Transição de modos de vida rurais na Amazônia brasileira: uma perspectiva longitudinal sobre diversificação da renda, atividades agrícolas e uso da terra entre pequenos produtores
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2013 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/91/91131/tde-28032013-095321/ |
Resumo: | A expansão da economia de mercado tem interferido nas motivações de produção e consumo, não só dos grandes produtores orientados para o mercado global, mas também dos pequenos produtores originalmente orientados para a subsistência e mercados locais. Como um dos resultados dessas mudanças, observa-se a retração da agricultura de pequena escala, com a diminuição da importância da renda agrícola e um aumento da importância da renda proveniente de outras fontes, como trabalhos em tempo parcial, prestação de serviços, empregos públicos e benefícios sociais. No Brasil, grandes programas de transferência condicionada de renda, como o Bolsa Família, e o acesso universalizado às aposentadorias e pensões rurais, que atendem milhões de pessoas, também têm colaborado de maneira significativa para a diversificação dos rendimentos rurais. Ao se deparar com novas fontes de renda que não requerem a mobilização de mão de obra, qual seria a postura das famílias? Haveria um movimento de reinvestimento da renda adicional nas atividades agrícolas? Ou esses rendimentos externos estariam contribuindo para afastar ainda mais as famílias da agricultura? Quais os resultados dessas decisões para o uso da terra? Diante dessas questões, quatro hipóteses foram estruturadas: (1) o aumento e a estabilidade da renda das famílias têm proporcionado um uso menos intensivo de recursos naturais locais para a subsistência; (2) tal contexto pode levar a uma maior taxa de conversão da floresta para outros propósitos, como consequência do investimento e do avanço de atividades comerciais e produtivas; (3) existe uma percepção de melhoria da qualidade de vida ligada à estabilização da renda e ao maior acesso a bens de consumo e serviços e (4) existe uma valoração positiva dos bens e serviços proporcionados pelos centros urbanos e isso tem influenciado as prioridades e perspectivas quanto ao uso da terra e a aplicação dos recursos. Para testar tais hipóteses, dois levantamentos de dados primários foram realizados na região de Santarém-PA, nos anos de 2003 (n=488) e 2011 (n=83), buscando informações demográficas, econômicas e espaciais nas mesmas propriedades nos dois períodos. Os dados foram coletados através de questionários e entrevistas semi-estruturadas. Foi realizada uma análise de mudança de uso da terra, com foco nas propriedades revisitadas, através de imagens de satélite (LANDSAT 5 TM) para os anos de 1997, 2001, 2005 e 2010. Os dados quantitativos foram analisados através de estatística descritiva, análises de correlação e testes de hipóteses. Os dados qualitativos foram analisados através da categorização do conteúdo dos discursos dos entrevistados. Os resultados apontaram transformações significativas entre os dois períodos, como a redução do tamanho médio das famílias (4,6 para 3,86), o crescimento real da renda (115,98%) e das despesas (171,30%) mensais, a diminuição da produção de culturas anuais, com destaque para o arroz (-81,55%), o feijão (-73,17%) e o milho (-63,35%), e a aceleração do desmatamento em grandes lotes, principalmente após a chegada dos produtores de soja. Os discursos dos entrevistados mostraram uma percepção geral de melhoria de qualidade de vida nos últimos anos, ainda que destacassem também uma falta de perspectiva em relação à manutenção da agricultura, evidenciando uma desconexão entre esses dois elementos. |
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Transição de modos de vida rurais na Amazônia brasileira: uma perspectiva longitudinal sobre diversificação da renda, atividades agrícolas e uso da terra entre pequenos produtoresRural livelihood transition in the Brazilian Amazon: a longitudinal perspective on income diversification, agricultural activities, and land use among small farmersAgricultura familiarAmazonAmazôniaAposentadoria ruralBolsa FamíliaDeagrarianizationDesagrarizaçãoEcologia humanaLand useRenda familiarRural retirementSmallholding agricultureuso do soloA expansão da economia de mercado tem interferido nas motivações de produção e consumo, não só dos grandes produtores orientados para o mercado global, mas também dos pequenos produtores originalmente orientados para a subsistência e mercados locais. Como um dos resultados dessas mudanças, observa-se a retração da agricultura de pequena escala, com a diminuição da importância da renda agrícola e um aumento da importância da renda proveniente de outras fontes, como trabalhos em tempo parcial, prestação de serviços, empregos públicos e benefícios sociais. No Brasil, grandes programas de transferência condicionada