O cuidado materno e a estruturação do vínculo mãe-filha nos transtornos alimentares

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Fabiana Elias Goulart de Andrade Moura
Data de Publicação: 2007
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://doi.org/10.11606/D.22.2007.tde-13082007-154832
Resumo: Os transtornos alimentares (TA) vêm sendo descritos atualmente como uma síndrome que atinge principalmente adolescentes e adultos jovens do sexo feminino e apresenta etiologia multifatorial, envolvendo fatores biológicos, genéticos, psicológicos, sócio-culturais e familiares. As relações familiares apresentam características muito particulares nesses casos. São relatados na literatura um grande número de casos onde as relações das mães com as pacientes apresentam características de simbiose e por vezes dificuldades de individuação. O contato com estas mães por um grupo de apoio aos familiares de pacientes com TA (GRATA-HCFMRP-USP), bem como a constatação de que desde muito antes do aparecimento do sintoma, suas filhas já apresentavam algumas diferenças marcantes, conduziram-nos a pensar que alguma compreensão a respeito do quadro pudesse vir da investigação de um período precoce do desenvolvimento das filhas. O objetivo deste estudo foi portanto, conhecer como as mães experienciaram o processo de cuidar de suas filhas desde a gestação até os 2 (dois) anos de idade, incluindo a questão alimentar como forte elo entre um bebê e sua mãe, procurando investigar a influência que estas vivências tiveram (ou não) no aparecimento futuro da doença. Foram entrevistadas 7 (sete) mães de pacientes com TA em atendimento ambulatorial no GRATA- HCFMRP-USP. As entrevistas foram semi-estruturadas e áudio-gravadas e em seguida transcritas na íntegra. As questões norteadoras foram previamente estabelecidas levando-se em conta os seguintes temas: gravidez, parto, pós-parto/puerpério, amamentação/ alimenta-ção e características da filha. Os dados foram analisados baseandose nos preceitos da teoria psicanalítica como proposto por Klein e por Winnicott. Encontramos relatos de muito sofrimento e impotência, com grande dificuldade de ?reverie? por parte das mães. Por outro lado, as crianças foram descritas como intensamente vorazes, o que nos sugere que também teriam muita dificuldade em assimilar o cuidado oferecido por suas mães. Parece ter ocorrido um encontro entre uma mãe com dificuldades em oferecer continência psíquica às condições básicas de sua filha e uma criança com dificuldades em receber seus cuidados. Essa dinâmica relacional pode ter sido um importante fator de influência das vicissitudes vinculares ulteriores. O sintoma alimentar, portanto, poderia ser entendido como uma tentativa da filha de retomar essa relação complexa e sofrida, a partir de uma equação simbólica na qual o alimento, transformado em equivalente simbólico da função materna internalizada de forma ambivalente, deve ser evitado ou eliminado.
id USP_0447bbf4b400bf7a8a883e508fb3fe01
oai_identifier_str oai:teses.usp.br:tde-13082007-154832
network_acronym_str USP
network_name_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository_id_str 2721
spelling info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesis O cuidado materno e a estruturação do vínculo mãe-filha nos transtornos alimentares Maternal care and the development of mother- daughter bonding in eating disorders 2007-07-23Rosane Pilot Pessa RibeiroMarcia Bucchi AlencastreManoel Antonio dos SantosFabiana Elias Goulart de Andrade MouraUniversidade de São PauloEnfermagem em Saúde PúblicaUSPBR Anorexia nervosa Anorexia nervosa Bulimia nervosa Bulimia nervosa Eating disorders Mother-child relations Relações mãe-filho Transtornos da alimentação Os transtornos alimentares (TA) vêm sendo descritos atualmente como uma síndrome que atinge principalmente adolescentes e adultos jovens do sexo feminino e apresenta etiologia multifatorial, envolvendo fatores biológicos, genéticos, psicológicos, sócio-culturais e familiares. As relações familiares apresentam características muito particulares nesses casos. São relatados na literatura um grande número de casos onde as relações das mães com as pacientes apresentam características de simbiose e por vezes dificuldades de individuação. O contato com estas mães por um grupo de apoio aos familiares de pacientes com TA (GRATA-HCFMRP-USP), bem como a constatação de que desde muito antes do aparecimento do sintoma, suas filhas já apresentavam algumas diferenças marcantes, conduziram-nos a pensar que alguma compreensão a respeito do quadro pudesse vir da investigação de um período precoce do desenvolvimento das filhas. O objetivo deste estudo foi portanto, conhecer como as mães