanças no tradicional conhecimento sobre os dinoflagelados. Em contraste, os estudos com dinoflagelados epicontinentais no Brasil são escassos, difusos e limitados a poucas regiões, onde há poucos especialistas no assunto. Face à carência de informações básicas sobre dinoflagelados no país, a proposta desta tese é reunir um conjunto de estudos taxonômicos e ecológicos, de caráter exploratório, envolvendo dinoflagelados epicontinentais encontrados na região sul do Brasil. Os três primeiros estudos são relacionados ao processo de invasão biológica realizado por espécies Ceratium no sul do Brasil. O capítulo 1 registrou as primeiras ocorrências de espécies de Ceratium em três reservatórios do Estado do Paraná e oito mananciais localizados no Rio Grande do Sul. As espécies foram encontradas a partir de dezembro de 2011 e foram persistentes ao longo do tempo na maioria dos ambientes. Ceratium furcoides, a principal espécie colonizadora de ambientes brasileiros, ocorreu na maioria das amostras do Paraná e Rio Grande do Sul. C. hirundinella, até então nunca confirmada com precisão no território brasileiro, ocorreu somente em um ambiente, no extremo sul do Brasil. A identificação e a morfologia das espécies foram discutidas, baseadas em análises de microscopia de luz e eletrônica de varredura. No capítulo 2, a abundância e a variação morfológica de C. furcoides foram avaliadas durante sua fase inicial de colonização em dois reservatórios subtropicais no Rio Grande do Sul, com o objetivo de explorar quais foram os fatores ambientais relacionados à ocorrência, persistência e formação de florações deste dinoflagelado naqueles ambientes. A biomassa de C. furcoides apresentou, em ambos os reservatórios, forte variação sazonal, na qual estações quentes foram marcadas por um aumento na densidade e redução do tamanho das células, enquanto nas estações frias ocorreu redução na densidade e aumento significativo no volume celular. A dinâmica populacional de C. furcoides foi relacionada, principalmente, a uma combinação de condições ótimas de temperatura, matéria orgânica e pH e, secundariamente, à disponibilidade de nutrientes. A partir destes resultados e das informações sobre a autoecologia desta espécie disponíveis na literatura, discutiu-se os possíveis fatores relacionados ao sucesso de colonização de C. furcoides em reservatórios subtropicais brasileiros. No capítulo 3, estudos morfométricos foram realizados com as mesmas populações estudadas no capítulo anterior, com o objetivo de verificar a variação sazonal no volume celular de C. furcoides e quais são as dimensões lineares mais correlacionadas com o volume celular destas populações. O volume celular foi significtivamente diferente entre os meses e as estações do ano (ANOVA, p<0,05). Doze dimensões foram medidas por célula, e todas elas foram significativamente correlacionadas ao volume celular. Análises de regressão mostraram que a largura do corpo celular foi a medida mais representativa do volume celular naquelas populações. Estes resultados são um passo fundamental na facilitação de trabalhos de rotina durante programas de monitoramento desta espécie invasora. O capítulo 4 compreende o primeiro estudo florístico sobre dinoflagelados epicontinentais no Estado do Paraná. Quarenta e três ambientes foram amostrados entre 2010 e 2015 e 21 táxons de dinoflagelados foram encontrados. Os táxons foram descritos e ilustrados baseados em análises de microscopias de luz e eletrônica de varredura. Comentários taxonômicos, nomenclaturais e de distribuição conhecida para o Brasil foram feitos. Neste estudo, duas novas combinações nomenclaturais foram propostas, e quatro táxons foram registrados pela primeira vez em águas continentais brasileiras. Finalmente, no capítulo 5, foram investigados fatores ambientais e espaciais que estruturaram as populações de dinoflagelados em 18 reservatórios do estado do Paraná. As maiores biomassas de 8 dinoflagelados foram encontradas em reservatórios com maior tempo de residência, estratificação térmica durante os meses quentes do ano e períodos de mistura completa. Turbulência, transparência da água, pH, condutividade e densidade do fitoplâncton foram os fatores ambientais mais relacionados à variação da biomassa de dinoflagelados. Partição de variância (RDAp) apresentou que os componentes espacial e ambiental foram significativos em explicar a variação da biomassa de dinoflagelados, com o componente ambiental apresentando um sinal mais forte que o espacial. Doze táxons de dinoflagelados foram encontrados neste estudo e dados de autoecologia foram apresentados, acrescentando novas informações ecológicas sobre as populações de dinoflagelados que ocorrem em reservatórios subtropicais. Os resultados obtidos nestes estudos, em conjunto, expressam a mais extensa contribuição para o conhecimento sobre dinoflagelados no sul do Brasil, e fornecem um consistente arcabouço de informações sobre morfologia, distribuição, ocorrência, sazonalidade e fatores ambientais relacionados aos dinoflagelados, que servem de base para o desenvolvimento desta linha de pesquisa no Brasil.