Sobre as cinzas do cativeiro: educação, trabalho e terra entre ex-escravos e descendentes após a abolição no oeste paulista

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Rodrigues, Lucas Cavalcanti
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12140/tde-19012022-194736/
Resumo: No início do século XX, a economia cafeeira no Oeste paulista ainda vivia um momento de prosperidade, mantendo elevada demanda por mão de obra. A combinação da conjuntura econômica com o arrefecimento do ritmo da imigração europeia, em relação aos patamares observados na década de 1890, criou um cenário de relativa escassez de trabalho. A posição de barganha mais favorável dos trabalhadores, levou a uma melhoria contratual e melhores oportunidades no mercado de trabalho, inclusive para ex-escravos e descendentes. Dessa forma, beneficiando-se do bom momento da economia, a população negra foi capaz de matricular seus filhos em escolas primárias, alçar melhores posições no mercado de trabalho e ter acesso à propriedade de terra. Mostra-se que, 20 anos após a Abolição, os indicadores socioeconômicos da população negra não divergiam significativamente dos indicadores observados para imigrantes de primeira geração. Argumenta-se, no entanto, que havia diferenças relevantes entre as duas populações, particularmente demográficas e educacionais. Famílias imigrantes eram maiores que as famílias negras brasileiras e a mulher imigrante tinha uma maior taxa de fertilidade. Essas diferenças demográficas deram maiores possibilidade de acumulação de capital no âmbito familiar entre imigrantes, mesmo na ausência de diferenças na produtividade do trabalho e renda per capita entre imigrantes e negros. Por outro lado, embora houvesse pouca diferença nas taxas de matrícula em educação primária, havia diferenças relevantes no estoque de educação, em favor de famílias imigrantes. Em uma economia essencialmente rural, a vantagem educacional de imigrantes pode ter produzido efeito econômico limitado, dada a baixa complementaridade entre capital humano e trabalho agrícola. Posteriormente, a combinação de urbanização e industrialização pode ter mudado o perfil da demanda por mão de obra, beneficiando desproporcionalmente populações mais educadas. Dessa forma, ao lado de fatores já destacados pela literatura como racismo e violência, diferenças na demografia e no estoque de educação ajudariam a explicar as desigualdades observadas entre descendentes de imigrantes e descendentes de escravizados. Ao indicar a condição de relativa igualdade material entre negros e imigrantes no início do século XX, argumenta-se que as causas para desigualdades entre afrodescendentes e descendentes de imigrantes devem ser encontradas em período posterior a 1900.
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Dessa forma, beneficiando-se do bom momento da economia, a população negra foi capaz de matricular seus filhos em escolas primárias, alçar melhores posições no mercado de trabalho e ter acesso à propriedade de terra. Mostra-se que, 20 anos após a Abolição, os indicadores socioeconômicos da população negra não divergiam significativamente dos indicadores observados para imigrantes de primeira geração. Argumenta-se, no entanto, que havia diferenças relevantes entre as duas populações, particularmente demográficas e educacionais. Famílias imigrantes eram maiores que as famílias negras brasileiras e a mulher imigrante tinha uma maior taxa de fertilidade. Essas diferenças demográficas deram maiores possibilidade de acumulação de capital no âmbito familiar entre imigrantes, mesmo na ausência de diferenças na produtividade do trabalho e renda per capita entre imigrantes e negros. Por outro lado, embora houvesse pouca diferença nas taxas de matrícula em educação primária, havia diferenças relevantes no estoque de educação, em favor de famílias imigrantes. Em uma economia essencialmente rural, a vantagem educacional de imigrantes pode ter produzido efeito econômico limitado, dada a baixa complementaridade entre capital humano e trabalho agrícola. Posteriormente, a combinação de urbanização e industrialização pode ter mudado o perfil da demanda por mão de obra, beneficiando desproporcionalmente populações mais educadas. Dessa forma, ao lado de fatores já destacados pela literatura como racismo e violência, diferenças na demografia e no estoque de educação ajudariam a explicar as desigualdades observadas entre descendentes de imigrantes e descendentes de escravizados. Ao indicar a condição de relativa igualdade material entre negros e imigrantes no início do século XX, argumenta-se que as causas para desigualdades entre afrodescendentes e descendentes de imigrantes devem ser encontradas em período posterior a 1900.At the beginning of the XX century, the coffee economy in the west of São Paulo was still experiencing a period of prosperity, maintaining a high demand for labor. The combination of the economic conditions with the slowdown in the pace of European immigration, compared to the levels observed in the 1890s, created a scenario of relative shortage of work. The workers\' more favorable bargaining position led to better contracts and better opportunities in the labor market, including for ex-slaves and descendants. Thus, benefiting from the good economic moment, the black population was able to enroll their children in primary schools, gain better positions in the labor market and have access to land ownership. It is shown that, 20 years after Abolition, the socioeconomic indicators of the black population did not significantly diverge from the indicators observed for first-generation immigrants. It is argued, however, that there were relevant differences between the two populations, particularly demographic and educational. Immigrant families were larger than black Brazilian families and immigrant women had a higher fertility rate. These demographic differences gave greater possibility of capital accumulation within the family among immigrants, even in the absence of differences in labor productivity and per capita income between immigrants and blacks. On the other hand, although there was little difference in primary education enrollment rates, there were relevant differences in the stock of education in favor of immigrant families. In an essentially rural economy, the educational advantage of immigrants may have had a limited economic effect, given the low complementarity between human capital and agricultural labor. Subsequently, the combination of urbanization and industrialization may have changed the profile of the demand for labor, disproportionately benefiting more educated populations. Thus, alongside factors already highlighted in the literature such as racism and violence, differences in demography and in the stock of education would help to explain the inequalities observed between descendants of immigrants and descendants of slaves. By indicating the condition of relative material equality between blacks and immigrants at the beginning of the XX century, it is argued that the causes for inequalities between Afro-descendants and descendants of immigrants must be found in a period after 1900.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPColistete, Renato PerimRodrigues, Lucas Cavalcanti2021-09-17info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12140/tde-19012022-194736/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2024-10-09T13:16:04Zoai:teses.usp.br:tde-19012022-194736Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212024-10-09T13:16:04Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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