Os povos indígenas e os sertões das minas do ouro no século XVIII

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Ribeiro, Núbia Braga
Data de Publicação: 2008
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-24112009-160156/
Resumo: Este estudo aborda as políticas de ocupação e exploração das minas dos sertões concomitante as reações indígenas, no século XVIII, principalmente, a partir da década de 1730. Ao analisar as fontes, contempladas nas correspondências entre autoridades, instruções, planos de catequese e civilização, se constatou que a violência, como resultado da prática consuetudinária, prevaleceu sobre as leis de integração social dos gentios. Avaliou-se as investidas dos índios, ao impedirem o êxito dos propósitos do Antigo Sistema Colonial, tornaram objetos da política de Estado incluindo o destino desses povos na pauta de diretrizes, donde derivou a série de planos de catequese. Entretanto, nada mais foram que alternativas dissimuladas de cooptação, articuladas numa seqüência estratégica de anulação das resistências indígenas, como a invenção dos aldeamentos foi um meio de confiná-los em redutos projetados para infligir os hábitos da vida sedentária e a extinção da vida nômade. Pretendia-se adaptá-los ao modelo de civilização européia, promover a convivência com os não índios e viabilizar o acesso às minas. Nesta perspectiva a colonização, inevitavelmente, esteve associada à apropriação das riquezas, condição determinante do sentido à conquista e a razão à catequese. Em contrapartida, originou uma situação permanente de tensões diretamente vinculada à desapropriação das terras indígenas, conjuntamente revelou a maior incidência das disputas nas áreas dos principais focos de lutas indígenas e identificou-se, exatamente, nelas a concentração da política indigenista. Embora aparentemente as estratégias ressoassem o intuito de apaziguar os índios mediante os instrumentos de sujeição, tutela, liberdade restrita, a guerra ofensiva foi um recurso condicionado aos agravos das reações indígenas. Contudo, a guerra, fenômeno histórico-cultural tanto indígena quanto europeu, se efetivou nos combates armados de ambos os lados. Assim, sob o artifício da fé e civilização se enunciou o dever cristão de conduzir o bárbaro selvagem à salvação. No entanto, o cumprimento do dever esteve conexo à recompensa de administrar a vida dos índios, por conseguinte, de administrar a opulência do patrimônio abrigado nas sesmarias e datas minerais localizadas nos sertões. Em função disso, foi indispensável à pesquisa apreender a concepção de sertões e reconhecer a significância do nomadismo, comum aos índios, que forneceu a imagem de espaços em movimentos, compreendendo fronteiras imprecisas que se interagiam nas dimensões étnicas, sociais e econômicas. A itinerância dos índios conferiu atributos à identidade dos ambientes naturais, à medida que se deslocavam se constituía a referência de fluidez dos espaços, mas para dominá-los dependia de fixá-los em limites. Portanto, a correlação entre mobilidade dos sertões e inconstância dos gentios configurou uma geopolítica específica do interior da América portuguesa interligado pelos caminhos trilhados das minas do ouro entre Minas-Goiases-Cuiabá, Minas e Espírito-Santo, Minas-Bahia e assim por diante. As Minas Gerais setecentista, respeitadas as peculiaridades do contexto e das diversas etnias dos povos indígenas, guardavam os metais preciosos e delas se partia para outras minas. Os sertões dos índios eram os sertões das Minas do ouro, espalhadas ao longo dos rios, distantes do litoral, se apresentaram nos focos de reações indígenas que se interpunham como desafio para atingi-las.
