Do potencial andrógino da sexualidade à androginia da mente? Reflexões a partir do conceito de bissexualidade psíquica
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2022 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-17012023-114019/ |
Resumo: | Esta pesquisa insere-se na interface da metapsicologia, da clínica e das discussões contemporâneas acerca da identidade de gênero. Partimos do pressuposto de que o conceito freudiano de bissexualidade psíquica, uma vez que resguarda um potencial polimorfo da sexualidade, revela-se essencial para pensar a complexidade da sexualidade humana. Nesse sentido, buscamos responder à seguinte pergunta: feminilidade e masculinidade, essas duas vertentes indissociáveis da bissexualidade que se apresentam como qualidades psíquicas ou posições mentais, seriam componentes de um potencial polimorfo da sexualidade? Para responder a essa questão, orientamo-nos, sobretudo, pela teorização de Freud sobre a noção de bissexualidade psíquica, construída em seus diálogos com Fliess. A percepção freudiana de que feminino e masculino são dimensões confusas (1905), de conteúdo incerto (1925) para além da anatomia e da convenção (1933) e, portanto, atreladas a construções sociais, revelam como, já em Freud, germinava a discussão de que há uma demanda cultural nos corpos construídos de maneira binária. Nesse sentido, o conceito de bissexualidade psíquica pode não só nos ajudar a ir ao cerne das categorias de feminilidade e masculinidade de modo a tratá-las para além da lógica binária castrado/não castrado, como também representar mais uma das revoluções freudianas, uma vez que, quando se trata de uma bissexualidade integrada, essa noção se revela como um conceito rico e fértil para pensar um potencial andrógino da sexualidade, fluido, menos engessado do que as composições binárias com as quais, culturalmente, passamos a normatizar a sexualidade. O potencial subjacente à teoria freudiana da bissexualidade psíquica ganha luz ao nos depararmos com a psicanalista contemporânea Dianne Elise (2019) e sua aposta de que a díade feminilidade/passividademasculinidade/atividade deve dar lugar à dupla penetrantepenetrado, reveladora do movimento de interpenetrabilidade entre corpos e mentes. A fim de evidenciar a riqueza da noção de bissexualidade, nos acompanham outros autores que fazem um resgate e, por que não, uma renovação? do pensamento psicanalítico da pulsão polimorfa, alguns fazendo referência direta ao conceito de bissexualidade psíquica, são eles: Joyce McDougall, André Green, Jacqueline Godfrind e Paulo de Carvalho Ribeiro. Ancorados também em Wilfred Bion e seus conceitos de continente/contido, acreditamos que o conceito de bissexualidade psíquica transcende a discussão a respeito da noção de gênero, podendo alcançar outras dimensões: o encontro entre as mentes e o funcionamento bissexual da mente teríamos, por assim dizer, uma mente andrógina em busca constante de expansão no encontro com a alteridade |
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Do potencial andrógino da sexualidade à androginia da mente? Reflexões a partir do conceito de bissexualidade psíquicaFrom the androgynous potential of sexuality to the androgyny of the mind reflections from the concept of psychic bisexualityBissexualidade psíquicaContainer/containedContinente/contidoFeminilidade/masculinidadeFemininity/masculinityPenetrante/penetradoPenetrating/penetratedPsychic bisexualityEsta pesquisa insere-se na interface da metapsicologia, da clínica e das discussões contemporâneas acerca da identidade de gênero. Partimos do pressuposto de que o conceito freudiano de bissexualidade psíquica, uma vez que resguarda um potencial polimorfo da sexualidade, revela-se essencial para pensar a complexidade da sexualidade humana. Nesse sentido, buscamos responder à seguinte pergunta: feminilidade e masculinidade, essas duas vertentes indissociáveis da bissexualidade que se apresentam como qualidades psíquicas ou posições mentais, seriam componentes de um potencial polimorfo da sexualidade? Para responder a essa questão, orientamo-nos, sobretudo, pela teorização de Freud sobre a noção de bissexualidade psíquica, construída em seus diálogos com Fliess. A percepção freudiana de que feminino e masculino são dimensões confusas (1905), de conteúdo incerto (1925) para além da anatomia e da convenção (1933) e, portanto, atreladas a construções sociais, revelam como, já em Freud, germinava a discussão de que há uma demanda cultural nos corpos construídos de maneira binária. Nesse sentido, o conceito de bissexualidade psíquica pode não só nos ajudar a ir ao cerne das categorias de feminilidade e masculinidade