A participação da família no tratamento em Saúde Mental como prática no cotidiano do serviço

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Martins, Pedro Pablo Sampaio
Data de Publicação: 2013
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59137/tde-17072013-103034/
Resumo: A preocupação com a participação da família no tratamento em Saúde Mental no Brasil tem se produzido historicamente a partir do movimento de reforma psiquiátrica, que busca transformar a lógica de produção de cuidado em saúde. Desde então, observa-se certa tensão neste campo, com a presença de diferentes discursos sobre a família, sua participação, envolvimento e responsabilidade com relação ao adoecimento mental e seu cuidado. O objetivo do presente estudo é compreender como familiares atendidos em um programa de assistência à família, no contexto de uma instituição de Saúde Mental, constroem sentidos sobre sua participação no tratamento. Para tanto, foram realizadas entrevistas individuais, semiestruturadas, com dez familiares de pacientes de um serviço público de semi-internação psiquiátrica localizado em uma cidade de médio porte no estado de São Paulo. Estas entrevistas tiveram como tema central a participação destes familiares no programa de assistência à família da instituição, considerando seus entendimentos sobre família, doença mental e tratamento. As entrevistas foram audiogravadas e transcritas integralmente, sendo submetidas a procedimentos qualitativos de análise, com base nas contribuições do movimento construcionista social em ciência. Em primeiro lugar, realizamos uma análise temática, organizada em três recortes temporais: 1) Famílias em sofrimento, que versa sobre a vida dos familiares antes do HD, tendo como temas o surgimento da doença e suas consequências na vida familiar, e as passagens por serviços de saúde; 2) Famílias em tratamento, que contempla cinco formas de participação dos familiares no HD: o cuidado à família, o aprendizado sobre a doença mental, a transformação das relações familiares, o cuidado com o familiar em semi-internação e o cuidado mútuo entre as famílias; 3) Famílias em desenvolvimento, relacionando os assuntos acerca da vida atual, considerando a melhora do paciente, os desafios da vida pós-alta e as perspectivas imaginadas por estes familiares. A seguir, analisamos o processo comunicacional de uma das entrevistas, ilustrando como toda descrição da participação do familiar era construída como produto da interação de pesquisa. Percebemos como determinadas posturas do entrevistador convidavam a um processo de participação do familiar similar àquele que se pretendia investigar. Concluímos que a participação destes familiares no tratamento se constrói como possibilidade não apenas mediante o convite para participação, mas através do efetivo e cotidiano investimento na qualidade das relações entre os atores envolvidos no processo (pacientes, familiares e profissionais de saúde), em um contínuo processo, construído momento-a-momento no cotidiano das práticas de saúde. Esta compreensão chama atenção para a micropolítica da produção de cuidado e para a necessidade de uma atenção aos processos comunicativos e relacionais envolvidos na participação da família no cotidiano da instituição. Concluímos apontando o desafio de inventar, no cotidiano das práticas, formas de fazer este cuidado acontecer. Para este fim, destacamos a importância de deslocar o entendimento de tratamento da família para cuidado da família. A transformação deste entendimento considera os efeitos negativos que discursos de culpabilização e adoecimento da família geram na sociedade, buscando transformá-los em direção a discursos atrelados a práticas que de fato apoiem e ajudem famílias em sofrimento. (FAPESP)
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Para tanto, foram realizadas entrevistas individuais, semiestruturadas, com dez familiares de pacientes de um serviço público de semi-internação psiquiátrica localizado em uma cidade de médio porte no estado de São Paulo. Estas entrevistas tiveram como tema central a participação destes familiares no programa de assistência à família da instituição, considerando seus entendimentos sobre família, doença mental e tratamento. As entrevistas foram audiogravadas e transcritas integralmente, sendo submetidas a procedimentos qualitativos de análise, com base nas contribuições do movimento construcionista social em ciência. Em primeiro lugar, realizamos uma análise temática, organizada em três recortes temporais: 1) Famílias em sofrimento, que versa sobre a vida dos familiares antes do HD, tendo como temas o surgimento da doença e suas consequências na vida familiar, e as passagens por serviços de saúde; 2) Famílias em tratamento, que contempla cinco formas de participação dos familiares no HD: o cuidado à família, o aprendizado sobre a doença mental, a transformação das relações familiares, o cuidado com o familiar em semi-internação e o cuidado mútuo entre as famílias; 3) Famílias em desenvolvimento, relacionando os assuntos acerca da vida atual, considerando a melhora do paciente, os desafios da vida pós-alta e as perspectivas imaginadas por estes familiares. A seguir, analisamos o processo comunicacional de uma das entrevistas, ilustrando como toda descrição da participação do familiar era construída como produto da interação de pesquisa. Percebemos como determinadas posturas do entrevistador