Agravos à saúde mental dos homens envolvidos em situações de violência
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2012 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5137/tde-03092012-100819/ |
Resumo: | Há poucos estudos sobre saúde mental masculina, em especial quando a temática é a violência. Os trabalhos sobre homens e violência sofrida destacam eventos fatais, oferecendo pouca visibilidade à violência não fatal. No presente estudo, analisou-se a associação entre esses dois eventos, cuja relação é pouco explorada. Metodologicamente, realizou-se um estudo transversal, com 477 usuários masculinos de serviços de atenção primária, de 18 a 60 anos. A seleção amostral foi do tipo consecutivo, por ordem de chegada em dois serviços de atenção primária na cidade de São Paulo. Foram coletadas características sócio-demográficas, de saúde e relatos de experiência de violência sofrida ao longo da vida (adulta, na adolescência e/ou na infância) e de violência testemunhada na infância. Também foram coletadas informações sobre uso do serviço de saúde mental e/ou queixas/diagnósticos psicológicos em consulta da clínica médica, por meio de leitura de prontuários médicos, para categorização da variável dependente sofrimento mental. As variáveis foram descritas por frequências e proporções, apresentando 29,4% (140) de homens com sofrimento mental. Dentre esses homens, 45,7% sofreram violência física e/ou sexual mais de uma vez na vida. Em relação à violência sofrida na infância e/ou adolescência, metade dos homens com sofrimento mental havia tido algum episódio de violência psicológica, física e/ou sexual antes dos 18 anos. E 61,4% dos homens haviam perpetrado algum tipo de violência além de sofrê-la durante a vida. Por meio de análise multivariada desenvolveram-se três modelos de Poisson com variância robusta do tipo confirmatório, ajustados pelas variáveis sócio-demográficas, testemunho de violência na infância e uso de substância psicoativa. No modelo I, sofrimento mental foi significativamente associado apenas com sofrer violência física e/ou sexual recorrente. (RP:1,75; IC95%:1,13-2,72), já que a violência em episódio único perdeu a significância após a inclusão da variável de uso de substância psicoativa. No modelo II, o mesmo desfecho esteve associado a sofrer violência antes dos 18 anos, sendo que sofrer violência na infância e/ou adolescência aumenta o risco de sofrimento mental na vida adulta em 1,93 vezes (IC95% 1,25-3,00), e sofrer qualquer tipo de violência apenas na vida adulta não se mostrou associado a sofrimento mental. No modelo III, a exposição a sofrer e perpetrar violência foi associado a sofrimento mental, enquanto apenas sofrer ou apenas perpetrar não mostraram significância estatística. Em todos os modelos, o uso de substância psicoativa representou uma importante variável de ajuste. Conclui-se que há importante relação entre sofrimento mental e sofrer violência, e a ocorrência desses episódios nos primeiros anos de vida podem provocar agravos à saúde mental na vida adulta, chegando a ter associação com 61,4% desses agravos. Tal relação, já salientada nos estudos com mulheres, é relevante também para a saúde dos homens, chamando a atenção para a igual necessidade da identificação nos serviços de saúde de situações de violência experimentadas pela população masculina, bem como maior atenção aos agravos em saúde mental nessa população |
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Foram coletadas características sócio-demográficas, de saúde e relatos de experiência de violência sofrida ao longo da vida (adulta, na adolescência e/ou na infância) e de violência testemunhada na infância. Também foram coletadas informações sobre uso do serviço de saúde mental e/ou queixas/diagnósticos psicológicos em consulta da clínica médica, por meio de leitura de prontuários médicos, para categorização da variável dependente sofrimento mental. As variáveis foram descritas por frequências e proporções, apresentando 29,4% (140) de homens com sofrimento mental. Dentre esses homens, 45,7% sofreram violência física e/ou sexual mais de uma vez na vida. Em relação à violência sofrida na infância e/ou adolescência, metade dos homens com sofrimento mental havia tido algum episódio de violência psicológica, física e/ou sexual antes dos 18 anos. E 61,4% dos homens haviam perpetrado algum tipo de violência além de sofrê-la durante a vida. Por meio de análise multivariada desenvolveram-se três modelos de Poisson com variância robusta do tipo confirmatório, ajustados pelas variáveis sócio-demográficas, testemunho de violência na infância e uso de substância psicoativa. No modelo I, sofrimento mental foi significativamente associado apenas com sofrer violência física e/ou sexual recorrente. (RP:1,75; IC95%:1,13-2,72), já que a violência em episódio único perdeu a significância após a inclusão da variável de uso de substância psicoativa. No modelo II, o mesmo desfecho esteve associado a sofrer violência antes dos 18 anos, sendo que sofrer violência na infância e/ou adolescência aumenta o risco de sofrimento mental na vida adulta em 1,93 vezes (IC95% 1,25-3,00), e sofrer qualquer tipo de violência apenas na vida adulta não se mostrou associado a sofrimento mental. No modelo III, a exposição a sofrer e perpetrar violência foi associado a sofrimento mental, enquanto apenas sofrer ou apenas perpetrar não mostraram significância estatística. Em todos os modelos, o uso de substância psicoativa representou uma importante variável de ajuste. Conclui-se que há importante relação entre sofrimento mental e sofrer violência, e a ocorrência desses episódios nos primeiros anos de vida podem provocar agravos à saúde mental na vida adulta, chegando a ter associação com 61,4% desses agravos. Tal relação, já salientada nos estudos com mulheres, é relevante também para a saúde dos homens, chamando a atenção para a igual necessidade da identificação nos serviços de saúde de situações de violência experimentadas pela população masculina, bem como maior atenção aos agravos em saúde mental nessa populaçãoThere are few studies about mens mental health, particularly when the theme is violence. The studies on men and suffered violence highlight fatal events, providing poor visibility to non-fatal violence. In this study, it was analyzed the association between these two events, which relation is little explored. It was performed methodologically a cross sectional study, with 477 men using primary care services, aged from 18 to 60 years. The screening