A sustentabilidade sócio-econômica das áreas cacaueiras na Transamazônica: uma contribuição ao desenvolvimento regional

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Mendes, Fernando Antonio Teixeira
Data de Publicação: 1997
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11132/tde-20231122-093406/
Resumo: A região amazônica conta hoje com uma área cultivada de, aproximadamente, 106 mil hectares de cacaueiros, sendo os Estados do Pará e Rondônia detentores de 75% do total implantado, envolvendo quase 12 mil famílias, o que proporcionou sair de uma produção extrativa histórica de 1,5 toneladas/ano para cerca de 65 mil toneladas/ano de cacau seco, o que corresponde a 24% da produção nacional, colocando os Estados de Rondônia e Pará na posição de segundo e terceiro produtores nacionais, respectivamente. A despeito das características que envolvem a implantação de áreas com cacaueiros onde a reconstituição parcial da floresta original é necessária pela substituição com árvores de porte florestal que venham a compor o sombreamento definitivo, este novo ambiente não conseguiu trazer benefícios econômicos complementares à exploração do cacaueiro, pois as alternativas oferecidas como ideais para esse novo sistema não proporcionaram, salvo raras exceções, qualquer aproveitamento financeiro. Enquanto os custos da atividade cacaueira podiam ser pagos a partir de suas próprias receitas, dado que o preço do produto era compensador, viabilizando, inclusive, novos investimentos que não aqueles referentes à atividade cacaueira, tal situação nunca foi questionada. A partir do momento em que os preços ficaram deprimidos, onde sequer pagavam os custos variáveis, o abandono das práticas agrícolas se constituiu como a única alternativa de proteção do produtor, advindo daí a perda de parte da produção ampliando a vulnerabilidade das plantas às pragas e doenças, onde a vassoura-de-bruxa (Crinipellis perniciosa) aparece como a mais importante. Esta conjunção de fatores, quando somada à inexistência de alternativas econômicas na propriedade cacaueira, levou o produtor à decadência que, sem opção, voltou à cultura de subsistência. Atualmente, quando os preços do cacau em amêndoas voltam a mostrar sinais de reação no mercado internacional, a maioria dos produtores encontra-se descapitalizada para iniciar um processo de recuperação de suas lavouras. O município de Uruará, escolhido como local da pesquisa, situa-se no quilômetro 180 da BR-230 partindo-se de Altamira no sentido Itaituba. É responsável por, aproximadamente, 10% da produção do cacau em amêndoas da Amazônia, provenientes dos mais de 7.000 ha de cacaueiros, cultivados em 712 propriedades rurais. O estudo usou como instrumental básico a pesquisa participativa fazendo as adaptações necessárias aos objetivos, identificando-se os modelos agrossilviculturais que mais se adaptam ao sistema de cultivo de cacaueiros. Analisou-se economicamente os modelos selecionados, fundamentando-se na avaliação financeira do investimento, sendo os benefícios e custos quantificados a preços reais. Os indicadores de análise para o processo de avaliação foram a relação benefício-custo, o valor presente líquido, a taxa interna de retorno e “payback” econômico. Os resultados alcançados que o modelo agroflorestal cumaru x cacau x pupunha x cupuaçu x arroz, foi o que apresentou os melhores resultados dos indicadores econômicos selecionados. Além disso, os cacaueiros já instalados podem ser perfeitamente adaptados a este tipo de modelo haja vista que a técnica de enxertia pode proporcionar a existência de um “novo” stand a partir da enxertia madura de híbridos melhorados em árvores de cacau já instaladas, antecipando-se em pelo menos dois anos a produção comercial quando relacionado ao plantio tradicional.
