Estéticas de um mundo plano e estacionário : ciência, religião e conspiracionismo no ecossistema digital terraplanista

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Holanda, Jorge Garcia de
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/265360
Resumo: Em meados da década de 2010, uma onda de disseminação do modelo da Terra Plana tomou forma em plataformas digitais em diversos países, incluindo o Brasil. Seus defensores — em sua imensa maioria, pessoas sem formação ou atuação na ciência oficial — afirmavam que o contato recente com vídeos, grupos e páginas sobre o assunto havia sido decisivo para, em suas palavras, “despertarem” para a “verdade”, “ocultada” da humanidade, de que vivemos num mundo plano e estacionário, radicalmente distinto do que descreve o paradigma heliocêntrico. A presente tese etnografa a emergência contemporânea do terraplanismo no Brasil tomando sua produção audiovisual divulgada no YouTube como ponto de partida, analisando-a em suas dimensões estéticas e de formação de públicos. Assim, discute-se aqui como o cruzamento entre imagens, discursos e práticas — bem como condições e limites de sua organização, circulação e impulsionamento na plataforma e fora dela — viabilizou a produção de subjetividades e públicos para os quais a versão cosmológica materializada em vídeos correspondia à própria realidade do mundo, a despeito de sua inadequação aos consensos científicos. Para isso, são investigadas três linhas discursivas e complementares que orientam essa produção: ciência (mimetizada e modificada pelo terraplanismo, produzindo o que chamam de “ciência de verdade”), religião (com a delineação terraplanista de uma “cosmologia bíblica”, apresentada como convergente ao seu modelo cosmológico) e conspiracionismo (base de mapeamentos cognitivos que relacionam o indivíduo terraplanista a um modo de suposta dominação global). São também abordadas as dinâmicas do próprio ecossistema digital terraplanista: por um lado, sua constituição no YouTube e outras plataformas online; por outro, os esforços de alguns de seus membros para levar a defesa do modelo para além do universo digital.
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Assim, discute-se aqui como o cruzamento entre imagens, discursos e práticas — bem como condições e limites de sua organização, circulação e impulsionamento na plataforma e fora dela — viabilizou a produção de subjetividades e públicos para os quais a versão cosmológica materializada em vídeos correspondia à própria realidade do mundo, a despeito de sua inadequação aos consensos científicos. Para isso, são investigadas três linhas discursivas e complementares que orientam essa produção: ciência (mimetizada e modificada pelo terraplanismo, produzindo o que chamam de “ciência de verdade”), religião (com a delineação terraplanista de uma “cosmologia bíblica”, apresentada como convergente ao seu modelo cosmológico) e conspiracionismo (base de mapeamentos cognitivos que relacionam o indivíduo terraplanista a um modo de suposta dominação global). São também abordadas as dinâmicas do próprio ecossistema digital terraplanista: por um lado, sua constituição no YouTube e outras plataformas online; por outro, os esforços de alguns de seus membros para levar a defesa do modelo para além do universo digital.In the mid-2010s, a wave of dissemination of the Flat Earth model took shape on digital platforms in several countries, including Brazil. Its defenders — in their vast majority, people without training or experience in official science — claimed that recent contact with videos, groups and pages on the subject had been decisive for, in their words, their “awakening” to the “truth” (“hidden” from humanity) that we live in a flat and stationary world, radically different from what describes the heliocentric paradigm. This thesis ethnographs the contemporary emergence of flat earthism in Brazil, taking its audiovisual production released on YouTube as a starting point, analyzing it in its aesthetic dimensions and in the formation of publics. Thus, it’s discussed here how the intersection between images, discourses and practices — as well as the conditions and limits of their organization, circulation and promotion on the platform and beyond — enabled the production of subjectivities and audiences for which the cosmological version materialized in videos corresponded to the very reality of the world, despite its inadequacy to scientific consensus. For this, three discursive and complementary lines that guide this production are investigated: science (mimicked and modified by flat earthism, producing what they call "true science"), religion (with the flat earth delineation of a "biblical cosmology", presented as convergent to its cosmological model) and conspiracy (base of cognitive mappings that seek to relate the individual to a supposed domination on a global scale). The dynamics of the flat-Earther digital ecosystem are also addressed: on the one hand, its constitution on YouTube and other online platforms; on the other, the efforts of some of its members to take the model's defense beyond the digital universe.application/pdfporTeorias da conspiraçãoCiênciaPós-verdadePós-verdadeRedes sociaisFlat-earthismPost-truthImageScienceReligionConspiracy theoriesEstéticas de um mundo plano e estacionário : ciência, religião e conspiracionismo no ecossistema digital terraplanistainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de Filosofia e Ciências HumanasPrograma de Pós-Graduação em Antropologia SocialPorto Alegre, BR-RS2023doutoradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001177258.pdf.txt001177258.pdf.txtExtracted Texttext/plain874679http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/265360/2/001177258.pdf.txtc1da5dbeedbe4ce4952ffe9a7c0e9a09MD52ORIGINAL001177258.pdfTexto completoapplication/pdf3767048http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/265360/1/001177258.pdf6c8908967cc6d2d87d26c580fa2a3cd8MD5110183/2653602023-09-29 03:35:43.18021oai:www.lume.ufrgs.br:10183/265360Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532023-09-29T06:35:43Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
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