Assim sobrevivemos: narrativas de militantes presas políticas no Presídio Tiradentes (1969–1976)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Morais, Leticia Viana de
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-16062023-114030/
Resumo: Nesta dissertação, analisei o processo de transgressão de padrões sociais, militância política e encarceramento de mulheres que combateram a ditadura civil-militar brasileira (1964 - 1985). Com a promulgação do AI-5, em 1968, o recrudescimento da repressão política conviveu com estratégias de combate armado ao regime, levadas a cabo, especialmente, por jovens estudantes que ingressaram em grupos de guerrilha revolucionária. Direta ou indiretamente, as mulheres que se envolveram nessas lutas vivenciaram limites e potencialidades de ação marcadas pela condição de gênero. Objetivei com esse trabalho perceber vínculos entre a participação de mulheres na luta política e o reconhecimento de limites construídos pelo patriarcado, bem como possibilidades transformadoras na ação feminina. Para tanto, perscrutei os testemunhos de quatro militantes que participaram do movimento estudantil da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo e, posteriormente, ingressaram em organizações políticas que fizeram a opção pela luta armada. No início dos anos 1970, Lenira Machado, Nair Kobashy, Márcia Mafra e Iara Areias Prado foram confinadas no Presídio Tiradentes, em São Paulo, local apelidado pelos presos políticos como \"Torre das Donzelas\". Os testemunhos dessas mulheres fazem parte do acervo do Projeto Intolerância e Resistência: Memórias da Repressão Política no Brasil (1964-1985), uma parceria entre o Laboratório de Estudos sobre a Intolerância (FFLCH-USP) e o Arquivo Edgard Leurenhoth da Unicamp, com o financiamento da Fundação Ford. O presente trabalho demonstra que as jovens que vivenciaram esse processo romperam tradições, ampliaram a significação de ser mulher e experienciaram limites na atuação coletiva. Nesse contexto, no qual as opressões de gênero eram pouco valorizadas pelas esquerdas e para muitas mulheres, a racionalização a respeito desse tema se intensificou após o confinamento entre companheiras. A ação e a reflexão dessas protagonistas na, e acerca da condição das militantes contribuíram para o fortalecimento do feminismo brasileiro, entre mulheres brancas de classe média. Ao mesmo tempo, indicam limites no tocante a compreensão de coletivos políticos como conjuntos universais, o que corrobora com uma demanda analítica atual de considerar as subjetividades ao estudar identidades sociais.
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Objetivei com esse trabalho perceber vínculos entre a participação de mulheres na luta política e o reconhecimento de limites construídos pelo patriarcado, bem como possibilidades transformadoras na ação feminina. Para tanto, perscrutei os testemunhos de quatro militantes que participaram do movimento estudantil da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo e, posteriormente, ingressaram em organizações políticas que fizeram a opção pela luta armada. No início dos anos 1970, Lenira Machado, Nair Kobashy, Márcia Mafra e Iara Areias Prado foram confinadas no Presídio Tiradentes, em São Paulo, local apelidado pelos presos políticos como \"Torre das Donzelas\". Os testemunhos dessas mulheres fazem parte do acervo do Projeto Intolerância e Resistência: Memórias da Repressão Política no Brasil (1964-1985), uma parceria entre o Laboratório de Estudos sobre a Intolerância (FFLCH-USP) e o Arquivo Edgard Leurenhoth da Unicamp, com o financiamento da Fundação Ford. O presente trabalho demonstra que as jovens que vivenciaram esse processo romperam tradições, ampliaram a significação de ser mulher e experienciaram limites na atuação coletiva. Nesse contexto, no qual as opressões de gênero eram pouco valorizadas pelas esquerdas e para muitas mulheres, a racionalização a respeito desse tema se intensificou após o confinamento entre companheiras. A ação e a reflexão dessas protagonistas na, e acerca da condição das militantes contribuíram para o fortalecimento do feminismo brasileiro, entre mulheres brancas de classe média. Ao mesmo tempo, indicam limites no tocante a compreensão de coletivos políticos como conjuntos universais, o que corrobora com uma demanda analítica atual de considerar as subjetividades ao estudar identidades sociais.In this dissertation, I analyzed the process of transgression of social standards, political militancy and forced incarceration of women who fought the Brazilian civil-military dictatorship (1964 - 1985). With the promulgation of AI-5, in 1968, the resurgence of political repression coexisted with strategies of armed combat against the regime, carried out, especially, by young students who joined revolutionary guerrilla groups. Directly or indirectly, the women who got involved in these struggles experienced limits and potential for action marked by their gender condition. With this work, I aimed to perceive links between women\'s participation in political struggle and the recognition of limits built by patriarchy, as well as transformative possibilities in female action. For that, I scrutinized the testimonies of four militants who participated in the student movement at the Faculty of Philosophy of the University of São Paulo and, later, joined political organizations that opted for the armed struggle. In the early 1970s, Lenira Machado, Nair Kobashy, Márcia Mafra and Iara Areias Prado were confined in the Tiradentes Prison, in São Paulo, a place nicknamed by political prisoners as \"Maiden\'s Tower\". The testimonies of these women are part of the collection of the Intolerance and Resistance Project: Memories of Political Repression in Brazil (1964-1985), a partnership between the Laboratory of Studies on Intolerance (FFLCH-USP) and the Edgard Leurenhoth Archive of Unicamp, with funding from the Ford Foundation. The present work demonstrates that the young women who experienced this process broke traditions, expanded the meaning of being a woman and experienced limits in collective action. In this context, in which gender oppression was undervalued by the left party and for many women, the rationalization on this topic intensified after the confinement between partners. The action and reflection of these protagonists in and about the condition of the militants contributed to the strengthening of Brazilian feminism among white middle-class women. At the same time, they indicate limits regarding the understanding of political collectives as universal sets, which corroborates with a current analytical demand to consider subjectivities when studying social identities.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPCardoso, MauricioMorais, Leticia Viana de2022-10-31info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-16062023-114030/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2023-06-16T14:57:32Zoai:teses.usp.br:tde-16062023-114030Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-06-16T14:57:32Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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