Uma breve história dos morcegos vampiros (Chiroptera, Phyllostomidae, Desmodontinae) no Brasil colônia

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Teixeira, Dante Martins
Data de Publicação: 2012
Outros Autores: Papavero, Nelson
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Arquivos de Zoologia (Online)
Texto Completo: https://www.revistas.usp.br/azmz/article/view/85235
Resumo: Das 167 espécies de Chiroptera relatadas para o Brasil, apenas três representantes de Desmodontinae (Phyllostomidae) são hematófagos, característica única entre as espécies conhecidas de morcegos. Este grupo reduzido inclui Desmodus rotundus, Diaemus youngi e Diphylla ecaudata, todos amplamente distribuídos pela América Central e do Sul. A primeira notícia sobre morcegos vampiros surgiu no início do século XVI, no décimo livro da primeira “Década” de Pietro Martire de Anghiera (1511), relacionado à exploração do continente. Para o Brasil, a citação mais antiga de morcegos hematófagos deve-se a Álvar Núñez Cabeza de Vaca (1555). Extremamente abundantes, esses morcegos atacaram os seres humanos e causaram graves danos aos rebanhos, sendo extremamente difíceis de controlar devido aos escassos meios disponíveis durante a época colonial. Entre estes, merecem especial destaque os “gatos morcegueiros”, indivíduos de Felis catus utilizados para capturar morcegos hematófagos em casas e currais. Mencionados pelo menos desde a primeira metade do século XVIII, esses gatos foram incluídos nas avaliações imobiliárias e chegaram ao preço de várias cabeças de gado. Ainda hoje, os gatos domésticos são predadores eficientes de morcegos hematófagos em áreas rurais do Brasil e da Argentina. A julgar pelos registos históricos, os problemas agora causados ​​pelos morcegos sugadores de sangue não devem ser considerados como uma das consequências de um “desequilíbrio ecológico” omnipresente, causado pela escassez de hospedeiros naturais e/ou pela perda de habitats naturais. Uma espécie altamente plástica e oportunista como o Desmodus rotundus adaptou-se com extrema eficiência ao novo ambiente, predominantemente modelado pela expansão da pecuária, pelo progressivo confinamento dos rebanhos e pela construção de edifícios que abrigassem os morcegos. São fatores que teriam promovido o crescimento explosivo de uma população original de morcegos já substancialmente grande, a ponto de convertê-la numa autêntica praga
id USP-68_3b6709b3f9cd252d13c8931de80d7e93
oai_identifier_str oai:revistas.usp.br:article/85235
network_acronym_str USP-68
network_name_str Arquivos de Zoologia (Online)
repository_id_str
spelling Uma breve história dos morcegos vampiros (Chiroptera, Phyllostomidae, Desmodontinae) no Brasil colôniaA brief history of vampire bats (Chiroptera, Phyllostomidae, Desmodontinae) in colonial BrazilChiropteraPhyllostomidaeDesmodontinaeDesmodus rotundusDiaemus youngiDyphylla ecaudataCarnivoraFelidaeFelis catusBatVampire batDomestic catPredationPest ControlColonial BrazilHistory of Zoology.Das 167 espécies de Chiroptera relatadas para o Brasil, apenas três representantes de Desmodontinae (Phyllostomidae) são hematófagos, característica única entre as espécies conhecidas de morcegos. Este grupo reduzido inclui Desmodus rotundus, Diaemus youngi e Diphylla ecaudata, todos amplamente distribuídos pela América Central e do Sul. A primeira notícia sobre morcegos vampiros surgiu no início do século XVI, no décimo livro da primeira “Década” de Pietro Martire de Anghiera (1511), relacionado à exploração do continente. Para o Brasil, a citação mais antiga de morcegos hematófagos deve-se a Álvar Núñez Cabeza de Vaca (1555). Extremamente abundantes, esses morcegos atacaram os seres humanos e causaram graves danos aos rebanhos, sendo extremamente difíceis de controlar devido aos escassos meios disponíveis durante a época colonial. Entre estes, merecem especial destaque os “gatos morcegueiros”, indivíduos de Felis catus utilizados para capturar morcegos hematófagos em casas e currais. Mencionados pelo menos desde a primeira metade do século XVIII, esses gatos foram incluídos nas avaliações imobiliárias e chegaram ao preço de várias cabeças de gado. Ainda hoje, os gatos domésticos são predadores eficientes de morcegos hematófagos em áreas rurais do Brasil e da Argentina. A julgar pelos registos históricos, os problemas agora causados ​​pelos