id USP_33a427331835f1321fc89d453de232ac
oai_identifier_str oai:teses.usp.br:tde-24112009-160156
network_acronym_str USP
network_name_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository_id_str 2721
spelling Os povos indígenas e os sertões das minas do ouro no século XVIIIIndian Peoples And The \"Sertões\" of The Gold Mines In The 18th CenturyCatechismCatequeseColôniaColonyHinterlandIndiansÍndiosLandSertãoTerraEste estudo aborda as políticas de ocupação e exploração das minas dos sertões concomitante as reações indígenas, no século XVIII, principalmente, a partir da década de 1730. Ao analisar as fontes, contempladas nas correspondências entre autoridades, instruções, planos de catequese e civilização, se constatou que a violência, como resultado da prática consuetudinária, prevaleceu sobre as leis de integração social dos gentios. Avaliou-se as investidas dos índios, ao impedirem o êxito dos propósitos do Antigo Sistema Colonial, tornaram objetos da política de Estado incluindo o destino desses povos na pauta de diretrizes, donde derivou a série de planos de catequese. Entretanto, nada mais foram que alternativas dissimuladas de cooptação, articuladas numa seqüência estratégica de anulação das resistências indígenas, como a invenção dos aldeamentos foi um meio de confiná-los em redutos projetados para infligir os hábitos da vida sedentária e a extinção da vida nômade. Pretendia-se adaptá-los ao modelo de civilização européia, promover a convivência com os não índios e viabilizar o acesso às minas. Nesta perspectiva a colonização, inevitavelmente, esteve associada à apropriação das riquezas, condição determinante do sentido à conquista e a razão à catequese. Em contrapartida, originou uma situação permanente de tensões diretamente vinculada à desapropriação das terras indígenas, conjuntamente revelou a maior incidência das disputas nas áreas dos principais focos de lutas indígenas e identificou-se, exatamente, nelas a concentração da política indigenista. Embora aparentemente as estratégias ressoassem o intuito de apaziguar os índios mediante os instrumentos de sujeição, tutela, liberdade restrita, a guerra ofensiva foi um recurso condicionado aos agravos das reações indígenas. Contudo, a guerra, fenômeno histórico-cultural tanto indígena quanto europeu, se efetivou nos combates armados de ambos os lados. Assim, sob o artifício da fé e civilização se enunciou o dever cristão de conduzir o bárbaro selvagem à salvação. No entanto, o cumprimento do dever esteve conexo à recompensa de administrar a vida dos índios, por conseguinte, de administrar a opulência do patrimônio abrigado nas sesmarias e datas minerais localizadas nos sertões. Em função disso, foi indispensável à pesquisa apreender a concepção de sertões e reconhecer a significância do nomadismo, comum aos índios, que forneceu a imagem de espaços em movimentos, compreendendo fronteiras imprecisas que se interagiam nas dimensões étnicas, sociais e econômicas. A itinerância dos índios conferiu atributos à identidade dos ambientes naturais, à medida que se deslocavam se constituía a referência de fluidez dos espaços, mas para dominá-los dependia de fixá-los em limites. Portanto, a correlação entre mobilidade dos sertões e inconstância dos gentios configurou uma geopolítica específica do interior da América portuguesa interligado pelos caminhos trilhados das minas do ouro entre Minas-Goiases-Cuiabá, Minas e Espírito-Santo, Minas-Bahia e assim por diante. As Minas Gerais setecentista, respeitadas as peculiaridades do contexto e das diversas etnias dos povos indígenas, guardavam os metais preciosos e delas se partia para outras minas. Os sertões dos índios eram os sertões das Minas do ouro, espalhadas ao longo dos rios, distantes do litoral, se apresentaram nos focos de reações indígenas que se interpunham como desafio para atingi-las.This study focuses in the politics of settlement and exploitation of the mines of the hinterlands (sertões) and the Indians reactions in the 17th Century Brazil, mostly in the 1730´s. In analyzing the sources the correspondence between authorities, instructions, catechism plans, we were able to verify that the violence, as a result of the consuetudinary practice, prevailed over the social integration laws of the gentiles. We evaluated that the Indians attacks - that were successful in stopping the Ancient Colonial System purposes - were subject to State policy, including the fate of these peoples in the State agenda, generating the catechism