O viaduto e o samba: o Largo da Banana, urbanização e relações raciais em São Paulo
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2021 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16133/tde-17022022-115344/ |
Resumo: | Esta tese aborda a história do Largo da Banana, que se localizava junto à antiga estação de trem da Barra Funda, em São Paulo, investigando, pelo viés do estudo das relações raciais, os processos de intervenção urbana naquela área e suas representações. Desde os anos 1970, o Largo da Banana é reconhecido como berço do samba da capital paulista. Segundo a narrativa consolidada, nele, no início do século XX, homens negros, carregadores da ferrovia, alternavam o cotidiano de trabalho pesado com práticas de lazer. Tais sujeitos tenderam a ser descritos em oposição à ordem social moderna, ao mesmo tempo em que se presumiu que o Largo da Banana teria desaparecido devido às obras viárias conduzidas naquela área, com a consolidação da metrópole. Entre elas, o viaduto Pacaembu, inaugurado em 1958, seria uma das mais emblemáticas. A tal discurso, subjaz uma concepção evolutiva do processo de urbanização, que situa em polos opostos os negros e a cidade. Esta perspectiva está sintetizada no conceito de território negro proposto por Raquel Rolnik nos anos 1980. Seguindo suas premissas, o Largo da Banana seria o lugar de uma resistência negra, imaginada através de diferenças culturais essenciais, do desajustamento social e da segregação espacial, sempre fadado ao desaparecimento. Buscando problematizar tal abordagem e explorar outras relações possíveis entre raça, cultura, urbanização e cidade, aliou-se a análise de um conjunto diversificado de fontes a uma discussão crítica sobre as concepções raciais que fundamentaram aquele discurso. Notícias cotidianas, artigos da imprensa negra, leis, atas e anais da Câmara Municipal, projetos urbanísticos, registros audiovisuais e letras de samba indicam que o Largo da Banana, com esse nome, diz respeito a uma realidade urbana e social contemporânea e posterior à construção do viaduto, e não anterior. Ainda quando, no debate cultural, o Largo da Banana passou a ser reivindicado como berço negro e desaparecido do samba, ele perdurava como um lugar de acontecimentos cotidianos. Com base nessas referências, propõe-se a interpretação da existência do Largo da Banana, entre seu anonimato os processos urbanos anteriores à sua nomeação e seu desaparecimento a construção de sua identidade negra atrelada ao samba conduzida pela história da intervenção viária. Tal análise permite sugerir que o Largo da Banana abrigou lutas negras heterogêneas, que são parte da história da cidade de São Paulo e de sua urbanização, ainda bastante depois da suposta origem do samba. |
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O viaduto e o samba: o Largo da Banana, urbanização e relações raciais em São Paulo The overpass and the samba: Largo da Banana, urbanization, and race relations in São Paulo.Avenida PacaembuLargo da BananaLargo da BananaPacaembu AvenueRace relationsRelações raciaisSão Paulo urbanizing processUrbanização - São PauloEsta tese aborda a história do Largo da Banana, que se localizava junto à antiga estação de trem da Barra Funda, em São Paulo, investigando, pelo viés do estudo das relações raciais, os processos de intervenção urbana naquela área e suas representações. Desde os anos 1970, o Largo da Banana é reconhecido como berço do samba da capital paulista. Segundo a narrativa consolidada, nele, no início do século XX, homens negros, carregadores da ferrovia, alternavam o cotidiano de trabalho pesado com práticas de lazer. Tais sujeitos tenderam a ser descritos em oposição à ordem social moderna, ao mesmo tempo em que se presumiu que o Largo da Banana teria desaparecido devido às obras viárias conduzidas naquela área, com a consolidação da metrópole. Entre elas, o viaduto Pacaembu, inaugurado em 1958, seria uma das mais emblemáticas. A tal discurso, subjaz uma concepção evolutiva do processo de urbanização, que situa em polos opostos os negros e a cidade. Esta perspectiva está sintetizada no conceito de território negro proposto por Raquel Rolnik nos anos 1980. Seguindo suas premissas, o Largo da Banana seria o lugar de uma resistência negra, imaginada através de diferenças culturais essenciais, do desajustamento social e da segregação espacial, sempre