morcegos sugadores de sangue não devem ser considerados como uma das consequências de um “desequilíbrio ecológico” omnipresente, causado pela escassez de hospedeiros naturais e/ou pela perda de habitats naturais. Uma espécie altamente plástica e oportunista como o Desmodus rotundus adaptou-se com extrema eficiência ao novo ambiente, predominantemente modelado pela expansão da pecuária, pelo progressivo confinamento dos rebanhos e pela construção de edifícios que abrigassem os morcegos. São fatores que teriam promovido o crescimento explosivo de uma população original de morcegos já substancialmente grande, a ponto de convertê-la numa autêntica pragaOut of 167 species of Chiroptera reported for Brazil, only three representatives of Desmodontinae (Phyllostomidae) are hematophagous, a unique feature among the known species of bats. This reduced group includes Desmodus rotundus, Diaemus youngi and Diphylla ecaudata, all widely distributed over Central and South America. The first notice about vampire bats appeared in the beginning of the 16th century, in the tenth book of the first “Decade” of Pietro Martire de Anghiera (1511), related to the exploration of the continent. For Brazil, the oldest citation of blood-sucking bats was due to Álvar Núñez Cabeza de Vaca (1555). Exceedingly abundant, those bats attacked human beings and caused serious damage to herds, being extremely difficult to control due to the scarce means available during colonial times. Among those, special mention should be made to the “gatos morcegueiros” (literally “bat-hunting cats”), individuals of Felis catus used to catch vampire bats in houses and corrals. Mentioned at least since the first half of the 18th century, those cats were included in property valuations and reached the price of several heads of cattle. Even nowadays, domestic cats are efficient predators of hematophagous bats in rural areas of Brazil and Argentina. Judging from historical records, the problems now caused by bloodsucking bats should not be regarded as one of the consequences of an omnipresent “ecological unbalance”, caused by a shortage of natural hosts and/or the loss of natural habitats. A highly plastic and opportunistic species such as Desmodus rotundus became adapted with extreme efficiency to the new environment, predominantly modeled by the expansion of cattle breeding, the progressive confinement of the herds, and the construction of buildings affording shelter for the bats. These are factors that would have promoted the explosive growth of an already substantially large original population of bats, to the point of converting it into an authentic pest.Universidade de São Paulo (USP), Museu de Zoologia (MZUSP).2012-12-02info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionapplication/pdfhttps://www.revistas.usp.br/azmz/article/view/8523510.11606/issn.2176-7793.v43i2p109-142Arquivos de Zoologia; Vol. 43 Núm. 2 (2012); 109-142Arquivos de Zoologia; v. 43 n. 2 (2012); 109-142Arquivos de Zoologia; Vol. 43 No. 2 (2012); 109-1422176-77930066-7870reponame:Arquivos de Zoologia (Online)instname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPporhttps://www.revistas.usp.br/azmz/article/view/85235/88061Copyright (c) 2012 Arquivos de Zoologiahttps://creativecommons.org/licenses/by/4.0info:eu-repo/semantics/openAccessTeixeira, Dante MartinsPapavero, NelsonTeixeira, Dante MartinsPapavero, Nelson2023-12-19T14:20:09Zoai:revistas.usp.br:article/85235Revistahttps://www.revistas.usp.br/azmzPUBhttps://www.revistas.usp.br/azmz/oaipublicacaomz@usp.br ; einicker@usp.br2176-77930066-7870opendoar:2023-12-19T14:20:09Arquivos de Zoologia (Online) - Universidade de São Paulo (USP)false
dc.title.none.fl_str_mv Uma breve história dos morcegos vampiros (Chiroptera, Phyllostomidae, Desmodontinae) no Brasil colônia
A brief history of vampire bats (Chiroptera, Phyllostomidae, Desmodontinae) in colonial Brazil
title Uma breve história dos morcegos vampiros (Chiroptera, Phyllostomidae, Desmodontinae) no Brasil colônia
spellingShingle Uma breve história dos morcegos vampiros (Chiroptera, Phyllostomidae, Desmodontinae) no Brasil colônia
Teixeira, Dante Martins
Chiroptera
Phyllostomidae
Desmodontinae
Desmodus rotundus
Diaemus youngi
Dyphylla ecaudata
Carnivora
Felidae
Felis catus
Bat
Vampire bat
Domestic cat
Predation
Pest Control
Colonial Brazil
History of Zoology.