plans. However, these were dissimulated alternatives of cooptation, articulated in a strategic sequence of annulment of the Indian resistance, such as the creation of the settlements (aldeamentos), that was a means to confine them in planned locals that were able to cause the habits of a sedentary life and the end of the nomad life. The purpose was to adapt the Indians to the European civilization model, to promote the familiarity with others and to enable the access to the mines. In this perspective, the colonization was associated to the appropriation of the riches, that was an important condition to give sense to the conquest and justify the catechism. On the other hand, it originated a scenery with permanent tensions, directly linked to the expropriation of the Indian land, that appeared in the greater incidence of the dispute in the areas where the major Indian struggles developed, that were the same areas where were concentrated the policies regarding the Indians. Although apparently these strategies showed the intention of pacifying the Indians, by subjugation, tutorship and confinement, the war was a resource that was subject to the intensification of the Indians reactions. But the war, a historical and cultural phenomena both Indian and European, was accomplished in the battles. Thus the Christian duty of bringing the salvage barbarian to salvation was implanted under the artifice of faith and civilization. Nevertheless, the fulfillment of duty was connected to the rewards of governing the Indians, and of governing the riches of the estate that was located in the sesmarias and mines of the hinterland. Thus, it was important to the research the understanding of the concept of sertão, and to recognize the significance of nomadism, that supplied the image of spaces in movement, with imprecise borders that interacted in the ethnic, social and economic levels. The Indians dislocations gave identity features to the natural environment, and demanded the research to apprehend these dimensions. To be able to dominate them it was necessary to settle them in determined limits. The correlation between the mobility of the sertões and the inconstancy of the gentiles, shaped a specific geopolitics in the Portuguese America hinterland, connected by the paths of the gold mines (Minas- Goiases Cuiabá, Minas and Espírito Santo, Minas-Bahia and so forth). The Minas Gerais of the 18th Century, respected the peculiarities of the context and the various ethnics of the Indians peoples, kept the precious metals and from there they went to other mines. The Indians sertões were the sertões of the gold mines, scattered by the rivers, faraway from the coast, and they presented themselves in the reactions of the Indians that were an obstacle to attain it.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPNovais, Fernando AntonioRibeiro, Núbia Braga2008-11-10info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-24112009-160156/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:10:00Zoai:teses.usp.br:tde-24112009-160156Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:10Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
dc.title.none.fl_str_mv Os povos indígenas e os sertões das minas do ouro no século XVIII
Indian Peoples And The \"Sertões\" of The Gold Mines In The 18th Century
title Os povos indígenas e os sertões das minas do ouro no século XVIII
spellingShingle Os povos indígenas e os sertões das minas do ouro no século XVIII
Ribeiro, Núbia Braga
Catechism
Catequese
Colônia
Colony
Hinterland
Indians
Índios
Land
Sertão
Terra
title_short Os povos indígenas e os sertões das minas do ouro no século XVIII
title_full Os povos indígenas e os sertões das minas do ouro no século XVIII
title_fullStr Os povos indígenas e os sertões das minas do ouro no século XVIII
title_full_unstemmed Os povos indígenas e os sertões das minas do ouro no século XVIII
title_sort Os povos indígenas e os sertões das minas do ouro no século XVIII
author Ribeiro, Núbia Braga
author_facet Ribeiro, Núbia Braga
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Novais, Fernando Antonio
dc.contributor.author.fl_str_mv Ribeiro, Núbia Braga
dc.subject.por.fl_str_mv Catechism
Catequese
Colônia
Colony
Hinterland
Indians
Índios
Land
Sertão
Terra
topic Catechism
Catequese
Colônia
Colony
Hinterland
Indians
Índios
Land
Sertão
Terra