fadado ao desaparecimento. Buscando problematizar tal abordagem e explorar outras relações possíveis entre raça, cultura, urbanização e cidade, aliou-se a análise de um conjunto diversificado de fontes a uma discussão crítica sobre as concepções raciais que fundamentaram aquele discurso. Notícias cotidianas, artigos da imprensa negra, leis, atas e anais da Câmara Municipal, projetos urbanísticos, registros audiovisuais e letras de samba indicam que o Largo da Banana, com esse nome, diz respeito a uma realidade urbana e social contemporânea e posterior à construção do viaduto, e não anterior. Ainda quando, no debate cultural, o Largo da Banana passou a ser reivindicado como berço negro e desaparecido do samba, ele perdurava como um lugar de acontecimentos cotidianos. Com base nessas referências, propõe-se a interpretação da existência do Largo da Banana, entre seu anonimato os processos urbanos anteriores à sua nomeação e seu desaparecimento a construção de sua identidade negra atrelada ao samba conduzida pela história da intervenção viária. Tal análise permite sugerir que o Largo da Banana abrigou lutas negras heterogêneas, que são parte da história da cidade de São Paulo e de sua urbanização, ainda bastante depois da suposta origem do samba.This dissertation focuses on the history of Largo da Banana, a former public space next to the Barra Funda railway station, in São Paulo. It aims to investigate urban interventions and its cultural representations from a race relations point of view. Since the 1970s, Largo da Banana is acknowledged to be São Paulo\'s \"cradle\" of samba. According to this narrative, in the early Twentieth Century, poor black men who were manual laborers at the railway company used to alternate this informal and exhausting activity and leisure activities such as making samba in their daily lives. While those individuals are often defined in contrast to the \"modern social order\", it is widely assumed that Largo da Banana disappeared under the public works in the making of the \"metropolis\". Pacaembu overpass, built in 1958, is emblematic of such urban interventions. A teleological and evolutive conception of the urbanizing process underlies such discourse, placing black people and the modern urbanized city in opposed extremities. In the 1980s, Raquel Rolnik presented a synthesis of this perspective through her conceptualization of \"black territories\". As a \"black territory\", Largo da Banana would be a place of \"black resistance\" through essencial cultural diferences, social maladjustment, and spacial segregation. As such, it would always be fated to disappear. Aiming to explore other possible meanings for the connections between \"race\", \"culture\", \"urbanization\", and \"city\", this research combines the analysis of a diversified set of historical sources to a critical discussion on the racial conceptions that underlie that analytical approach. Daily newspapers, black press articles, recorded interviews, and samba lyrics indicate that the name \"Largo da Banana\" refers to a urban and social reality contemporary to Pacaembu overpass, during the second half of the last century, and not prior to that. Even when the cultural narrative on the \"cradle\" of samba\'s disappearance started to circulate, Largo da Banana remained a place of daily life. Therefore, this dissertation provides an interpretation of Largo da Banana\'s existence, from its \"anonymity\" (the urban processes prior to this names social acknowledgement), and its \"disappearance\" (the construction of its black identity within São Paulo samba\'s narrative), guided by the history of the construction of Pacaembu Avenue. This analysis suggests that Largo da Banana was a place of heterogeneous black struggles that are a crucial part of the history of São Paulo\'s city and urbanization, long after the alleged \"origin\" of samba.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPNobre, Eduardo Alberto CusceSiqueira, Renata Monteiro2021-12-13info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16133/tde-17022022-115344/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2022-05-09T16:44:41Zoai:teses.usp.br:tde-17022022-115344Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212022-05-09T16:44:41Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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