O projeto davidsoniano de uma semântica composicional para as línguas naturais
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2017 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-30112017-125627/ |
Resumo: | Nesta tese realizo uma exposição e exame sistemáticos do projeto semântico do filósofo estadunidense Donald Davidson de construir uma teoria composicional do significado para as línguas naturais explorando a estrutura recursiva de uma teoria interpretativa da verdade de tipo tarskiana. Nesta estratégia, uma teoria do significado deve ser capaz de capturar a capacidade linguística geral que qualquer falante de uma língua possui de produzir e interpretar novas sentenças. O requerimento de que a teoria seja composicional constitui o critério fundamental que orienta o empreendimento de Davidson e está na base do projeto de elucidar o aspecto composicional do significado via o emprego de uma teoria da verdade do tipo tarskiana. Defendo que o projeto de Davidson intenta lançar as bases de um programa de pesquisa em semântica das línguas naturais que, embora não hegemônico no campo e visto com ceticismo por alguns, é o único exemplo até o momento de uma tentativa de iluminar de forma sistemática o aspecto composicional do significado de amplos fragmentos das línguas naturais sem um apelo direto a entidades abstratas associadas às expressões de uma linguagem, como propriedades, proposições sentidos, intensões etc. Dois tópicos acerca do projeto recebem uma investigação detalhada. Em primeiro lugar, questões filosóficas fundacionais que a proposta suscita. Abordamos as objeções de Davidson a teorias que quantificam sobre significados, discutindo os problemas que ele identifica em análises que reificam a camada intensional dos significados das expressões de uma língua, em especial sistemas neo-fregeanos, tais como os propostos por Rudolf Carnap e Alonzo Church. Baseado em parte nesta crítica de Davidson, pouco examinada na literatura, e sem a qual se corre o risco de uma interpretação equivocada das ambições do projeto, sustento, em consonância com os semanticistas neo-davidsonianos Ernie Lepore & Kirk Ludwig (2005; 2007), que Davidson não intenta fornecer uma semântica que se caracteriza por substituir ou reduzir uma teoria do significado a uma teoria da verdade. A ideia é que uma teoria composicional do significado pode ser apresentada como um corpo de conhecimento sobre uma teoria interpretativa da verdade. Davidson tampouco intenta eliminar a camada intensional do significado; o que se busca é evitar a sua reificação. Uma outra parte da tese se debruça sobre o esforço de acomodar na teoria um conjunto de fenômenos linguísticos próprios das línguas naturais: expressões sensíveis ao contexto, como pronomes pessoais e demonstrativos, que forçam a relativização do predicado de verdade às situações de uso das sentenças; quantificação restrita; sentenças com verbos de ação e que descrevem relações causais entre eventos; contextos opacos criados por sentenças com verbos de atitude proposicional, e a dificuldade de tratar esses contextos sem introduzir entidades intensionais. Examino também aspectos fundacionais da semântica de Lepore & Ludwig, que, sem dúvida, amplia significativamente o escopo de fenômenos linguísticos que podem ser explicados por uma teoria motivada pelo projeto de Davidson. No método dos autores, é estabelecida, entre outras condições, seguindo Davidson, que não basta saber o conteúdo informacional expresso pelos axiomas de uma teoria da verdade. É preciso saber também quais conteúdos os axiomas veiculam. Isto é, tem-se que saber os sentidos dos axiomas. Ao sistematizarem na forma de uma teoria esse conhecimento, eles associam, por meio de uma lista, um sentido/intensão a cada axioma. Para cada expressão da linguagem objeto deve haver um axioma na teoria, e o sentido desse axioma deve ser conteúdo de conhecimento do semanticista/intérprete para que ele seja capaz de empregar a teoria-T para interpretar as expressões subsentenciais e as sentenças da linguagem objeto. Se minha observação estiver correta, na estrutura da teoria dos autores acaba por ocorrer a reificação dos sentidos dos axiomas, o que seria forte indicação de que a semântica que constroem não cumpre o propósito de ser uma teoria imune à introdução de entidades intensionais. Além disso, esta associação de um conteúdo semântico a cada axioma via quantificação, parece implicar uma questão mais grave: o assinalamento de objetos intensionais às expressões da linguagem objeto. Desse modo, se minhas ponderações estiverem corretas, a semântica dos autores parece não se configurar como uma alternativa às teorias neo-fregeanas, no sentido de cumprir o que estas fazem, sem que, na sua estrutura, tenha que postular entidades intensionais. |
