As muitas vozes da morte: uma leitura da poesia de Ferreira Gullar

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Carlyne Cardoso de Paiva
Data de Publicação: 2009
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://doi.org/10.11606/D.8.2009.tde-24112009-104107
Resumo: Nas obras iniciais (A Luta Corporal, 1953 e O Vil Metal, 1960) de Ferreira Gullar, o tema da morte na poesia de Ferreira Gullar conflui para uma reflexão sobre a transitoriedade dos seres e objetos perante a inexorabilidade do tempo. Nos Poemas de Cordel (1962-1967) e Dentro da Noite Veloz (1975), o poeta, com vestígios de sua poesia engajada, dá voz, identidade e nome ao homem comum que vive na sociedade e conseqüentemente à morte deste homem considerado trivial pelo meio em que está inserido, remetendo-nos à maneira como o início do século XX é diagnosticado por Ariès (1977): o período em que a morte se esconde, e que ele denomina como sendo a morte invertida. Desde então a sociedade expulsa a morte dos cidadãos comuns, sobrando apenas reverências aos homens de Estado. Gullar também denuncia a falta de atenção e desvelo da sociedade para com o homem sem status social. Em sua contestação, o poeta imortaliza, nomeia e dá identidade ao cidadão anônimo, que passa a ter voz no poema. Para preservar-se de uma ameaça de aniquilação pessoal, Gullar concebe o Poema Sujo (1975), composto de memória, perda, elaboração do mundo perdido e amor à vida. A partir de então, o tema da morte passa a ser cada vez mais constante na poética de Gullar. Não somente com a ameaça da própria morte, mas com a perda concreta de amigos e familiares, essa passa a ser concebida em sua poesia, com maior intensidade e sensibilidade. Em um crescente, a morte toma forma Na Vertigem do Dia (1980) e Barulhos (1987), adquirindo maior vigor em Muitas Vozes (1999). Em Rainer Maria Rilke e a morte (2004), há um diálogo iminente entre a poética de Gullar e Rilke. Neste, a morte aparece como uma figura alegórica que está em toda a parte, seja no interior, seja no exterior do indivíduo, sempre conspirando para que o momento fatal se realize. Ela é um germe que nasce no coração do homem e que se desenvolverá no decorrer de sua existência, tomando-lhe o corpo. No tom apropriado e na medida correta, Gullar homenageia e dá voz aos conceitos rilkeanos, sem com isso ferir-se enquanto poeta. Sob o prisma conceitual do lírico alemão, concede vida singular e respeitável à suposta circunstância da morte concreta de Rilke.
id USP_1ccca66825555807cda5a6fb7c742c2b
oai_identifier_str oai:teses.usp.br:tde-24112009-104107
network_acronym_str USP
network_name_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository_id_str 2721
spelling info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesis As muitas vozes da morte: uma leitura da poesia de Ferreira Gullar The many voices of death: a reading of Ferreira Gullar\'s poetry 2009-04-17Viviana BosiMaria Julia KovacsYudith RosenbaumCarlyne Cardoso de PaivaUniversidade de São PauloLetras (Teoria Literária e Literatura Comparada)USPBR Contemporary poetry Death Ferreira Gullar Ferreira Gullar Morte Poesia contemporânea Nas obras iniciais (A Luta Corporal, 1953 e O Vil Metal, 1960) de Ferreira Gullar, o tema da morte na poesia de Ferreira Gullar conflui para uma reflexão sobre a transitoriedade dos seres e objetos perante a inexorabilidade do tempo. Nos Poemas de Cordel (1962-1967) e Dentro da Noite Veloz (1975), o poeta, com vestígios de sua poesia engajada, dá voz, identidade e nome ao homem comum que vive na sociedade e conseqüentemente à morte deste homem considerado trivial pelo meio em que está inserido, remetendo-nos à maneira como o início do século XX é diagnosticado por Ariès (1977): o período em que a morte se esconde, e que ele denomina como sendo a morte invertida. Desde então a sociedade expulsa a morte dos cidadãos comuns, sobrando apenas reverências aos homens de Estado. Gullar também denuncia a falta de atenção e desvelo da sociedade para com o homem sem status social. Em sua contestação, o poeta imortaliza, nomeia e dá identidade ao cidadão anônimo, que