Desordem e retrocesso: os discursos científicos e cientificistas acerca da Guerra de Canudos na imprensa
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2015 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/100/100135/tde-24032016-163224/ |
Resumo: | A Guerra de Canudos ocorreu no sertão baiano, entre novembro de 1896 e outubro de 1897, figurando como um dos episódios mais sangrentos da história do Brasil. Ao mesmo tempo em que se desenrolava a tragédia, o País estava se urbanizando, industrializando-se, e, em certo sentido, modernizando-se. Interessava às elites que o Brasil adentrasse o quanto antes no que viam como a marcha do progresso e se configurasse como nação moderna, com uma identidade assentada em valores ocidentais. A comunidade de Canudos, percebida na contramão desses valores, significava uma ameaça ao poder local e ao poder republicano. Essa cidadela se organizava a partir de uma divisão social do trabalho que não se baseava na exploração. Também, esses sertanejos praticavam a religião cristã reinterpretada; concebiam Antônio Conselheiro como um salvador que lhes dava esperanças de uma vida melhor na terra e nos céus. O modo de vida canudense era apresentado, nos jornais da época, como uma vergonha para a civilização e uma ameaça â nação brasileira, amplificando boatos que acusavam Canudos de ser um reduto monarquista. A reação a o Conselheiro e a seus seguidores foi tanto material quanto discursiva: foram organizadas quatro campanhas que destruíram o arraial de Canudos, e circularam na imprensa e nos espaços públicos discursos que caluniavam os sertanejos e os tratavam como bandidos, incivilizados, atrasados e retrógrados. Nossa intenção, nesta dissertação, é apresentar os discursos que possuíam uma natureza cientificista que, a partir de conceitos evolucionistas e positivistas, contribuíram para a campanha que apresentava os conselheiristas como elementos de desordem e de retrocesso e representavam a instituição republicana como o fundamento da constituição do Brasil em uma nação moderna, promotora da ordem e do progresso e, sobretudo, civilizada. Para isso, analisamos textos que circularam no jornal O Estado de S. Paulo, apresentando os discursos científicos e cientificistas os quais visavam representar e interpretar a Guerra de Canudos. Há um destaque para os artigos de Euclides da Cunha, publicados sob o título de Diario de uma expedição. Oferecemos, também, um breve estudo da imprensa de fins do século XIX, das principais fontes dos discursos cientificistas (positivismo e evolucionismos) e do papel da ciência no contexto de modernização do Brasil. A situação do sertão, onde houve secas devastadoras, movimentos messiânicos e resistência à ordem social e moral imposta pelas elites locais, também é apresentada. Os principais resultados deste trabalho identificam o uso de discursos científicos e cientificistas em notícias, reportagens e artigos publicados na imprensa, que contribuíram para a construção da opinião pública que se posicionou, de modo geral, em favor do governo republicano e contra os sertanejos |
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Desordem e retrocesso: os discursos científicos e cientificistas acerca da Guerra de Canudos na imprensaDisorder and regress: scientific and scientistic discourses about the Canudos War on the periodical pressCanudos WarDiscursos científicos e cientificistasGuerra de CanudosImprensaPeriodical pressScientific and scientistic discoursesA Guerra de Canudos ocorreu no sertão baiano, entre novembro de 1896 e outubro de 1897, figurando como um dos episódios mais sangrentos da história do Brasil. Ao mesmo tempo em que se desenrolava a tragédia, o País estava se urbanizando, industrializando-se, e, em certo sentido, modernizando-se. Interessava às elites que o Brasil adentrasse o quanto antes no que viam como a marcha do progresso e se configurasse como nação moderna, com uma identidade assentada em valores ocidentais. A comunidade de Canudos, percebida na contramão desses valores, significava uma ameaça ao poder local e ao poder republicano. Essa cidadela se organizava a partir de uma divisão social do trabalho que não se baseava na exploração. Também, esses sertanejos praticavam a religião cristã reinterpretada; concebiam Antônio Conselheiro como um salvador que lhes dava esperanças de uma vida melhor na terra e nos céus. O modo de vida canudense era apresentado, nos jornais da época, como uma vergonha para a civilização e uma ameaça â nação brasileira, amplificando boatos que acusavam Canudos de ser um reduto monarquista. A reação a o Conselheiro e a seus seguidores foi tanto material quanto discursiva: foram organizadas quatro campanhas que destruíram o arraial de Canudos, e circularam na imprensa e nos espaços públicos discursos que caluniavam