description Este estudo aborda as políticas de ocupação e exploração das minas dos sertões concomitante as reações indígenas, no século XVIII, principalmente, a partir da década de 1730. Ao analisar as fontes, contempladas nas correspondências entre autoridades, instruções, planos de catequese e civilização, se constatou que a violência, como resultado da prática consuetudinária, prevaleceu sobre as leis de integração social dos gentios. Avaliou-se as investidas dos índios, ao impedirem o êxito dos propósitos do Antigo Sistema Colonial, tornaram objetos da política de Estado incluindo o destino desses povos na pauta de diretrizes, donde derivou a série de planos de catequese. Entretanto, nada mais foram que alternativas dissimuladas de cooptação, articuladas numa seqüência estratégica de anulação das resistências indígenas, como a invenção dos aldeamentos foi um meio de confiná-los em redutos projetados para infligir os hábitos da vida sedentária e a extinção da vida nômade. Pretendia-se adaptá-los ao modelo de civilização européia, promover a convivência com os não índios e viabilizar o acesso às minas. Nesta perspectiva a colonização, inevitavelmente, esteve associada à apropriação das riquezas, condição determinante do sentido à conquista e a razão à catequese. Em contrapartida, originou uma situação permanente de tensões diretamente vinculada à desapropriação das terras indígenas, conjuntamente revelou a maior incidência das disputas nas áreas dos principais focos de lutas indígenas e identificou-se, exatamente, nelas a concentração da política indigenista. Embora aparentemente as estratégias ressoassem o intuito de apaziguar os índios mediante os instrumentos de sujeição, tutela, liberdade restrita, a guerra ofensiva foi um recurso condicionado aos agravos das reações indígenas. Contudo, a guerra, fenômeno histórico-cultural tanto indígena quanto europeu, se efetivou nos combates armados de ambos os lados. Assim, sob o artifício da fé e civilização se enunciou o dever cristão de conduzir o bárbaro selvagem à salvação. No entanto, o cumprimento do dever esteve conexo à recompensa de administrar a vida dos índios, por conseguinte, de administrar a opulência do patrimônio abrigado nas sesmarias e datas minerais localizadas nos sertões. Em função disso, foi indispensável à pesquisa apreender a concepção de sertões e reconhecer a significância do nomadismo, comum aos índios, que forneceu a imagem de espaços em movimentos, compreendendo fronteiras imprecisas que se interagiam nas dimensões étnicas, sociais e econômicas. A itinerância dos índios conferiu atributos à identidade dos ambientes naturais, à medida que se deslocavam se constituía a referência de fluidez dos espaços, mas para dominá-los dependia de fixá-los em limites. Portanto, a correlação entre mobilidade dos sertões e inconstância dos gentios configurou uma geopolítica específica do interior da América portuguesa interligado pelos caminhos trilhados das minas do ouro entre Minas-Goiases-Cuiabá, Minas e Espírito-Santo, Minas-Bahia e assim por diante. As Minas Gerais setecentista, respeitadas as peculiaridades do contexto e das diversas etnias dos povos indígenas, guardavam os metais preciosos e delas se partia para outras minas. Os sertões dos índios eram os sertões das Minas do ouro, espalhadas ao longo dos rios, distantes do litoral, se apresentaram nos focos de reações indígenas que se interpunham como desafio para atingi-las.
publishDate 2008
dc.date.none.fl_str_mv 2008-11-10
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-24112009-160156/
url http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-24112009-160156/
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv
dc.rights.driver.fl_str_mv Liberar o conteúdo para acesso público.
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv Liberar o conteúdo para acesso público.
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.coverage.none.fl_str_mv
dc.publisher.none.fl_str_mv Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
publisher.none.fl_str_mv Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
dc.source.none.fl_str_mv
reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
instname:Universidade de São Paulo (USP)
instacron:USP
instname_str Universidade de São Paulo (USP)
instacron_str USP
institution USP
reponame_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
collection Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository.name.fl_str_mv Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)
repository.mail.fl_str_mv virginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.br
_version_ 1815257318230589440