Trabalhadores adolescentes do sexo masculino: família, trabalho, escola, violência
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2006 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59137/tde-07022007-162314/ |
Resumo: | Este projeto de pesquisa teve como objetivo examinar as formas de sociabilidade que adolescentes do sexo masculino vivem na família, no trabalho e na escola e o modo como convivem com a violência presente nos bairros onde residem. Procurou-se ainda examinar quais os projetos de vida que os adolescentes organizam para o futuro, considerando a precariedade das condições materiais em que vivem. Os sujeitos da pesquisa foram dez adolescentes do sexo masculino, na faixa etária entre 16 e 18 anos incompletos, freqüentando o ensino médio em uma escola pública estadual no período noturno, inseridos no mercado de trabalho, de modo formal ou informal, e integrantes de famílias de camadas populares de Ribeirão Preto/SP. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas individuais, gravadas e transcritas na íntegra, com roteiro temático elaborado a partir dos diversos aspectos que a pesquisa pretendia examinar. Outro instrumento utilizado para a coleta de dados foi o registro em diário de campo de observações resultantes do contato com os sujeitos em algumas situações na escola e durante as entrevistas. A análise dos dados foi realizada utilizando os referenciais teóricos da antropologia. Os resultados mostraram que os relacionamentos estabelecidos pelos sujeitos com os diferentes ambientes socializatórios tendiam a incutir neles valores como o envolvimento com o trabalho e a honestidade. Nas relações com as famílias, especialmente com os pais, esses valores foram transmitidos tanto por meio de conselhos e orientações mais diretas quanto por modelos de conduta que eram oferecidos como exemplos parentais a serem seguidos pelos filhos. O ingresso no mercado de trabalho, mesmo que não tenha sido totalmente uma resolução dos pais, foi aprovado e encorajado por eles. Por outro lado, os sujeitos inclinavam-se a atribuir esse ingresso mais a uma busca por maior maturidade e autonomia em relação aos genitores. Mesmo que seja uma maturidade relativa e parcial, os sujeitos consideraram que deixaram de ser ?moleques? desde que começaram a trabalhar. A identidade de trabalhador que suas ocupações lhes conferiram se sobrepõe às demais, como a de estudante. Assim, justificaram a freqüência à escola mais ao desejo de conseguirem melhores empregos por meio da escolarização de ensino médio. A indisciplina escolar, considerada comportamento infantil, e a prática de crimes e delitos não foram avaliados como condutas condizentes com a identidade que procuravam estabelecer. Os relacionamentos com os pares, dentro e fora da escola, também foram organizados a partir da identidade de trabalhador, uma vez que os sujeitos procuravam diferenciar-se de alunos indisciplinados, de pessoas que faziam uso de drogas, ou que supunham ter envolvimento com a criminalidade. A violência que os sujeitos descreveram é relacionada à criminalidade urbana, que além dos riscos concretos que pode trazer, também é passível de contaminar a identidade dos sujeitos, que compartilhavam, nos bairros em que viviam, os mesmos espaços com criminosos. A pobreza pode conferir uma identidade negativa aos sujeitos, tanto pela precariedade material que ela acarreta para suas condições de vida, quanto pela exposição à violência, igualando trabalhadores pobres e bandidos. Em seus projetos para o futuro, os sujeitos expressaram o desejo de conquistar condições de vida mais tranqüilas, menos sujeitas à instabilidade que as atuais, marcadas pela pobreza. Por outro lado, essa instabilidade pode também ser atribuída à adolescência, fase na qual os sujeitos viviam, quando os projetos de futuro ainda não eram percebidos de modo claro e o presente podia ser visto como algo transitório. |
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Trabalhadores adolescentes do sexo masculino: família, trabalho, escola, violênciaMale teenagem woekers: family, word school, violencecamadas popularesescolalow-income classesschoolsociabilidadesociabilityteenage workersTrabalhadores adolescentesviolenceviolênciaEste projeto de pesquisa teve como objetivo examinar as formas de sociabilidade que adolescentes do sexo masculino vivem na família, no trabalho e na escola e o modo como convivem com a violência presente nos bairros onde residem. Procurou-se ainda examinar quais os projetos de vida que os adolescentes organizam para o futuro, considerando a precariedade das condições materiais em que vivem. Os sujeitos da pesquisa foram dez adolescentes do sexo masculino, na faixa etária entre 16 e 18 anos incompletos, freqüentando o ensino médio em uma escola pública estadual no período noturno, inseridos no mercado de trabalho, de modo formal ou informal, e integrantes de famílias de camadas populares de Ribeirão Preto/SP. