Dos peixes à língua: implicações da concepção de língua em um registro ontológico tukano para a análise linguística
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2024 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-15102024-121507/ |
Resumo: | Este trabalho investiga caminhos alternativos para um entendimento de fenômenos linguísticos do tukano mais próximo à perspectiva ontológica dos falantes e, portanto, mais distante da epistemologia ocidental Moderna que subjaz os estudos linguísticos. Para tanto, realizo primeiramente uma revisão das bases sobre a qual a linguística hegemônica se ancora, mostrando as suas relações com Modernidade (Toulmin, 1990) e com a colonialidade (Mignolo, 1996, 2000, 2002, 2007). Em seguida, mostro como também a antropologia se constituiu através das dicotomias que caracterizam a epistemologia ocidental, mas buscou se distanciar de tal visão a partir de movimentos realizados desde a década de 1980. Opto por destacar os avanços realizados através do perspectivismo ameríndio (Viveiros de Castro, 1996, 2002, 2018), que, ao propor um movimento de descolonização permanente do pensamento, pode ser utilizado para pensar o desenvolvimento de uma linguística descolonial. Mostro também como o conceito perspectivista de equívoco se aplica à noção de língua, evidenciando que o que é língua se define através de uma perspectiva ontológica. Portanto, língua para os Tukano não é o mesmo que língua para não-indígenas ocidentais. Essa proposta é corroborada através de uma analogia entre as diferenças estruturais entre o sistema de classificação ictiológico ocidental e o sistema de classificação ictiológico tukano, tal qual mapeadas por J. P. Barreto (2013), e as diferenças entre o sistema linguístico ocidental e uma forma possível de conceber um sistema linguístico tukano, aqui sugerida. Finalmente, parto para as implicações dessa outra concepção de língua para a análise de três dados de eventos linguísticos em tukano coletados em campo. Proponho uma discussão sobre o sentido dos morfemas de evidencialidade que ocorrem nos dados discutidos, mostrando como a sua análise pode se beneficiar de uma perspectiva que não se atenha ao sentido estritamente linguístico de tais morfemas (tal qual proposto por Ramirez, 1997a), tampouco exclusivamente ao sentido do morfema em relação ao seu contexto imediato (como faz Aikhenvald, 2004, 2018), mas que procure entender a língua como parte integrante e constituinte de uma perspectiva ontológica distinta, tukano, na qual o processo de significação difere do ocidental |
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Dos peixes à língua: implicações da concepção de língua em um registro ontológico tukano para a análise linguísticaFrom fish to language: implications of the conception of language in a Tukanoan ontological register for Linguistic analysisDecolonialityDescolonialidadeEpistemologiaEpistemologyOntologiaOntologySemióticaSemioticsTukanoTukanoEste trabalho investiga caminhos alternativos para um entendimento de fenômenos linguísticos do tukano mais próximo à perspectiva ontológica dos falantes e, portanto, mais distante da epistemologia ocidental Moderna que subjaz os estudos linguísticos. Para tanto, realizo primeiramente uma revisão das bases sobre a qual a linguística hegemônica se ancora, mostrando as suas relações com Modernidade (Toulmin, 1990) e com a colonialidade (Mignolo, 1996, 2000, 2002, 2007). Em seguida, mostro como também a antropologia se constituiu através das dicotomias que caracterizam a epistemologia ocidental, mas buscou se distanciar de tal visão a partir de movimentos realizados desde a década de 1980. Opto por destacar os avanços realizados através do perspectivismo ameríndio (Viveiros de Castro, 1996, 2002, 2018), que, ao propor um movimento de descolonização permanente do pensamento, pode ser utilizado para pensar o desenvolvimento de uma linguística descolonial. Mostro também como o conceito perspectivista de equívoco se aplica à noção de língua, evidenciando que o que é língua se define através de uma perspectiva ontológica. Portanto, língua para os Tukano não é o mesmo que língua para não-indígenas ocidentais. Essa proposta é corroborada através de uma analogia entre as diferenças estruturais entre o sistema de classificação ictiológico ocidental e o sistema de classificação ictiológico tukano, tal qual mapeadas por J. P. Barreto (2013), e as diferenças entre o sistema linguístico ocidental e uma forma possível de conceber um sistema linguístico tukano, aqui sugerida. Finalmente, parto para as implicações dessa outra concepção de língua para a análise de três dados de eventos linguísticos em tukano coletados em campo. Proponho uma discussão sobre o sentido dos morfemas de evidencialidade que ocorrem nos dados discutidos, mostrando como a sua análise pode se beneficiar de uma perspectiva que não se atenha ao sentido estritamente linguístico de tais morfemas (tal qual proposto por Ramirez, 1997a), tampouco exclusivamente ao sentido do morfema em relação ao seu contexto imediato (como faz Aikhenvald, 2004, 2018), mas que procure entender a língua como parte integrante e constituinte de uma perspectiva ontológica distinta, tukano, na qual o processo de significação difere do ocidentalThis study explores alternative paths for understanding linguistic phenomena in Tukano that align more closely with the ontological perspective of speakers and, consequently, diverge from the modern Western epistemology that underlies linguistic studies. To achieve this, I initially review the foundations upon which hegemonic linguistics is based, revealing its connections with Modernity (Toulmin, 1990) and coloniality (Mignolo, 1996, 2000, 2002, 2007). I illustrate how anthropology, too, has been shaped by the dichotomies inherent in Western epistemology but has sought to distance itself from such a perspective since the 1980s. I emphasize the advances made through the Amerindian Perspectivism (Viveiros de Castro, 1996, 2002, 2018), which, by proposing a continuous decolonization of thought, can be employed to conceptualize the development of a decolonial linguistics. I also demonstrate how the perspectivist concept of equivocation applies to the notion of language, highlighting that the definition of what constitutes language is shaped by an ontological perspective. Thus, for the Tukanoans, language is not equivalent to language for non-indigenous Westerners. This proposal is supported through an analogy between the structural differences of the Western ichthyological classification system and the Tukano ichthyological classification system, as mapped by J. P. Barreto (2013), and the differences between the Western linguistic system and a possible way to conceive a Tukano linguistic system, suggested here. Finally, I explore the implications of this alternative language conception in the analysis of three linguistic event data collected in the field. I propose a discussion on the meaning of evidentiality morphemes in the presented data, demonstrating how their analysis can benefit from a perspective that goes beyond the strictly linguistic sense of such morphemes (as proposed by Ramirez, 1997a) and not exclusively focusing on the morpheme\'s sense in relation to its immediate context (as done by Aikhenvald, 2004, 2018). Instead, it seeks to understand language as an integral and constitutive part of a distinct ontological perspective, Tukano, in which the process of signification differs from the Western perspectiveBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPViotti, Evani de CarvalhoAzevedo, Dora Savoldi da Rocha2024-04-24info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-15102024-121507/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2024-10-15T15:22:02Zoai:teses.usp.br:tde-15102024-121507Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212024-10-15T15:22:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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