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O projeto davidsoniano de uma semântica composicional para as línguas naturaisThe davidsonian project of a compositional semantics for natural languagesDonald DavidsonDonald DavidsonIntensãoIntensionMeaningReificaçãoSemânticaSemanticsSignificadoTruthVerdadeNesta tese realizo uma exposição e exame sistemáticos do projeto semântico do filósofo estadunidense Donald Davidson de construir uma teoria composicional do significado para as línguas naturais explorando a estrutura recursiva de uma teoria interpretativa da verdade de tipo tarskiana. Nesta estratégia, uma teoria do significado deve ser capaz de capturar a capacidade linguística geral que qualquer falante de uma língua possui de produzir e interpretar novas sentenças. O requerimento de que a teoria seja composicional constitui o critério fundamental que orienta o empreendimento de Davidson e está na base do projeto de elucidar o aspecto composicional do significado via o emprego de uma teoria da verdade do tipo tarskiana. Defendo que o projeto de Davidson intenta lançar as bases de um programa de pesquisa em semântica das línguas naturais que, embora não hegemônico no campo e visto com ceticismo por alguns, é o único exemplo até o momento de uma tentativa de iluminar de forma sistemática o aspecto composicional do significado de amplos fragmentos das línguas naturais sem um apelo direto a entidades abstratas associadas às expressões de uma linguagem, como propriedades, proposições sentidos, intensões etc. Dois tópicos acerca do projeto recebem uma investigação detalhada. Em primeiro lugar, questões filosóficas fundacionais que a proposta suscita. Abordamos as objeções de Davidson a teorias que quantificam sobre significados, discutindo os problemas que ele identifica em análises que reificam a camada intensional dos significados das expressões de uma língua, em especial sistemas neo-fregeanos, tais como os propostos por Rudolf Carnap e Alonzo Church. Baseado em parte nesta crítica de Davidson, pouco examinada na literatura, e sem a qual se corre o risco de uma interpretação equivocada das ambições do projeto, sustento, em consonância com os semanticistas neo-davidsonianos Ernie Lepore & Kirk Ludwig (2005; 2007), que Davidson não intenta fornecer uma semântica que se caracteriza por substituir ou reduzir uma teoria do significado a uma teoria da verdade. A ideia é que uma teoria composicional do significado pode ser apresentada como um corpo de conhecimento sobre uma teoria interpretativa da verdade. Davidson tampouco intenta eliminar a camada intensional do significado; o que se busca é evitar a sua reificação. Uma outra parte da tese se debruça sobre o esforço de acomodar na teoria um conjunto de fenômenos linguísticos próprios das línguas naturais: expressões sensíveis ao contexto, como pronomes pessoais e demonstrativos, que forçam a relativização do predicado de verdade às situações de uso das sentenças; quantificação restrita; sentenças com verbos de ação e que descrevem relações causais entre eventos; contextos opacos criados por sentenças com verbos de atitude proposicional, e a dificuldade de tratar esses contextos sem introduzir entidades intensionais. Examino também aspectos fundacionais da semântica de Lepore & Ludwig, que, sem dúvida, amplia significativamente o escopo de fenômenos linguísticos que podem ser explicados por uma teoria motivada pelo projeto de Davidson. No método dos autores, é estabelecida, entre outras condições, seguindo Davidson, que não basta saber o conteúdo informacional expresso pelos axiomas de uma teoria da verdade. É preciso saber também quais conteúdos os axiomas veiculam. Isto é, tem-se que saber os sentidos dos axiomas. Ao sistematizarem na forma de uma teoria esse conhecimento, eles associam, por meio de uma lista, um sentido/intensão a cada axioma. Para cada expressão da linguagem objeto deve haver um axioma na teoria, e o sentido desse axioma deve ser conteúdo de conhecimento do semanticista/intérprete para que ele seja capaz de empregar a teoria-T para interpretar as expressões subsentenciais e as sentenças da linguagem objeto. Se minha observação estiver correta, na estrutura da teoria dos autores acaba por ocorrer a reificação dos sentidos dos axiomas, o que seria forte indicação de que a semântica que constroem não cumpre o propósito de ser uma teoria imune à introdução de entidades intensionais. Além disso, esta associação de um conteúdo semântico a cada axioma via quantificação, parece implicar uma questão mais grave: o assinalamento de objetos intensionais às expressões da linguagem objeto. Desse modo, se minhas ponderações estiverem corretas, a semântica dos autores