passa a ter voz no poema. Para preservar-se de uma ameaça de aniquilação pessoal, Gullar concebe o Poema Sujo (1975), composto de memória, perda, elaboração do mundo perdido e amor à vida. A partir de então, o tema da morte passa a ser cada vez mais constante na poética de Gullar. Não somente com a ameaça da própria morte, mas com a perda concreta de amigos e familiares, essa passa a ser concebida em sua poesia, com maior intensidade e sensibilidade. Em um crescente, a morte toma forma Na Vertigem do Dia (1980) e Barulhos (1987), adquirindo maior vigor em Muitas Vozes (1999). Em Rainer Maria Rilke e a morte (2004), há um diálogo iminente entre a poética de Gullar e Rilke. Neste, a morte aparece como uma figura alegórica que está em toda a parte, seja no interior, seja no exterior do indivíduo, sempre conspirando para que o momento fatal se realize. Ela é um germe que nasce no coração do homem e que se desenvolverá no decorrer de sua existência, tomando-lhe o corpo. No tom apropriado e na medida correta, Gullar homenageia e dá voz aos conceitos rilkeanos, sem com isso ferir-se enquanto poeta. Sob o prisma conceitual do lírico alemão, concede vida singular e respeitável à suposta circunstância da morte concreta de Rilke. In Ferreira Gullars first books (A Luta Corporal, 1953 and O Vil Metal, 1960), the issue of death converges in his poetry towards a reflection about the transitoriness of all beings and objects in view of time inexorability. In Poemas de Cordel (popular poems that first emerged in the Northeast region) (1962-1967) and Dentro da Noite Veloz (1975), the poet gives voice, identity and name to the ordinary man living in society, and consequently to this mans death, considered trivial by the environment where he is inserted. It brings the reader to the way which the beginning of the 20th. century is diagnosed by Ariès (1977): the period when death is hidden, that he calls the inverted death. Since then society evicts death images from ordinary citizens, and what is left are reverences to statesmen. Gullar also denounces societys lack of attention and zeal with regards to man with no social status. In his challenge, the poet confers immortal identity to the anonymous citizen, who takes an active voice in the poem. In order to get preserved from the threat of his personal annihilation, Gullar conceives Poema Sujo (Dirty Poem) (1975) consisting of memory, elaboration of the lost world and love for life. From then on, the subject matter of death has increasingly become more constant in Gullars poetics. Not only under the threat of his own death, but after the concrete loss of friends and family members, death started to be conceived more intensely and with more sensitivity in his poetry. Death increasingly takes shape in Na Vertigem do Dia (1980) and Barulhos (1987), and thus achieves more strength in Muitas Vozes (1999). In Rainer Maria Rilke e a morte (2004), an imminent dialogue between Gullars and Rilkes poetics is established. Death appears in this latters works as an allegoric figure which is everywhere, either inside or outside the individual, always conspiring for the fatal time to be accomplished. It is a germ which sprouts in mans heart and will grow throughout his existence, taking over his body. With an appropriate note and the right measure, Gullar pays homage and gives voice to the Rilkean concepts, without erasing his own style as a poet. Under the conceptual prism of the German lyricist, he gives singular and respectable life to Rilkes supposed death circumstance. https://doi.org/10.11606/D.8.2009.tde-24112009-104107info:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USP2023-12-21T20:05:34Zoai:teses.usp.br:tde-24112009-104107Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-12-22T13:15:51.559006Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
dc.title.pt.fl_str_mv As muitas vozes da morte: uma leitura da poesia de Ferreira Gullar
dc.title.alternative.en.fl_str_mv The many voices of death: a reading of Ferreira Gullar\'s poetry
title As muitas vozes da morte: uma leitura da poesia de Ferreira Gullar
