Fernando: uma analítica da subjetividade desenhada nos discursos de si e de outros num contexto de abrigo

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Ungaretti, Sandra
Data de Publicação: 2013
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-12072013-105439/
Resumo: Esta pesquisa está voltada para o abrigo, modalidade de acolhimento institucional para crianças e adolescentes privados temporariamente do convívio familiar. Desenhada como estudo institucional de um caso, visa ao traçado da subjetividade de um garoto, Fernando, 14 anos, em sua fala sobre si e nas falas a seu respeito. Analisa os discursos, em entrevistas, de: Fernando, seu pai e agentes institucionais do abrigo (duas educadoras, um psicólogo e duas voluntárias), da escola (três professoras) e da Vara da Infância e da Juventude (a psicóloga responsável pelo caso). O método é o de Análise Institucional do Discurso, proposto por Guirado (2010), como analítica da subjetividade; organiza-se em torno dos conceitos de instituição, discurso, sujeito e análise, e operacionaliza a articulação entre o singular e as relações institucionais. As análises das entrevistas foram conduzidas considerando o modo de organização das falas, para configurar os lugares assumidos e atribuídos nas relações que se fazem em seus discursos. Na análise da entrevista de Fernando se configuraram suas necessidades de atendimento, tratadas no interjogo com os discursos de seu pai e dos agentes institucionais. Fernando põe-se como herói solitário e o pai é alçado a principal artífice do impasse que se cria com relação ao tornar-se homem. Ao mesmo tempo, identifica o psicólogo e o gestor do abrigo como sua referência. Em seu discurso, o pai, como um viajante solitário, reconhece no abrigo o melhor para o filho. O psicólogo não identifica em seu fazer uma referência para Fernando. Ressalta-se uma remessa constante de uns a outros no posto de referência em que Fernando, em princípio, os coloca: uma busca em que Fernando mira um, que mira outro, que mira novamente para fora da relação com ele, no atendimento às demandas de ser (homem) na vida. Destaca-se, ainda, que no discurso institucional o pai é falado em sua negatividade: suas carências e seus desvios. Isso se imprime com tal força que acaba por decalcar o pai em Fernando. Na entrevista de Fernando configura-se uma espécie de negligência em que os contornos do saber-fazer não se desenham. No contexto da instituição-abrigo, ora Fernando é cerceado em ações que estariam dentro de seu alcance, ora é legitimado em um exercício de poder que exerce só, por critérios pessoais. No contexto escolar, as características de Fernando, identificadas pelas professoras, entram em estratégias diferentes, e se produz ora um aluno de destaque, por apresentar mais conhecimento, participação e contribuição em aula do que os demais alunos, ora um aluno-disfarce, burro e esperto. A relação de Fernando com a transgressão/agressão surge em referência à imagem ridicularizada do pai, às normas institucionais e à morte, e o contexto escolar é posicionado como ocasião privilegiada para tal aprendizagem. Nesse contexto, essas ações são tratadas com sua expulsão de sala e/ou com mediações de outras instâncias, fora da relação em que a transgressão/agressão acontece. Fernando coloca sua proteção em sua dependência. Nas práticas institucionais não se estabelecem relações que sustentem, com ele, sua proteção
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O método é o de Análise Institucional do Discurso, proposto por Guirado (2010), como analítica da subjetividade; organiza-se em torno dos conceitos de instituição, discurso, sujeito e análise, e operacionaliza a articulação entre o singular e as relações institucionais. As análises das entrevistas foram conduzidas considerando o modo de organização das falas, para configurar os lugares assumidos e atribuídos nas relações que se fazem em seus discursos. Na análise da entrevista de Fernando se configuraram suas necessidades de atendimento, tratadas no interjogo com os discursos de seu pai e dos agentes institucionais. Fernando põe-se como herói solitário e o pai é alçado a principal artífice do impasse que se cria com relação ao tornar-se homem. Ao mesmo tempo, identifica o psicólogo e o gestor do abrigo como sua referência. Em seu discurso, o pai, como um viajante solitário, reconhece no abrigo o melhor para o filho. O psicólogo não identifica em seu fazer uma referência para Fernando. Ressalta-se uma remessa constante de uns a outros no posto de referência em que Fernando, em princípio, os coloca: uma busca em que Fernando mira um, que mira outro, que mira novamente para fora da relação com ele, no atendimento às demandas de ser (homem) na vida. Destaca-se, ainda, que no discurso institucional o pai é falado em sua negatividade: suas carências e seus desvios. Isso se imprime com tal força que acaba por decalcar o pai