parece não se configurar como uma alternativa às teorias neo-fregeanas, no sentido de cumprir o que estas fazem, sem que, na sua estrutura, tenha que postular entidades intensionais.In this dissertation I carry out a sistematic exposition and examination of Donald Davidsons semantic project to construct a compositional theory of meaning for natural languages by exploring the recursive structure of an interpretative truth theory à lá Tarski. In this strategy, a theory of meaning must be able to capture the general linguistic ability of any speaker of a language to produce and interpret new sentences. The requirement that the theory be compositional is the fundamental criterion that guides Davidson\'s enterprise and ii is at the basis of the project of elucidating the compositional aspect of meaning via the use of a theory of truth of the Tarskian type. I argue that Davidson\'s project attempts to lay the groundwork for a research program on natural language semantics which, while not hegemonic in the field and viewed with skepticism by some, is the only example so far of an attempt to systematically illuminate the compositional aspect of the meanings of broad fragments of natural languages without a direct appeal to abstract entities associated with the expressions of a language, such as properties, senses, propositions, intensions, etc. Two topics about the project received detailed attention. Firstly, I focus on issues of philosophical foundations raised by the proposal. I approach Davidson\'s objections to theories that quantify over meanings by discussing the problems he identifies in analyzes that reify the intensional layer of the meanings of the expressions of a language, especially neo-Fregean systems, such as those proposed by Rudolf Carnap and Alonzo Church. Based partly on Davidson\'s criticism, which is scarcely examined in the literature, and without which there is a risk of a misinterpretation of the ambitions of the project, I maintain, along with the neo-Davidsonian semanticists Ernie Lepore & Kirk Ludwig (2005; 2007), that Davidson does not attempt to provide a semantics which is characterized by substituting or reducing a theory of meaning to a truth theory. The idea is that a compositional theory of meaning can be presented as a body of knowledge about an interpretive truth theory. Davidson does not seek to eliminate the intensional layer of the expressions. What is sought is to avoid its reification. Another part of the thesis focuses on the effort to accommodate in the theory a set of linguistic phenomena proper to natural languages: context-sensitive expressions such as personal and demonstrative pronouns, which force the relativization of the truth predicate of to the contexts of use; Restricted quantification; Sentences with action verbs that describe causal relationships between events; Opaque contexts created by sentences with propositional attitude verbs, and the difficulty of dealing with these contexts without introducing intensional entities. I also examine the foundational aspects of Lepore & Ludwig\'s semantics, which undoubtedly widens the scope of linguistic phenomena that can be explained by a theory motivated by Davidson\'s project. In the authors\' method, it is established, among other conditions - following Davidsons approach - that it is not enough to know the informational content expressed by the axioms of a theory of truth. It is also necessary to know what content the axioms convey. That is, one has to know the meanings of the axioms. By systematizing this knowledge in the form of a theory, they associate, through a list, a sense/intension to each axiom. For each expression of the object language there must be an axiom in the theory, and the meaning of this axiom must be the content of the semanticist / interpreter\'s knowledge so that he is able to employ a truth theory to interpret the subsentential expressions and the sentences of the object language. If my observation is correct, in the structure of the authors theory the reification of the meanings of the axioms occurs, which would be a strong indication that the semantics they construct does not fulfill the purpose of being a theory immune to the introduction of intensional entities. Moreover, this association of a semantic content to each axiom via quantification seems to imply a more serious question: the signaling of intensional objects to the expressions of the object language. Thus, if my considerations are correct, the semantics of the authors seems not to be configured as an alternative to neo-Fregean theories, in the sense of fulfilling what they do, without in the structure of the theory having to postulate intensional entities.