Dinâmica psíquica familiar de adolescentes com obesidade
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2021 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59141/tde-09042021-213753/ |
Resumo: | A obesidade é um problema crítico de saúde pública no Brasil e no mundo. Apresenta-se frequentemente como fonte de sofrimento físico e emocional, e seu caráter multifatorial torna a compreensão desta patologia um desafio contemporâneo. Estudos vinculam a sustentação da obesidade na infância e na adolescência, dentre outras hipóteses, a disfunções nas relações familiares e a dificuldades no processo de subjetivação do indivíduo, decorrentes de uma indiferenciação em relação a seus objetos primordiais. Diante dessas considerações, esta pesquisa teve como objetivo conhecer o funcionamento psíquico de famílias de adolescentes obesos, com o propósito de investigar se as relações intersubjetivas familiares e a constituição da imagem inconsciente do corpo familiar poderiam contribuir para o surgimento e a manutenção dessa patologia no jovem. A pesquisa foi realizada numa perspectiva clínicoqualitativa, utilizando dois instrumentos projetivos desenvolvidos para a avaliação psicológica familiar, a Espaciografia Projetiva e a Genografia Projetiva, e entrevistas semiestruturadas acerca da história familiar, hábitos alimentares e do habitat familiar. A codificação das técnicas projetivas teve como referência os guias propostos em seus manuais e os dados coletados foram organizados em sínteses interpretativas a partir de uma perspectiva clínica psicanalítica. Os resultados evidenciaram a presença de dinâmicas fusionais, relacionamentos simbióticos e indiferenciação entre os membros das famílias, especialmente entre mães e filhos. O distanciamento ou enfraquecimento da figura do pai também foi observado em todos os casos, assim como um afastamento da família em relação ao mundo externo, confirmando dados da literatura. Além disso, observou-se em todas as famílias um esforço grupal de suprimir das experiências da vida os limites da morte, numa recusa inconsciente a viverem a perda de seus objetos de amor. Cria-se um pacto familiar em que a dissolução dos objetos é impedida, inviabilizando movimentos psíquicos imprescindíveis ao processo de subjetivação. Há uma paralização dos objetos e um movimento de incorporação que os inclui de forma não transformável dentro da mente dos indivíduos. Os processos de simbolização e representação são gravemente perturbados, ocorrendo o predomínio de modos de relacionamento que primam pela inércia e o sedentarismo, como a aglutinação, a contiguidade e a aderência. Revelou-se nas famílias uma exclusão da experiência da perda, e as denegações necessárias a este processo levam à criação de criptas, as quais são transmitidas às gerações seguintes, provocando uma alienação da subjetividade dos indivíduos. Estes se tornam submissos às demandas ancestrais, cuja penalidade para a desobediência é o exílio e a perda do amor da família. A relação entre indivíduos é, então, substituída por um vínculo de cada um dos membros da família com um núcleo aglutinado. Os indivíduos devem alimentar essa relação com o núcleo familiar, atuando em repetições os mandatos identitários para que seja preservada a ilusão de uma unidade fusional. A esse conjunto de ações psíquicas, denominamos pacto denegativo familiar do trabalho do negativo. |
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Diante dessas considerações, esta pesquisa teve como objetivo conhecer o funcionamento psíquico de famílias de adolescentes obesos, com o propósito de investigar se as relações intersubjetivas familiares e a constituição da imagem inconsciente do corpo familiar poderiam contribuir para o surgimento e a manutenção dessa patologia no jovem. A pesquisa foi realizada numa perspectiva clínicoqualitativa, utilizando dois instrumentos projetivos desenvolvidos para a avaliação psicológica familiar, a Espaciografia Projetiva e a Genografia Projetiva, e entrevistas semiestruturadas acerca da história familiar, hábitos alimentares e do habitat familiar. A codificação das técnicas projetivas teve como referência os guias propostos em seus manuais e os dados coletados foram organizados em sínteses interpretativas a partir de uma perspectiva clínica psicanalítica. Os resultados evidenciaram a presença de dinâmicas fusionais, relacionamentos simbióticos e indiferenciação entre os membros das famílias, especialmente entre mães e filhos. O distanciamento ou enfraquecimento da figura do pai também foi observado em todos os casos, assim como um afastamento da família em relação ao mundo externo, confirmando dados da literatura. Além disso, observou-se em todas as famílias um esforço grupal de suprimir das experiências da vida os limites da morte, numa recusa inconsciente a viverem a perda de seus objetos de amor. Cria-se um pacto familiar em que a dissolução dos objetos é impedida, inviabilizando movimentos psíquicos imprescindíveis ao processo de subjetivação. Há uma paralização dos objetos e um movimento de incorporação que os inclui de forma não transformável dentro da mente dos indivíduos. Os processos de simbolização e representação são gravemente perturbados, ocorrendo o predomínio de modos de relacionamento que primam pela inércia e o sedentarismo, como a aglutinação, a contiguidade e a aderência. Revelou-se nas famílias uma exclusão da experiência da perda, e as denegações necessárias a este processo levam à criação de criptas, as quais são transmitidas às gerações seguintes, provocando uma alienação da subjetividade dos indivíduos. Estes se tornam submissos às demandas ancestrais, cuja penalidade para a desobediência é o exílio e a perda do amor da família. A relação entre indivíduos é, então, substituída por um vínculo de cada um dos membros da família com um núcleo aglutinado. Os indivíduos devem alimentar essa relação com o núcleo familiar, atuando em repetições os mandatos identitários para que seja preservada a ilusão de uma unidade fusional. A esse conjunto de ações psíquicas, denominamos pacto denegativo familiar do trabalho do negativo.Obesity is a critical public health problem in Brazil and worldwide. It often presents itself as a source of physical and emotional suffering, and its multifactorial causation makes its comprehension a contemporary challenge. Studies link the emergence of obesity in childhood and adolescence to dysfunctions in family relations and difficulties in the subjectivation process, due