em Fernando. Na entrevista de Fernando configura-se uma espécie de negligência em que os contornos do saber-fazer não se desenham. No contexto da instituição-abrigo, ora Fernando é cerceado em ações que estariam dentro de seu alcance, ora é legitimado em um exercício de poder que exerce só, por critérios pessoais. No contexto escolar, as características de Fernando, identificadas pelas professoras, entram em estratégias diferentes, e se produz ora um aluno de destaque, por apresentar mais conhecimento, participação e contribuição em aula do que os demais alunos, ora um aluno-disfarce, burro e esperto. A relação de Fernando com a transgressão/agressão surge em referência à imagem ridicularizada do pai, às normas institucionais e à morte, e o contexto escolar é posicionado como ocasião privilegiada para tal aprendizagem. Nesse contexto, essas ações são tratadas com sua expulsão de sala e/ou com mediações de outras instâncias, fora da relação em que a transgressão/agressão acontece. Fernando coloca sua proteção em sua dependência. Nas práticas institucionais não se estabelecem relações que sustentem, com ele, sua proteçãoThis research focuses on the shelter, modality of institutional reception for children and teenagers temporarily deprived of familiar conviviality. Drawn as institutional study of a case, it aims to the tracing of a boys subjectivity, Fernando, 14 years old, on his speech about himself and on others speech about him. It analyses the discourses, on interviews, of: Fernando, his father and institutional agents of the shelter (two educators, a psychologist e two volunteers), of the school (three teachers) and of the Children and Juvenile Court (the psychologist in charge of the case). The method is that of Institutional Discourse Analysis, proposed by Guirado (2010) as analytic of subjectivity; it organizes around the concepts of institution, discourse, subject and analysis, and operationalizes the articulation between the singular and the institutional relationships. The analyses of the interviews were conducted considering the mode of organization of speeches, to set the places assumed and attributed on relations that are made on their discourses. On the analyses of the interview with Fernando his needs of treatment are configured, treated in the interplay with the discourses of his father and of the institutional agents. Fernando puts himself as a solitary hero and the father is elevated as the main architect of the impasse created in respect to becoming a man. At the same time, he identifies the psychologist and the shelters manager as his reference. In his discourse, the father, as a solitary traveler, recognizes in the shelter the best for his son. The psychologist doesnt identify in his doing a reference for Fernando. It is noteworthy a constant referral from one to another on the reference post where Fernando, at first, places them: a search in which Fernando targets one, who targets another, who targets again outside the relationship with him, at the meeting of the demands of being (man) in life. It is also noteworthy that in the institutional discourse the father is referred of for his negativity: his shortages and deviations. That imprints itself with such strength that it ends up bringing up the father in Fernando. On Fernandos interview a sort of negligence configures itself in which the contours of knowing-doing are not drawn. In the context of the institution-shelter, sometimes Fernando is curtailed in actions that would be on his reach, sometimes he his legitimated in a power exercise that he exercises by himself using personal criteria. In the school context, Fernandos characteristics, identified by the teachers, enter different strategies, and produce sometimes an outstanding student, for presenting more knowledge, participation and contribution in class than the other students, and other times a student-disguise, dumb and smart. Fernandos relationship with transgression/aggression arises in reference to the ridiculed image of the father, to the institutional norms and to death, and the school context is positioned as a privileged occasion for such learning. In this context, those actions are treated with his expulsion from class and/or with mediations of other instances, outside the relation in which the transgression/aggression occurs. Fernando places his protection on his dependency. On institutional practices relationships are not established which sustain with him his protectionBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPGuirado, MarleneUngaretti, Sandra2013-04-08info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-12072013-105439/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:10:36Zoai:teses.usp.br:tde-12072013-105439Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:10:36Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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