de renda, como o Bolsa Família, e o acesso universalizado às aposentadorias e pensões rurais, que atendem milhões de pessoas, também têm colaborado de maneira significativa para a diversificação dos rendimentos rurais. Ao se deparar com novas fontes de renda que não requerem a mobilização de mão de obra, qual seria a postura das famílias? Haveria um movimento de reinvestimento da renda adicional nas atividades agrícolas? Ou esses rendimentos externos estariam contribuindo para afastar ainda mais as famílias da agricultura? Quais os resultados dessas decisões para o uso da terra? Diante dessas questões, quatro hipóteses foram estruturadas: (1) o aumento e a estabilidade da renda das famílias têm proporcionado um uso menos intensivo de recursos naturais locais para a subsistência; (2) tal contexto pode levar a uma maior taxa de conversão da floresta para outros propósitos, como consequência do investimento e do avanço de atividades comerciais e produtivas; (3) existe uma percepção de melhoria da qualidade de vida ligada à estabilização da renda e ao maior acesso a bens de consumo e serviços e (4) existe uma valoração positiva dos bens e serviços proporcionados pelos centros urbanos e isso tem influenciado as prioridades e perspectivas quanto ao uso da terra e a aplicação dos recursos. Para testar tais hipóteses, dois levantamentos de dados primários foram realizados na região de Santarém-PA, nos anos de 2003 (n=488) e 2011 (n=83), buscando informações demográficas, econômicas e espaciais nas mesmas propriedades nos dois períodos. Os dados foram coletados através de questionários e entrevistas semi-estruturadas. Foi realizada uma análise de mudança de uso da terra, com foco nas propriedades revisitadas, através de imagens de satélite (LANDSAT 5 TM) para os anos de 1997, 2001, 2005 e 2010. Os dados quantitativos foram analisados através de estatística descritiva, análises de correlação e testes de hipóteses. Os dados qualitativos foram analisados através da categorização do conteúdo dos discursos dos entrevistados. Os resultados apontaram transformações significativas entre os dois períodos, como a redução do tamanho médio das famílias (4,6 para 3,86), o crescimento real da renda (115,98%) e das despesas (171,30%) mensais, a diminuição da produção de culturas anuais, com destaque para o arroz (-81,55%), o feijão (-73,17%) e o milho (-63,35%), e a aceleração do desmatamento em grandes lotes, principalmente após a chegada dos produtores de soja. Os discursos dos entrevistados mostraram uma percepção geral de melhoria de qualidade de vida nos últimos anos, ainda que destacassem também uma falta de perspectiva em relação à manutenção da agricultura, evidenciando uma desconexão entre esses dois elementos.The expansion of market economy has changed the motivations in production and consumption among large and small farmers alike. One result of these changes is the disconnection between small farmers\' livelihoods and the performing of agricultural activities. To small farmer populations, it has representing a diminishing importance of agricultural income and an increasing importance of other activities, such as part-time jobs, off-farm employment, and social benefits. In Brazil, major Conditional Cash Transfer programs (CCTs), like Bolsa Família, and the universal access to rural retirements, which is supporting millions of people, have also contributed significantly to the diversification of rural incomes. Faced with new income sources that do not require the mobilization of labour, what would be the logic of decision making of the families? There would be a movement of additional income reinvestment in agricultural activities? Or these external income sources would be contributing to further detachment of the families from agriculture? What are the results of those decisions for land use change? Given these questions, four hypotheses were structured: (1) the growth and stability of family income have provided a less intensive use of local natural resources for subsistence, (2) such context can lead to a higher rate of forest conversion to other purposes, as a result of the investment and the advancement of commercial and productive activities, (3) there is a perception of improved quality of life associated with stabilization of income and broader access to consumer goods and services, and (4) there is a positive valuation of goods and services provided by urban centers, and this has influenced the priorities and perspectives regarding land use and application of resources by the families. To test such hypotheses, two primary data surveys were conducted in the region of Santarém-PA, in 2003 (n = 488) and 2011 (n = 83), seeking demographic, economic and spatial information in the same properties for both periods. Data were collected through questionnaires and semi-structured interviews. It was made an analysis