O cotidiano de quem vive a realidade da fome: práticas alimentares e estratégias de acesso aos alimentos

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Blümke, Adriane Cervi
Data de Publicação: 2017
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNISINOS (RBDU Repositório Digital da Biblioteca da Unisinos)
Texto Completo: http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/6214
Resumo: Este estudo teve como objetivo compreender o fenômeno da fome a partir do ponto de vista de atores sociais que a vivenciam no seu cotidiano. Partimos do pressuposto de que a fome, concebida por Josué de Castro, ainda é um dos grandes dilemas sociais do Brasil e uma condição de iniquidade num contexto de privação das capacidades humanas, conforme sugerem John Rawls e Amartya Sen. A alimentação além de ser um direito humano é também um ato cotidiano permeado pela cultura, onde no urbano sofre influência de uma série de fatores. Foi realizado um estudo sócio antropológico de fevereiro a maio de 2016 com famílias que vivem o cotidiano da fome na comunidade Alto da Boa Vista localizada no bairro Nova Santa Marta no município de Santa Maria, RS. Foram utilizadas entrevistas guiadas por um roteiro e anotações em diário de campo, sendo o processo analítico conduzido pela técnica de Análise de Conteúdo proposta por Laurence Bardin. Os principais achados mostram que a fome vivida e sentida corrói aos poucos o corpo e a alma dos sujeitos, é fruto de uma expressão corporal da necessidade fisiológica quantitativa de alimentos que provoca a sensação de vazio e de dor física, gera sentimento de incapacidade, provoca tristeza e grande preocupação com a incerteza do amanhã. Outro resultado é o habitus da escassez devido a precariedade da alimentação, o número restrito de refeições e a ausência do desjejum pela falta do pão. As famílias desenvolvem ajustes alimentares para conviver com a fome tal como praticar o café-almoço ou almoço-café, tomar água ou chimarrão quando estão com fome, comer pouco para sobrar para a próxima refeição ou para as crianças. Em relação às estratégias de acesso a mais identificada foi a solidariedade a partir do estabelecimento de uma rede de apoio e de ajuda alimentar de amigos, vizinhos e familiares. É necessário aumentar nossa capacidade de análise em relação ao problema da fome, bem como, quanto às políticas públicas de alimentação e nutrição e de segurança alimentar e nutricional que possuem alcance limitado para as famílias que realmente precisam com um discurso que privilegia as políticas neoliberais em detrimento do acesso equitativo aos alimentos, o qual continua sendo um grande desafio ético, político e econômico a ser enfrentado.
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Foi realizado um estudo sócio antropológico de fevereiro a maio de 2016 com famílias que vivem o cotidiano da fome na comunidade Alto da Boa Vista localizada no bairro Nova Santa Marta no município de Santa Maria, RS. Foram utilizadas entrevistas guiadas por um roteiro e anotações em diário de campo, sendo o processo analítico conduzido pela técnica de Análise de Conteúdo proposta por Laurence Bardin. Os principais achados mostram que a fome vivida e sentida corrói aos poucos o corpo e a alma dos sujeitos, é fruto de uma expressão corporal da necessidade fisiológica quantitativa de alimentos que provoca a sensação de vazio e de dor física, gera sentimento de incapacidade, provoca tristeza e grande preocupação com a incerteza do amanhã. Outro resultado é o habitus da escassez devido a precariedade da alimentação, o número restrito de refeições e a ausência do desjejum pela falta do pão. As famílias desenvolvem ajustes alimentares para conviver com a fome tal como praticar o café-almoço ou almoço-café, tomar