O bem e o mal-estar das drogas na atualidade : pesquisa, experiência e gestão autônoma
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2013 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10183/107680 |
Resumo: | Este trabalho problematiza os lugares das drogas lícitas, ilícitas e prescritas na sociedade atual, trazendo como pano de fundo a participação em uma pesquisa multicêntrica realizada entre Brasil e Canadá, chamada Gestão Autônoma da Medicação, ou GAM. Embora aparentemente focada no termo medicação, a metodologia e as apostas desta pesquisa exaltam o debate sobre drogas como um todo, e não somente sobre aquelas prescritas (os fármacos). Em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), a pesquisa GAM promoveu debates organizados em grupos entre usuários(as), trabalhadores(as) e pesquisadores(as) sobre o modo como vivemos a prescrição de psicofármacos. O exercício de agregar as ditas outras drogas de forma mais explícita nesta pesquisa, e a tentativa de levá-la para um CAPS Álcool e Drogas (CAPS-Ad), mais do que fornecer relatos de campo para a dissertação, deu aberturas para pensar sobre o modo dicotomizado como produzimos conhecimento sobre elas. O distanciamento das experiências de uso e da possibilidade de observá-las em primeira pessoa, em um contexto de produção de conhecimento sobre drogas, é comentado junto a obras de diferentes áreas que compõem as ciências da mente atuais, e que oferecem a possibilidade de uma complementaridade, em um campo marcado por disputas centradas na possibilidade ou não de uma gestão autonônoma sobre usos do corpo. O campo da pesquisa sobre drogas é sintomático de um certo modo de olhar para a experiência, para a produção de conhecimento e a gestão sobre corpo, mente e consciência, e pode beneficiar-se do acúmulo de metodologias milenares de investigação consciente, como as tradições contemplativas orientais. Tensionada em meio a jogos de verdades, a clínica em saúde mental se descobre também como uma paisagem propícia para este encontro, em especial no acúmulo operado pelo campo da Saúde Mental Coletiva e pela experiência da Redução de Danos no Brasil. As intervenções no campo da pesquisa GAM são contextualizadas aqui como movimentos contemplativos que levam em conta os diferentes fluxos implicados em seus usos e sua circulação na sociedade, tais como o lícito e o ilícito, ou prescrito e proscrito, permitindo aberturas sobre as respostas da civilização atual. Tentou-se trazer exemplos sobre como o tema das drogas, tal como a pesquisa GAM permite abordá-lo, é tomado como palco exemplar no qual se dá o espetáculo do bem e do mal-estar, através de experiências corporais, subjetivas e provocantes da alteridade. Como sugeria Freud, se o mal-estar na civilização se encontra no impasse deste desafio, responder a ele deveria remeter não a um fardo ou uma técnica dura, mas à leveza de ser e de estar no mundo – e assim é que as terapêuticas que oferecemos para nosso mal-estar devem ser avaliadas em sua coerência. Neste pano de fundo, portanto, é que retrato a participação na pesquisa GAM. Trazendo-a como exemplo prático de uma contemplação não somente sobre as durezas que podemos conferir aos mundos das drogas na sociedade atual, mas também sobre a sutileza dos movimentos que podem atenuá-las, seja nos campos da pesquisa e da clínica, ambas atravessadas por variados repertórios culturais. |
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Medeiros, Rafael GilPalombini, Analice de Lima2014-12-03T02:34:26Z2013http://hdl.handle.net/10183/107680000945104Este trabalho problematiza os lugares das drogas lícitas, ilícitas e prescritas na sociedade atual, trazendo como pano de fundo a participação em uma pesquisa multicêntrica realizada entre Brasil e Canadá, chamada Gestão Autônoma da Medicação, ou GAM. Embora aparentemente focada no termo medicação, a metodologia e as apostas desta pesquisa exaltam o debate sobre drogas como um todo, e não somente sobre aquelas prescritas (os fármacos). Em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), a pesquisa GAM promoveu debates organizados em grupos entre usuários(as), trabalhadores(as) e pesquisadores(as) sobre o modo como vivemos a prescrição de psicofármacos. O exercício de agregar as ditas outras drogas de forma mais explícita nesta pesquisa, e a tentativa de levá-la para um CAPS Álcool e Drogas (CAPS-Ad), mais do que fornecer relatos de campo para a dissertação, deu aberturas para pensar sobre o modo dicotomizado como produzimos conhecimento sobre elas. O distanciamento das experiências de uso e da possibilidade de observá-las em primeira pessoa, em um contexto de produção de conhecimento sobre drogas, é comentado junto a obras de diferentes áreas que compõem as ciências da mente atuais, e que oferecem a possibilidade de uma complementaridade, em um campo marcado por disputas centradas na possibilidade ou não de uma gestão autonônoma sobre usos do corpo. O campo da pesquisa sobre drogas é sintomático de um certo modo de olhar para a experiência, para a produção de conhecimento e a gestão sobre corpo, mente e consciência, e pode beneficiar-se do acúmulo de metodologias milenares de investigação consciente, como as tradições contemplativas orientais. Tensionada em meio a jogos de verdades, a clínica em saúde mental se descobre também como uma paisagem propícia para este encontro, em especial no acúmulo operado pelo campo da Saúde Mental Coletiva e pela experiência da Redução de Danos no Brasil. As intervenções no campo da pesquisa GAM