convidavam a um processo de participação do familiar similar àquele que se pretendia investigar. Concluímos que a participação destes familiares no tratamento se constrói como possibilidade não apenas mediante o convite para participação, mas através do efetivo e cotidiano investimento na qualidade das relações entre os atores envolvidos no processo (pacientes, familiares e profissionais de saúde), em um contínuo processo, construído momento-a-momento no cotidiano das práticas de saúde. Esta compreensão chama atenção para a micropolítica da produção de cuidado e para a necessidade de uma atenção aos processos comunicativos e relacionais envolvidos na participação da família no cotidiano da instituição. Concluímos apontando o desafio de inventar, no cotidiano das práticas, formas de fazer este cuidado acontecer. Para este fim, destacamos a importância de deslocar o entendimento de tratamento da família para cuidado da família. A transformação deste entendimento considera os efeitos negativos que discursos de culpabilização e adoecimento da família geram na sociedade, buscando transformá-los em direção a discursos atrelados a práticas que de fato apoiem e ajudem famílias em sofrimento. (FAPESP)Concerns with the participation of family in mental health treatments in Brazil have historically aroused from the movement of psychiatric reform, which aims at changing the logic that underlies the production of healthcare. Ever since then, it has been possible to observe tensions in this field, characterized by the presence of different discourses regarding family, their participation, involvement and responsibility in relation to mental health and to its needed care. This study aims to understand how relatives of mental health patients make meanings about their own participation in treatment. We conducted individual, semi structured interviews with ten of those relatives who were seen in a mental health day service in a city in the state of São Paulo, Brazil. The participation of these family members in treatment was the central theme of these interviews, which focused especially on their understandings about family, mental health and treatment. The interviews were recorded in audio, fully transcribed and later analyzed through qualitative procedures, based on the contributions of the social constructionist movement in science. First, we conducted a thematic analysis, which was organized in three time-based categories: 1) Families in pain, that refers to the lives of the family members before their participation in treatment, and that has as themes the arising of the illness, its consequences to family life, and the families seek for help in health services; 2) Families in treatment, which contemplates five forms of participation in the program for family assistance, namely the care for families, the learning about the mental illness, the transformation of family relationships, the care for the family member who is being treated, and the mutual care between different families; 3) Families in development, under which are the themes regarding the interviewees current lives, considering the improvement of the patients situation, the challenges family members have faced since they left the service, and their imagined perspectives for life. Next, we analyzed the communicational process in one of the interviews that illustrated how every description of the participation of the family member in treatment was constructed as an interactional product during the research process. We realized how certain stances of the researcher invited a process of participation by the family member very similar to that which we wanted to investigate. We concluded that the participation of these family members in treatment is constructed as a possibility not only through inviting them to participate, but through an effective and daily investment in the quality of the relationships between different social actors involved in the process (patients, family members, healthcare practitioners). We characterized this as an ongoing process, constructed at every moment during everyday health practices. This understanding calls attention to the micro politics of production of healthcare, and to the necessity of an attention to communicational and relational processes involved in the participation of family in the quotidian of the institution. We concluded by pointing to the challenge of creating, in daily practices, ways of making this care happen. For that, we highlighted the importance of moving away from an understanding of a family being treated to one that considers a family who needs care. The transformation of this understanding considers the negative effects that discourses blaming families for the disease create in society. We hope to contribute to changes in these discourses towards others that, intertwined to practices, may actually be supportive and helpful to families who suffer. (The São Paulo Research Foundation).Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPLorenzi, Carla GuanaesMartins, Pedro Pablo Sampaio2013-06-14info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59137/tde-17072013-103034/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:10:36Zoai:teses.usp.br:tde-17072013-103034Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:10:36Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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