Caminhos que emergem das águas : trajetórias sociais e produtivas do assentamento Filhos de Sepé - RS

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Bogni, André
Data de Publicação: 2020
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/268403
Resumo: O Assentamento Filhos de Sepé, presente no município de Viamão, Região Metropolitana de Porto Alegre (RS), é reconhecido atualmente como o maior produtor de arroz orgânico da América Latina (em área contígua), além de apresentar também diversas outras atividades produtivas, totalmente livre de agrotóxicos e insumos químicos. Apesar do atual patamar, seu processo de constituição não se deu de maneira simples e livre de tensionamentos. Possuindo 85% do seu território composto por áreas alagadas ou úmidas, às margens do Rio Gravataí, diversos foram os desafios colocados às cerca de 376 famílias que chegaram ao local em sua criação, no ano de 1998. Conflitos relacionados à gestão hídrica, dificuldades com o manejo das áreas de várzea, e a própria ausência de infraestrutura produtiva marcaram seus anos iniciais, lançando os assentados a um longo e duro processo de adaptação, onde lado a lado com o meio que os cerca, desenvolveram uma série de experiências e arranjos organizativos que viabilizaram sua permanência no local. Desafiando previsões pessimistas, que duvidavam da viabilidade do assentamento em uma área tão sensível ambientalmente quanto a que se encontra, o Filhos de Sepé se consolidou, estabelecendo diversas relações de cumplicidade com as Unidades de Conservação com as quais compartilha território: a Área de Proteção Ambiental do Banhado Grande e o Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos. A água, elemento tão presente no assentamento, assume centralidade ao longo de seu turbulento processo de constituição, pois os assentados tiveram que compreender seus fluxos, se adaptando à sua disponibilidade, e estando condicionados às suas dinâmicas na delimitação das estratégias, não só produtivas, mas também sociais desenroladas no assentamento. Nessa perspectiva, a presente dissertação pretende compreender mais profundamente as diversas formas com que as trajetórias sociais e produtivas do assentamento se inter-relacionam com seu contexto hídrico, chamando a atenção para como as famílias assentadas e o seu meio vêm se construindo de maneira relacional e mutuamente, compondo uma grande trama sócio-natural. Para tal, mobiliza-se o conceito de Ciclo Hidrossocial, compreendendo o papel ativo das águas na composição das relações sociais, e indo além, dialoga-se também com a Teoria Ator-Rede (TAR), sobretudo ao buscar desconstruir a separação historicamente atribuída entre sociedade e natureza, seguindo os traços deixados pelas águas no tecido coletivo. Metodologicamente, foram empregados uma combinação de instrumentos, passando desde entrevistas semiestruturadas, análises documentais, confecção de nuvem de palavras e mapas mentais, até o uso de fotografias e captação de registros audiovisuais. Os resultados confirmam um relacionamento íntimo existente entre os arranjos organizativos do assentamento e seu contexto hídrico, ressaltando também os benefícios que tem se desdobrado a partir de uma postura ampla de construção de parcerias com as Unidades de Conservação, que tem se refletido em ganhos ambientais não somente para o perímetro do assentamento, como também a nível de bacia hidrográfica.
