Fogo e asfalto: insubmissões, persecuções e fantasmagorias

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Roca Vera, Andrea Soledad
Data de Publicação: 2019
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde-25112019-174327/
Resumo: Este trabalho parte de uma pergunta arriscada: por que, mesmo depois de três décadas, alguns mortos continuam a ser recordados? Tal questão nos coloca do lado das fantasmagorias e, por extensão, da política. Fogo e Asfalto é um convite a explorar a história recente chilena seguindo os rastros dos encapuchados, figura enigmática que, desde a década de 1980, assombra as ruas de Santiago. Essas figuras surgem, especialmente, em efemérides que recordam manifestantes anticapitalistas mortos na ditadura pinochetista e na pós-ditadura. Pelo anonimato e pela disposição a destruir objetos, lugares e corpos que encarnariam o Estado e o Capital, essas rebeldias são recusadas e expulsas para fora das margens da política. Nesse sentido, em vez de reduzi-los às esferas da baderna e criminalidade, interessa-me observar a resposta estatal total que suas ações geram. Arranjos de leis, táticas de policiamento, tecnologias e saberes, regimes penitenciários dedicados ao problema dessa violência chamada pela polícia e pelo Ministério Público chileno de violência antissistema, anarquista insurrecional ou, ainda, de terrorismo. Pretendo de tal modo, indagar os excessos e as ansiedades do Estado na tentativa de combater aqueles que colocam como seu inimigo principal, justamente, o próprio Estado, atacando de forma aberta e espetacular os símbolos dominantes desse inimigo. Esta tese, resultado de uma pesquisa etnográfica de mais de 4 anos, se organiza em três capítulos. Em Perseguições em Transição, analiso a empreitada política e afetiva empreendida na redemocratização, projeto orientado pela ideia da reconciliação nacional que, por sua vez, colocou como principal inimigo da nação a figura do terrorista de esquerda referindo-se àqueles que continuaram acreditando na violência como recurso na luta contra o capitalismo e contra a impunidade que protegeu aos perpetradores do terrorismo de Estado nos anos da ditadura. Em Mortos, Ruas e Encapuchados, atento para as composições espaço-temporais entre corpos, artefatos e fantasmagorias que sustentam essas rebeldias minoritárias, propondo uma leitura estética desses exercícios cinéticos de recordação no presente dos jovens combatentes mortos no passado. Junto à análise das mudanças estéticas nos embates entre mascarados e polícia, interrogo a linhagem de mortos construída tanto pelos militantes como pela polícia, isto é, as tramas entre os que hoje se recusam a abraçar a máxima da paz e das formas cívicas de participação política e os que o fizeram no passado. No último capítulo, Presxs a la kalle, exploro a experiência prisional de jovens acusados de perpetrar ataques contra os símbolos do Capital e do Estado. A partir do acompanhamento de audiências e de documentos jurídicos, analiso as materialidades e tecnologias mobilizadas como evidências que comprovariam a ideologia política dos suspeitos: DNA, confisco de livros, infiltrados da polícia no mundo off-line e online, conjunto que chamo de polícia mimética.