to undifferentiation regarding its primordial objects. Given these considerations, this research aimed to understand the psychic functioning of families of obese teenagers, with the purpose of investigating whether intersubjective family relationships and the constitution of the unconscious image of the family body could contribute to the emergence and maintenance of this pathology in the youngster. The research was carried out in a clinicalqualitative perspective, utilizing two projective instruments oriented for the psychological evaluation of the family, namely the Projective Spatiography and the Projective Genography, as well as semi-structured interviews about family history, eating habits and family habitat. The codification of the projective techniques was based on the guides proposed in their manuals, and the collected data were organized in interpretative syntheses from a psychoanalytic clinical perspective. Results showed a presence of states of fusion, symbiotic relationships and undifferentiation between family members, specially between mothers and children. The distancing or weakening of the father figure was also observed in all cases, as well as seclusion from the external world, confirming data from literature. Furthermore, a group effort was observed in all families to suppress the boundaries of death from the experiences of life, in an unconscious refusal to undergo the loss of their objects. A family pact is created in which the dissolution of objects is blocked, rendering unviable the psychic processes that are essential to subjectivation. The objects are paralyzed and incorporated in a non-transformable form within the individuals\' minds. Capacities for symbolization and representation are severely disturbed. Forms of relation prevail in which inertia and sedentarism are found, such as agglutination, contiguity and adherence. An exclusion of the experience of loss was revealed in these families, and the denial which is necessary to this process led to the creation of crypts, which are passed on to subsequent generations, causing alienation of the individuals\' subjectivity. They become submissive to these ancestral demands, and the penalty for disobedience is exile and deprivation of family love. Thus, the relationship between family members is replaced by an unique bond with an agglutinated nucleus. The individuals are compelled to encourage this relationship with the family nucleus, acting in repetition the mandates of their ancestors so that the illusion of a fusional unity is preserved. We denominated this set of psychic actions as a family denegative pact for the work of the negative.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPBarbieri, ValeriaPina, Ana Carolina Fortes Paiva de2021-03-12info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59141/tde-09042021-213753/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPReter o conteúdo por motivos de patente, publicação e/ou direitos autoriais.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2023-03-16T17:30:26Zoai:teses.usp.br:tde-09042021-213753Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-03-16T17:30:26Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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A obesidade é um problema crítico de saúde pública no Brasil e no mundo. Apresenta-se frequentemente como fonte de sofrimento físico e emocional, e seu caráter multifatorial torna a compreensão desta patologia um desafio contemporâneo. Estudos vinculam a sustentação da obesidade na infância e na adolescência, dentre outras hipóteses, a disfunções nas relações familiares e a dificuldades no processo de subjetivação do indivíduo, decorrentes de uma indiferenciação em relação a seus objetos primordiais. Diante dessas considerações, esta pesquisa teve como objetivo conhecer o funcionamento psíquico de famílias de adolescentes obesos, com o propósito de investigar se as relações intersubjetivas familiares e a constituição da imagem inconsciente do corpo familiar poderiam contribuir para o surgimento e a manutenção dessa patologia no jovem. A pesquisa foi realizada numa perspectiva clínicoqualitativa, utilizando dois instrumentos projetivos desenvolvidos para a avaliação psicológica familiar, a Espaciografia Projetiva e a Genografia Projetiva, e entrevistas semiestruturadas acerca da história familiar, hábitos alimentares e do habitat familiar. A codificação das técnicas projetivas teve como referência os guias propostos em seus manuais e os dados coletados foram organizados em sínteses interpretativas a partir de uma perspectiva clínica psicanalítica. Os resultados evidenciaram a presença de dinâmicas fusionais, relacionamentos simbióticos e indiferenciação entre os membros das famílias, especialmente entre mães e filhos. O distanciamento ou enfraquecimento da figura do pai também foi observado em todos os casos, assim como um afastamento da família em relação ao mundo externo, confirmando dados da literatura. Além disso, observou-se em todas as famílias um esforço grupal de suprimir das experiências da vida os limites da morte, numa recusa inconsciente a viverem a perda de seus objetos de amor. Cria-se um pacto familiar em que a dissolução dos objetos é impedida, inviabilizando movimentos psíquicos imprescindíveis ao processo de subjetivação. Há uma paralização dos objetos e um movimento de incorporação que os inclui de forma não transformável dentro da mente dos indivíduos. Os processos de simbolização e representação são gravemente perturbados, ocorrendo o predomínio de modos de relacionamento que primam pela inércia e o sedentarismo, como a aglutinação, a contiguidade e a aderência. Revelou-se nas famílias uma exclusão da experiência da perda, e as denegações necessárias a este processo levam à criação de criptas, as quais são transmitidas às gerações seguintes, provocando uma alienação da subjetividade dos indivíduos. Estes se tornam submissos às demandas ancestrais, cuja penalidade para a desobediência é o exílio e a perda do amor da família. A relação entre indivíduos é, então, substituída por um vínculo de cada um dos membros da família com um núcleo aglutinado. Os indivíduos devem alimentar essa relação com o núcleo familiar, atuando em repetições os mandatos identitários para que seja preservada a ilusão de uma unidade fusional. A esse conjunto de ações psíquicas, denominamos pacto denegativo familiar do trabalho do negativo. |
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