No interior da medida socioeducativa: itinerários narrativos e encontro como resistência
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2022 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-15022023-180824/ |
Resumo: | Quando um menino chega à medida socioeducativa, a pluralidade de elementos que o conduziram à ilegalidade tende a ser desconsiderada na expectativa de que admita algum erro e afirme seu arrependimento. Considerando mais a infração do que aquilo que a teria causado, a medida socioeducativa produz uma espécie de silenciamento enquanto convoca, continuamente, que os meninos falem. Obrigados a um certo relato e tendo de dar explicações para o inexplicável, falam de si defendendo-se de uma representação cuja imagem gera fixidez, impede deslocamentos e não lhes dá trégua. Tomando como problema as práticas que os afastam de outros destinos possíveis diante de um mundo duro, vivido como inflexível, e constituído com a sanção, indagamos: haveria encontro inventivo e desejante nas fronteiras da medida socioeducativa? Esta pesquisa colocou sob exame a conversa e o encontro, tomados como produção e acontecimento. A conversação foi debatida como artesania, que não existe apenas pelo fato de uma pessoa se colocar diante da outra. A partir de conversas com cinco meninos que cumpriram sanção na cidade de São Paulo, discutimos sobre a produção de encontros como trajeto fundamental para que qualquer coisa possa ser arquitetada em parceria. Como percurso metodológico, construímos textos conjuntamente a partir das narrativas dos cinco meninos que, indo na contramão de uma concepção sobre eles, tiveram como direção ética se tornarem possibilidade de pensarem a própria existência em um mundo que não se produz solitariamente. Se o que nos resta é uma sensação de pouco fazer, é porque, paradoxalmente, acessamos algo raro e difícil: a vontade de dizer e a possibilidade de escutar. Ao compartilharem referências da própria e de outras existências, cada menino partilhou sua biografia em meio ao exercício de compreensão daquilo que passavam a conhecer (de si, inclusive). Alargando o que podiam imaginar, experimentaram, brevemente, outras identidades ou, ao menos, ensaiaram o lugar do não-determinado, do não prognosticado, da história singular. As trajetórias de vida que puderam ser ditas mostram como a medida socioeducativa opera ao produzir impossibilidade e falta de ar nos meninos com quem se encontra |
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Tomando como problema as práticas que os afastam de outros destinos possíveis diante de um mundo duro, vivido como inflexível, e constituído com a sanção, indagamos: haveria encontro inventivo e desejante nas fronteiras da medida socioeducativa? Esta pesquisa colocou sob exame a conversa e o encontro, tomados como produção e acontecimento. A conversação foi debatida como artesania, que não existe apenas pelo fato de uma pessoa se colocar diante da outra. A partir de conversas com cinco meninos que cumpriram sanção na cidade de São Paulo, discutimos sobre a produção de encontros como trajeto fundamental para que qualquer coisa possa ser arquitetada em parceria. Como percurso metodológico, construímos textos conjuntamente a partir das narrativas dos cinco meninos que, indo na contramão de uma concepção sobre eles, tiveram como direção ética se tornarem possibilidade de pensarem a própria existência em um mundo que não se produz solitariamente. Se o que nos resta é uma sensação de pouco fazer, é porque, paradoxalmente, acessamos algo raro e difícil: a vontade de dizer e a possibilidade de escutar. Ao compartilharem referências da própria e de outras existências, cada menino partilhou sua biografia em meio ao exercício de compreensão daquilo que passavam a conhecer (de si, inclusive). Alargando o que podiam imaginar, experimentaram, brevemente, outras identidades ou, ao menos, ensaiaram o lugar do não-determinado, do não prognosticado, da história singular. As trajetórias de vida que puderam ser ditas mostram como a medida socioeducativa opera ao produzir impossibilidade e falta de ar nos meninos com quem se encontraWhen a boy receives a socio-educational measure, the plurality of elements that led him to illegality tends to be disregarded in the expectation that he will admit some mistake and affirm his regret. Considering the infraction more than what may have caused it, the socio-educational measure produces a kind of silencing while continuously calling on the boys to speak. Forced to a certain report and having to give explanations for the inexplicable, they talk about themselves defending themselves against a representation whose image generates fixity, making impossible to produce a displacement and does not give them truce. Taking as a problem the practices that distance them from other possible destinations in the face of a hard world, experienced as inflexible, and constituted by the sanction itself, we ask: would there be an inventive and desiring encounter at the borders of the socio-educational measure? This research examined the conversation and the encounter, taken as production and an event. Conversation was discussed as craftsmanship, which does not exist just because one person stands in front of another. Based on conversations with five boys who received a sanction in the city of São Paulo, we discussed the production of meetings as a fundamental path for anything to be designed in partnership. As a methodological approach, we built texts together from the narratives of the five boys that, going against a certain conception of them, had as an ethical direction to be the possibility of thinking about their own existence in a world that is not produced by one person alone. If what we have left is a feeling of doing little, it is because, paradoxically, we have access to something rare and difficult: the will to say and the possibility of listening. By sharing references from their own and other existences, each boy shared his biography while doing the exercise of understanding what they came to know (including about themselves). Expanding what they could imagine, those boys briefly experimented other identities or, at least, rehearsed the place of the undetermined, the unforeseen, the singular history. The life trajectories that were told show how the socio-educational measure operates by producing impossibility and shortness of breath in the boys with whom it meetsBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPMachado, Adriana MarcondesHahne, Beatriz Saks2022-12-15info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-15022023-180824/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2023-03-17T18:30:36Zoai:teses.usp.br:tde-15022023-180824Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-03-17T18:30:36Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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