spellingShingle As muitas vozes da morte: uma leitura da poesia de Ferreira Gullar
Carlyne Cardoso de Paiva
title_short As muitas vozes da morte: uma leitura da poesia de Ferreira Gullar
title_full As muitas vozes da morte: uma leitura da poesia de Ferreira Gullar
title_fullStr As muitas vozes da morte: uma leitura da poesia de Ferreira Gullar
title_full_unstemmed As muitas vozes da morte: uma leitura da poesia de Ferreira Gullar
title_sort As muitas vozes da morte: uma leitura da poesia de Ferreira Gullar
author Carlyne Cardoso de Paiva
author_facet Carlyne Cardoso de Paiva
author_role author
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv Viviana Bosi
dc.contributor.referee1.fl_str_mv Maria Julia Kovacs
dc.contributor.referee2.fl_str_mv Yudith Rosenbaum
dc.contributor.author.fl_str_mv Carlyne Cardoso de Paiva
contributor_str_mv Viviana Bosi
Maria Julia Kovacs
Yudith Rosenbaum
description Nas obras iniciais (A Luta Corporal, 1953 e O Vil Metal, 1960) de Ferreira Gullar, o tema da morte na poesia de Ferreira Gullar conflui para uma reflexão sobre a transitoriedade dos seres e objetos perante a inexorabilidade do tempo. Nos Poemas de Cordel (1962-1967) e Dentro da Noite Veloz (1975), o poeta, com vestígios de sua poesia engajada, dá voz, identidade e nome ao homem comum que vive na sociedade e conseqüentemente à morte deste homem considerado trivial pelo meio em que está inserido, remetendo-nos à maneira como o início do século XX é diagnosticado por Ariès (1977): o período em que a morte se esconde, e que ele denomina como sendo a morte invertida. Desde então a sociedade expulsa a morte dos cidadãos comuns, sobrando apenas reverências aos homens de Estado. Gullar também denuncia a falta de atenção e desvelo da sociedade para com o homem sem status social. Em sua contestação, o poeta imortaliza, nomeia e dá identidade ao cidadão anônimo, que passa a ter voz no poema. Para preservar-se de uma ameaça de aniquilação pessoal, Gullar concebe o Poema Sujo (1975), composto de memória, perda, elaboração do mundo perdido e amor à vida. A partir de então, o tema da morte passa a ser cada vez mais constante na poética de Gullar. Não somente com a ameaça da própria morte, mas com a perda concreta de amigos e familiares, essa passa a ser concebida em sua poesia, com maior intensidade e sensibilidade. Em um crescente, a morte toma forma Na Vertigem do Dia (1980) e Barulhos (1987), adquirindo maior vigor em Muitas Vozes (1999). Em Rainer Maria Rilke e a morte (2004), há um diálogo iminente entre a poética de Gullar e Rilke. Neste, a morte aparece como uma figura alegórica que está em toda a parte, seja no interior, seja no exterior do indivíduo, sempre conspirando para que o momento fatal se realize. Ela é um germe que nasce no coração do homem e que se desenvolverá no decorrer de sua existência, tomando-lhe o corpo. No tom apropriado e na medida correta, Gullar homenageia e dá voz aos conceitos rilkeanos, sem com isso ferir-se enquanto poeta. Sob o prisma conceitual do lírico alemão, concede vida singular e respeitável à suposta circunstância da morte concreta de Rilke.
publishDate 2009
dc.date.issued.fl_str_mv 2009-04-17
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://doi.org/10.11606/D.8.2009.tde-24112009-104107
url https://doi.org/10.11606/D.8.2009.tde-24112009-104107
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade de São Paulo
dc.publisher.program.fl_str_mv Letras (Teoria Literária e Literatura Comparada)
dc.publisher.initials.fl_str_mv USP
dc.publisher.country.fl_str_mv BR
publisher.none.fl_str_mv Universidade de São Paulo
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
instname:Universidade de São Paulo (USP)
instacron:USP
instname_str Universidade de São Paulo (USP)
instacron_str USP
institution USP
reponame_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
collection Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository.name.fl_str_mv Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)
repository.mail.fl_str_mv virginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.br
_version_ 1794503030092070912