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPCuter, Joao Vergilio GalleraniNavarro, Michel P. 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Nesta tese realizo uma exposição e exame sistemáticos do projeto semântico do filósofo estadunidense Donald Davidson de construir uma teoria composicional do significado para as línguas naturais explorando a estrutura recursiva de uma teoria interpretativa da verdade de tipo tarskiana. Nesta estratégia, uma teoria do significado deve ser capaz de capturar a capacidade linguística geral que qualquer falante de uma língua possui de produzir e interpretar novas sentenças. O requerimento de que a teoria seja composicional constitui o critério fundamental que orienta o empreendimento de Davidson e está na base do projeto de elucidar o aspecto composicional do significado via o emprego de uma teoria da verdade do tipo tarskiana. Defendo que o projeto de Davidson intenta lançar as bases de um programa de pesquisa em semântica das línguas naturais que, embora não hegemônico no campo e visto com ceticismo por alguns, é o único exemplo até o momento de uma tentativa de iluminar de forma sistemática o aspecto composicional do significado de amplos fragmentos das línguas naturais sem um apelo direto a entidades abstratas associadas às expressões de uma linguagem, como propriedades, proposições sentidos, intensões etc. Dois tópicos acerca do projeto recebem uma investigação detalhada. Em primeiro lugar, questões filosóficas fundacionais que a proposta suscita. Abordamos as objeções de Davidson a teorias que quantificam sobre significados, discutindo os problemas que ele identifica em análises que reificam a camada intensional dos significados das expressões de uma língua, em especial sistemas neo-fregeanos, tais como os propostos por Rudolf Carnap e Alonzo Church. Baseado em parte nesta crítica de Davidson, pouco examinada na literatura, e sem a qual se corre o risco de uma interpretação equivocada das ambições do projeto, sustento, em consonância com os semanticistas neo-davidsonianos Ernie Lepore & Kirk Ludwig (2005; 2007), que Davidson não intenta fornecer uma semântica que se caracteriza por substituir ou reduzir uma teoria do significado a uma teoria da verdade. A ideia é que uma teoria composicional do significado pode ser apresentada como um corpo de conhecimento sobre uma teoria interpretativa da verdade. Davidson tampouco intenta eliminar a camada intensional do significado; o que se busca é evitar a sua reificação. Uma outra parte da tese se debruça sobre o esforço de acomodar na teoria um conjunto de fenômenos linguísticos próprios das línguas naturais: expressões sensíveis ao contexto, como pronomes pessoais e demonstrativos, que forçam a relativização do predicado de verdade às situações de uso das sentenças; quantificação restrita; sentenças com verbos de ação e que descrevem relações causais entre eventos; contextos opacos criados por sentenças com verbos de atitude proposicional, e a dificuldade de tratar esses contextos sem introduzir entidades intensionais. Examino também aspectos fundacionais da semântica de Lepore & Ludwig, que, sem dúvida, amplia significativamente o escopo de fenômenos linguísticos que podem ser explicados por uma teoria motivada pelo projeto de Davidson. No método dos autores, é estabelecida, entre outras condições, seguindo Davidson, que não basta saber o conteúdo informacional expresso pelos axiomas de uma teoria da verdade. É preciso saber também quais conteúdos os axiomas veiculam. Isto é, tem-se que saber os sentidos dos axiomas. Ao sistematizarem na forma de uma teoria esse conhecimento, eles associam, por meio de uma lista, um sentido/intensão a cada axioma. Para cada expressão da linguagem objeto deve haver um axioma na teoria, e o sentido desse axioma deve ser conteúdo de conhecimento do semanticista/intérprete para que ele seja capaz de empregar a teoria-T para interpretar as expressões subsentenciais e as sentenças da linguagem objeto. Se minha observação estiver correta, na estrutura da teoria dos autores acaba por ocorrer a reificação dos sentidos dos axiomas, o que seria forte indicação de que a semântica que constroem não cumpre o propósito de ser uma teoria imune à introdução de entidades intensionais. Além disso, esta associação de um conteúdo semântico a cada axioma via quantificação, parece implicar uma questão mais grave: o assinalamento de objetos intensionais às expressões da linguagem objeto. Desse modo, se minhas ponderações estiverem corretas, a semântica dos autores parece não se configurar como uma alternativa às teorias neo-fregeanas, no sentido de cumprir o que estas fazem, sem que, na sua estrutura, tenha que postular entidades intensionais. |
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