Prudência e jurisprudência: a função do conselho filosófico-político-moral na Espanha do século XVII. Epigramas funerários de gênero admirabile vel turpe e sonetos de Francisco de Quevedo e Luís de Góngora

• Autor(a) principal: Silva, Ana Paula
• Data de Publicação: 2021
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
• Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8145/tde-27122021-183324/
• topic: Encômio fúnebre; Epidictic genre; Exemplum; Exemplum; Funeral address; Gênero epidítico; Góngora; Góngora; Quevedo; Quevedo; Retórica; Rhetoric

Esta investigação tem dois objetivos inter-relacionados. O primeiro deles estrutura-se como análise e demonstração dos preceitos utilizados por Luís de Góngora e Francisco de Quevedo para elaborar alguns discursos cuja finalidade principal é a exortação, de modo verossímil, das virtudes morais de um destinatário. No discurso poético, a aplicação do conceito de verossimilhança é norma, já que a persona que o poeta instaura para falar por si não tem o compromisso de dizer a verdade, como ensina Aristóteles em sua Poética, mas o de deleitar com a semelhança da verdade. A arte poética não o torna versado sobre os preceitos da persuasão com o verossímil, nem sobre a elaboração dos discursos de gênero epidítico. Desta maneira, os preceitos da oratória, adaptados para o discurso em verso (ou discurso poético) são essenciais para formulação de um discurso epidítico que torne adequado (aptum) todo o plano do discurso (ductus) ao destinatário, à circunstância e ao público. Como epigrama para um defunto de linhagem, faz-se obrigatório encontrar na copia rerum os pensamentos abstratos (quaestio infinita), para servir de suporte à invenção do conceito poético. A disposição (dispositio) dos conceitos, com habilidade (aptum), serve para ordenar os argumentos escolhidos (dispositio) e, por meio da expressão ornada, concretizar o ato do bene dicere, aplicando os loci para, já com a particularização de quaestio finita, elevar o nome dos destinatários ao rol dos exempla históricos. O procedimento discursivo revela não apenas a mensagem formulada, mas também a forma de estilo predominante de cada autor, como ensina Hermógenes em seu tratado Sobre las formas de estilo. Além disso, ultrapassa os moldes da exaltação em si, como panegírico, tornando-se um procedimento de admoestação prudente, adequado aos diversos tipos de audiência, composta de sujeitos discretos e vulgares. Assim, feita a análise dos elementos da invenção, da disposição e da composição e, principalmente, a elucidação dos artifícios elocutivos, responsáveis pelos efeitos do discurso nos ouvintes, não apenas para deleitar e ensinar como propósito essencial do panegírico, o segundo objetivo desta tese é demonstrar como a aplicação prática dos argumentos nos discursos serve para aconselhar sobre a correção dos costumes e o repúdio aos vícios, já que os loci ou pensamentos, procedentes de várias disciplinas contemplativas, como a filosofia moral e a teologia, são aplicados como uma pedagogia teológica, ética, política e jurídica. Cada um dos argumentos, mais claros (perspicuitas) ou mais sutis (acutum), atinge os membros do corpo místico do Estado espanhol com eficácia distinta, como o exemplo da pintura horaciana: para os mais vulgares, os argumentos mais óbvios, principalmente de ética moral e teológica; para os mais discretos, os mais polêmicos, de procedência teológico-política e jurídica, bem como, o eficaz mas, condenável, meio de conseguir os objetivos na Corte: a bajulação movida pela inveja e a traição.