title_short Uma breve história dos morcegos vampiros (Chiroptera, Phyllostomidae, Desmodontinae) no Brasil colônia
title_full Uma breve história dos morcegos vampiros (Chiroptera, Phyllostomidae, Desmodontinae) no Brasil colônia
title_fullStr Uma breve história dos morcegos vampiros (Chiroptera, Phyllostomidae, Desmodontinae) no Brasil colônia
title_full_unstemmed Uma breve história dos morcegos vampiros (Chiroptera, Phyllostomidae, Desmodontinae) no Brasil colônia
title_sort Uma breve história dos morcegos vampiros (Chiroptera, Phyllostomidae, Desmodontinae) no Brasil colônia
author Teixeira, Dante Martins
author_facet Teixeira, Dante Martins
Papavero, Nelson
author_role author
author2 Papavero, Nelson
author2_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Teixeira, Dante Martins
Papavero, Nelson
Teixeira, Dante Martins
Papavero, Nelson
dc.subject.por.fl_str_mv Chiroptera
Phyllostomidae
Desmodontinae
Desmodus rotundus
Diaemus youngi
Dyphylla ecaudata
Carnivora
Felidae
Felis catus
Bat
Vampire bat
Domestic cat
Predation
Pest Control
Colonial Brazil
History of Zoology.
topic Chiroptera
Phyllostomidae
Desmodontinae
Desmodus rotundus
Diaemus youngi
Dyphylla ecaudata
Carnivora
Felidae
Felis catus
Bat
Vampire bat
Domestic cat
Predation
Pest Control
Colonial Brazil
History of Zoology.
description Das 167 espécies de Chiroptera relatadas para o Brasil, apenas três representantes de Desmodontinae (Phyllostomidae) são hematófagos, característica única entre as espécies conhecidas de morcegos. Este grupo reduzido inclui Desmodus rotundus, Diaemus youngi e Diphylla ecaudata, todos amplamente distribuídos pela América Central e do Sul. A primeira notícia sobre morcegos vampiros surgiu no início do século XVI, no décimo livro da primeira “Década” de Pietro Martire de Anghiera (1511), relacionado à exploração do continente. Para o Brasil, a citação mais antiga de morcegos hematófagos deve-se a Álvar Núñez Cabeza de Vaca (1555). Extremamente abundantes, esses morcegos atacaram os seres humanos e causaram graves danos aos rebanhos, sendo extremamente difíceis de controlar devido aos escassos meios disponíveis durante a época colonial. Entre estes, merecem especial destaque os “gatos morcegueiros”, indivíduos de Felis catus utilizados para capturar morcegos hematófagos em casas e currais. Mencionados pelo menos desde a primeira metade do século XVIII, esses gatos foram incluídos nas avaliações imobiliárias e chegaram ao preço de várias cabeças de gado. Ainda hoje, os gatos domésticos são predadores eficientes de morcegos hematófagos em áreas rurais do Brasil e da Argentina. A julgar pelos registos históricos, os problemas agora causados ​​pelos morcegos sugadores de sangue não devem ser considerados como uma das consequências de um “desequilíbrio ecológico” omnipresente, causado pela escassez de hospedeiros naturais e/ou pela perda de habitats naturais. Uma espécie altamente plástica e oportunista como o Desmodus rotundus adaptou-se com extrema eficiência ao novo ambiente, predominantemente modelado pela expansão da pecuária, pelo progressivo confinamento dos rebanhos e pela construção de edifícios que abrigassem os morcegos. São fatores que teriam promovido o crescimento explosivo de uma população original de morcegos já substancialmente grande, a ponto de convertê-la numa autêntica praga
publishDate 2012
dc.date.none.fl_str_mv 2012-12-02
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
info:eu-repo/semantics/publishedVersion
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://www.revistas.usp.br/azmz/article/view/85235
10.11606/issn.2176-7793.v43i2p109-142
url https://www.revistas.usp.br/azmz/article/view/85235
identifier_str_mv 10.11606/issn.2176-7793.v43i2p109-142
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv https://www.revistas.usp.br/azmz/article/view/85235/88061
dc.rights.driver.fl_str_mv Copyright (c) 2012 Arquivos de Zoologia
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv Copyright (c) 2012 Arquivos de Zoologia
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade de São Paulo (USP), Museu de Zoologia (MZUSP).
publisher.none.fl_str_mv Universidade de São Paulo (USP), Museu de Zoologia (MZUSP).
dc.source.none.fl_str_mv Arquivos de Zoologia; Vol. 43 Núm. 2 (2012); 109-142
Arquivos de Zoologia; v. 43 n. 2 (2012); 109-142
Arquivos de Zoologia; Vol. 43 No. 2 (2012); 109-142
2176-7793
0066-7870
reponame:Arquivos de Zoologia (Online)
instname:Universidade de São Paulo (USP)
instacron:USP
instname_str Universidade de São Paulo (USP)
instacron_str USP
institution USP
reponame_str Arquivos de Zoologia (Online)
collection Arquivos de Zoologia (Online)
repository.name.fl_str_mv Arquivos de Zoologia (Online) - Universidade de São Paulo (USP)
repository.mail.fl_str_mv publicacaomz@usp.br ; einicker@usp.br
_version_ 1797051480863145984