água ou chimarrão quando estão com fome, comer pouco para sobrar para a próxima refeição ou para as crianças. Em relação às estratégias de acesso a mais identificada foi a solidariedade a partir do estabelecimento de uma rede de apoio e de ajuda alimentar de amigos, vizinhos e familiares. É necessário aumentar nossa capacidade de análise em relação ao problema da fome, bem como, quanto às políticas públicas de alimentação e nutrição e de segurança alimentar e nutricional que possuem alcance limitado para as famílias que realmente precisam com um discurso que privilegia as políticas neoliberais em detrimento do acesso equitativo aos alimentos, o qual continua sendo um grande desafio ético, político e econômico a ser enfrentado.The objective of this study was to understand the hunger phenomenom from the perspective of social actors that experience it in their everyday lives. We started from the assumption that hunger, conceived by Josué de Castro, is still one of the greatest social dilemmas in Brazil and a condition of iniquity in a context of deprivation of human capabilities, as John Rawls and Amartya Sen suggest. The food besides being a human right is also a daily act permeated by the culture that, in the urban is influenced by a series of factors. A social anthropological study was conducted of February to May 2016 with families that experience hunger on a daily basis, in the Alto da Boa Vista community, located in the Nova Santa Marta neighborhood in the city of Santa Maria, RS. We used script-guided interviews and field notes on daily, being the analytical process was conducted through the Content Analysis technique proposed by Laurence. The major findings show that the hunger experienced and felt slowly corrodes the individuals' body and soul, it is consequence of a body expression of the quantitative physiological need of food that causes a feeling of emptiness and physical pain, it generates a feeling of incapacity, it causes sadness and great concern about the uncertainty of tomorrow. Another find is the habitus shortage due to the precariousness of food, the restrict number of meals and the absence of breakfast caused by the lack of bread. The families develop dietary adjustments to live with the hunger, such as practicing the brunch or lunch/afternoon snack, drinking water or "chimarrão" tea when they are hungry, eating less so that there is food left for the next meal or for the children. Among the strategies of access, the most identified was the solidarity with the establishment of a support network and food aid from friends, neighbors and relatives. It is necessary to increase our analysis capacity in relation to the hunger problem as well as, public policies food and nutrition and food and nutrition safety which have a limited scope for families that really need a speech that privileges the neoliberal policies to the detriment of equitable access to food, which continues to be a big ethical, political and economic challenge to be faced.NenhumaBlümke, Adriane Cervihttp://lattes.cnpq.br/5658490336057131http://lattes.cnpq.br/8041567709113125Mélo, José Luiz Bica deUniversidade do Vale do Rio dos SinosPrograma de Pós-Graduação em Ciências SociaisUnisinosBrasilEscola de HumanidadesO cotidiano de quem vive a realidade da fome: práticas alimentares e estratégias de acesso aos alimentosACCNPQ::Ciências Humanas::SociologiaFomeAlimentaçãoEquidadePolíticas públicasSegurança alimentar e nutricionalHungerEquityPublic policiesFood and nutrition securityinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesishttp://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/6214info:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UNISINOS (RBDU Repositório Digital da Biblioteca da