O estigma da esquizofrenia na mídia: um levantamento de notícias publicadas em veículos brasileiros de grande circulação

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Guarniero, Francisco Bevilacqua
Data de Publicação: 2012
Outros Autores: Bellinghini, Ruth Helena, Gattaz, Wagner Farid
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Archives of Clinical Psychiatry
Texto Completo: https://www.revistas.usp.br/acp/article/view/48242
Resumo: CONTEXTO: O estigma que pesa sobre as doenças psiquiátricas é o mais forte impedimento para que o paciente busque tratamento, mais até que a dificuldade de acesso aos serviços de saúde. A esquizofrenia também é a doença mais usada hoje como metáfora na mídia, aparecendo rotineiramente associada a crimes e violência. OBJETIVOS: Avaliação da presença do estigma estrutural na mídia brasileira por meio do levantamento de notícias em imprensa e internet que utilizam o termo "esquizofrenia" e correlatos ("esquizofrênico/a") sob três aspectos: (a) uso médico e científico; (b) atribuição do diagnóstico de esquizofrenia a suspeitos de crimes com pouco ou nenhum rigor médico ou científico; (c) uso metafórico. MÉTODOS: O estudo foi realizado em três etapas: levantamento de notícias, classificação dos itens encontrados e análise do contexto em que foram publicados. O levantamento foi realizado em dois períodos - 2008 e 2011 -, sendo o primeiro restrito ao jornal Folha de S. Paulo e o segundo ampliado para os portais dos principais veículos impressos brasileiros. RESULTADOS: Foram encontrados 229 textos, distribuídos da seguinte forma: 89 (39%) registros em ciência e saúde, com tendência à impessoalidade; 62 (27%) registros em crime e violência, em que o "diagnóstico" de esquizofrenia é feito por leigos e "corroborado" por uma arqueologia da vida do suspeito que arrola toda sorte de comportamentos fora de padrão; 78 (34%) de uso metafórico, sempre de caráter depreciativo. CONCLUSÕES: A maioria dos textos encontrados (a) não dá voz ao portador de esquizofrenia e a seu sofrimento, (b) banaliza a doença psiquiátrica ao empregá-la fora de contexto para caracterizar decisões políticas e econômicas contraditórias ou de caráter duvidoso e (c) reforça o estigma que pesa sobre o portador de esquizofrenia ao personalizá-lo apenas nos raros casos de violência em que se supõe seu diagnóstico.
id USP-5_d05a8c74c41b30251dc2ee91aeafd26d
oai_identifier_str oai:revistas.usp.br:article/48242
network_acronym_str USP-5
network_name_str Archives of Clinical Psychiatry
repository_id_str
spelling O estigma da esquizofrenia na mídia: um levantamento de notícias publicadas em veículos brasileiros de grande circulaçãoThe schizophrenia stigma and mass media: a search for news published by wide circulation media in BrazilSocial stigmaschizophreniaprejudicemass mediapressEstigma socialesquizofreniapreconceitomeios de comunicação de massaimprensaCONTEXTO: O estigma que pesa sobre as doenças psiquiátricas é o mais forte impedimento para que o paciente busque tratamento, mais até que a dificuldade de acesso aos serviços de saúde. A esquizofrenia também é a doença mais usada hoje como metáfora na mídia, aparecendo rotineiramente associada a crimes e violência. OBJETIVOS: Avaliação da presença do estigma estrutural na mídia brasileira por meio do levantamento de notícias em imprensa e internet que utilizam o termo "esquizofrenia" e correlatos ("esquizofrênico/a") sob três aspectos: (a) uso médico e científico; (b) atribuição do diagnóstico de esquizofrenia a suspeitos de crimes com pouco ou nenhum rigor médico ou científico; (c) uso metafórico. MÉTODOS: O estudo foi realizado em três etapas: levantamento de notícias, classificação dos itens encontrados e análise do contexto em que foram publicados. O levantamento foi realizado em dois períodos - 2008 e 2011 -, sendo o primeiro restrito ao jornal Folha de S. Paulo e o segundo ampliado para os portais dos principais veículos impressos brasileiros. RESULTADOS: Foram encontrados 229 textos, distribuídos da seguinte forma: 89 (39%) registros em ciência e saúde, com tendência à impessoalidade; 62 (27%) registros em crime e violência, em que o "diagnóstico" de esquizofrenia é feito por leigos e "corroborado" por uma arqueologia da vida do suspeito que arrola