de modo a tratá-las para além da lógica binária castrado/não castrado, como também representar mais uma das revoluções freudianas, uma vez que, quando se trata de uma bissexualidade integrada, essa noção se revela como um conceito rico e fértil para pensar um potencial andrógino da sexualidade, fluido, menos engessado do que as composições binárias com as quais, culturalmente, passamos a normatizar a sexualidade. O potencial subjacente à teoria freudiana da bissexualidade psíquica ganha luz ao nos depararmos com a psicanalista contemporânea Dianne Elise (2019) e sua aposta de que a díade feminilidade/passividademasculinidade/atividade deve dar lugar à dupla penetrantepenetrado, reveladora do movimento de interpenetrabilidade entre corpos e mentes. A fim de evidenciar a riqueza da noção de bissexualidade, nos acompanham outros autores que fazem um resgate e, por que não, uma renovação? do pensamento psicanalítico da pulsão polimorfa, alguns fazendo referência direta ao conceito de bissexualidade psíquica, são eles: Joyce McDougall, André Green, Jacqueline Godfrind e Paulo de Carvalho Ribeiro. Ancorados também em Wilfred Bion e seus conceitos de continente/contido, acreditamos que o conceito de bissexualidade psíquica transcende a discussão a respeito da noção de gênero, podendo alcançar outras dimensões: o encontro entre as mentes e o funcionamento bissexual da mente teríamos, por assim dizer, uma mente andrógina em busca constante de expansão no encontro com a alteridadeThis research is placed within the interface of metapsychology, clinical practice and contemporary discussions about gender identity. We start from the assumption that the Freudian concept of psychic bisexuality, once it holds a polymorphic potential for sexuality, shows itself essential to think the complexity of human sexuality. In this sense, we seek to answer the following question: would femininity and masculinity, known as two inseparable aspects of bisexuality which appear as psychic qualities or mental positions, be components of a polymorphic potential of sexuality? To answer this question, we are guided, above all, by Freuds theorization on the notion of psychic bisexuality, developed in his dialogues with Fliess. The Freudian perception that feminine and masculine are confused dimensions (1905), of uncertain content (1925) which goes beyond anatomy and convention (1933) and, therefore, linked to social constructions, reveals how, since Freud, a discussion germinates on the fact that there is a cultural demand on bodies constructed in a binary way. In this sense, the concept of psychic bisexuality may not only help us to go to the core of femininity and masculinity categories in order to treat them beyond a castrated/uncastrated binary logic, but also to represent one more of the Freudian revolutions, since, when it concerns an integrated bisexuality, this notion reveals itself as a rich and fertile concept to conceive an androgynous, fluid and less plastered potential of sexuality in comparison to the binary compositions with which, culturally, we come to normalize sexuality. The potential underlying the Freudian theory of psychic bisexuality is given new light when we come across Dianne Elise (2019), a contemporary psychoanalyst whose bet is that the femininity/passivity-masculinity/activity dyad should give way to the penetrating-penetrated duo, revealing the movement of interpenetrability between bodies and minds. In order to reveal how rich the notion of bisexuality is, we are joined by other authors who rescue - and perhaps renew? psychoanalytic thought of the polymorphous drive, some making direct reference to the concept of psychic bisexuality, namely: Joyce McDougall, André Green, Jacqueline Godfrind and Paulo de Carvalho Ribeiro. Being also anchored in Wilfred Bion and his concepts of container/contained, we believe that the concept of psychic bisexuality transcends the discussion on the notion of gender and may reach other dimensions, such as: the encounter between minds as well as the minds bisexual functioning we would have, so to speak, an androgynous mind in constant search for expansion through the encounter with othernessBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPRibeiro, Marina Ferreira da RosaMacedo, Gabriela Lara da Cruz Lucas2022-11-04info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-17012023-114019/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2023-01-26T14:12:21Zoai:teses.usp.br:tde-17012023-114019Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-01-26T14:12:21Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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