A matéria da cena e o Finnegans Wake: palavras rolantes sobre as origens
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2022 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27156/tde-06012023-142714/ |
Resumo: | Buscamos construir uma especulação teórica sobre a possibilidade de uma \"ausência de origem\" nas artes cênicas contemporâneas verificada a partir da poética do romance Finnegans Wake (1939) do irlandês James Joyce (1884-1941). O livro aponta e remexe balizas de nossa percepção tanto no plano formal quanto no narrativo. Por um lado, seus procedimentos evidenciam as origens da linguagem para expô-la como desprovida de referências originais: ela se mostra um jogo que, determinado pelas particularidades de figuras do passado, não se apoia na objetividade de uma realidade concreta. Por outro, seu modo de leitura nos coloca em contato, justamente, com o \"mistério da origem\": aquilo que nos move e, sempre presente, é enfaticamente perceptível, mas não pode ser definitivamente apreendido. A operação wakeana tem como característica mais relevante a infração linguística. Sua textualidade composta por neologismos produz sentido por associações que se fazem de súbito, tal qual revelações do inconsciente a trazer à tona desejos reprimidos naquelas formas. Elas estão imbricadas em uma estrutura preparada para a errância e que é, paradoxalmente, bastante ordenada. Trata-se de uma construção fractal cíclica que mantém o processo lampejante em evolução, mas desprovido de ponto de descanso. O resultado é uma linguagem em constante autoprodução, repleta de surgimentos imediatos e de subsequentes fins, funcionando como epifania. Ela afirma uma escuridão que a tudo contorna e da qual tudo irradia, presença irremovível e a própria ocultação que se mantém ativa na mudança das formas. Tal potencialidade é verificada na cena por meio da análise dos projetos 4\'33\" (1952) do estadunidense John Cage, A Sagração da Primavera (2011) do catalão Roger Bernat e Tragedia Endogonidia (2002-2004) do italiano Romeo Castellucci. A singularidade de suas propostas é atravessada pelo debate sobre codificação suscitado pela apreciação da obra de Joyce. Cada uma delas é observada na intersecção com características diversas do objeto literário. No paralelo, sobressaem-se quebras e alargamentos de princípios de linguagens trabalhadas na materialidade do tempo e do espaço. Por fim, apresentamos um roteiro inédito para montagem teatral que procura transpor os procedimentos wakeanos, agora em conjunto, para o plano material da performance cênica. A peça é intitulada Embalada e se denomina uma conclusão no campo da práxis. A investigação em torno daquela origem, que aparece quando algo brilha rapidamente no escuro, ganha aqui outra concretude, essa que só pode fazer ressaltar seu escape. |
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A matéria da cena e o Finnegans Wake: palavras rolantes sobre as origensThe matter of the scene and Finnegans Wake: rolling words on originsAbsence of an originAusência de origemContemporary theatricalitiesPoética da epifaniaPoetics of epiphanyTeatralidades contemporâneasBuscamos construir uma especulação teórica sobre a possibilidade de uma \"ausência de origem\" nas artes cênicas contemporâneas verificada a partir da poética do romance Finnegans Wake (1939) do irlandês James Joyce (1884-1941). O livro aponta e remexe balizas de nossa percepção tanto no plano formal quanto no narrativo. Por um lado, seus procedimentos evidenciam as origens da linguagem para expô-la como desprovida de referências originais: ela se mostra um jogo que, determinado pelas particularidades de figuras do passado, não se apoia na objetividade de uma realidade concreta. Por outro, seu modo de leitura nos coloca em contato, justamente, com o \"mistério da origem\": aquilo que nos move e, sempre presente, é enfaticamente perceptível, mas não pode ser definitivamente apreendido. A operação wakeana tem como característica mais relevante a infração linguística. Sua textualidade composta por neologismos produz sentido por associações que se fazem de súbito, tal qual revelações do inconsciente a trazer à tona desejos reprimidos naquelas formas. Elas estão imbricadas em uma estrutura preparada para a errância e que é, paradoxalmente, bastante ordenada. Trata-se de uma construção fractal cíclica que mantém o processo lampejante em evolução, mas desprovido de ponto de descanso. O resultado é uma linguagem em constante autoprodução, repleta de surgimentos imediatos e de subsequentes fins, funcionando como epifania. Ela afirma uma escuridão que a tudo contorna e da qual tudo irradia, presença irremovível e a própria ocultação que se mantém ativa na mudança das formas. Tal potencialidade é verificada na cena por meio da análise dos projetos 4\'33\" (1952) do estadunidense John Cage, A Sagração da Primavera (2011) do catalão Roger Bernat e Tragedia Endogonidia (2002-2004) do italiano Romeo Castellucci. A singularidade de suas propostas é atravessada pelo debate sobre codificação suscitado pela apreciação da obra de Joyce. Cada uma delas é observada na intersecção com características diversas do objeto literário. No paralelo, sobressaem-se quebras e alargamentos de princípios de linguagens trabalhadas na materialidade do tempo e do espaço. Por fim, apresentamos um roteiro inédito para montagem teatral que procura transpor os procedimentos wakeanos, agora em conjunto, para o plano material da performance cênica. A peça é intitulada Embalada e se denomina uma conclusão no campo da práxis. A investigação em torno daquela origem, que aparece quando algo brilha rapidamente no escuro, ganha aqui outra concretude, essa que só pode fazer ressaltar seu escape.We seek to build theoretical speculation on the possibility of the \"contemporary performing arts\" verified from the poetics of the novel Finnegans Wake (1939) by the Irish writer James Joyce (1884-1941). The book points out and tinkers with patterns of our perception in both the formal and narrative elements. On the one hand, his procedures reveal the origins of language to expose it as devoid of original references: it unveils to be a game that, determined by the particularities of figures from the past, is not supported by the objectivity of a concrete reality. On the other hand, the way of reading puts us in contact precisely with the \"mystery of origin\": something that moves us and, being always there, is emphatically perceptible, but cannot be definitively grasped. The most relevant characteristic of the wakean operation is the linguistic infraction. Its textuality, composed of neologisms, produces meaning through associations that are made suddenly, like revelations of the unconscious to bring up repressed desires in those forms. They are embedded in a structure prepared for wandering and which is, paradoxically, quite ordered. It is a cyclic fractal construction that keeps the flashing process in evolution but without a resting point. The result is a language in constant self-production, full of immediate outbreaks and subsequent ends, acting as an epiphany. It affirms a form of darkness that surrounds everything and from which everything radiates, an irremovable presence and the very concealment that remains active in the change of the forms. Such potentiality is verified in the scene through the analysis of the projects 4\'33\" (1952) by the American John Cage, The Rite of Spring (2011) by the Catalan Roger Bernat, and Tragedia Endogonidia (2002-2004) by the Italian Romeo Castellucci. The uniqueness of their proposals is crossed by the debate on codification raised by the appreciation of Joyce\'s work. Each of them is observed at the intersection with different characteristics of the literary object. In a parallel manner, breaks and amplifications of principles of languages worked in the materiality of time and space stand-out. Ultimately, we present an unprecedented script for a theatrical production that seeks to transpose the wakean procedures, together now, to the material level of the scenic performance. The play is entitled Embalada (In a roll) and calls for a conclusion in the field of praxis. The investigation around that origin, which appears when something quickly shines in the dark, takes on another corporeality here, the one that can only emphasize its escape.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPRamos, Luiz FernandoCosta, Ana Caroline Ferreira2022-10-25info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27156/tde-06012023-142714/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2023-01-06T18:12:34Zoai:teses.usp.br:tde-06012023-142714Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-01-06T18:12:34Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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