Impressionismo em \'Dom Casmurro e Nostromo\'

• Autor(a) principal: Amed, Marcio Antonio Coimbra
• Data de Publicação: 2004
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
• Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8147/tde-14122022-175150/
• topic: Literatura brasileira; Literatura comparada; Literatura inglesa; Not available

O final do século dezenove, mais precisamente o período demarcado por Eric Hobsbawm entre 1875 e 1914, foi um período de mudanças, desenvolvimento e inovações sem precedentes, em todas as áreas do conhecimento humano, nas ciências, tecnologia, economia, administração, política, sociologia, filosofia, artes. O modelo positivista no qual a compreensão do mundo era baseada tinha desmoronado. Novas idéias estavam no ar, a psicologia do desvelamento e a psicologia da revelação de Freud, Nietzsche e Marx, o relativismo, subjetivismo, psicologismo, historicismo, antisistematismo, atomismo, a doutrina da natureza perspectivista da verdade.Em resultado das mudanças que rapidamente iam acontecendo na tecnologia, na moda, nas séries de novos produtos que ininterruptamente iam sendo entregues ao público a uma velocidade rápida, e como um resultado da transferência dos centros de cultura para as grandes cidades, o impressionismo apareceu. Era uma arte adaptada à sensibilidade do homem da grande metrópole, descrevendo o ritmo nervoso, as impressões súbitas, agudas mas sempre efêmeras da vida na cidade. De acordo com Arnold Hauser foi o estilo de arte predominante dos anos 1870 até o final do século dezenove. O objetivo deste trabalho é mostrar que dois grandes romances daquele período, Dom Casmurro de Joaquim Maria Machado de Assis e Nostromo de Joseph Conrad - que por sinal é considerado por Walter Allen como o maior romance em inglês do século vinte, um da literatura brasileira, outro da literatura inglesa respectivamente, têm cada um deles um viés impressionista na sua contextura. Um fato que permite que sejam comparados, apesar do que parece ser à primeira vista uma total dessemelhança em estilo, tema, organização, escolha de palavras e sintaxe - se a diferença de idiomas for descontada , atmosfera, ambientação, espaço, foco narrativo.Para fazer isto, em primeiro lugar farei uma análise do romance Iaiá )Garcia de Machado de Assis, com o propósito de deixar claro qual foi a sua importância como romance, e, ao mesmo tempo, através da posterior comparação com Dom Casmurro, mostrar a evolução no estilo de Machado de Assis de uma obra à outra, de Iaiá Garcia, que apareceu em 1878 a Dom Casmurro, que foi publicado em 1900. Mostrarei que Iaiá Garcia é de fato um grande romance, com seu princípio construtivo baseado no estilo realista de prosa do século dezenove então dominante, mas que quando nós o comparamos com Dom Casmurro percebemos que foram compostos num estilo totalmente diferente. Aí, então, Nostromo será analisado para ser comparado com Dom Casmurro. Mostrarei que Nostromo também foi escrito num estilo totalmente diferente daquele do realismo do século dezenove. Será mostrado que o impressionismo é o princípio que os norteia, de maneira que estas duas obras podem ser relacionadas, uma vez que possuem em comum as imagens e contornos de personagens borrados, o predomínio do instante sobre a duração, a idéia de que um instante nunca mais se repetirá, os eventos que acontecem por acaso, o acaso como um elemento de construção e composição, a apresentação do objeto pelas suas partes não elaboradas e dados em estado bruto ao invés de um todo conceitualmente construído e apresentado, a translação da imagem táctil à imagem visual, do volume à superfície, a separação dos elementos ópticos da experiência dos elementos conceituais, a visualidade em sua autonomia.O objetivo deste trabalho, portanto, é mostrar que tanto Dom Casmurro quanto Nostromo têm em comum uma configuração impressionista e que isto se deve à época à qual eles totalmente pertencem, um fato que demonstra que há uma relação entre objetos de arte e o período sócio-histórico ao qual eles pertencem