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Nesse sentido, em vez de reduzi-los às esferas da baderna e criminalidade, interessa-me observar a resposta estatal total que suas ações geram. Arranjos de leis, táticas de policiamento, tecnologias e saberes, regimes penitenciários dedicados ao problema dessa violência chamada pela polícia e pelo Ministério Público chileno de violência antissistema, anarquista insurrecional ou, ainda, de terrorismo. Pretendo de tal modo, indagar os excessos e as ansiedades do Estado na tentativa de combater aqueles que colocam como seu inimigo principal, justamente, o próprio Estado, atacando de forma aberta e espetacular os símbolos dominantes desse inimigo. Esta tese, resultado de uma pesquisa etnográfica de mais de 4 anos, se organiza em três capítulos. Em Perseguições em Transição, analiso a empreitada política e afetiva empreendida na redemocratização, projeto orientado pela ideia da reconciliação nacional que, por sua vez, colocou como principal inimigo da nação a figura do terrorista de esquerda referindo-se àqueles que continuaram acreditando na violência como recurso na luta contra o capitalismo e contra a impunidade que protegeu aos perpetradores do terrorismo de Estado nos anos da ditadura. Em Mortos, Ruas e Encapuchados, atento para as composições espaço-temporais entre corpos, artefatos e fantasmagorias que sustentam essas rebeldias minoritárias, propondo uma leitura estética desses exercícios cinéticos de recordação no presente dos jovens combatentes mortos no passado. Junto à análise das mudanças estéticas nos embates entre mascarados e polícia, interrogo a linhagem de mortos construída tanto pelos militantes como pela polícia, isto é, as tramas entre os que hoje se recusam a abraçar a máxima da paz e das formas cívicas de participação política e os que o fizeram no passado. No último capítulo, Presxs a la kalle, exploro a experiência prisional de jovens acusados de perpetrar ataques contra os símbolos do Capital e do Estado. A partir do acompanhamento de audiências e de documentos jurídicos, analiso as materialidades e tecnologias mobilizadas como evidências que comprovariam a ideologia política dos suspeitos: DNA, confisco de livros, infiltrados da polícia no mundo off-line e online, conjunto que chamo de polícia mimética.This work starts from a risky question: why, even after three decades, are some deaths still remembered? This question puts us on the side of phantasmagoria and politics. Street and Fire is an invitation to explore Chilean recent history by following the traces of encapuchados, masked enigmatic figures that haunt the streets of Santiago since the 1980s. These figures appear especially in ephemera that recall anti-capitalist protesters killed during the Pinochet dictatorship and in the post-dictatorship period. Because of their anonymity and drive to destroy objects, places, and bodies that symbolize Capital and the State, these dissents are rejected and pushed beyond the margins of politics. In this way, instead of reducing them to the spheres of turmoil and criminality, I am interested in observing the total state response that their actions generate. I investigate law arrangements, policing tactics, knowledges and technologies, and penitentiary regimes dedicated to the problem of this violence which is called by the Chilean police and National Prosecutor\'s office as anti-system, insurrectional anarchism, or even terrorism. I thus intend to examine the excesses and anxieties of the State in its attempt to fight those who see it as their main enemy and openly and spectacularly attack the States dominant symbols. This thesis, which results from more than 4 years of ethnographic research, is organized in three chapters. In Persecutions in Transition, I analyze the political and affective endeavor undertaken in redemocratization. I discuss redemocratization as a project driven by the idea of national reconciliation that placed the leftist terrorist as the main enemy of the nation - referring to those who continued to believe in violence as a resource in the struggle against capitalism and against the impunity that protected the perpetrators of state terrorism during the dictatorship. In Dead, Streets, and the Hooded Ones, I focus on the spatiotemporal compositions of bodies, artifacts, and phantasmagoria that support these minor insurgencies, proposing an aesthetic analysis of the kinetic exercises of present remembrance of young fighters killed in the past. Along with the analysis of the aesthetic changes in the clashes between the masked and the police, I examine the genealogy of the dead constructed by both the militants and the police, investigating the plots between those who refuse to embrace peacefulness and civic forms of political participation today and those who have done so in the past. In the last chapter, Free all Political Prisoners, I explore the prison experience of young people accused of perpetrating attacks against symbols of Capital and the State. Drawing on court hearings and documents, I analyze the materialities and technologies mobilized as evidence in proving the suspects ideology: DNA, confiscated books, and online and offline police infiltration, which I call mimetic police.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPTelles, Vera da SilvaRoca Vera, Andrea Soledad2019-09-24info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde-25112019-174327/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2019-11-29T22:54:02Zoai:teses.usp.br:tde-25112019-174327Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212019-11-29T22:54:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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