A força dos pensamentos, o fedor do sangue: hematologia e gênero na Amazônia

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Belaunde, Luisa Elvira
Data de Publicação: 2006
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Revista de antropologia (São Paulo. Online)
Texto Completo: https://www.revistas.usp.br/ra/article/view/27234
Resumo: Este artigo estabelece as bases para uma hematologia amazônica com a finalidade de compreender o significado do sangue com respeito a gênero, conhecimento e cosmologia. Baseando-se na crítica da teoria do patriarcado elaborada por Overing e em seu estudo das concepções piaroa sobre a menstruação, este artigo explora comparativamente as idéias de vários povos amazônicos sobre como os espíritos, os pensamentos e a força se transformam em corpos diferenciados por gênero. Defende que o fluxo do sangue é concebido como uma relação, já que transporta conhecimentos a todas as partes do corpo, unindo, e ao mesmo tempo diferenciando, homens e mulheres, e constituindo o eixo central da existência de uma pessoa ao longo de seu ciclo de vida. Por meio do estudo das práticas de resguardo, dieta e reclusão, mostra que a manipulação do sangue ocupa um lugar central na saúde amazônica. Sangrar é uma prerrogativa feminina e a lembrança incorporada nas mulheres sobre o incesto primordial entre Lua e sua irmã, que fundamenta a memória e o parentesco humanos. No entanto, os homens também "parecem mulheres" quando ficam sob a vingança do sangue de seus inimigos, assim como as mulheres sob a vingança de Lua. O sangrar põe a fertilidade em movimento, abrindo a comunicação entre o tempo cotidiano e outros espaços-tempos cosmológicos, expondo ambos os gêneros ao perigo da multiplicidade transformacional, à alienação e à morte. Sua relação com o xamanismo é, portanto, fundamental.
id USP-55_036da163a14b390fc15eb05fb598a148
oai_identifier_str oai:revistas.usp.br:article/27234
network_acronym_str USP-55
network_name_str Revista de antropologia (São Paulo. Online)
repository_id_str
spelling A força dos pensamentos, o fedor do sangue: hematologia e gênero na Amazônia xamanismo amazonensemenstruaçãoincestosanguegêneroamazonian chamanismmenstruationincestbloodgender Este artigo estabelece as bases para uma hematologia amazônica com a finalidade de compreender o significado do sangue com respeito a gênero, conhecimento e cosmologia. Baseando-se na crítica da teoria do patriarcado elaborada por Overing e em seu estudo das concepções piaroa sobre a menstruação, este artigo explora comparativamente as idéias de vários povos amazônicos sobre como os espíritos, os pensamentos e a força se transformam em corpos diferenciados por gênero. Defende que o fluxo do sangue é concebido como uma relação, já que transporta conhecimentos a todas as partes do corpo, unindo, e ao mesmo tempo diferenciando, homens e mulheres, e constituindo o eixo central da existência de uma pessoa ao longo de seu ciclo de vida. Por meio do estudo das práticas de resguardo, dieta e reclusão, mostra que a manipulação do sangue ocupa um lugar central na saúde amazônica. Sangrar é uma prerrogativa feminina e a lembrança incorporada nas mulheres sobre o incesto primordial entre Lua e sua irmã, que fundamenta a memória e o parentesco humanos. No entanto, os homens também "parecem mulheres" quando ficam sob a vingança do sangue de seus inimigos, assim como as mulheres sob a vingança de Lua. O sangrar põe a fertilidade em movimento, abrindo a comunicação entre o tempo cotidiano e outros espaços-tempos cosmológicos, expondo ambos os gêneros ao perigo da multiplicidade transformacional, à alienação e à morte. Sua relação com o xamanismo é, portanto, fundamental. This paper lays the grounds for an Amazonian haematology aiming to unlock the significance of blood with relation to gender, knowledge, and cosmology. Drawing guidance from Overing's critique of patriarchy theory and her examination of Piaroa understandings of menstruation, it explores cross-cultural ideas about the embodiment and gendering of spirits, thought and strength in the blood, arguing that blood is conceived as a relationship for it transports knowledge to all body parts, both uniting and differentiating men and women, and constituting the pivot of a person's existence along his or her lifecycle. Through an examination of indigenous practices of diet and seclusion, it shows that blood management stands at the core of Amazonian health. Bleeding is a female prerogative and an embodied remembrance of the primordial incest between Moon and his sister, which founds human memory and kinship. Nevertheless, men may be "like women" when they find themselves under the revenge of their enemy's blood, similar to women under the revenge of Moon. Bleeding sets fertility in motion, opening the communication between daily and other cosmological time-spaces, and exposing both genders to the threat of transformational multiplicity, alienation and death. Its interlacing with shamanism is therefore fundamental. Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas2006-01-01info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionapplication/pdfhttps://www.revistas.usp.br/ra/article/view/2723410.1590/S0034-77012006000100007Revista de Antropologia; v. 49 n. 1 (2006); 205-243 Revista de Antropologia; Vol. 49 No 1 (2006); 205-243 Revista de Antropologia; Vol. 49 Núm. 1 (2006); 205-243 Revista de Antropologia; Vol. 49 No. 1 (2006); 205-243 1678-98570034-7701reponame:Revista de antropologia (São Paulo. Online)instname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPporhttps://www.revistas.usp.br/ra/article/view/27234/29006Belaunde, Luisa Elvirainfo:eu-repo/semantics/openAccess2020-07-03T04:03:06Zoai:revistas.usp.br:article/27234Revistahttp://www.revistas.usp.br/raPUBhttp://www.revistas.usp.br/ra/oairevista.antropologia.usp@gmail.com||revant@edu.usp.br1678-98570034-7701opendoar:2020-07-03T04:03:06Revista de antropologia (São Paulo. Online) - Universidade de São Paulo (USP)false
dc.title.none.fl_str_mv A força dos pensamentos, o fedor do sangue: hematologia e gênero na Amazônia
title A força dos pensamentos, o fedor do sangue: hematologia e gênero na Amazônia
spellingShingle A força dos pensamentos, o fedor do sangue: hematologia e gênero na Amazônia
Belaunde, Luisa Elvira
xamanismo amazonense
menstruação
incesto
sangue
gênero
amazonian chamanism
menstruation
incest
blood
gender
title_short A força dos pensamentos, o fedor do sangue: hematologia e gênero na Amazônia
title_full A força dos pensamentos, o fedor do sangue: hematologia e gênero na Amazônia
title_fullStr A força dos pensamentos, o fedor do sangue: hematologia e gênero na Amazônia
title_full_unstemmed A força dos pensamentos, o fedor do sangue: hematologia e gênero na Amazônia
title_sort A força dos pensamentos, o fedor do sangue: hematologia e gênero na Amazônia
author Belaunde, Luisa Elvira
author_facet Belaunde, Luisa Elvira
author_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Belaunde, Luisa Elvira
dc.subject.por.fl_str_mv xamanismo amazonense
menstruação
incesto
sangue
gênero
amazonian chamanism
menstruation
incest
blood
gender
topic xamanismo amazonense
menstruação
incesto
sangue
gênero
amazonian chamanism
menstruation
incest
blood
gender
description Este artigo estabelece as bases para uma hematologia amazônica com a finalidade de compreender o significado do sangue com respeito a gênero, conhecimento e cosmologia. Baseando-se na crítica da teoria do patriarcado elaborada por Overing e em seu estudo das concepções piaroa sobre a menstruação, este artigo explora comparativamente as idéias de vários povos amazônicos sobre como os espíritos, os pensamentos e a força se transformam em corpos diferenciados por gênero. Defende que o fluxo do sangue é concebido como uma relação, já que transporta conhecimentos a todas as partes do corpo, unindo, e ao mesmo tempo diferenciando, homens e mulheres, e constituindo o eixo central da existência de uma pessoa ao longo de seu ciclo de vida. Por meio do estudo das práticas de resguardo, dieta e reclusão, mostra que a manipulação do sangue ocupa um lugar central na saúde amazônica. Sangrar é uma prerrogativa feminina e a lembrança incorporada nas mulheres sobre o incesto primordial entre Lua e sua irmã, que fundamenta a memória e o parentesco humanos. No entanto, os homens também "parecem mulheres" quando ficam sob a vingança do sangue de seus inimigos, assim como as mulheres sob a vingança de Lua. O sangrar põe a fertilidade em movimento, abrindo a comunicação entre o tempo cotidiano e outros espaços-tempos cosmológicos, expondo ambos os gêneros ao perigo da multiplicidade transformacional, à alienação e à morte. Sua relação com o xamanismo é, portanto, fundamental.
publishDate 2006
dc.date.none.fl_str_mv 2006-01-01
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
info:eu-repo/semantics/publishedVersion
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://www.revistas.usp.br/ra/article/view/27234
10.1590/S0034-77012006000100007
url https://www.revistas.usp.br/ra/article/view/27234
identifier_str_mv 10.1590/S0034-77012006000100007
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv https://www.revistas.usp.br/ra/article/view/27234/29006
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
publisher.none.fl_str_mv Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
dc.source.none.fl_str_mv Revista de Antropologia; v. 49 n. 1 (2006); 205-243
Revista de Antropologia; Vol. 49 No 1 (2006); 205-243
Revista de Antropologia; Vol. 49 Núm. 1 (2006); 205-243
Revista de Antropologia; Vol. 49 No. 1 (2006); 205-243
1678-9857
0034-7701
reponame:Revista de antropologia (São Paulo. Online)
instname:Universidade de São Paulo (USP)
instacron:USP
instname_str Universidade de São Paulo (USP)
instacron_str USP
institution USP
reponame_str Revista de antropologia (São Paulo. Online)
collection Revista de antropologia (São Paulo. Online)
repository.name.fl_str_mv Revista de antropologia (São Paulo. Online) - Universidade de São Paulo (USP)
repository.mail.fl_str_mv revista.antropologia.usp@gmail.com||revant@edu.usp.br
_version_ 1797242185666527232