são contextualizadas aqui como movimentos contemplativos que levam em conta os diferentes fluxos implicados em seus usos e sua circulação na sociedade, tais como o lícito e o ilícito, ou prescrito e proscrito, permitindo aberturas sobre as respostas da civilização atual. Tentou-se trazer exemplos sobre como o tema das drogas, tal como a pesquisa GAM permite abordá-lo, é tomado como palco exemplar no qual se dá o espetáculo do bem e do mal-estar, através de experiências corporais, subjetivas e provocantes da alteridade. Como sugeria Freud, se o mal-estar na civilização se encontra no impasse deste desafio, responder a ele deveria remeter não a um fardo ou uma técnica dura, mas à leveza de ser e de estar no mundo – e assim é que as terapêuticas que oferecemos para nosso mal-estar devem ser avaliadas em sua coerência. Neste pano de fundo, portanto, é que retrato a participação na pesquisa GAM. Trazendo-a como exemplo prático de uma contemplação não somente sobre as durezas que podemos conferir aos mundos das drogas na sociedade atual, mas também sobre a sutileza dos movimentos que podem atenuá-las, seja nos campos da pesquisa e da clínica, ambas atravessadas por variados repertórios culturais.This paper intends to share reflections on the places of licit, illicit and prescribed drugs in today’s society, bringing as a background the author’s participation in a multicentered study conducted in Brazil and Canada, called Autonomous Management of Medication or “GAM”. While focused on the term medication, the methodology and stakes of this research target the debate on drugs as a whole, not only pharmaceuticals. Taking place inside Centers for Psychosocial Care (CAPSs), the GAM research promoted discussions organized in groups of users, workers and researchers on the way we live psychotropic prescription. The exercise of adding other drugs to this research more explicitly, and the attempt to take it to a Drug and Alcohol CAPS (CAPS-Ad), provided field reports for the dissertation as well as created opportunities to consider the dichotomies in the production of knowledge about these drugs. The separation of user experiences from the possibility of observing them in first person, in a context of knowledge production about drugs, is discussed along with works of different areas that make up the civilized mind sciences, and offer the possibility of a complementarity, in a field marked by disputes centered in the (im)possibility of autonomy of a subject’s body. The current knowledge on drugs bears symptoms of a specific way of looking at the experience, the production of knowledge and management of body, mind and consciousness; a reflection that benefits from millennial consciousness research methodologies, such as eastern contemplative traditions. Tensioned amidst this net of discourse, the clinical practices in mental health figure as a favorable landscape for this encounter, especially when the accumulations performed in the field of Collective Mental Health and the experience of Harm Reduction in Brazil are considered. GAM research is here therefore seen here as a contemplative movement that takes into account the different categories involved in drug use and circulation in society, such as the lawful and the unlawful, the prescribed and proscribed; which allows broader contemplations on the answers given by modern western civilization. We attempted to bring examples on how the topic of drugs, in the way GAM research demonstrates it, is taken as an exemplary stage for the spectacle of “good vs. evil” / “health vs. disease”, through subjective bodily experiences that have the potential to produce social conflict. As Freud suggested, if the malaise in civilization is in the deadlock of this challenge, engaging it should not be taken as a burden or as a technique, but with the lightness of being and living in the world - and this should be the standard for the evaluation for any therapy. Against this background, therefore, I picture my participation in GAM research, presenting it as a practical example of a contemplation on the hardships associated with the world of drugs in today's society, and the subtlety of movement that can mitigate them in the fields of research and clinical care, both crossed by various cultural repertoires.application/pdfporPsicofármacosDrogasRedução do danoSaúde mentalSaúde coletivaSubjetividadeDrugsSocietyMental healthO bem e o mal-estar das drogas na atualidade : pesquisa, experiência e gestão autônomainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de PsicologiaPrograma de Pós-Graduação em Psicologia Social e InstitucionalPorto Alegre, BR-RS2013mestradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSORIGINAL000945104.pdf000945104.pdfTexto completoapplication/pdf713599http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/107680/1/000945104.pdfe602e51b7a9e433c86352a421b804eb9MD51TEXT000945104.pdf.txt000945104.pdf.txtExtracted Texttext/plain395263http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/107680/2/000945104.pdf.txt6ffeb47f3ea6aa3200640c8c2d77dbc9MD52THUMBNAIL000945104.pdf.jpg000945104.pdf.jpgGenerated Thumbnailimage/jpeg1108http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/107680/3/000945104.pdf.jpg68b7b08658202c2085e74e8147a11e1bMD5310183/1076802018-10-22 08:29:16.483oai:www.lume.ufrgs.br:10183/107680Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532018-10-22T11:29:16Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false |
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