Descrição e análise de material vegetal de sítios arqueológicos da região de Januária, Minas Gerais

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Fábio de Oliveira Freitas
Data de Publicação: 1997
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://doi.org/10.11606/D.11.2019.tde-20191108-104022
Resumo: Escavações arqueológicas realizadas desde o final da década de 70 no Vale do Peruaçú, região de Januária, Minas Gerais, Brasil, pelo Prof. Dr. André Prous e sua equipe, da Universidade Federal de Minas Gerais, vêm recuperando espécies vegetais utilizados pelas populações pré-históricas desta região. Estes vestígios contêm materiais cultivados e coletados diretamente na natureza. Estes materiais estavam acondicionados em cestas de folhas de palmeira trançadas e depois enterradas, recebendo o nome de silo. O milho (Zea mays mays) é o material cultivado mais abundante nestes silos, enquanto fragmentos de coquinho Guariroba (Syagrus oleracea) é o material coletado mais abundante. Parte deste material e mais dois fragmentos de mandioca (Manihot esculenta) foram analisados. A idade destes materiais foi estimada através de datação radiocarbônica por espectrometria de cintilação líquida com Benzeno, realizada no CENA-USP, utilizando coquinho Guariroba e duas amostras de carvão. A idade determinada variou entre 1010 anos para a amostra mais antiga, até 570 anos na mais recente, com outras amostras de idades intermediárias. O fragmento de mandioca possui idade de 860 anos. As espigas de milho foram estudadas morfologicamente, onde medidas como comprimento, diâmetro basal, diâmetro apical, diâmetro maior, número de fileiras, número de grãos por fileiras e número de grãos por fileiras por comprimento foram tomadas e analisadas estatisticamente. Foi estudado morfologicamente também o amido presente nos órgãos de reserva do milho e da mandioca, caracterizando-o quanto à forma e tamanho, usando para isto uma amostra de 300 grãos de amido destas espécies, sendo analisados em um microscópio eletrônico de varredura. A fim de comparação foram analisados 21 acessos de raças de milho indígenas e etnovariedades do Banco de Germoplasma do CNPMS, EMBRAPA, de Sete Lagoas, MG, os quais também foram submetidos as mesmas análises de amido realizadas no material arqueológico. Estes dados foram depois submetidos a uma análise estatística. Através destas análises pudemos chegar as seguintes conclusões: • 0 amido dos órgãos de reserva do milho e mandioca encontravam-se em excelente estado de conservação. • Através da morfologia dos grãos de amido podemos separar raças ou variedades de milho. • Os habitantes destes abrigos plantavam mais de uma variedade de milho em um mesmo período. • Ao longo do período de tempo datado (1010 à 570 anos atrás) observa-se uma diversidade nas variedades de milho cultivadas, sendo plantada mais que uma variedade ao mesmo tempo. • A variabilidade dos grãos de amido das amostras arqueológicas de milho é maior do que a existente entre as raças utilizadas do Banco de Germoplasma. • Ao longo do período estudado, o tamanho da espiga foi aumentando com o tempo, permitindo deste modo um aumento da quantidade de semente também, mas sem que esta semente sofresse uma variação muito grande em seu tamanho. • Três padrões de distribuição de tamanho dos grãos de amido foram observados, um com um grande pico de grãos pequenos, outro que segue uma curva normal e outro com dois picos, sendo um de grãos pequenos e outro de médios, ocorrendo tanto no material arqueológico como nos acessos do Banco de Germoplasma. • Estes padrões de distribuição podem ser utilizados para caracterizar algumas das raças estudadas. • Os padrões de variação de tamanho de grãos de amido sugerem que parte do conjunto genético das raças hoje conhecidas como Cateto, Caigang, Complexo Guarani, Cristal, Entrelaçado, Moroti e Pontinha São Simão, estavam presentes, com maior ou menor proporção, no material cultivado pelas populações humanas pré-históricas que habitavam a região Norte de Minas Gerais há pelo menos um milénio de anos. • Espigas arqueológicas inteiras e as porções apical e medianos das mesmas são mais indicadas para comparações de natureza estatística. • Através da morfologia do amido pode-se confirmar que o fragmento que se suspeitava ser de mandioca é realmente desta espécie cultivada.