was consecutive, in order of arrival in two primary care services in the city of São Paulo. Social-demographic, health characteristics and reports of experience of violence suffered over lifetime (adult life, adolescence and/or childhood) and of violence witnessed during childhood were collected. It was also collected information on the usage of mental health service and/or psychological complaints/diagnoses during consultation at medical clinics by reading medical records, for categorization of the dependent variable mental suffering. The variables were described per frequency and proportions, showing 29.4% (140) of men with mental suffering. Among these men, 45.7% have suffered physical and/or sexual violence more than once in life. Regarding the violence suffered during childhood and/or adolescence, half of the men showing mental suffering had suffered some episode of psychological, physical and/or sexual violence before the 18 years of age. And 61.4% of them had perpetrated some type of violence besides suffering it during lifetime. Using multivariate analysis, three confirmatory Poisson models with robust variance of were developed, adjusted by variables of social-demographic, witness of violence during childhood and usage of psychoactive substance. In the Model I, mental suffering was significantly associated only to suffering recurrent physical and/or sexual violence. (PR:1.75;95%CI:1.13-2.72), since violence in only episode lost significance after inclusion of the variable of psychoactive substance usage. In the Model II, the same outcome had been associated to suffering violence before the 18 years of age, considering that suffering violence during childhood and/or adolescence increases the risk of mental suffering in adult life by 1.93 times, (95%CI:1.25-3.00), and suffering any type of violence only in the adult life was not observed to be associated to mental suffering. In the Model III, suffering and perpetrating violence was associated to mental suffering, while suffering only or perpetrating only did not show statistical significance. In all the models, psychoactive substance usage represented an important adjustment variable. This study came to the conclusion that there is an important relation between mental suffering and suffering violence, and the occurrence of these episodes during the early years of life can cause adverse effects to mental health in adult life, being associated to up to 61,4% of these aggravations. Such relation, already highlighted in studies with women, is also relevant for mens health, drawing attention to the similar need of identification in the health services for situations of violence experimented by the male population, as well as greater attention to the aggravations on mental health in such populationBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPSchraiber, Lilia BlimaAlbuquerque, Fernando Pessoa de2012-06-27info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5137/tde-03092012-100819/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2024-08-07T12:45:02Zoai:teses.usp.br:tde-03092012-100819Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212024-08-07T12:45:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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Há poucos estudos sobre saúde mental masculina, em especial quando a temática é a violência. Os trabalhos sobre homens e violência sofrida destacam eventos fatais, oferecendo pouca visibilidade à violência não fatal. No presente estudo, analisou-se a associação entre esses dois eventos, cuja relação é pouco explorada. Metodologicamente, realizou-se um estudo transversal, com 477 usuários masculinos de serviços de atenção primária, de 18 a 60 anos. A seleção amostral foi do tipo consecutivo, por ordem de chegada em dois serviços de atenção primária na cidade de São Paulo. Foram coletadas características sócio-demográficas, de saúde e relatos de experiência de violência sofrida ao longo da vida (adulta, na adolescência e/ou na infância) e de violência testemunhada na infância. Também foram coletadas informações sobre uso do serviço de saúde mental e/ou queixas/diagnósticos psicológicos em consulta da clínica médica, por meio de leitura de prontuários médicos, para categorização da variável dependente sofrimento mental. As variáveis foram descritas por frequências e proporções, apresentando 29,4% (140) de homens com sofrimento mental. Dentre esses homens, 45,7% sofreram violência física e/ou sexual mais de uma vez na vida. Em relação à violência sofrida na infância e/ou adolescência, metade dos homens com sofrimento mental havia tido algum episódio de violência psicológica, física e/ou sexual antes dos 18 anos. E 61,4% dos homens haviam perpetrado algum tipo de violência além de sofrê-la durante a vida. Por meio de análise multivariada desenvolveram-se três modelos de Poisson com variância robusta do tipo confirmatório, ajustados pelas variáveis sócio-demográficas, testemunho de violência na infância e uso de substância psicoativa. No modelo I, sofrimento mental foi significativamente associado apenas com sofrer violência física e/ou sexual recorrente. (RP:1,75; IC95%:1,13-2,72), já que a violência em episódio único perdeu a significância após a inclusão da variável de uso de substância psicoativa. No modelo II, o mesmo desfecho esteve associado a sofrer violência antes dos 18 anos, sendo que sofrer violência na infância e/ou adolescência aumenta o risco de sofrimento mental na vida adulta em 1,93 vezes (IC95% 1,25-3,00), e sofrer qualquer tipo de violência apenas na vida adulta não se mostrou associado a sofrimento mental. No modelo III, a exposição a sofrer e perpetrar violência foi associado a sofrimento mental, enquanto apenas sofrer ou apenas perpetrar não mostraram significância estatística. Em todos os modelos, o uso de substância psicoativa representou uma importante variável de ajuste. Conclui-se que há importante relação entre sofrimento mental e sofrer violência, e a ocorrência desses episódios nos primeiros anos de vida podem provocar agravos à saúde mental na vida adulta, chegando a ter associação com 61,4% desses agravos. Tal relação, já salientada nos estudos com mulheres, é relevante também para a saúde dos homens, chamando a atenção para a igual necessidade da identificação nos serviços de saúde de situações de violência experimentadas pela população masculina, bem como maior atenção aos agravos em saúde mental nessa população |
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