toda sorte de comportamentos fora de padrão; 78 (34%) de uso metafórico, sempre de caráter depreciativo. CONCLUSÕES: A maioria dos textos encontrados (a) não dá voz ao portador de esquizofrenia e a seu sofrimento, (b) banaliza a doença psiquiátrica ao empregá-la fora de contexto para caracterizar decisões políticas e econômicas contraditórias ou de caráter duvidoso e (c) reforça o estigma que pesa sobre o portador de esquizofrenia ao personalizá-lo apenas nos raros casos de violência em que se supõe seu diagnóstico.BACKGROUND: Schizophrenia is the most common illness used today as a metaphor in the media and routinely appears associated with crime and violence with no medical or scientific rigor, reinforcing the stigma against this disorder. OBJECTIVES: Evaluation of the presence of structural stigma in the Brazilian media by means of a survey of printed news and the Internet using the term "schizophrenia" and its correlates under three aspects: (a) medical and scientific uses, (b) assigning a diagnosis of schizophrenia to crime suspects with little or no medical or scientific rigor, and (c) the metaphorical use. METHODS: The study was conducted in three stages: search for publications, classification of items found and analysis of the context in which they were published. The survey was conducted in two periods: 2008 and 2011, the first being restricted to the newspaper Folha de S. Paulo and the second extended to the homepage of the main Brazilian print media. RESULTS: We found 229 texts, distributed as follows: 89 (39%) records as science and health, with a tendency to impersonality; 62 (27%) records as crime and violence, in which the "diagnosis" of schizophrenia is given by lay people and "supported" by an archeology of the life of the suspect which enlists all sorts of non-standard behavior; and 78 (34%) records of metaphorical use, always with a negative meaning. DISCUSSION: Most of the texts found (a) does not give voice to people with schizophrenia and their suffering, (b) trivializes the use of this psychiatric illness out of context to describe contradictory or of dubious character political and economic decisions, and (c) reinforces the stigma that lays over the bearer of schizophrenia individualizing them only in rare violent cases with a supposed diagnosis.Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Instituto de Psiquiatria2012-01-01info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionapplication/pdfhttps://www.revistas.usp.br/acp/article/view/4824210.1590/S0101-60832012000300002Archives of Clinical Psychiatry; v. 39 n. 3 (2012); 80-84Archives of Clinical Psychiatry; Vol. 39 No. 3 (2012); 80-84Revista de Psiquiatria Clínica; Vol. 39 Núm. 3 (2012); 80-841806-938X0101-6083reponame:Archives of Clinical Psychiatryinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPporhttps://www.revistas.usp.br/acp/article/view/48242/52077Guarniero, Francisco BevilacquaBellinghini, Ruth HelenaGattaz, Wagner Faridinfo:eu-repo/semantics/openAccess2012-12-18T13:19:28Zoai:revistas.usp.br:article/48242Revistahttp://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/index.htmlPUBhttps://old.scielo.br/oai/scielo-oai.php||archives@usp.br1806-938X0101-6083opendoar:2012-12-18T13:19:28Archives of Clinical Psychiatry - Universidade de São Paulo (USP)false
dc.title.none.fl_str_mv O estigma da esquizofrenia na mídia: um levantamento de notícias publicadas em veículos brasileiros de grande circulação
The schizophrenia stigma and mass media: a search for news published by wide circulation media in Brazil
title O estigma da esquizofrenia na mídia: um levantamento de notícias publicadas em veículos brasileiros de grande circulação
spellingShingle O estigma da esquizofrenia na mídia: um levantamento de notícias publicadas em veículos brasileiros de grande circulação
Guarniero, Francisco Bevilacqua
Social stigma
schizophrenia
prejudice
mass media
press
Estigma social
esquizofrenia
preconceito
meios de comunicação de massa
imprensa
title_short O estigma da esquizofrenia na mídia: um levantamento de notícias publicadas em veículos brasileiros de grande circulação
title_full O estigma da esquizofrenia na mídia: um levantamento de notícias publicadas em veículos brasileiros de grande circulação
