O mito da homogeneidade biológica na população paleoíndia de Lagoa Santa: implicações antropológicas
Autor(a) principal: | |
---|---|
Data de Publicação: | 2004 |
Outros Autores: | |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Revista de antropologia (São Paulo. Online) |
Texto Completo: | https://www.revistas.usp.br/ra/article/view/27185 |
Resumo: | Desde sua primeira descoberta entre 1842 e 1843, pelo naturalista dinamarquês Peter W. Lund, os remanescentes ósseos humanos de Lagoa Santa, Brasil Central, estavam destinados a impactar de forma indelével os estudos sobre as origens dos primeiros americanos. Entre sua primeira descoberta e a década de 1970, a palavra homogeneidade biológica foi sempre aplicada a esses remanescentes como sinônimo de identidade biológica populacional. Mello e Alvim (1977; ver também Mello e Alvim et al., 1983-1984) associou a esse termo um novo significado: o de que tal população apresentava uma diversidade biológica extremamente reduzida, quando comparada a outras populações humanas, tendo sugerido, a partir daí, que a população antiga de Lagoa Santa teria sido formada originalmente por poucos indivíduos e vivido de forma isolada de outras populações contemporâneas. Essa sugestão teve grande impacto na comunidade arqueológica brasileira, levando alguns arqueólogos a tentar compreender certos aspectos da cultura material e da organização social desses primeiros americanos da perspectiva do isolamento. Neste trabalho demonstramos, com a ajuda de cálculos simples sobre quantificação em antropologia, disponíveis na literatura há pelo menos um século, que a proposta de Mello e Alvim (1977) não resiste nem mesmo a uma análise superficial dos dados disponíveis sobre a variabilidade craniométrica desses primeiros americanos. Contrariamente à proposta daquela autora, a população paleoíndia tardia de Lagoa Santa está entre as populações humanas mundiais mais diversas biologicamente. |
id |
USP-55_edcc5f3d87d8e46b82263b157b12b3c3 |
---|---|
oai_identifier_str |
oai:revistas.usp.br:article/27185 |
network_acronym_str |
USP-55 |
network_name_str |
Revista de antropologia (São Paulo. Online) |
repository_id_str |
|
spelling |
O mito da homogeneidade biológica na população paleoíndia de Lagoa Santa: implicações antropológicas variabilidade intrapopulacionalpaleoíndioscoeficiente de variaçãoisolamento genéticowithin-population variabilityPaleoindiansCoeficient of Variationgenetic isolation Desde sua primeira descoberta entre 1842 e 1843, pelo naturalista dinamarquês Peter W. Lund, os remanescentes ósseos humanos de Lagoa Santa, Brasil Central, estavam destinados a impactar de forma indelével os estudos sobre as origens dos primeiros americanos. Entre sua primeira descoberta e a década de 1970, a palavra homogeneidade biológica foi sempre aplicada a esses remanescentes como sinônimo de identidade biológica populacional. Mello e Alvim (1977; ver também Mello e Alvim et al., 1983-1984) associou a esse termo um novo significado: o de que tal população apresentava uma diversidade biológica extremamente reduzida, quando comparada a outras populações humanas, tendo sugerido, a partir daí, que a população antiga de Lagoa Santa teria sido formada originalmente por poucos indivíduos e vivido de forma isolada de outras populações contemporâneas. Essa sugestão teve grande impacto na comunidade arqueológica brasileira, levando alguns arqueólogos a tentar compreender certos aspectos da cultura material e da organização social desses primeiros americanos da perspectiva do isolamento. Neste trabalho demonstramos, com a ajuda de cálculos simples sobre quantificação em antropologia, disponíveis na literatura há pelo menos um século, que a proposta de Mello e Alvim (1977) não resiste nem mesmo a uma análise superficial dos dados disponíveis sobre a variabilidade craniométrica desses primeiros americanos. Contrariamente à proposta daquela autora, a população paleoíndia tardia de Lagoa Santa está entre as populações humanas mundiais mais diversas biologicamente. Since their first discovery in 1842-1843, by Peter Lund, the human skeletal remains from Lagoa Santa, Brazil, were destined to influence, substantially, the discussion about the settlement of the Americas, from a biological perspective. Until 1970 several authors have refered to these remains as a homogenous collection, implying that these individuals represented just one biological population or "race". Mello e Alvim (1977; see also Mello e Alvim et al., 1983-1984) was the first to use explicitly the term "homogeneity" as implying a very low intra-population diversity among these late paleoindians. For her, the extremely low diversity among the Lagoa Santa specimens could be explained only by a narrow bottle neck occuring during the occupation of the region, followed by geographic isolation from other contemporary groups. The idea of a extremely low diverse population in ancient Lagoa Santa led some brazilian archeologists to elaborate on the "isolation hypothesis", and to use it to explain local characteristics of material culture and social organization. In this paper we show that even very simple quantification techniques is able to demonstrate that the Lagoa Santa early inhabitants are among the most diverse populations in the planet, as it is normally the case with Late Pleistocene/Early Holocene hunter-gatherers. Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas2004-01-01info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionapplication/pdfhttps://www.revistas.usp.br/ra/article/view/2718510.1590/S0034-77012004000100005Revista de Antropologia; v. 47 n. 1 (2004); 159-205Revista de Antropologia; Vol. 47 No 1 (2004); 159-205Revista de Antropologia; Vol. 47 Núm. 1 (2004); 159-205Revista de Antropologia; Vol. 47 No. 1 (2004); 159-2051678-98570034-7701reponame:Revista de antropologia (São Paulo. Online)instname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPporhttps://www.revistas.usp.br/ra/article/view/27185/28957Neves, Walter A.Atui, João Paulo V.info:eu-repo/semantics/openAccess2020-07-03T04:03:50Zoai:revistas.usp.br:article/27185Revistahttp://www.revistas.usp.br/raPUBhttp://www.revistas.usp.br/ra/oairevista.antropologia.usp@gmail.com||revant@edu.usp.br1678-98570034-7701opendoar:2020-07-03T04:03:50Revista de antropologia (São Paulo. Online) - Universidade de São Paulo (USP)false |