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Conflitos relacionados à gestão hídrica, dificuldades com o manejo das áreas de várzea, e a própria ausência de infraestrutura produtiva marcaram seus anos iniciais, lançando os assentados a um longo e duro processo de adaptação, onde lado a lado com o meio que os cerca, desenvolveram uma série de experiências e arranjos organizativos que viabilizaram sua permanência no local. Desafiando previsões pessimistas, que duvidavam da viabilidade do assentamento em uma área tão sensível ambientalmente quanto a que se encontra, o Filhos de Sepé se consolidou, estabelecendo diversas relações de cumplicidade com as Unidades de Conservação com as quais compartilha território: a Área de Proteção Ambiental do Banhado Grande e o Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos. A água, elemento tão presente no assentamento, assume centralidade ao longo de seu turbulento processo de constituição, pois os assentados tiveram que compreender seus fluxos, se adaptando à sua disponibilidade, e estando condicionados às suas dinâmicas na delimitação das estratégias, não só produtivas, mas também sociais desenroladas no assentamento. Nessa perspectiva, a presente dissertação pretende compreender mais profundamente as diversas formas com que as trajetórias sociais e produtivas do assentamento se inter-relacionam com seu contexto hídrico, chamando a atenção para como as famílias assentadas e o seu meio vêm se construindo de maneira relacional e mutuamente, compondo uma grande trama sócio-natural. Para tal, mobiliza-se o conceito de Ciclo Hidrossocial, compreendendo o papel ativo das águas na composição das relações sociais, e indo além, dialoga-se também com a Teoria Ator-Rede (TAR), sobretudo ao buscar desconstruir a separação historicamente atribuída entre sociedade e natureza, seguindo os traços deixados pelas águas no tecido coletivo. Metodologicamente, foram empregados uma combinação de instrumentos, passando desde entrevistas semiestruturadas, análises documentais, confecção de nuvem de palavras e mapas mentais, até o uso de fotografias e captação de registros audiovisuais. Os resultados confirmam um relacionamento íntimo existente entre os arranjos organizativos do assentamento e seu contexto hídrico, ressaltando também os benefícios que tem se desdobrado a partir de uma postura ampla de construção de parcerias com as Unidades de Conservação, que tem se refletido em ganhos ambientais não somente para o perímetro do assentamento, como também a nível de bacia hidrográfica.Filhos de Sepé Settlement, located in the municipality of Viamão, Metropolitan Region of Porto Alegre (RS), is currently recognized as the largest organic rice producer of Latin America (in contiguous area), in addition to also presenting several other productive activities, totally free of pesticides and chemical inputs. Despite the current level, its constitution process did not occur in a simple and tension-free way. With 85% of its territory composed of flooded or humid areas, on the banks of the Gravataí River, several challenges were posed to the approximately 376 families that arrived at the site in its creation, back in 1998. Conflicts related to water management, difficulties of dealing with flooded areas and the vary lack of productive infrastructure marked their initial years, launching the settlers to a long and hard process of adaptation, in which, together with the surrounding environment, they developed a series of experiences and organizational arrangements that made possible their continuance on the place. Defying pessimistic predictions, which doubted the viability of the settlement in an area as environmentally sensitive as the one in which it is placed, Filhos de Sepé consolidated itself, establishing several complicity relations with the Conservation Units with which it shares territory: the Banhado Grande Environmental Protection Area and the Banhado dos Pachecos Wildlife Refuge. The water, always present element in the settlement, assumes centrality through the trajectories, since the settlers had to understand their flows, adapting to its availability, and being conditioned to their dynamics in the delimitation of their strategies, not only productive, but also social unfolded in the settlement. In this perspective, the present dissertation intends to understand more deeply the different ways in which the social and productive trajectories of the Filhos de Sepé settlement are interrelated with its water context, calling attention to how the settlers and their environment have been building themselves in a relational and mutually way, composing a great socionatural plot. To this end, the concept of Hydrosocial Cycle is mobilized, comprising the active role of water in the composition of social relations, and going further, it also dialogues with the Actor-Network Theory (ANT), especially when seeking to deconstruct the separation historically attributed between society and nature, following the traces left by the waters in the collective fabric. Methodologically, a combination of instruments was used, ranging from semi-structured interviews, documental analysis, making of word clouds and mental maps, to the use of photographs and audiovisual records. The results confirm the great relation existing between the settlement's organizational arrangements and its water context, also highlighting the benefits that have unfolded from a broad stance of building partnerships with the Conservation Units, which has been reflected in environmental gains not only for the settlement's perimeter, but also at the hydrographic basin level.application/pdfporAssentamento ruralReforma agráriaConflito socioambientalAssentamento Filhos de Sepé (Viamão, RS)MSTWaterHydrosocial cycleActor-Network TheoryCaminhos que emergem das águas : trajetórias sociais e produtivas do assentamento Filhos de Sepé - RSinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulFaculdade de Ciências EconômicasPrograma de Pós-Graduação em Desenvolvimento RuralPorto Alegre, BR-RS2023mestradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001193087.pdf.txt001193087.pdf.txtExtracted Texttext/plain320256http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/268403/2/001193087.pdf.txta3b80ebca4e077cac3fd3bc9f9ad355cMD52ORIGINAL001193087.pdfTexto completoapplication/pdf5696413http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/268403/1/001193087.pdfb6966cb0fd5fc7e431264dd885dd24d8MD5110183/2684032024-06-05 06:51:06.626565oai:www.lume.ufrgs.br:10183/268403Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532024-06-05T09:51:06Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
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