title_fullStr O estigma da esquizofrenia na mídia: um levantamento de notícias publicadas em veículos brasileiros de grande circulação
title_full_unstemmed O estigma da esquizofrenia na mídia: um levantamento de notícias publicadas em veículos brasileiros de grande circulação
title_sort O estigma da esquizofrenia na mídia: um levantamento de notícias publicadas em veículos brasileiros de grande circulação
author Guarniero, Francisco Bevilacqua
author_facet Guarniero, Francisco Bevilacqua
Bellinghini, Ruth Helena
Gattaz, Wagner Farid
author_role author
author2 Bellinghini, Ruth Helena
Gattaz, Wagner Farid
author2_role author
author
dc.contributor.author.fl_str_mv Guarniero, Francisco Bevilacqua
Bellinghini, Ruth Helena
Gattaz, Wagner Farid
dc.subject.por.fl_str_mv Social stigma
schizophrenia
prejudice
mass media
press
Estigma social
esquizofrenia
preconceito
meios de comunicação de massa
imprensa
topic Social stigma
schizophrenia
prejudice
mass media
press
Estigma social
esquizofrenia
preconceito
meios de comunicação de massa
imprensa
description CONTEXTO: O estigma que pesa sobre as doenças psiquiátricas é o mais forte impedimento para que o paciente busque tratamento, mais até que a dificuldade de acesso aos serviços de saúde. A esquizofrenia também é a doença mais usada hoje como metáfora na mídia, aparecendo rotineiramente associada a crimes e violência. OBJETIVOS: Avaliação da presença do estigma estrutural na mídia brasileira por meio do levantamento de notícias em imprensa e internet que utilizam o termo "esquizofrenia" e correlatos ("esquizofrênico/a") sob três aspectos: (a) uso médico e científico; (b) atribuição do diagnóstico de esquizofrenia a suspeitos de crimes com pouco ou nenhum rigor médico ou científico; (c) uso metafórico. MÉTODOS: O estudo foi realizado em três etapas: levantamento de notícias, classificação dos itens encontrados e análise do contexto em que foram publicados. O levantamento foi realizado em dois períodos - 2008 e 2011 -, sendo o primeiro restrito ao jornal Folha de S. Paulo e o segundo ampliado para os portais dos principais veículos impressos brasileiros. RESULTADOS: Foram encontrados 229 textos, distribuídos da seguinte forma: 89 (39%) registros em ciência e saúde, com tendência à impessoalidade; 62 (27%) registros em crime e violência, em que o "diagnóstico" de esquizofrenia é feito por leigos e "corroborado" por uma arqueologia da vida do suspeito que arrola toda sorte de comportamentos fora de padrão; 78 (34%) de uso metafórico, sempre de caráter depreciativo. CONCLUSÕES: A maioria dos textos encontrados (a) não dá voz ao portador de esquizofrenia e a seu sofrimento, (b) banaliza a doença psiquiátrica ao empregá-la fora de contexto para caracterizar decisões políticas e econômicas contraditórias ou de caráter duvidoso e (c) reforça o estigma que pesa sobre o portador de esquizofrenia ao personalizá-lo apenas nos raros casos de violência em que se supõe seu diagnóstico.
publishDate 2012
dc.date.none.fl_str_mv 2012-01-01
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
info:eu-repo/semantics/publishedVersion
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://www.revistas.usp.br/acp/article/view/48242
10.1590/S0101-60832012000300002
url https://www.revistas.usp.br/acp/article/view/48242
identifier_str_mv 10.1590/S0101-60832012000300002
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv https://www.revistas.usp.br/acp/article/view/48242/52077
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Instituto de Psiquiatria
publisher.none.fl_str_mv Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Instituto de Psiquiatria
dc.source.none.fl_str_mv Archives of Clinical Psychiatry; v. 39 n. 3 (2012); 80-84
Archives of Clinical Psychiatry; Vol. 39 No. 3 (2012); 80-84
Revista de Psiquiatria Clínica; Vol. 39 Núm. 3 (2012); 80-84
1806-938X
0101-6083
reponame:Archives of Clinical Psychiatry
instname:Universidade de São Paulo (USP)
instacron:USP
instname_str Universidade de São Paulo (USP)
instacron_str USP
institution USP
reponame_str Archives of Clinical Psychiatry
collection Archives of Clinical Psychiatry
repository.name.fl_str_mv Archives of Clinical Psychiatry - Universidade de São Paulo (USP)
repository.mail.fl_str_mv ||archives@usp.br
_version_ 1800237623259693056