experienciaram o processo de cuidar de suas filhas desde a gestação até os 2 (dois) anos de idade, incluindo a questão alimentar como forte elo entre um bebê e sua mãe, procurando investigar a influência que estas vivências tiveram (ou não) no aparecimento futuro da doença. Foram entrevistadas 7 (sete) mães de pacientes com TA em atendimento ambulatorial no GRATA- HCFMRP-USP. As entrevistas foram semi-estruturadas e áudio-gravadas e em seguida transcritas na íntegra. As questões norteadoras foram previamente estabelecidas levando-se em conta os seguintes temas: gravidez, parto, pós-parto/puerpério, amamentação/ alimenta-ção e características da filha. Os dados foram analisados baseandose nos preceitos da teoria psicanalítica como proposto por Klein e por Winnicott. Encontramos relatos de muito sofrimento e impotência, com grande dificuldade de ?reverie? por parte das mães. Por outro lado, as crianças foram descritas como intensamente vorazes, o que nos sugere que também teriam muita dificuldade em assimilar o cuidado oferecido por suas mães. Parece ter ocorrido um encontro entre uma mãe com dificuldades em oferecer continência psíquica às condições básicas de sua filha e uma criança com dificuldades em receber seus cuidados. Essa dinâmica relacional pode ter sido um importante fator de influência das vicissitudes vinculares ulteriores. O sintoma alimentar, portanto, poderia ser entendido como uma tentativa da filha de retomar essa relação complexa e sofrida, a partir de uma equação simbólica na qual o alimento, transformado em equivalente simbólico da função materna internalizada de forma ambivalente, deve ser evitado ou eliminado. Eating Disorders (ED) have been described as a syndrome that affects mainly female teenagers and young adults and that has a multifactorial aetiology involving organic, genetic, psychological, social and family factors. Family relationship presents with very particular characteristics in those cases. A high number of cases in which mother-daughter relationships presented symbiotic features and sometimes difficulties of individuation have been reported. The contact with mothers, which was established by a support group for relatives of patients with ED (GRATA-HCFMRP-USP), along with the realization that much before the first symptoms, their daughters already presented remarkable differences, made us consider that some understanding about the picture could come from the investigation of an early period of daughter s development. Therefore, the purpose of this study was to know how mothers experienced the process of raising their daughters from pregnancy to their second year of age, including the eating issue as a strong link between a baby and his mother and trying to analyze the influences of those experiences over the future development of the disease. Seven mothers of ED outclinic patients of GRATAHCFMRP- USP were interviewed. The interviews were semi-structered and were recorded and transcribed entirely. The main questions were previously established and concerned the following themes: pregnancy, partum, post partum, breastfeeding/feeding and characteristics of the daughter. Data was analyzed based on the psychoanalysis theory as proposed by Klein and Winnicott. We found descriptions of deep suffering and impotence, with mothers facing difficulty to reverie. On the other hand, children were described as intensively voracious, what suggests that they might have difficulty in assimilating the care provided by their mothers. It looks like a meeting between a mother with difficulties to provide care and a child with difficulties to receive it. This relational dynamics may have been an important factor that influenced the difficulties of the posterior relationship. Therefore, the eating symptom would be an attempt from the daughter to restart this complex and suffering relationship, from a symbolic equation where the very much desired food, transformed into a symbolical equivalent of the maternal function internalized in an ambivalent way, must be avoided or eliminated. https://doi.org/10.11606/D.22.2007.tde-13082007-154832info:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USP2023-12-21T18:52:17Zoai:teses.usp.br:tde-13082007-154832Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-12-22T12:36:23.610197Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
dc.title.pt.fl_str_mv O cuidado materno e a estruturação do vínculo mãe-filha nos transtornos alimentares
dc.title.alternative.en.fl_str_mv Maternal care and the development of mother- daughter bonding in eating disorders
title O cuidado materno e a estruturação do vínculo mãe-filha nos transtornos alimentares