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spelling info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesis Descrição e análise de material vegetal de sítios arqueológicos da região de Januária, Minas Gerais Description and analysis of plant material from archeological sites of Januária, Minas Gerais. 1997-01-29Paulo Sodero MartinsFábio de Oliveira FreitasUniversidade de São PauloAgronomia (Genética e Melhoramento de Plantas)USPBR ARQUEOLOGIA DOMESTICAÇÃO DE PLANTAS MICROSCOPIA SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS Escavações arqueológicas realizadas desde o final da década de 70 no Vale do Peruaçú, região de Januária, Minas Gerais, Brasil, pelo Prof. Dr. André Prous e sua equipe, da Universidade Federal de Minas Gerais, vêm recuperando espécies vegetais utilizados pelas populações pré-históricas desta região. Estes vestígios contêm materiais cultivados e coletados diretamente na natureza. Estes materiais estavam acondicionados em cestas de folhas de palmeira trançadas e depois enterradas, recebendo o nome de silo. O milho (Zea mays mays) é o material cultivado mais abundante nestes silos, enquanto fragmentos de coquinho Guariroba (Syagrus oleracea) é o material coletado mais abundante. Parte deste material e mais dois fragmentos de mandioca (Manihot esculenta) foram analisados. A idade destes materiais foi estimada através de datação radiocarbônica por espectrometria de cintilação líquida com Benzeno, realizada no CENA-USP, utilizando coquinho Guariroba e duas amostras de carvão. A idade determinada variou entre 1010 anos para a amostra mais antiga, até 570 anos na mais recente, com outras amostras de idades intermediárias. O fragmento de mandioca possui idade de 860 anos. As espigas de milho foram estudadas morfologicamente, onde medidas como comprimento, diâmetro basal, diâmetro apical, diâmetro maior, número de fileiras, número de grãos por fileiras e número de grãos por fileiras por comprimento foram tomadas e analisadas estatisticamente. Foi estudado morfologicamente também o amido presente nos órgãos de reserva do milho e da mandioca, caracterizando-o quanto à forma e tamanho, usando para isto uma amostra de 300 grãos de amido destas espécies, sendo analisados em um microscópio eletrônico de varredura. A fim de comparação foram analisados 21 acessos de raças de milho indígenas e etnovariedades do Banco de Germoplasma do CNPMS, EMBRAPA, de Sete Lagoas, MG, os quais também foram submetidos as mesmas análises de amido realizadas no material arqueológico. Estes dados foram depois submetidos a uma análise estatística. Através destas análises pudemos chegar as seguintes conclusões: • 0 amido dos órgãos de reserva do milho e mandioca encontravam-se em excelente estado de conservação. • Através da morfologia dos grãos de amido podemos separar raças ou variedades de milho. • Os habitantes destes abrigos plantavam mais de uma variedade de milho em um mesmo período. • Ao longo do período de tempo datado (1010 à 570 anos atrás) observa-se uma diversidade nas variedades de milho cultivadas, sendo plantada mais que uma variedade ao mesmo tempo. • A variabilidade dos grãos de amido das amostras arqueológicas de milho é maior do que a existente entre as raças utilizadas do Banco de Germoplasma. • Ao longo do período estudado, o tamanho da espiga foi aumentando com o tempo, permitindo deste modo um aumento da quantidade de semente também, mas sem que esta semente sofresse uma variação muito grande em seu tamanho. • Três padrões de distribuição de tamanho dos grãos de amido foram observados, um com um grande pico de grãos pequenos, outro que segue uma curva normal e outro com dois picos, sendo um de grãos pequenos e outro de médios, ocorrendo tanto no material arqueológico como nos acessos do Banco de Germoplasma. • Estes padrões de distribuição podem ser utilizados para caracterizar algumas das raças estudadas. • Os padrões de variação de tamanho de grãos de amido sugerem que parte do conjunto genético das raças hoje conhecidas como Cateto, Caigang, Complexo Guarani, Cristal, Entrelaçado, Moroti e Pontinha São Simão, estavam presentes, com maior ou menor proporção, no material cultivado pelas populações humanas pré-históricas que habitavam a região Norte de Minas Gerais há pelo menos um milénio de anos. • Espigas arqueológicas inteiras e as porções apical e medianos das mesmas são mais indicadas para comparações de natureza estatística. • Através da morfologia do amido pode-se confirmar que o fragmento que se suspeitava ser de mandioca é realmente desta espécie cultivada. Archeological excavations performed since the late 70's in the Peruaçu Val1ey, Januária, State of Minas Gerais, Brazil, by Dr André Prous and his associates, from the Federal University of Minas Gerais, are recovering plant species that were used by prehistorical people from this region. These vestiges contain cultivated and collected materials which were package in braided palm leaves baskets that were buried, called "silo". The maize (Zea mays mays) is the most commom cultivated species in the silos, and the fragments of the guariroba palm fruit (Syagrus oleracea) is the most abundant collected species. Part of this material and two pieces of cassava (Manihot esculenta) were analysed. The age of these material were estimated through radiocarbon dating by benzene technique and liquid scintillation counting, done in CENA/USP, using guariroba palm fruit and two charcoal samples. The age estimated is in between 1010 years for the oldest sample, and 570 years for the most recent one. The cassava fragment is 860 years old. The maize cob were analysed morphologically using length, basal and apical diameters, largest diameter, number of rows, number of grains/ row, and number of grains/ row/ length. The starch present in the reserve organs of the maize and cassava were analysed morphologically, in relation to shape and size, using a sample of 300 starch grains for each grain, through scanning electronic microscope. For comparison, 21 accessions of indian maize races and ethnovarieties from the CNPMS/ EMBRAP A Germplasm Bank, Sete Lagoas, MG, were analysed statistically. Through the analysis we concluded that: •The starch of the maize and cassava reserve organs were in excellent state of conservation. • The morphology of the starch grains permitted the separation of races and varieties of maize. • During the dated period (1010 to 570 BP) a diversity in the varieties of maize being cultivated was detected and that, at the same time, the prehistorical people were cultivating more than one variety. • Three patterns of distribution of the size of the starch grain were observed, one with a peak: of small grain, another following a normal curve and other with medium size grains. • These patterns of distribution can be used to characterize some of the studied races of maize. • The pattern of variation in the size of the maize starch grains suggest that part of the gene pool of the traditional Brazilian races Cateto, Caigang, Guarani Complex, Cristal, Entrelaçado, Moroti and Pontinha São Simão, were present in a larger or smaller proportion in the material cultivated by the prehistorical human populations which lived at least 1.000 years ago in the northern region of Minas Gerais . • Through the starch morphology it was confirmed that the tuber fragment was cassava. https://doi.org/10.11606/D.11.2019.tde-20191108-104022info:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USP2023-12-21T19:36:28Zoai:teses.usp.br:tde-20191108-104022Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-12-22T13:00:32.371956Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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