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spelling A sustentabilidade sócio-econômica das áreas cacaueiras na Transamazônica: uma contribuição ao desenvolvimento regionalThe socio-economic sustainability of the cocoa in the Transamazon Highway: a contribution regional developmentAGRICULTURA SUSTENTÁVELAMAZÔNIACACAUSISTEMAS AGROFLORESTAISA região amazônica conta hoje com uma área cultivada de, aproximadamente, 106 mil hectares de cacaueiros, sendo os Estados do Pará e Rondônia detentores de 75% do total implantado, envolvendo quase 12 mil famílias, o que proporcionou sair de uma produção extrativa histórica de 1,5 toneladas/ano para cerca de 65 mil toneladas/ano de cacau seco, o que corresponde a 24% da produção nacional, colocando os Estados de Rondônia e Pará na posição de segundo e terceiro produtores nacionais, respectivamente. A despeito das características que envolvem a implantação de áreas com cacaueiros onde a reconstituição parcial da floresta original é necessária pela substituição com árvores de porte florestal que venham a compor o sombreamento definitivo, este novo ambiente não conseguiu trazer benefícios econômicos complementares à exploração do cacaueiro, pois as alternativas oferecidas como ideais para esse novo sistema não proporcionaram, salvo raras exceções, qualquer aproveitamento financeiro. Enquanto os custos da atividade cacaueira podiam ser pagos a partir de suas próprias receitas, dado que o preço do produto era compensador, viabilizando, inclusive, novos investimentos que não aqueles referentes à atividade cacaueira, tal situação nunca foi questionada. A partir do momento em que os preços ficaram deprimidos, onde sequer pagavam os custos variáveis, o abandono das práticas agrícolas se constituiu como a única alternativa de proteção do produtor, advindo daí a perda de parte da produção ampliando a vulnerabilidade das plantas às pragas e doenças, onde a vassoura-de-bruxa (Crinipellis perniciosa) aparece como a mais importante. Esta conjunção de fatores, quando somada à inexistência de alternativas econômicas na propriedade cacaueira, levou o produtor à decadência que, sem opção, voltou à cultura de subsistência. Atualmente, quando os preços do cacau em amêndoas voltam a mostrar sinais de reação no mercado internacional, a maioria dos produtores encontra-se descapitalizada para iniciar um processo de recuperação de suas lavouras. O município de Uruará, escolhido como local da pesquisa, situa-se no quilômetro 180 da BR-230 partindo-se de Altamira no sentido Itaituba. É responsável por, aproximadamente, 10% da produção do cacau em amêndoas da Amazônia, provenientes dos mais de 7.000 ha de cacaueiros, cultivados em 712 propriedades rurais. O estudo usou como instrumental básico a pesquisa participativa fazendo as adaptações necessárias aos objetivos, identificando-se os modelos agrossilviculturais que mais se adaptam ao sistema de cultivo de cacaueiros. Analisou-se economicamente os modelos selecionados, fundamentando-se na avaliação financeira do investimento, sendo os benefícios e custos quantificados a preços reais. Os indicadores de análise para o processo de avaliação foram a relação benefício-custo, o valor presente líquido, a taxa interna de retorno e “payback” econômico. Os resultados alcançados que o modelo agroflorestal cumaru x cacau x pupunha x cupuaçu x arroz, foi o que apresentou os melhores resultados dos indicadores econômicos selecionados. Além disso, os cacaueiros já instalados podem ser perfeitamente adaptados a este tipo de modelo haja vista que a técnica de enxertia pode proporcionar a existência de um “novo” stand a partir da enxertia madura de híbridos melhorados em árvores de cacau já instaladas, antecipando-se em pelo menos dois anos a produção comercial quando relacionado ao plantio tradicional.The cultivated cocoa area of 106 thousands hectare, in the Amazon region is dispersed among five States. About 75% of the total area are concentrated on the Para and Rondonia state where, 12 thousands households are responsible for increasing production from 1,5 ton/year to 65 ton/year. That production, 24% of the Brazilian output, put the Para and Rondonia State as 2nd and 3rd Brazilian producers of dry cocoa beans, respectively. Normally, the cocoa plantation is established often cutting all trees presents in the native forest. Despite the utilization of new forest trees as permanent shade, no economic benefits were aggregated to the producers. As long as the international cocoa price cotation was enough to pay the production costs, the methodology of plantation was never questioned. Due to falling prices of cocoa, since 1990, not enough to pay production costs, no agricultural practices were used for cultivation and the cocoa tree became more exposed to disease and plagues, being witches’ broom disease the most important in the Amazon region. That situation, added with the absence of others economic alternatives, brought the farmers to decadence and, without options to explore annual subsistence. Today, with cocoa cotations going up, farmers don’t have enough money to start a recuperation process of their crops. The county of Uruará was chosen as local of this research. It’s located on the 180 km of Transamazon Highway from Altamira to Itaituba, and it’s responsible for 10% of the cocoa production from a cultivated area of 7,000 ha in 712 farms, which correspond to 16% of the total area cultivated in the Para State. This study used basic instrumental participatory research with some local adaptations from objectives of identify agroforestry models adopted to the cocoa crop, considering the sustainability of economics, social and environmental factors, besides the practical experience of the farmers, for the election of others crops to associated with new or old cocoa plantations. Economic analyses were made for the different field situations being considered real prices obtained in the region. The analyses indicators included cost-benefit, liquid present value, internal return rate and economic payback. It was verified that the agroforestry model, cumaru x cocoa x pupunha x cupuaçu x rice presented the best results for each economic indicator analyzed. Besides, on old plantation, the cocoa tree could be adapted to the same model through grafting technique with improved varieties. That practice could anticipate, in two years the commercial output when compared with traditional planting.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPPeres, Fernando CuriMendes, Fernando Antonio Teixeira1997-04-17info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11132/tde-20231122-093406/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2023-11-24T17:46:05Zoai:teses.usp.br:tde-20231122-093406Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-11-24T17:46:05Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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