spellingShingle O cuidado materno e a estruturação do vínculo mãe-filha nos transtornos alimentares
Fabiana Elias Goulart de Andrade Moura
title_short O cuidado materno e a estruturação do vínculo mãe-filha nos transtornos alimentares
title_full O cuidado materno e a estruturação do vínculo mãe-filha nos transtornos alimentares
title_fullStr O cuidado materno e a estruturação do vínculo mãe-filha nos transtornos alimentares
title_full_unstemmed O cuidado materno e a estruturação do vínculo mãe-filha nos transtornos alimentares
title_sort O cuidado materno e a estruturação do vínculo mãe-filha nos transtornos alimentares
author Fabiana Elias Goulart de Andrade Moura
author_facet Fabiana Elias Goulart de Andrade Moura
author_role author
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv Rosane Pilot Pessa Ribeiro
dc.contributor.referee1.fl_str_mv Marcia Bucchi Alencastre
dc.contributor.referee2.fl_str_mv Manoel Antonio dos Santos
dc.contributor.author.fl_str_mv Fabiana Elias Goulart de Andrade Moura
contributor_str_mv Rosane Pilot Pessa Ribeiro
Marcia Bucchi Alencastre
Manoel Antonio dos Santos
description Os transtornos alimentares (TA) vêm sendo descritos atualmente como uma síndrome que atinge principalmente adolescentes e adultos jovens do sexo feminino e apresenta etiologia multifatorial, envolvendo fatores biológicos, genéticos, psicológicos, sócio-culturais e familiares. As relações familiares apresentam características muito particulares nesses casos. São relatados na literatura um grande número de casos onde as relações das mães com as pacientes apresentam características de simbiose e por vezes dificuldades de individuação. O contato com estas mães por um grupo de apoio aos familiares de pacientes com TA (GRATA-HCFMRP-USP), bem como a constatação de que desde muito antes do aparecimento do sintoma, suas filhas já apresentavam algumas diferenças marcantes, conduziram-nos a pensar que alguma compreensão a respeito do quadro pudesse vir da investigação de um período precoce do desenvolvimento das filhas. O objetivo deste estudo foi portanto, conhecer como as mães experienciaram o processo de cuidar de suas filhas desde a gestação até os 2 (dois) anos de idade, incluindo a questão alimentar como forte elo entre um bebê e sua mãe, procurando investigar a influência que estas vivências tiveram (ou não) no aparecimento futuro da doença. Foram entrevistadas 7 (sete) mães de pacientes com TA em atendimento ambulatorial no GRATA- HCFMRP-USP. As entrevistas foram semi-estruturadas e áudio-gravadas e em seguida transcritas na íntegra. As questões norteadoras foram previamente estabelecidas levando-se em conta os seguintes temas: gravidez, parto, pós-parto/puerpério, amamentação/ alimenta-ção e características da filha. Os dados foram analisados baseandose nos preceitos da teoria psicanalítica como proposto por Klein e por Winnicott. Encontramos relatos de muito sofrimento e impotência, com grande dificuldade de ?reverie? por parte das mães. Por outro lado, as crianças foram descritas como intensamente vorazes, o que nos sugere que também teriam muita dificuldade em assimilar o cuidado oferecido por suas mães. Parece ter ocorrido um encontro entre uma mãe com dificuldades em oferecer continência psíquica às condições básicas de sua filha e uma criança com dificuldades em receber seus cuidados. Essa dinâmica relacional pode ter sido um importante fator de influência das vicissitudes vinculares ulteriores. O sintoma alimentar, portanto, poderia ser entendido como uma tentativa da filha de retomar essa relação complexa e sofrida, a partir de uma equação simbólica na qual o alimento, transformado em equivalente simbólico da função materna internalizada de forma ambivalente, deve ser evitado ou eliminado.
publishDate 2007
dc.date.issued.fl_str_mv 2007-07-23
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://doi.org/10.11606/D.22.2007.tde-13082007-154832
url https://doi.org/10.11606/D.22.2007.tde-13082007-154832
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade de São Paulo
dc.publisher.program.fl_str_mv Enfermagem em Saúde Pública
dc.publisher.initials.fl_str_mv USP
dc.publisher.country.fl_str_mv BR
publisher.none.fl_str_mv Universidade de São Paulo
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
instname:Universidade de São Paulo (USP)
instacron:USP
instname_str Universidade de São Paulo (USP)
instacron_str USP
institution USP
reponame_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
collection Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository.name.fl_str_mv Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)
repository.mail.fl_str_mv virginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.br
_version_ 1794502708911144960