Unisinos)instname:Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)instacron:UNISINOSORIGINALAdriane Cervi Blümke_.pdfAdriane Cervi Blümke_.pdfapplication/pdf1874177http://repositorio.jesuita.org.br/bitstream/UNISINOS/6214/1/Adriane+Cervi+Bl%C3%BCmke_.pdf9c8ccfd231030ac74273b29160499645MD51LICENSElicense.txtlicense.txttext/plain; charset=utf-82175http://repositorio.jesuita.org.br/bitstream/UNISINOS/6214/2/license.txt320e21f23402402ac4988605e1edd177MD52UNISINOS/62142017-04-17 13:11:47.927oai:www.repositorio.jesuita.org.br:UNISINOS/6214Ck5PVEE6IENPTE9RVUUgQVFVSSBBIFNVQSBQUsOTUFJJQSBMSUNFTsOHQQoKRXN0YSBsaWNlbsOnYSBkZSBleGVtcGxvIMOpIGZvcm5lY2lkYSBhcGVuYXMgcGFyYSBmaW5zIGluZm9ybWF0aXZvcy4KCkxpY2Vuw6dhIERFIERJU1RSSUJVScOHw4NPIE7Dg08tRVhDTFVTSVZBCgpDb20gYSBhcHJlc2VudGHDp8OjbyBkZXN0YSBsaWNlbsOnYSwgdm9jw6ogKG8gYXV0b3IgKGVzKSBvdSBvIHRpdHVsYXIgZG9zIGRpcmVpdG9zIGRlIGF1dG9yKSBjb25jZWRlIMOgIApVbml2ZXJzaWRhZGUgZG8gVmFsZSBkbyBSaW8gZG9zIFNpbm9zIChVTklTSU5PUykgbyBkaXJlaXRvIG7Do28tZXhjbHVzaXZvIGRlIHJlcHJvZHV6aXIsICB0cmFkdXppciAoY29uZm9ybWUgZGVmaW5pZG8gYWJhaXhvKSwgZS9vdSAKZGlzdHJpYnVpciBhIHN1YSB0ZXNlIG91IGRpc3NlcnRhw6fDo28gKGluY2x1aW5kbyBvIHJlc3VtbykgcG9yIHRvZG8gbyBtdW5kbyBubyBmb3JtYXRvIGltcHJlc3NvIGUgZWxldHLDtG5pY28gZSAKZW0gcXVhbHF1ZXIgbWVpbywgaW5jbHVpbmRvIG9zIGZvcm1hdG9zIMOhdWRpbyBvdSB2w61kZW8uCgpWb2PDqiBjb25jb3JkYSBxdWUgYSBTaWdsYSBkZSBVbml2ZXJzaWRhZGUgcG9kZSwgc2VtIGFsdGVyYXIgbyBjb250ZcO6ZG8sIHRyYW5zcG9yIGEgc3VhIHRlc2Ugb3UgZGlzc2VydGHDp8OjbyAKcGFyYSBxdWFscXVlciBtZWlvIG91IGZvcm1hdG8gcGFyYSBmaW5zIGRlIHByZXNlcnZhw6fDo28uCgpWb2PDqiB0YW1iw6ltIGNvbmNvcmRhIHF1ZSBhIFNpZ2xhIGRlIFVuaXZlcnNpZGFkZSBwb2RlIG1hbnRlciBtYWlzIGRlIHVtYSBjw7NwaWEgYSBzdWEgdGVzZSBvdSAKZGlzc2VydGHDp8OjbyBwYXJhIGZpbnMgZGUgc2VndXJhbsOnYSwgYmFjay11cCBlIHByZXNlcnZhw6fDo28uCgpWb2PDqiBkZWNsYXJhIHF1ZSBhIHN1YSB0ZXNlIG91IGRpc3NlcnRhw6fDo28gw6kgb3JpZ2luYWwgZSBxdWUgdm9jw6ogdGVtIG8gcG9kZXIgZGUgY29uY2VkZXIgb3MgZGlyZWl0b3MgY29udGlkb3MgCm5lc3RhIGxpY2Vuw6dhLiBWb2PDqiB0YW1iw6ltIGRlY2xhcmEgcXVlIG8gZGVww7NzaXRvIGRhIHN1YSB0ZXNlIG91IGRpc3NlcnRhw6fDo28gbsOjbywgcXVlIHNlamEgZGUgc2V1IApjb25oZWNpbWVudG8sIGluZnJpbmdlIGRpcmVpdG9zIGF1dG9yYWlzIGRlIG5pbmd1w6ltLgoKQ2FzbyBhIHN1YSB0ZXNlIG91IGRpc3NlcnRhw6fDo28gY29udGVuaGEgbWF0ZXJpYWwgcXVlIHZvY8OqIG7Do28gcG9zc3VpIGEgdGl0dWxhcmlkYWRlIGRvcyBkaXJlaXRvcyBhdXRvcmFpcywgdm9jw6ogCmRlY2xhcmEgcXVlIG9idGV2ZSBhIHBlcm1pc3PDo28gaXJyZXN0cml0YSBkbyBkZXRlbnRvciBkb3MgZGlyZWl0b3MgYXV0b3JhaXMgcGFyYSBjb25jZWRlciDDoCBTaWdsYSBkZSBVbml2ZXJzaWRhZGUgCm9zIGRpcmVpdG9zIGFwcmVzZW50YWRvcyBuZXN0YSBsaWNlbsOnYSwgZSBxdWUgZXNzZSBtYXRlcmlhbCBkZSBwcm9wcmllZGFkZSBkZSB0ZXJjZWlyb3MgZXN0w6EgY2xhcmFtZW50ZSAKaWRlbnRpZmljYWRvIGUgcmVjb25oZWNpZG8gbm8gdGV4dG8gb3Ugbm8gY29udGXDumRvIGRhIHRlc2Ugb3UgZGlzc2VydGHDp8OjbyBvcmEgZGVwb3NpdGFkYS4KCkNBU08gQSBURVNFIE9VIERJU1NFUlRBw4fDg08gT1JBIERFUE9TSVRBREEgVEVOSEEgU0lETyBSRVNVTFRBRE8gREUgVU0gUEFUUk9Dw41OSU8gT1UgCkFQT0lPIERFIFVNQSBBR8OKTkNJQSBERSBGT01FTlRPIE9VIE9VVFJPIE9SR0FOSVNNTyBRVUUgTsODTyBTRUpBIEEgU0lHTEEgREUgClVOSVZFUlNJREFERSwgVk9Dw4ogREVDTEFSQSBRVUUgUkVTUEVJVE9VIFRPRE9TIEUgUVVBSVNRVUVSIERJUkVJVE9TIERFIFJFVklTw4NPIENPTU8gClRBTULDiU0gQVMgREVNQUlTIE9CUklHQcOHw5VFUyBFWElHSURBUyBQT1IgQ09OVFJBVE8gT1UgQUNPUkRPLgoKQSBTaWdsYSBkZSBVbml2ZXJzaWRhZGUgc2UgY29tcHJvbWV0ZSBhIGlkZW50aWZpY2FyIGNsYXJhbWVudGUgbyBzZXUgbm9tZSAocykgb3UgbyhzKSBub21lKHMpIGRvKHMpIApkZXRlbnRvcihlcykgZG9zIGRpcmVpdG9zIGF1dG9yYWlzIGRhIHRlc2Ugb3UgZGlzc2VydGHDp8OjbywgZSBuw6NvIGZhcsOhIHF1YWxxdWVyIGFsdGVyYcOnw6NvLCBhbMOpbSBkYXF1ZWxhcyAKY29uY2VkaWRhcyBwb3IgZXN0YSBsaWNlbsOnYS4KBiblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.repositorio.jesuita.org.br/oai/requestopendoar:2017-04-17T16:11:47Repositório Institucional da UNISINOS (RBDU Repositório Digital da Biblioteca da Unisinos) - Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)false
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