Fome, desnutrição e pobreza: além da semântica
Autor(a) principal: | |
---|---|
Data de Publicação: | 2003 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Saúde e Sociedade (Online) |
Texto Completo: | https://www.revistas.usp.br/sausoc/article/view/7086 |
Resumo: | Fome, desnutrição e pobreza são problemas de natureza, dimensão e tendências muito distintas no Brasil, comportando soluções com escala, investimentos e conteúdos distintos. Ações governamentais de combate à pobreza certamente merecem máxima prioridade, justificam grandes investimentos e devem perseguir essencialmente o aumento da renda dos mais pobres. Ações que resultem em maior crescimento econômico com melhor distribuição de renda e que levem à reativação da economia, à criação de empregos e ao aprofundamento da reforma agrária são vistas como soluções consensuais no país. Mais recentemente, o mesmo acordo parece existir quanto a programas governamentais de transferência direta de renda acoplados a contrapartidas das famílias beneficiárias, seja com relação à manutenção das crianças nas escolas (bolsa-escola), seja com relação a controles preventivos de saúde (bolsa alimentação). Ações que combatam eficientemente a pobreza serão obviamente de enorme valia para a luta contra a desnutrição. Entretanto, a experiência nacional e internacional mostra que a intensificação dos investimentos em educação, saneamento do meio e cuidados básicos de saúde será essencial para se alcançar a erradicação da desnutrição. A luta contra a fome, ou ao que resta desse problema no país, igualmente se beneficiará do combate à pobreza. Contudo, as evidências indicam que ações específicas de combate à fome, em particular ações de distribuição de alimentos (diretamente ou através de créditos ou cupons), deveriam ser empregadas no Brasil de modo limitado e apenas em condições excepcionais e devidamente justificadas. A expansão desmedida de ações de distribuição de alimentos, ao contrário do que talvez indiquem o senso comum e a indignação justificada diante de uma sociedade tão injusta como a brasileira, implicaria apenas consumir recursos que poderiam faltar para ações sociais melhor justificadas e mais eficientes. |
id |
USP-6_042067738d610b1bbf32c593bcf2fb63 |
---|---|
oai_identifier_str |
oai:revistas.usp.br:article/7086 |
network_acronym_str |
USP-6 |
network_name_str |
Saúde e Sociedade (Online) |
repository_id_str |
|
spelling |
Fome, desnutrição e pobreza: além da semântica Hunger, malnutrition and poverty: beyond the semantics fomedesnutriçãopobrezaBrasilhungermalnutritionpovertyBrazil Fome, desnutrição e pobreza são problemas de natureza, dimensão e tendências muito distintas no Brasil, comportando soluções com escala, investimentos e conteúdos distintos. Ações governamentais de combate à pobreza certamente merecem máxima prioridade, justificam grandes investimentos e devem perseguir essencialmente o aumento da renda dos mais pobres. Ações que resultem em maior crescimento econômico com melhor distribuição de renda e que levem à reativação da economia, à criação de empregos e ao aprofundamento da reforma agrária são vistas como soluções consensuais no país. Mais recentemente, o mesmo acordo parece existir quanto a programas governamentais de transferência direta de renda acoplados a contrapartidas das famílias beneficiárias, seja com relação à manutenção das crianças nas escolas (bolsa-escola), seja com relação a controles preventivos de saúde (bolsa alimentação). Ações que combatam eficientemente a pobreza serão obviamente de enorme valia para a luta contra a desnutrição. Entretanto, a experiência nacional e internacional mostra que a intensificação dos investimentos em educação, saneamento do meio e cuidados básicos de saúde será essencial para se alcançar a erradicação da desnutrição. A luta contra a fome, ou ao que resta desse problema no país, igualmente se beneficiará do combate à pobreza. Contudo, as evidências indicam que ações específicas de combate à fome, em particular ações de distribuição de alimentos (diretamente ou através de créditos ou cupons), deveriam ser empregadas no Brasil de modo limitado e apenas em condições excepcionais e devidamente justificadas. A expansão desmedida de ações de distribuição de alimentos, ao contrário do que talvez indiquem o senso comum e a indignação justificada diante de uma sociedade tão injusta como a brasileira, implicaria apenas consumir recursos que poderiam faltar para ações sociais melhor justificadas e mais eficientes. Hunger, malnutrition, and poverty present distinct nature, magnitude and trends in Brazil and therefore require distinct solutions in terms of scale, investments and contents. Public actions to the combat of poverty deserve high priority and justify great investments and should essentially aim at the income increase of the poor. Actions resulting in higher economic growth with better wealth distribution that are conducive to national economy reactivation, creation of jobs and acceleration of land reform are seen as consensual measures in Brazil. More recently, the same consensus seems to exist regarding direct governmental cash transfer the poorest families provided that the family keeps the children at schools ("bolsa-escola") or attends preventive care clinics ("bolsa alimentação"). Successful actions to combat poverty will foster the struggle against malnutrition. However, both national and international experiences show that investments in education, sanitation and primary health care are essential especially for the eradication of child malnutrition. The fight against resilient hunger will also benefit from the combat against poverty. Nevertheless, the evidence indicate that specific actions to fight hunger, particularly actions food distribution - directly through cash credits of food coupons - should be employed in Brazil in a limited way and only under exceptional and justifiable conditions. The uncontrolled expansion of food distribution actions in Brazil perhaps contrary to the commond sense and the justified indignation toward a highly unjust society would imply allocating resources that could be better used in more efficient and justifiable social policies. Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde Pública2003-06-01info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionapplication/pdfhttps://www.revistas.usp.br/sausoc/article/view/708610.1590/S0104-12902003000100003Saúde e Sociedade; v. 12 n. 1 (2003); 7-11 Saúde e Sociedade; Vol. 12 No. 1 (2003); 7-11 Saúde e Sociedade; Vol. 12 Núm. 1 (2003); 7-11 1984-04700104-1290reponame:Saúde e Sociedade (Online)instname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPporhttps://www.revistas.usp.br/sausoc/article/view/7086/8556Monteiro, Carlos Augustoinfo:eu-repo/semantics/openAccess2012-05-02T23:08:07Zoai:revistas.usp.br:article/7086Revistahttp://www.scielo.br/sausocPUBhttps://old.scielo.br/oai/scielo-oai.phpsaudesoc@usp.br||lena@usp.br1984-04700104-1290opendoar:2012-05-02T23:08:07Saúde e Sociedade (Online) - Universidade de São Paulo (USP)false |
dc.title.none.fl_str_mv |
Fome, desnutrição e pobreza: além da semântica Hunger, malnutrition and poverty: beyond the semantics |
title |
Fome, desnutrição e pobreza: além da semântica |
spellingShingle |
Fome, desnutrição e pobreza: além da semântica Monteiro, Carlos Augusto fome desnutrição pobreza Brasil hunger malnutrition poverty Brazil |
title_short |
Fome, desnutrição e pobreza: além da semântica |
title_full |
Fome, desnutrição e pobreza: além da semântica |
title_fullStr |
Fome, desnutrição e pobreza: além da semântica |
title_full_unstemmed |
Fome, desnutrição e pobreza: além da semântica |
title_sort |
Fome, desnutrição e pobreza: além da semântica |
author |
Monteiro, Carlos Augusto |
author_facet |
Monteiro, Carlos Augusto |
author_role |
author |
dc.contributor.author.fl_str_mv |
Monteiro, Carlos Augusto |
dc.subject.por.fl_str_mv |
fome desnutrição pobreza Brasil hunger malnutrition poverty Brazil |
topic |
fome desnutrição pobreza Brasil hunger malnutrition poverty Brazil |
description |
Fome, desnutrição e pobreza são problemas de natureza, dimensão e tendências muito distintas no Brasil, comportando soluções com escala, investimentos e conteúdos distintos. Ações governamentais de combate à pobreza certamente merecem máxima prioridade, justificam grandes investimentos e devem perseguir essencialmente o aumento da renda dos mais pobres. Ações que resultem em maior crescimento econômico com melhor distribuição de renda e que levem à reativação da economia, à criação de empregos e ao aprofundamento da reforma agrária são vistas como soluções consensuais no país. Mais recentemente, o mesmo acordo parece existir quanto a programas governamentais de transferência direta de renda acoplados a contrapartidas das famílias beneficiárias, seja com relação à manutenção das crianças nas escolas (bolsa-escola), seja com relação a controles preventivos de saúde (bolsa alimentação). Ações que combatam eficientemente a pobreza serão obviamente de enorme valia para a luta contra a desnutrição. Entretanto, a experiência nacional e internacional mostra que a intensificação dos investimentos em educação, saneamento do meio e cuidados básicos de saúde será essencial para se alcançar a erradicação da desnutrição. A luta contra a fome, ou ao que resta desse problema no país, igualmente se beneficiará do combate à pobreza. Contudo, as evidências indicam que ações específicas de combate à fome, em particular ações de distribuição de alimentos (diretamente ou através de créditos ou cupons), deveriam ser empregadas no Brasil de modo limitado e apenas em condições excepcionais e devidamente justificadas. A expansão desmedida de ações de distribuição de alimentos, ao contrário do que talvez indiquem o senso comum e a indignação justificada diante de uma sociedade tão injusta como a brasileira, implicaria apenas consumir recursos que poderiam faltar para ações sociais melhor justificadas e mais eficientes. |
publishDate |
2003 |
dc.date.none.fl_str_mv |
2003-06-01 |
dc.type.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/article info:eu-repo/semantics/publishedVersion |
format |
article |
status_str |
publishedVersion |
dc.identifier.uri.fl_str_mv |
https://www.revistas.usp.br/sausoc/article/view/7086 10.1590/S0104-12902003000100003 |
url |
https://www.revistas.usp.br/sausoc/article/view/7086 |
identifier_str_mv |
10.1590/S0104-12902003000100003 |
dc.language.iso.fl_str_mv |
por |
language |
por |
dc.relation.none.fl_str_mv |
https://www.revistas.usp.br/sausoc/article/view/7086/8556 |
dc.rights.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/openAccess |
eu_rights_str_mv |
openAccess |
dc.format.none.fl_str_mv |
application/pdf |
dc.publisher.none.fl_str_mv |
Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde Pública |
publisher.none.fl_str_mv |
Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde Pública |
dc.source.none.fl_str_mv |
Saúde e Sociedade; v. 12 n. 1 (2003); 7-11 Saúde e Sociedade; Vol. 12 No. 1 (2003); 7-11 Saúde e Sociedade; Vol. 12 Núm. 1 (2003); 7-11 1984-0470 0104-1290 reponame:Saúde e Sociedade (Online) instname:Universidade de São Paulo (USP) instacron:USP |
instname_str |
Universidade de São Paulo (USP) |
instacron_str |
USP |
institution |
USP |
reponame_str |
Saúde e Sociedade (Online) |
collection |
Saúde e Sociedade (Online) |
repository.name.fl_str_mv |
Saúde e Sociedade (Online) - Universidade de São Paulo (USP) |
repository.mail.fl_str_mv |
saudesoc@usp.br||lena@usp.br |
_version_ |
1800237452368019456 |