of land use change, focusing on revisited properties, through satellite imagery (LANDSAT 5 TM) for the years 1997, 2001, 2005 and 2010. Quantitative data were analyzed using descriptive statistics, correlation analysis and hypothesis testing. Qualitative data were analyzed by categorizing the content of interviewee\'s discourses. The results showed significant changes between the two periods, like the reduction in average household size (4.6 to 3.86), the real growth of income (115.98%) and expenses (171.30%) per month, the decreased production of annual crops, especially rice (-81.55%), beans (-73.17%) and corn (-63.35%), and the acceleration of the deforestation in large properties, especially after the arrival of soybean producers. The interviewee\'s discourses presented a general perception of improvement of quality of life in recent years, yet also highlighted a lack of perspective regarding the maintenance of agriculture, showing a disconnection between life standards and agricultural activities.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPMolina, Silvia Maria GuerraLui, Gabriel Henrique2013-02-18info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/91/91131/tde-28032013-095321/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:10:35Zoai:teses.usp.br:tde-28032013-095321Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:10:35Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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A expansão da economia de mercado tem interferido nas motivações de produção e consumo, não só dos grandes produtores orientados para o mercado global, mas também dos pequenos produtores originalmente orientados para a subsistência e mercados locais. Como um dos resultados dessas mudanças, observa-se a retração da agricultura de pequena escala, com a diminuição da importância da renda agrícola e um aumento da importância da renda proveniente de outras fontes, como trabalhos em tempo parcial, prestação de serviços, empregos públicos e benefícios sociais. No Brasil, grandes programas de transferência condicionada de renda, como o Bolsa Família, e o acesso universalizado às aposentadorias e pensões rurais, que atendem milhões de pessoas, também têm colaborado de maneira significativa para a diversificação dos rendimentos rurais. Ao se deparar com novas fontes de renda que não requerem a mobilização de mão de obra, qual seria a postura das famílias? Haveria um movimento de reinvestimento da renda adicional nas atividades agrícolas? Ou esses rendimentos externos estariam contribuindo para afastar ainda mais as famílias da agricultura? Quais os resultados dessas decisões para o uso da terra? Diante dessas questões, quatro hipóteses foram estruturadas: (1) o aumento e a estabilidade da renda das famílias têm proporcionado um uso menos intensivo de recursos naturais locais para a subsistência; (2) tal contexto pode levar a uma maior taxa de conversão da floresta para outros propósitos, como consequência do investimento e do avanço de atividades comerciais e produtivas; (3) existe uma percepção de melhoria da qualidade de vida ligada à estabilização da renda e ao maior acesso a bens de consumo e serviços e (4) existe uma valoração positiva dos bens e serviços proporcionados pelos centros urbanos e isso tem influenciado as prioridades e perspectivas quanto ao uso da terra e a aplicação dos recursos. Para testar tais hipóteses, dois levantamentos de dados primários foram realizados na região de Santarém-PA, nos anos de 2003 (n=488) e 2011 (n=83), buscando informações demográficas, econômicas e espaciais nas mesmas propriedades nos dois períodos. Os dados foram coletados através de questionários e entrevistas semi-estruturadas. Foi realizada uma análise de mudança de uso da terra, com foco nas propriedades revisitadas, através de imagens de satélite (LANDSAT 5 TM) para os anos de 1997, 2001, 2005 e 2010. Os dados quantitativos foram analisados através de estatística descritiva, análises de correlação e testes de hipóteses. Os dados qualitativos foram analisados através da categorização do conteúdo dos discursos dos entrevistados. Os resultados apontaram transformações significativas entre os dois períodos, como a redução do tamanho médio das famílias (4,6 para 3,86), o crescimento real da renda (115,98%) e das despesas (171,30%) mensais, a diminuição da produção de culturas anuais, com destaque para o arroz (-81,55%), o feijão (-73,17%) e o milho (-63,35%), e a aceleração do desmatamento em grandes lotes, principalmente após a chegada dos produtores de soja. Os discursos dos entrevistados mostraram uma percepção geral de melhoria de qualidade de vida nos últimos anos, ainda que destacassem também uma falta de perspectiva em relação à manutenção da agricultura, evidenciando uma desconexão entre esses dois elementos. |
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