dc.title.none.fl_str_mv |
O mito da homogeneidade biológica na população paleoíndia de Lagoa Santa: implicações antropológicas |
title |
O mito da homogeneidade biológica na população paleoíndia de Lagoa Santa: implicações antropológicas |
spellingShingle |
O mito da homogeneidade biológica na população paleoíndia de Lagoa Santa: implicações antropológicas Neves, Walter A. variabilidade intrapopulacional paleoíndios coeficiente de variação isolamento genético within-population variability Paleoindians Coeficient of Variation genetic isolation |
title_short |
O mito da homogeneidade biológica na população paleoíndia de Lagoa Santa: implicações antropológicas |
title_full |
O mito da homogeneidade biológica na população paleoíndia de Lagoa Santa: implicações antropológicas |
title_fullStr |
O mito da homogeneidade biológica na população paleoíndia de Lagoa Santa: implicações antropológicas |
title_full_unstemmed |
O mito da homogeneidade biológica na população paleoíndia de Lagoa Santa: implicações antropológicas |
title_sort |
O mito da homogeneidade biológica na população paleoíndia de Lagoa Santa: implicações antropológicas |
author |
Neves, Walter A. |
author_facet |
Neves, Walter A. Atui, João Paulo V. |
author_role |
author |
author2 |
Atui, João Paulo V. |
author2_role |
author |
dc.contributor.author.fl_str_mv |
Neves, Walter A. Atui, João Paulo V. |
dc.subject.por.fl_str_mv |
variabilidade intrapopulacional paleoíndios coeficiente de variação isolamento genético within-population variability Paleoindians Coeficient of Variation genetic isolation |
topic |
variabilidade intrapopulacional paleoíndios coeficiente de variação isolamento genético within-population variability Paleoindians Coeficient of Variation genetic isolation |
description |
Desde sua primeira descoberta entre 1842 e 1843, pelo naturalista dinamarquês Peter W. Lund, os remanescentes ósseos humanos de Lagoa Santa, Brasil Central, estavam destinados a impactar de forma indelével os estudos sobre as origens dos primeiros americanos. Entre sua primeira descoberta e a década de 1970, a palavra homogeneidade biológica foi sempre aplicada a esses remanescentes como sinônimo de identidade biológica populacional. Mello e Alvim (1977; ver também Mello e Alvim et al., 1983-1984) associou a esse termo um novo significado: o de que tal população apresentava uma diversidade biológica extremamente reduzida, quando comparada a outras populações humanas, tendo sugerido, a partir daí, que a população antiga de Lagoa Santa teria sido formada originalmente por poucos indivíduos e vivido de forma isolada de outras populações contemporâneas. Essa sugestão teve grande impacto na comunidade arqueológica brasileira, levando alguns arqueólogos a tentar compreender certos aspectos da cultura material e da organização social desses primeiros americanos da perspectiva do isolamento. Neste trabalho demonstramos, com a ajuda de cálculos simples sobre quantificação em antropologia, disponíveis na literatura há pelo menos um século, que a proposta de Mello e Alvim (1977) não resiste nem mesmo a uma análise superficial dos dados disponíveis sobre a variabilidade craniométrica desses primeiros americanos. Contrariamente à proposta daquela autora, a população paleoíndia tardia de Lagoa Santa está entre as populações humanas mundiais mais diversas biologicamente. |
publishDate |
2004 |
dc.date.none.fl_str_mv |
2004-01-01 |
dc.type.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/article info:eu-repo/semantics/publishedVersion |
format |
article |
status_str |
publishedVersion |
dc.identifier.uri.fl_str_mv |
https://www.revistas.usp.br/ra/article/view/27185 10.1590/S0034-77012004000100005 |
url |
https://www.revistas.usp.br/ra/article/view/27185 |
identifier_str_mv |
10.1590/S0034-77012004000100005 |
dc.language.iso.fl_str_mv |
por |
language |
por |
dc.relation.none.fl_str_mv |
https://www.revistas.usp.br/ra/article/view/27185/28957 |
dc.rights.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/openAccess |
eu_rights_str_mv |
openAccess |
dc.format.none.fl_str_mv |
application/pdf |
dc.publisher.none.fl_str_mv |
Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas |
publisher.none.fl_str_mv |
Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas |
dc.source.none.fl_str_mv |
Revista de Antropologia; v. 47 n. 1 (2004); 159-205 Revista de Antropologia; Vol. 47 No 1 (2004); 159-205 Revista de Antropologia; Vol. 47 Núm. 1 (2004); 159-205 Revista de Antropologia; Vol. 47 No. 1 (2004); 159-205 1678-9857 0034-7701 reponame:Revista de antropologia (São Paulo. Online) instname:Universidade de São Paulo (USP) instacron:USP |
instname_str |
Universidade de São Paulo (USP) |
instacron_str |
USP |
institution |
USP |
reponame_str |
Revista de antropologia (São Paulo. Online) |
collection |
Revista de antropologia (São Paulo. Online) |
repository.name.fl_str_mv |
Revista de antropologia (São Paulo. Online) - Universidade de São Paulo (USP) |
repository.mail.fl_str_mv |
revista.antropologia.usp@gmail.com||revant@edu.usp.br |
_version_ |
1797242185532309504 |