Emancipação e educação na filosofia de Rancière: encontros e contradições

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Waks, Jonas Tabacof
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48135/tde-22022024-090234/
Resumo: Há encontros inesperados que mudam para sempre não apenas um ou outro de nossos pensamentos, mas nosso olhar sobre o mundo e nossa ideia do que significa pensar, afirma o filósofo Jacques Rancière. Foi o caso, para ele, de seus encontros com os escritos do professor Joseph Jacotot e do marceneiro Gabriel Gauny, em seu mergulho em arquivos do século XIX, que transformaram sua maneira de conceber a emancipação intelectual e operária. Nesta tese, investigamos a fecundidade das reflexões sobre a emancipação que emergem desses encontros para a discussão em torno dos potenciais emancipatórios dos processos de escolarização. Esta questão, central para a filosofia da educação, ganha novos contornos com a contribuição original de Rancière. Na primeira parte, intitulada Saber, analisamos a provocante fórmula da emancipação intelectual de Jacotot (\"todas as inteligências são iguais\"), a polêmica que ela suscitou em seu tempo e suas implicações políticas e filosóficas para o presente, inclusive para a crítica do colonialismo e do racismo. Investigamos, também, o modo como a retomada de Jacotot por Rancière em O mestre ignorante pode ser vista como o ponto de chegada de seu movimento de ruptura com Althusser, iniciado em maio de 1968, e os efeitos que a obra teve no campo pedagógico, destacando a contradição existente entre a lógica explicadora da pedagogia e a lógica da emancipação intelectual proposta por Jacotot. Na segunda parte, Tempo, discutimos a conquista de tempo livre e a desidentificação de papeis sociais que Gauny e seus camaradas realizaram ao ocupar com literatura e filosofia o tempo supostamente destinado ao descanso, como se lê nas páginas de A noite dos proletários. Estudamos também as críticas que Rancière dirige a Platão e a Bourdieu, vistos como solidários com a \"ordem da cidade\" que mantém cada um em seu \"lugar próprio\". Abordamos, ainda, a noção de forma-escola, concebida no artigo \"Escola, produção, igualdade\" como separação do universo da produção e como oferecimento de tempo livre (skholé), e os sentidos em que a instituição pode ser considerada contraditória. No cruzamento entre essas duas dimensões, do Saber e do Tempo, investigamos a possibilidade de irrupção de cenas de emancipação escolar, que se apresentam como formas dissensuais de verificação em ato da igualdade dos seres falantes, como suspensões da ordem normal do tempo e como gestos de desidentificação em relação aos modos de existência considerados próprios a cada um na partilha do sensível. Nas considerações finais, propomos uma reflexão sobre a atualidade educacional brasileira, a partir do relato de uma professora e à luz do percurso da tese.
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Esta questão, central para a filosofia da educação, ganha novos contornos com a contribuição original de Rancière. Na primeira parte, intitulada Saber, analisamos a provocante fórmula da emancipação intelectual de Jacotot (\"todas as inteligências são iguais\"), a polêmica que ela suscitou em seu tempo e suas implicações políticas e filosóficas para o presente, inclusive para a crítica do colonialismo e do racismo. Investigamos, também, o modo como a retomada de Jacotot por Rancière em O mestre ignorante pode ser vista como o ponto de chegada de seu movimento de ruptura com Althusser, iniciado em maio de 1968, e os efeitos que a obra teve no campo pedagógico, destacando a contradição existente entre a lógica explicadora da pedagogia e a lógica da emancipação intelectual proposta por Jacotot. Na segunda parte, Tempo, discutimos a conquista de tempo livre e a desidentificação de papeis sociais que Gauny e seus camaradas realizaram ao ocupar com literatura e filosofia o tempo supostamente destinado ao descanso, como se lê nas páginas de A noite dos proletários. Estudamos também as críticas que Rancière dirige a Platão e a Bourdieu, vistos como solidários com a \"ordem da cidade\" que mantém cada um em seu \"lugar próprio\". Abordamos, ainda, a noção de forma-escola, concebida no artigo \"Escola, produção, igualdade\" como separação do universo da produção e como oferecimento de tempo livre (skholé), e os sentidos em que a instituição pode ser considerada contraditória. No cruzamento entre essas duas dimensões, do Saber e do Tempo, investigamos a possibilidade de irrupção de cenas de emancipação escolar, que se apresentam como formas dissensuais de verificação em ato da igualdade dos seres falantes, como suspensões da ordem normal do tempo e como gestos de desidentificação em relação aos modos de existência considerados próprios a cada um na partilha do sensível. Nas considerações finais, propomos uma reflexão sobre a atualidade educacional brasileira, a partir do relato de uma professora e à luz do percurso da tese.There are unexpected encounters that change forever not just one or another of our thoughts, but our view of the world and our idea of what it means to think, says philosopher Jacques Rancière. This was the case, for him, with his encounters with the writings of professor Joseph Jacotot and carpenter Gabriel Gauny, in his explorations of 19th-century\'s archives, which transformed his way of conceiving intellectual and workers\' emancipation. In this thesis, we investigate the fruitfulness of the reflections on emancipation that emerge from these encounters for the discussion concerning the emancipatory potential of schooling processes. This question, central to the philosophy of education, takes on new dimensions with Rancière\'s original contribution. In the first part, entitled Knowledge, we analyze Jacotot\'s provocative formula for intellectual emancipation (\"all intelligences are equal\"), the controversy it aroused in its time and its political and philosophical implications for the present, including for the critique of colonialism and racism. We also investigate how Rancière\'s return to Jacotot in The Ignorant Schoolmaster can be seen as the culmination of his movement to break with Althusser, which began in May 1968, and the effects this work had on the educational field, highlighting the contradiction between the explanatory logic of pedagogy and the logic of intellectual emancipation proposed by Jacotot. In the second part, Time, we discuss the conquest of free time and the disidentification from social roles that Gauny and his comrades achieved by occupying the time supposedly designated for rest with literature and philosophy, as seen in The Nights of Labour. We also examine Rancière\'s critics of Plato and Bourdieu, who are read as sympathetic to the \"order of the city\" that keeps people in their \"proper place\". We address, in addition, the notion of school-form, conceived in the article \"School, production, equality\" as separation from the world of production and as the offering of free time (skholé), and the ways in which the institution can be considered contradictory. At the intersection of these two dimensions, Knowledge and Time, we investigate the possibility of the eruption of scenes of school emancipation, that present itselves as dissensual forms of verification in act of the equality of speaking beings, as suspensions of the normal order of time and as gestures of disidentification in relation to the modes of existence considered proper to each one in the distribution of the sensible. In our final remarks, we propose a reflection on the current state of Brazilian education, based on a teacher\'s narrative and considering the path taken in the thesis.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPCarvalho, José Sergio Fonseca deWaks, Jonas Tabacof2023-11-29info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48135/tde-22022024-090234/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPReter o conteúdo por motivos de patente, publicação e/ou direitos autoriais.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2024-03-06T14:32:08Zoai:teses.usp.br:tde-22022024-090234Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212024-03-06T14:32:08Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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