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas individuais, gravadas e transcritas na íntegra, com roteiro temático elaborado a partir dos diversos aspectos que a pesquisa pretendia examinar. Outro instrumento utilizado para a coleta de dados foi o registro em diário de campo de observações resultantes do contato com os sujeitos em algumas situações na escola e durante as entrevistas. A análise dos dados foi realizada utilizando os referenciais teóricos da antropologia. Os resultados mostraram que os relacionamentos estabelecidos pelos sujeitos com os diferentes ambientes socializatórios tendiam a incutir neles valores como o envolvimento com o trabalho e a honestidade. Nas relações com as famílias, especialmente com os pais, esses valores foram transmitidos tanto por meio de conselhos e orientações mais diretas quanto por modelos de conduta que eram oferecidos como exemplos parentais a serem seguidos pelos filhos. O ingresso no mercado de trabalho, mesmo que não tenha sido totalmente uma resolução dos pais, foi aprovado e encorajado por eles. Por outro lado, os sujeitos inclinavam-se a atribuir esse ingresso mais a uma busca por maior maturidade e autonomia em relação aos genitores. Mesmo que seja uma maturidade relativa e parcial, os sujeitos consideraram que deixaram de ser ?moleques? desde que começaram a trabalhar. A identidade de trabalhador que suas ocupações lhes conferiram se sobrepõe às demais, como a de estudante. Assim, justificaram a freqüência à escola mais ao desejo de conseguirem melhores empregos por meio da escolarização de ensino médio. A indisciplina escolar, considerada comportamento infantil, e a prática de crimes e delitos não foram avaliados como condutas condizentes com a identidade que procuravam estabelecer. Os relacionamentos com os pares, dentro e fora da escola, também foram organizados a partir da identidade de trabalhador, uma vez que os sujeitos procuravam diferenciar-se de alunos indisciplinados, de pessoas que faziam uso de drogas, ou que supunham ter envolvimento com a criminalidade. A violência que os sujeitos descreveram é relacionada à criminalidade urbana, que além dos riscos concretos que pode trazer, também é passível de contaminar a identidade dos sujeitos, que compartilhavam, nos bairros em que viviam, os mesmos espaços com criminosos. A pobreza pode conferir uma identidade negativa aos sujeitos, tanto pela precariedade material que ela acarreta para suas condições de vida, quanto pela exposição à violência, igualando trabalhadores pobres e bandidos. Em seus projetos para o futuro, os sujeitos expressaram o desejo de conquistar condições de vida mais tranqüilas, menos sujeitas à instabilidade que as atuais, marcadas pela pobreza. Por outro lado, essa instabilidade pode também ser atribuída à adolescência, fase na qual os sujeitos viviam, quando os projetos de futuro ainda não eram percebidos de modo claro e o presente podia ser visto como algo transitório.This research aimed to exam the forms of sociability established by male teenagers in their families, at work and school, and how they live with the violence that takes place in their neighborhoods. The projects of future they elaborate from their precarious conditions of life were also investigated. The subjects of this study were ten male teenagers, from 16 to 18 incomplete years, who were attending a public secondary school in the evening period; presently working, either legally registered or not; and from low-income class families of Ribeirão Preto/SP, Brazil. The datum collect were developed through semi-structured interviews with each subject, that were recorded and literally transcribed. The observation of the subjects at their school and during the interviews was another instrument for this research. The datum analysis was performed through the theoretic references of Anthropology. The results indicate that the relationships established by the subjects with their socialization environments tend to instill in them values such as commitment with work and honesty. In the relationships with their families, specially with the parents, these values were transmitted both through direct advises and orientations, and through models of behavior offered by the parents to their children to follow. The subjects? beginning to work, even if it wasn?t completely a decision of their parents, was approved and encouraged by them. On the other hand, the subjects tended to consider this beginning was mostly a decision of their own, seeking maturity and autonomy from their parents. The subjects mentioned that after they had begun working, they became, even if only partially, ?grown up?. The worker identity established from their jobs tend to outstand from other identities, such as the student one. So, the teenagers justify their attending to school for their desire of getting better jobs through academic qualification. Indiscipline, which is considered a children?s behavior, and crimes weren?t considered proper attitudes for the adult and worker identity that they intend to establish. The relationships with peers, from their school and neighborhoods, were also structured by this identity, once the subjects aimed to differ from ?bad? students, and from people that consumed drugs or were involved with crimes. The violence that the subjects described was connected to urban criminality, which, beyond the concrete damages it can cause, might also interfere in the identity of the subjects, once they shared the same neighborhoods with the criminals. Poverty can offer a negative identity to these teenagers, due both to the precarious conditions of life, and to the exposure to violence that equals poor workers to criminals. In their projects of future, the subjects express the desire of conquering better ways of living, at least more stable than they have in the present, marked by poverty. On the other hand, this instability may be related to the adolescence phase of development in which the subjects were, when future projects weren?t very clear to them and present was perceived as something transitory.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPRomanelli, GeraldoWatarai, Felipe2006-07-20info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59137/tde-07022007-162314/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:09:50Zoai:teses.usp.br:tde-07022007-162314Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:09:50Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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