os sertanejos e os tratavam como bandidos, incivilizados, atrasados e retrógrados. Nossa intenção, nesta dissertação, é apresentar os discursos que possuíam uma natureza cientificista que, a partir de conceitos evolucionistas e positivistas, contribuíram para a campanha que apresentava os conselheiristas como elementos de desordem e de retrocesso e representavam a instituição republicana como o fundamento da constituição do Brasil em uma nação moderna, promotora da ordem e do progresso e, sobretudo, civilizada. Para isso, analisamos textos que circularam no jornal O Estado de S. Paulo, apresentando os discursos científicos e cientificistas os quais visavam representar e interpretar a Guerra de Canudos. Há um destaque para os artigos de Euclides da Cunha, publicados sob o título de Diario de uma expedição. Oferecemos, também, um breve estudo da imprensa de fins do século XIX, das principais fontes dos discursos cientificistas (positivismo e evolucionismos) e do papel da ciência no contexto de modernização do Brasil. A situação do sertão, onde houve secas devastadoras, movimentos messiânicos e resistência à ordem social e moral imposta pelas elites locais, também é apresentada. Os principais resultados deste trabalho identificam o uso de discursos científicos e cientificistas em notícias, reportagens e artigos publicados na imprensa, que contribuíram para a construção da opinião pública que se posicionou, de modo geral, em favor do governo republicano e contra os sertanejosThe Canudos War that happened on the hinterlands of Bahia between november 1896 and october 1897 figures as one of the bloodiest episodes of Brazilian history. While the tragedy was unfolding, the country was going through processes of urbanization, industrialization, and, in a certain sense, modernization. Elites were interested in the earliest possible take up of what they saw as the march of progress, with Brazil refashioning itself as a modern nation, with an identity grounded upon Western values. The community of Canudos was perceived as being the exact opposite of these values, and represented a threat to local and republican powers. The citadel was organized according to a social division of labor that was not based on exploitation. Also, its dwellers (the sertanejos) practiced a reinterpreted form of Christianity; they conceived of Antonio Conselheiro as a savior that gave them hopes of a better life on this earth and in heaven. The way of life of Canudos was portrayed, in contemporary newspapers, as shameful to civilization and a threat to the Brazilian nation, amplifying rumors that pointed the village as a monarchist stronghold. The reaction against Conselheiro and his followers was at once material and discursive: four military campaigns annihilated the community, and the periodical press and public spaces were filled with discourses calumnious to the sertanejos, picturing them as bandits, uncivilized, backwards and archaic. Our aim, in this dissertation, is to present discourses that possessed a scientistic nature, and which, from evolutionist and positivist standpoints, contributed to a portrait of Conselheiros followers as elements of disorder and regress, representing the republic as the cornerstone of Brazil as a modern nation, grounded on order and progress, and, above all, a civilized country. To this end, we analyze texts that circulated in the newspaper O Estado de S. Paulo, presenting the scientific and scientistic discourses that aimed at representing and interpreting the Canudos War. We highlight the pieces by Euclides da Cunha, published under the title Journal of an Expedition. We also offer cursory reports on the periodical press in the late 19th century, on the main sources of scientistic discursiveness (positivism and evolutionisms) and on the role of science in the context of Brazilian modernization. The situation of the hinterlands, with devastating droughts, messianic movements and resistance to the social and moral orders imposed by local elites is discussed as well. The main results of this research identify the use of scientific and scientistic discourses in news and articles published by the periodical press, which contributed to the consolidation of a public opinion that was generally favorable to the government and against the sertanejosBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPHaddad, Thomás Augusto SantoroRibeiro, Ester Sanches2015-10-09info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/100/100135/tde-24032016-163224/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2017-09-04T21:06:17Zoai:teses.usp.br:tde-24032016-163224Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212017-09-04T21:06:17Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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